O debate. A PT quer calar a TSF Rádio Notícias por motivos políticos, acusa João Pedro Henriques (JPH), em Glória Fácil. Com razão, acho eu. Também Guerra e Pás disso falou (e muito bem), mas defendeu a resposta económica para as motivações da monopolista PT. «O problema da rádio é sempre, mas sempre económico», escreveu. E, mais à frente, sobre a TSF acrescenta: «"A rádio de palavra" - como é a TSF - estará ainda mais ultrapassada, porque (diz-se) as pessoas querem é música! É uma ideia falsa e que (estou convencido) brevemente será rebatida pela realidade».
A notícia (antes do debate). Na modorra da silly season, Carlos Andrade pediu a demissão de director da TSF. Porque discordava dos cortes anunciados na redacção da rádio. Mas também porque estaria contra o novo modelo de programação, proposto por um "auditor" externo (Emídio Rangel), que incluíam noticiários de quatro minutos - muito adequado a uma rádio-notícias! - e fóruns para as mulheres.
Aborrece. Distraídos com o destino do «Acontece», poucos questionaram o destino da TSF. Excepção feita ao blogue-novo de JPH - que ainda protestou com a blogosfera por ter discutido o sexo dos anjos, que é como quem diz se a TSF é de esquerda ou assim-assim ou de direita (também nós aqui falámos disso). Talvez essa discussão ajude mais do que pareceu.
Afinal, a PT é um braço do Estado, Governo, o que quisermos. E se Morais Sarmento não hesitava em perguntar - de cada vez que se encontrava com membros do conselho de administração da RTP - se já tinham acabado com o «Aborrece» (não é piada minha!), nada me diz que aqueles fortes braços não se tenham estendido a outras pressões junto do CA da PT, como também sustenta JPH. Dizia Pacheco Pereira, em Dezembro de 2000, num texto que o próprio agora recuperou sobre a TSF: «Já ninguém é suficientemente ingénuo para pensar que a interferência do governo se faz por telefonemas directos dos ministros, embora ainda os haja. As formas são mais sofisticadas, uma das quais são as "reestruturações" em nome da eficácia dos "negócios" que condicionam carreiras, postos, compromissos e o destino de jornais e rádios. Também aí há alguém a premiar quem se porta bem e quem se porta mal e esse alguém está no governo, ou depende do governo.»
Ora, a TSF também "aborrece": uma "rádio de palavra" dá a palavra a todos. Os que dizem bem do governo, mas também os que dizem mal (que os há, que os há). E se o "fórum" de todas as manhãs é "esquerdista", acusa alguma direita, os nossos governantes podem querer antes dar música a quem ouve aquela rádio.
É uma teoria da conspiração, como qualquer outra. Mas de um Governo que usa a propaganda como poucos (o caso recente de Maggiolo Gouveia é extraordinário) nada surpreenderia. Mesmo sem telefonemas para a redacção.
Sarmente. A cultura da PT é adequada a um governo que desconfia da Cultura. Nos "mentideros" da comunicação social sopra-se constantemente a venda pela PT do Diário de Notícias, que é mais prestígio que lucros, sobretudo agora que o 24 Horas parece morder os calcanhares das vendas. O «DNa» - esse suplemento de amor-ódio com a blogosfera - é também dado como "a extinguir" [que me desculpem a extrapolação simplista: José Mário anseia todas as semanas com o "fecho" da sua edição].
Falsa pluralidade. O perigo do monopólio da PT não se resume ao perigo real dos «jornalistas [perceberem] que se se armassem em parvos, arruinariam as hipóteses de conseguir emprego em pelo menos 1/3 do mercado», como se escreveu no Guerra e Pás.
Apenas este exemplo doméstico, por todos facilmente constatável: para instalar o ADSL cá em casa, de uma empresa que não do universo PT, tive de esperar um mês, para a PT "testar" a ligação da minha casa à rede. E bem sabemos como é ter um telefone fixo, mesmo que "afectos" à Novis ou à Oni: a PT obriga-nos a pagar o aluguer do equipamento... Quem disse que Cavaco foi o grande liberalizador das comunicações?