31.12.06

[fecho]

Um Bom Ano a todos, de todos os sabores, feitios e cores!



[Das boas festas de um amigo, que não se importará que ponha aqui este excerto: «Mediático mundo louco este, que lança foguetes quando "dá a volta" ao calendário, um dia depois de "idolatrar" a morte na forca como pena justa(???!!!). Há 2007 novas razões para "trabalhar" em nome da felicidade e da harmonia.»]

30.12.06

[audições de sábado]

Caro JMF, para quê ouvir apenas um excerto quando se pode ouvir tudo?

[Actualização: Deram cabo do link e agora restam outras pérolas para ouvir (ou ler), mas sem Scarlett!]

[leituras de sábado]

O concílio de Trento está ao rubro.

A ignorância e a derrota da civilização

«O Presidente norte-americano, George W. Bush, já fez saber que a execução do ex-Presidente iraquiano é um "marco importante" para a democracia no país.» Democracia? A pesporrência ignorante de Bush continua a ser óbvia. Em lado nenhum, em tempo algum, a pena de morte pode ser um "marco importante" para a democracia, mesmo a morte de um ex-ditador como Saddam. Bush não aprendeu nada com o Iraque e continua a ser o alegre irresponsável que nos leva para o abismo.

29.12.06

Acabar com os velhos do Restelo

entrada da exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, na Gulbenkian
(clicar na foto para aumentar)


De que serve ler os velhos do Restelo presos em sua casa, que nada sabem da vida concreta de todos os dias, pulidos valentes e barretos que se queixam enfiados na sua redoma ricamente paga? Nada, nada mesmo. Olho para o jornal e nada aprendo com eles. Olho para aquela fila de gente, que espera civilizadamente e acho que há um país que afinal vale a pena: a exposição Amadeo de Souza-Cardoso, na Gulbenkian, é um sucesso que se exprime no longo tempo de espera para a ver (a composição das fotos é de hoje à tarde, pelas 17h). Miúdos e graúdos, numa mistura em que a cultura se dessacraliza, e ainda bem. Assim se criam públicos, assim se ensina o gosto.

Estranhos prazeres

A galinha Graça esteve na Baixa de Lisboa a pedir às pessoas que se tornem vegetarianas e acabem com o sofrimento dos animais. Há pessoas para quem o prazer acabou e querem acabar com o dos outros.

28.12.06

Ateus crentes

Há uns ateus com os quais não se pode conversar. Eles, só eles, têm a luz, a sua verdade, a sua religião. Falam mal dos outros, sem qualquer tolerância, acusando os outros de intolerância. Esta nova religião tem adeptos, que infestam a caixa de comentários de quem não lhes pede nada e acusam de ser criativos quem lhes deu voz. Enfim, novos crentes, fundamentalistas como outros.

Algozes

A forca já está preparada para Saddam. A medida torna as suas vítimas em algozes ("punir um crime com outro crime") e não beneficiará ninguém, nem a paz. Apenas Bush deve estar a afagar o seu particular conceito de justiça.

27.12.06

Suspirar

Já tínhamos tido um excerto, um breve suspiro. Agora temos o suspiro completo. Suspiremos, pois, antes do álbum com músicas de Tom Waits.

[actualizado: Descoberto num blogue que só cultiva bom gosto, que comemora agora dois anos.]

23.12.06

[para todos]

What's this?

Notícia em primeira mão

Não desistir de contar a história final, mesmo quando os outros se ficam pelas primeiras impressões. [Desculpem a imodéstia, mas mesmo sem meios, desempregado, com um simples blogue, pode fazer-se notícia.]

22.12.06

Festa feliz



"A luta para manter a paz é infinitamente mais difícil que qualquer operação militar."

(Anne O'Hare McCormick, citado por Aldina, com uma ilustração de Fischl, descoberta aqui)

Cuidados

Para estes dias

Fenacistoscópio. Aparelho de física que dá a ilusão do movimento por meio da persistência das sensações ópticas.

Façam favor

Hoje é dia de ter um orgasmo. Pena que o horário seja tão laboral...

21.12.06

A interrupção voluntária do diálogo

[Hoje, o Público trouxe um texto assinado por Ana Berta Sousa, José Manuel Pureza, Marta Parada, Miguel Marujo e Paula Abreu, sobre o referendo sobre a despenalização do aborto. Reproduzo-o na íntegra, por os artigos de opinião do jornal não estarem acessíveis sem assinatura.]


Somos católicos e assistimos, inquietos e perplexos, à reiteração de uma lógica de confronto crispado por parte de sectores da Igreja Católica – incluindo os nossos bispos – no debate suscitado pelo referendo sobre a despenalização do aborto. Frustrando as melhores expectativas criadas pelas declarações equilibradas de D. José Policarpo, a interrupção voluntária do diálogo volta a ser a linha oficial. E o radicalismo vai ao ponto de interrogar a legitimidade ao Estado democrático para legislar nesta matéria. É um mau serviço que se presta à causa de uma Igreja aberta ao mundo.

A verdade é que a despenalização do aborto não opõe crentes a não crentes. Nem adeptos da vida a adeptos da morte. Não é contraditório afirmarmo-nos convictamente «pela vida» e sermos simultaneamente favoráveis à despenalização do aborto. Porque sendo um mal, não desejável por ninguém, o recurso ao aborto não pode também ser encarado como algo simplesmente leviano e fácil. As situações em que essa alternativa se coloca são sempre dilemáticas, com um confronto intensíssimo entre valores, direitos, impossibilidades e constrangimentos, vários e poderosos, especialmente para as mulheres. Ora, mesmo quando, para quem é crente, a resposta concreta a um tal dilema possa ser tida como um pecado, manda a estima pelo pluralismo que se repudie por inteiro qualquer tutela criminal sobre juízos morais particulares, por ser contrária ao que há de mais essencial numa sociedade democrática.

Por isso, não nos revemos no carácter categórico e absoluto com que alguns defendem a vida nesta questão, dela desdenhando em situações concretas de todos os dias: a pobreza extrema é tolerada como “inevitável”, a pena de morte “eventualmente aceitável”, o racismo e a xenofobia é discurso vertido até nos altares. A Igreja Católica insiste em dar razões para ser vista como bem mais afirmativa “nesta” defesa da vida do que nos combates por outras políticas da vida como as do emprego, do ambiente, da habitação ou da segurança social. Além de que, no caso do aborto, a defesa da vida deve sempre ser formulada no plural. Estão em questão as vidas de pelo menos três pessoas e não apenas a de uma. Por isso, quando procuramos – como recomenda um raciocínio moral coerente mas simultaneamente atento à vida concreta das pessoas – estabelecer uma hierarquia de valores e de princípios, ela nem sempre é fácil ou mesmo clara e não será, seguramente, única e universal. Nem o argumento de que a vida do feto é a mais vulnerável e indefesa das que se jogam na possibilidade de uma interrupção voluntária da gravidez pode ser invocado de forma categórica e sem quaisquer dúvidas.

É de mulheres e de homens que se trata neste debate. E também aqui, o esvaziamento do discursos de muitos católicos e sectores da Igreja relativamente aos sujeitos envolvidos nos dilemas de uma gravidez omite a recorrente posição de isolamento, fragilidade ou subalternização das mulheres, para quem o problema poderá ser absoluto e incontornável, e reproduz a distância que sustenta a sobranceria e condescendência moral de muitos homens (mesmo que pais). A invocação do direito da mulher a decidir sobre o seu corpo é um argumento que, bramido isoladamente, corre o risco de reproduzir de uma outra forma a tradicional atitude de desresponsabilização de grande parte dos homens perante as dificuldades com que se confrontam as mulheres na maternidade e no cuidado de uma nova vida. A defesa da autonomia da mulher, da sua plena liberdade e adultez é indiscutível e será sempre tanto mais legítima e forte quanto reconhecer e atribuir ao homem os deveres e os direitos que ele tem na paternidade. Ignorá-lo é mais uma vez descarregar apenas sobre os ombros das mulheres a dramática responsabilidade de decidir sobre o que é verdadeiramente difícil. A Igreja tem, neste aspecto particular, uma responsabilidade maior. A suas preocupações fundamentais com a família exigem uma reflexão igualmente apurada sobre as responsabilidades conjuntas de mulheres e homens na concepção e cuidado da vida.

Infelizmente, pelas piores razões, o discurso oficial da Igreja está muito fragilizado para a defesa de abordagens à vida sexual e familiar que acautelem o recurso ao aborto. A moral sexual oficial da Igreja – e, em concreto, em matéria de contracepção – fecha todas as alternativas salvo a da castidade sacrificial. É um discurso que não contribui, de modo algum, para a defesa de uma intervenção prioritariamente preventiva, em que ao Estado fosse exigível um sistemático e eficaz serviço de aconselhamento e assistência no domínio do planeamento familiar e da vida sexual. Pelo contrário, o fechamento dos mais altos responsáveis da Igreja a uma discussão mais séria e aberta sobre a vivência concreta da sexualidade denuncia um persistente autismo, que ignora a sensibilidade, a experiência, o pensamento e a vida das mulheres e dos homens de hoje.

Em síntese, o recurso ao aborto é sempre, em última análise, motivo de um grave dilema moral. E é nessas circunstâncias de extrema dificuldade que achamos ter mais sentido a confiança dos cristãos na capacidade de discernimento de todos os seres humanos, em consciência, sobre os caminhos da vida em abundância querida por Deus para todos e para todas. Optar por uma reiteração de princípios universais, como o do respeito fundamental pela vida, confundindo-os com normas e regras de ordenação concreta das vidas é, além do mais, optar por uma posição paternalista, de imposição e vigilância normativas, e suspeitar de uma postura fraternal, de confiança e solidariedade, com os que, de forma autónoma, procuram discernir as opções mais justas. Partir para este debate com a certeza de que a despenalização do aborto é porta aberta para a sua banalização é abdicar de acreditar nas pessoas, em todas as pessoas, e na sua capacidade de fazer juízos morais difíceis. Não é essa abdicação que se espera de homens e mulheres de fé.

Da pulhice

A General Motors fechou hoje as portas da fábrica da Azambuja. A administração deu uma prenda de Natal aos funcionários, vê-se um na reportagem, "para os meus filhos". Da pulhice, em forma de embrulho, tenta encher-se o bodo de quem vai para o desemprego.

A interrupção voluntária do diálogo

«A Igreja Católica insiste em dar razões para ser vista como bem mais afirmativa "nesta" defesa da vida do que nos combates por outras políticas da vida como as do emprego, do ambiente, da habitação ou da Segurança Social. Além de que, no caso do aborto, a defesa da vida deve sempre ser formulada no plural. Estão em questão as vidas de pelo menos três pessoas e não apenas a de uma.»

Hoje, no Público, nas páginas de opinião (contéudos fechados), um texto de Ana Berta Sousa, José Manuel Pureza, Marta Parada, Miguel Marujo e Paula Abreu.

Juro

Li algures que uma tal Associação de Telespectadores tinha escolhido o argumento da novela Jura como a melhor coisa da SIC. Juro pela minha saúde que, em 30 zappings, de três minutos cada, devo ter apanhado umas 30 cenas de cama. Devo ser criterioso, já se vê.

Ideias

Até ver, ainda ninguém se lembrou de distribuir as habituais prendas por políticos e famosos.

20.12.06

Na hora da morte

A morte de uma celebridade pode resumir-se a 20 linhas ou duas páginas. Aqui, às claras, o processo de decisão editorial sobre a morte de Joseph Barbera. "Qui?"

Mais pés de microfone

Hoje todos os jornais insistem nos números de armas ilegais, dados pela polícia ao início da tarde de ontem, como sendo «as armas recolhidas até terça-feira». «Mais de 1100», dizem. Não eram, eram 1296. Bastava ter combinado com a PSP ou o MAI para confirmar números mais para o fim do dia. Ou então citar um blogue com a notícia. Mas fazê-lo, sem que seja o do Pacheco ou uma coisa qualquer anónima a denunciar falsos plágios, parece chatear mais.

Estive em oração


[Lost in Translation, acabadinho de dar na SIC]

19.12.06

Extra! Extra! Extra!

O LxRepórter apresenta uma notícia que os jornais têm esquecido: quantas armas ilegais foram entregues na campanha que termina amanhã? A resposta aqui.

Câmara clara

O Filipe é um amigo de quem, mesmo na ausência, nos sentimos sempre próximos. Agora, descobri-o às claras, na sua câmara. E também de volta de outras infâncias. A ler e a ver.

18.12.06

[à primeira vista]

História exemplar


[Nota bem (actualizado a 9/1/08): Como por vezes faço "link" para este "post", vale a pena lembrar que este texto já é de 18 de Dezembro de 2006 e que, em Maio de 2007, arranjei emprego. A queixa em tribunal ainda não foi julgada.]

Já aqui o disse: o jornal Metro despediu-me ilegalmente, invocando "período experimental" (por mudança de contrato, em Março de 2006), a alguém que trabalhava no jornal desde Janeiro de 2005 e que era seu chefe de redacção desde Agosto de 2005. Espantoso país, onde as empresas fazem o que querem. Desde então, o percurso dos corredores do Estado revelou-se ainda mais tortuoso, como aqui tenho contado (com a benevolência ou paciência de quem me lê). Julgava eu que o capítulo que agora se escrevia era o da paciência - de esperar pela decisão em tribunal, e de prosseguir a procura de um novo poiso, sem medíocres a comandar. Julgava mal.

Na sexta-feira, no Centro de Emprego, fiquei a saber que as regras vão mudar, incluindo o (surpresa minha!) gozo de férias. Se um desempregado quiser gozar férias terá de o fazer de seguida (um mês inteirinho, sem poder dividir) e comunicar ao director do centro que se ausenta. Digno do melhor suspeito com termo de identidade e residência. Igualdade perante a lei, diz a Constituição. Diz, pois diz.


Hoje, ao fim de duas horas e meia, fui atendido na Segurança Social, para me explicarem que valores eram aqueles que me tinham sido pagos como subsídio de desemprego, ao fim de dois meses e meio à espera, sem receber nada (havia um valor que não se percebia). E descubro, pela primeira vez, que a data que conta para as prestações do desemprego é a da inscrição na Segurança Social e não o dia em que a empresa me despede (ao contrário do que todos me diziam). Registe-se, para a história ser ainda mais exemplar, que a empresa que me despediu, obrigada por lei a entregar-me um modelo para a Segurança Social, só o fez sob pressão dos advogados que me acompanham, no fim de Setembro, um mês e meio depois de me ter despedido ilegalmente. Argumento invocado pelo director-geral da empresa para a demora na entrega do modelo: "a coisa agora é mais grave", eu tinha colocado a empresa em tribunal. Respondi-lhe que grave era o despedimento sem justa causa. E concluo que, mais uma vez, quem se lixa é o mexilhão. Desempregado, sem protecção.

Há dias, o ministro Vieira da Silva veio falar das fraudes entre desempregados. O senhor ministro, e a classe política sempre tão zelosa no ataque aos preguiçosos, podia começar por fazer uma cura de desintoxicação demagógica (ir àquelas reuniões dos centros sem comitiva e jornalistas, saber quanto tempo um desempregado espera pela prestação, comunicar ao superior quando se tiver de ausentar da cidade...), e, em vez disso, combater a sério as fraudes das empresas. A lei, dizem, protege muito os trabalhadores. Esta sim, é a maior fraude inventada que se repete à exaustão neste país miserável, entregue a medíocres.

[Nota: um amigo meu queixava-se há dias que a Cibertúlia andava demasiado amarga. Eu bem tento mudar-lhe o tom, mas não consigo. Eles fizeram os meus dias assim.]

Estatuto editorial

Leia-se sobre o caso Apito Dourado nos jornais. Páginas de "Nacional" ou "Sociedade" ou coisa que o valha, sempre assinadas por jornalistas que não são de "Desporto". Se a notícia vai no "Desporto", os jornalistas que a escrevem também não são de "Desporto". Hoje, a cereja no bolo: Hermínio Loureiro, presidente da Liga de Clubes, é entrevistado pelo Público. Nas páginas de "Nacional". O "Desporto" é coisa intocável nos jornais deste país. Os outros é que lhe limpam a porcaria.

Pés de microfones

Voltaram os directos à porta dos tribunais. Mas as notícias não são sobre o estado da Justiça. Nem sobre o estado das coisas ou o estado da literatura. São descrições de jogadas: chegou, entrou pela direita, passou sem falar e não abriu a boca.

Abram alas pró Noddy!


Moonspell interpretam Noddy, no Diz Que É Uma Espécie de Magazine. Porque eles só voltam para o ano!

Viagem

O miúdo chorava pelo Pai Natal, desde que tinha entrado no autocarro. O motorista, uns metros à frente, vendo uma loja com o velhinho de barbas brancas parou o veículo e disse ao menino que ali estava ele. E voltou a parar mais à frente, em nova montra. Os passageiros sorriram, o miúdo não chorou mais.

17.12.06

Day After Tomorrow


Tom Waits performes the song Day After Tomorrow live on the Daily Show on 28/11/06.

Sermão aos peixes

16.12.06

Reportagens do baú

Presos à consciência foi o título de uma investigação, em 2002, sobre testemunhas de Jeová condenadas por recusarem o serviço militar e o serviço cívico. Em Portugal, como por todo o mundo, muitos fiéis seguiram uma proibição que lhes valeu em muitos casos a prisão. Agora, republicada, no sítio do costume.

Cabinet


Lembram-se de Vasco M. Barreto?! Voltei a encontrá-lo. E voltamos a invejar a escrita, o humor, as imagens... [a foto é descaradamente roubada do seu blogue e pode ser aumentada].

15.12.06

Le MEC e a tosta

Leio no 6ª, o suplemento do DN, a deliciosa entrevista a Miguel Esteves Cardoso de José Mário Silva. Refresca-nos a memória, reconcilia-nos com MEC, mesmo a crucificar e a amar Portugal. Depois dou por mim a vociferar entre dentes enquanto olho a tosta mista que não é prensada. O que custa prensar a tosta?! Na Worten vendem-se a 14 euros! E volto à leitura: «[Eu amo] Como tu amas [este país], pá. Como todos os portugueses amam, acho eu. O que mostra o amor é o falar de. Obsessivamente. Alguém diz: "Não gosto de grelos, não gosto de grelos, não gosto de grelos." Todo o dia a falar de grelos... Hmmm, há qualquer coisa ali com os grelos.» E tostas.

12 minutos

Convocados para as 15h15, os oito suspeitos com termo de identidade e residência entraram na sala fria, húmida, cadeiras de napa, a maioria de meia-idade para cima, idades tramadas para o mercado dirá o economista, eu e outro seríamos os mais novos, roupas modestas para cortar o frio de Lisboa, alguns recebiam o salário mínimo, quase todos precisam da declaraçãozinha para isentar de taxas moderadoras, todos constrangidos, apesar de iguais, e a ouvir a técnica do centro de emprego entre o tom professoral das sentenças que anuncia e a resignação da funcionária que ainda não sabe o que explicar, "é à portuguesa, tudo à última hora", que as regras vão mudar, "ouviram nas notícias", e pouco mais. Saí às 15h27.

Simplex [ilustrado]

Lisboa, 6º bairro fiscal, sala de espera.

[notícias]

Mais notícias, desta vez uma petição contra uma coisa com nome feio - e que anda a complicar tudo.

14.12.06

Filofax

Em tempos, todos se lamentariam se perdessem a agenda. Depois passou a ser a filofax, que se traduzia num monumento de organização, imprescindível, obrigatório. A minha ainda hoje serve, quase sempre em branco. Mas devo ser dos poucos. Hoje, há as palms, os telemóveis, os computadores, as moleskines, o diabo a quatro de tecnologia e as filofax soam a coisa pesada, de papel, sem o glamour do gadget... Esta manhã voltei a ter saudades das filofax e das cartas e dos telefones analógicos, quando o gmail se recusou a abrir com a minha password e me disse durante horas "ooops". A filofax nunca me deixou ficar mal.

13.12.06

Lisboa

Tontices numerosas

«A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas vai apresentar uma queixa por a Maternidade Alfredo da Costa ter autorizado a apresentação de um estudo sobre o aborto nas suas instalações. "A maternidade é um local de vida, não é um local de morte. É uma das melhores do país e responsável pelos excelentes resultados na diminuição da mortalidade infantil", afirmou Fernando Castro, presidente da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, à Lusa.» Posso lembrar à Associação que todos os dias os médicos (especialmente os internos) fazem trabalhos e os apresentam e muitos falam de abortos, a partir dos casos concretos que encontram.

Some Like It Hot

Extremos

Hoje, o jantar é em Teerão.

12.12.06

É, não era?

Para a direita, Fidel é o bombo e a esquerda que se embevece nas barbas do comandante a festa de escárnio e maldizer. Mas, na hora da morte, a direita afinal extasia-se, elogia, exulta ou, pelo menos, desculpabiliza Pinochet. Julgava que os ditadores eram maus, ponto final. Afinal não. Na hora da morte, caem as máscaras e a direita revela que também tem os seus fraquinhos. Um ditador é um ditador, sempre mau, é não era?

[hoje]

11.12.06

Dias a fio

O dia fica sempre preenchido, com isto e aquilo. Uma carta mais, a avisar da comparência obrigatória no centro de emprego, qual arguido com termo de identidade e residência, dia x, às horas tal, e ameaças várias para o caso de não comparecer. Demoraram dois e meses a pagar a primeira prestação, mas mesmo assim não pagam tudo e cobram logo. Sem cuidar do que anda a fazer o desempregado para resolver a sua situação. O Estado armado em paizinho, sem ser verdadeiro Estado social, é fraco. Mas isso já intuíamos há muito. Agora, na pele, nestes dias a fio, frios, percebemos melhor.

Ideias boas

A paz misturada com o microcrédito.

Andamos nós quietinhos e fazem-nos isto


Um agradecimento público a quem votou no E Deus Criou a Mulher (anda um pai a criar um filho para isto!) para o levar ao segundo lugar do melhor blogue temático de 2006. E parabéns a todos os outros, vencedores e nomeados, e aos bloguistas da Geração Rasca por se terem dado ao trabalho e à pachorra de contarem votos e contarem como foi.

Outra simpatia, a da FHM (essa revista de bonecos e da Sissi, na última página), que acha que Deus não só criou a mulher como faz um dos 50 melhores blogues nacionais.



[Ah, a foto que se vê a acompanhar o texto é esta, aqui!

O Inferno foi ele

Bandeira, 5/12/06, no DN [clicar na imagem para aumentar]

Pinochet morreu no Dia Internacional dos Direitos Humanos.

10.12.06

Urtigas

[do Lat. urtica
s. f. Bot., género de plantas da família das urticáceas cuja haste e folhas, por estarem revestidas de pêlos que contêm um líquido cáustico, produzem sobre a pele um prurido ou ardor peculiar.]

Esta noite, ouço D. Jorge Ortiga (no programa Diga Lá Excelência, que se pode ler no Público de amanhã), e pergunto-me como pode a Igreja insistir no diálogo se há bispos que não sabem conversar ou dialogar com o mundo. Misturar preservativo com sexo livre, não perceber que a pena de morte é moralmente inaceitável e escusar-se a comentar questões sociais porque "não sabe bem" mas continua a debitar sentenças sobre a cama dos outros... Os exemplos são muitos, mas o prurido peculiar que tenho impede-me de continuar.

Gatos

Hoje, não sei porquê, o melhor dos gatos fedorentos foi a Sílvia Alberto. Dois ou três planos. Digo eu.

Silêncios

A SIC passa uma reportagem sobre os que se alimentam do lixo dos hipermercados. As duas velhinhas que todas as noites rondam o Pingo Doce em Campo de Ourique são outros rostos desta cidade silenciosa.

Lost in polish

«:: E Deus Criou A Mulher
Sam nie wiem. Ale zobaczyć warto.»

gente que pensa de tudo. E nós sem podermos responder-lhes à letra!

Morto sem arrependimento

O execrável ditador Augusto Pinochet, responsável por mais de três mil mortos, muitos desaparecidos e milhares de torturados, morreu hoje. Na hora da morte, um único lamento: o de nunca ter sido julgado e condenado pelos crimes. Mas a memória não prescreve.

Ratzinger não sabe nadar


Quando o cardeal era duro de ouvido e ainda não se tinha ouvido dos seus dotes de intérprete de Mozart.

9.12.06

[instantes de alegria]

A árvore, a primeira aqui em casa, está pronta. O presépio também.

8.12.06

Metro a público

«O monstro não era o presidente do conselho de administração, era triste, mas não era ele, apercebeu-se ela, naquele instante: ele despedira 55 colegas da sindicalista deslumbrante desde Janeiro, ela não sabia e tentava adivinhar como é que ele dormia com isso, mas naquele dia, mais três pessoas tinham assinado um papel que resumia o seu percurso dos últimos dezoito anos de vida em troca de um cheque, e, nos corredores, os outros, os que ficaram, os eleitos, exigiam pré-avisos de greve apenas porque lhes iam retirar a merda dos pagamento dos feriados a dobrar.» [Diana Ralha]

«Pinga quem está nas margens, quem critica, quem quer ser quem é, quem quer afirmar e dizer sem ter que o fazer no círculo dos eleitos. Agora, depois de anos a enxugar as pessoas que não interessam, as que têm a memória do que foi fundado e de como foi fundado, das raízes, dos pilares, passou-se a uma segunda fase. Agora, é preciso que ninguém se sinta seguro, que todos temam pelo seu lugar de trabalho, que percam todo e qualquer laço de solidariedade entre si que não seja o de obediência ao líder supremo. Nesta fase, já não há solidariedade, já não há ajudas.» [Nuno Ferreira, em comentário ao post da Diana Ralha]

Porque é que eu me revejo nestes dois textos? O caso no jornal Metro só não foi público. E não envolveu 55 pessoas. Um apenas serviu de exemplo.

Num hospital português, Dezembro de 2006

A mulher, 35 anos, deu à luz o sétimo filho. É a 21ª gravidez. No dia da imaculada conceição e antigo dia da mãe. À atenção de Vasco Pulido Valente.

Fazer a festa no fim

7.12.06

Saborear

[post-it]

Lisboa em três postais. Pouco turísticos.

Enunciado

Este blogue é um território livre de tlebismos. Ámen.

[corrija-se e explique-se: tlebsismos...]

6.12.06

Os ratos fogem sempre

«Augusto Pinochet está praticamente recuperado após ter alegadamente sofrido um enfarte do miocárdio há apenas três dias. Médicos e família desmentem ter encenado a doença do antigo líder militar chileno para fugir à justiça.» Claro, claro... E há quem acredite no Pai Natal.

Consumação

Palmatória

SEJA BENVINDO AO BLOG DE LUIS FILIPE MENEZES!

Assim: em maiúsculas, para o erro ser mais visível, apesar de o termos destacado. O inefável Luís Filipe Menezes gosta de se ter em boa conta. Podia começar por aprender a escrever. Mas deve ser mal santanista.

5.12.06

[Tranquilidade]


... outra vez os vermelhos!

[intervalo]

Ao contrário do que parece, não espumo todos os dias. Sou bem disposto por natureza. E os tipos que me criam estes más fígados hão-de dormir pior. Mesmo que não saibam ou achem que não. Eu por mim, durmo bem. Especialmente a ouvir a chuva lá fora.

Duas caras

O jornal Metro hoje é do "David". David Fonseca fez por um dia de director editorial. O jornal hoje tem ideias giras, o seu "director" explica opções, há cuidado posto no tratamento das notícias, como muitas das vezes acontece com a sua equipa redactorial. Um jornal diferente até na manchete! Ontem, por comparação, a manchete falava-nos de como os «jovens saem cada vez mais tarde de casa dos pais» e de como o desemprego afecta os jovens. Haja despudor. O tipo que entende como relevante esta notícia foi o mesmo que não teve pejo de se socorrer de ilegalidades para pôr jovens no desemprego.

4.12.06

A caliça

Quando o limpa-chaminés nos entra ao romper da aurora pela casa dentro, o Natal até parece estar aí. Houvesse crianças aqui e elas sonhariam que o senhor barrigudo de barbas já não se sujará com a caliça que cai da chaminé.

Lisboa

Em casa de ferreiro, espeto de pau.

Extremadinho

Parece que Pinochet está a morrer e já terá recebido a extrema-unção. Muito extremosos são estes ditadores na hora da morte, que nunca se arrependem de nada e fizeram da vida dos outros uma vida sem liberdade e só souberam fomentar a morte. Há coisas que, agora, seremos nós a não lamentar.

3.12.06

Um «the end» assim...



Nicholas Cage canta "Love Me Tender" em "Wild at Heart" [genérico final à prova de sics e tvis]

2.12.06

Há alguém...

... que leve Vasco Pulido Valente ao serviço de ginecologia e obstetrícia de um qualquer hospital deste país?! Só para sua sapiência não escrever, como hoje, que «por muito que doa a uma certa demagogia, materialmente, a questão do aborto acabou por se tornar numa questão residual». Ou que o leve a uma farmácia para não escrever que «os contraceptivos não custam caro» ou, mais ainda, que o tire apenas de casa para ele não se afogar enquanto destila que «a gravidez se transformou num processo de emancipação (da escola, do trabalho, dos pais), que sobrecarrega o Estado e criou uma "subclasse" parasítica e permanente (a cada filho, a mãe recebe mais dinheiro)».

1.12.06

Do baú

Os editores de livros não sabem, ou então são cegos e não querem arriscar. Mas na gaveta ficam esquecidos muitos sucessos, garantem os seus autores. Viagem aos livros que ficam por editar.

«Votações e enviesamentos cognitivos»

Reflexões oportunas: como é que isto aparece à frente disto. [Uma simpatia de Pedro Magalhães]

No fundo do copo

A fórmula é conhecida: dizer mal de tudo, pincelar com umas notas históricas, que supostamente servem que nem uma luva para o caso presente, e rematar com uma sentença demolidora. Vasco Pulido Valente fala de tudo assim. Mesmo que das coisas que fala tenho um conhecimento superficial ou um preconceito óbvio. Hoje, no Público (sem link) sobre Bento XVI e o seu sim à Turquia na União Europeia só diz disparates. Nada que não se esperasse: sabe pouco do que fala e tem um preconceito claríssimo.