23.8.03

As (minhas) geografias de Lisboa

A sair de Lisboa...
Há muitas geografias «nesta Lisboa que eu amo». A dos "lugares" da cidade. A das casas nos "lugares" da cidade.
Uma casa nos Olivais, depois da Expo, é uma casa «à Expo» ou «perto da». E da Expo ninguém diz que mora na freguesia de Santa Maria dos Olivais (a sul) ou Moscavide (a norte). Chelas é vizinha, mas pouco. A reconversão das "zonas" de Chelas em "bairros" resiste a preconceitos e hábitos.
A Rua da Emenda, onde vivi, não era Chiado, estava longe do Cais do Sodré e escondia-se de Santa Catarina. Quando o Pedro e eu demandámos a casa do anúncio que dizia «Lapa», quase tocávamos as Janelas Verdes, onde já era Rua Presidente Arriaga. Aí, no Beco da Bolacha, éramos espectadores da luta de classes pelas traseiras dos palacetes da Lapa, em salas iluminadas de glamour e empregados pretos de farda (verdadinha!). Talvez por isso nos sentí­ssemos no «cu da Lapa».
Quando na Rua da Fé, podia dizer que vivia ao pé da Avenida da Liberdade, mas depois de melhor explicado, o interlocutor não disfarçava a pena por me esconder no casario envergonhado e velho da colina de Santana.
Chegado à Possidónio da Silva, multiplicam-se as explicações e os desenhos: junto à presidência do conselho de ministros (mapa institucional), à Josefa de Óbidos (mapa educativo), aos Salesianos (mapa eclesial) e aos Prazeres (mapa necrológico).
Há quem pergunte por Alcântara ou Campo de Ourique. Que não à primeira, que sim nos limites do segundo. Novo contexto ensaiado: «Abaixo dos Prazeres». Nos joelhos?, interrompe maliciosamente alguém. Não, responde-se! Entre os Prazeres e as Necessidades, então? É. É isso mesmo!