31.12.05

[fechado para balanço II]

Não elejo o melhor blogue. Como posso escolher algo tão absoluto quando não conheço tudo? Os blogues de que gosto, mais ou menos, e que leio, com mais ou menos regularidade, estão na coluna da direita. Todos estão premiados.
Mas o que posso escolher é o melhor funeral de um blogue, e esse foi o do Barnabé, que na hora da despedida se disse de coisas bonitas e se fez de posts frenéticos em fim de época. O André pedia, então, que «não havendo cadáver, parece-me que não há razão para enterro. Proponho que se mude a metáfora para carnaval de verão. Temos três dias, disfarçamo-nos uma última vez de barnabés, para tudo se acabar na segunda-feira, sob um sol escandaloso.» No fim, com estertor, ligaram a mira técnica e puseram na grafonola o hino de Trinidad e Tobago. Quando morrer, batam em latas. E dêem-me uma festa à Barnabé.

[fechado para balanço]

No cinema, mais uma vez foi um ano de poucas idas às salas. Mas houve coisas que valeram a pena. Balanços mais exaustivos ficam para a casa do lado. Aqui, algumas das imagens de filmes que valeram a pena. Sem outras pretensões


Uma lutadora (e o melhor filme dos que vi este ano):



Million Dollar Baby/Sonhos vencidos


Um super-herói (a sério):


Batman Begins/Batman - O Início


Uma viagem (e uma vida assim contada):


Broken Flowers/Flores Partidas


Um murro (e uma dança e Natalie):


Closer/Perto demais


Um manifesto (e muitas dúvidas em vez de certezas):


Crash/Colisão


Um amor tardio de Verão (e Emily):


My Summer of Love/Um Amor de Verão


Uma surpresa (e a luz e a cidade e Scarlett):

30.12.05

O consumidor reclama

Um tipo arranca um dente - a idade não perdoa, bem se vê... - e é aconselhado a alimentar-se durante um dia com coisas frias e moles. Pega-se num iogurte e sai piada na tampa: «Tu és puro sorriso». Pois, pois. De lábios cerrados.

29.12.05

«O que me preocupa é o desemprego, que é um drama para cada um dos 430 mil desempregados»

(Cavaco Silva, primeiro-ministro de 1985 a 1995*,
na terça-feira passada)

Taxa de Desemprego (Total) - Homens e Mulheres
Periodicidade Trimestral

1992
4,1 - 3,9 - 4,1 - 4,5

1993
5,1 - 5,3 - 5,6 - 6,2

1994
6,8 - 6,7 - 6,8 - 7,1

1995
7,4 - 7,0 - 6,9 - 7,3

in Séries Cronológicas do INE, Taxa de Desemprego Total
(* - os valores anteriores a 1992 não estão disponíveis online)

[arrumar a casa]

Limpeza feita na coluna da direita: blogues novos para visitar, outros desaparecidos limpos da prateleira e outros ainda arrumados em melhor armário. É favor consultar.

Sem saúde (caso prático)

V. teve um acidente, a sair de um banco de 24 horas. Com sono, embateu num camião. Não sei quantos doentes tinha visto, senhor ministro.

Sem saúde

O ministro Correia de Campos parece que quer que os médicos recebam por doente visto nas urgências. Eu, por mim, proponho que o ministro só receba por despacho assinado!
Ao ministro não interessa que um médico passe 24 horas seguidas a trabalhar (porque 12 horas extraordinárias são obrigatórias ou a urgência fecha) e depois - porque não há médicos suficientes - ainda tenham de ir para as enfermarias, sem descanso.
Ao ministro não interessa que as urgências continuem a receber "aftas" às três da manhã porque é mais fácil pagar a taxa moderadora que aturar as filas dissuasoras dos centros de saúde.
Ao ministro pouca importa se os médicos em formação estão muitas vezes desacompanhados nas enfermarias e nas urgências porque os mais velhos são poucos e não chegam para tudo.
Já sei. Há muitos clínicos que prevaricam, que confundem privada com público, e por aí fora, mas aí aperte-se a sério (que nisto o senhor ministro não mexe): proponha-se a quem está no público um salário justo e sério (e quem não quiser que se dedique à privada), metam-se as pessoas necessárias nos quadros e vai ver que as horas extraordinárias baixam imediatamente.
Escusam de vir aqui os arautos dos médicos-é-que-são-culpados: cá em casa, mora uma, e o que em cima se conta é de quem sofre com um sistema que espezinha as pessoas sob a capa de mudar o que está mal; ela (e eu) preferíamos noites bem dormidas e menos dinheiro das horas extra, sem urgências de 24 horas.

Iludir a erosão

Dois novos frutos semeados.

27.12.05

Silêncio - dias de contemplação


Mulher a rezar junto a uma vala comum no Sri Lanka.

Dias tranquilos

Vantagem séria do Natal: pouca televisão, menos telejornais, quase sem rádio, jornal criteriosamente lido. Assim, as presidenciais são um eco longínquo e o país parece suportável.

Dias de viagem

A CP chama Intercidades a um comboio que pára em Vila Franca de Xira, Santarém, Entroncamento, Fátima (um ermo no meio de nenhures e não a localidade), Caxarias, Pombal, Alfarelos, Coimbra-B, Pampilhosa, Mealhada, Aveiro, Estarreja, Ovar, Espinho, Gaia, Campanhã, e pára ou segue por aí fora, até Braga ou Guimarães. A CP chama Pendular a um comboio que pára naquelas estações excepto Vila Franca de Xira, Fátima, Caxarias, Alfarelos, Pampilhosa, Mealhada e Estarreja. A CP quer o TGV para quê?

23.12.05

Feliz Natal


Paula Rego, Virgem grávida (Nativity),
na Capela do Palácio de Belém.

Pressa

Demasiada pressa: fechar páginas, despachar amigos ao telefone, dessintonizar a rádio entre o futebol de meia-noite e a música natalícia, zappar sem fim e sem nada na tv. Fazem-me falta o cinema, as conversas, os amigos, a pausa, a festa, o nascimento. Vêm aí. Com a tranquilidade de dias que precisam de ser vividos com outro ritmo.

22.12.05

É de mim...

... ou Pacheco Pereira tem calado, propositadamente, as suas críticas aos alegados desvios esquerdistas da comunicação social, nesta campanha das presidenciais?!

21.12.05

Monteiro preveniu-se para as prendas de Natal


Dina viu o seu sucesso “Amor de Água Fresca” ser vendido no eBay, a 19 de Julho, por 62 euros.

A terra, hoje

Um frio de rachar. Um ou dois graus negativos. Vento. Uma impressão de navalhas a serem lançadas pelo ar. Uma velhota no meio da rua, de joelhos, a pedir. Romena ou moldava talvez, pelo aspecto. Com este briol que corta tudo… - aqui, como dar...

O debate, ontem

Uma síntese entre Vasco Pulido Valente e Augusto Manuel Seabra, hoje no Público [sem links].

20.12.05

No país de Cavaco
[ou nós temos memória]

Os agentes da PSP ouvidos hoje no julgamento do caso do jovem baleado durante os protestos na Ponte 25 de Abril, em 1994, recusaram que tivessem sido efectuados disparos por parte dos manifestantes, como foi anteriormente afirmado. O julgamento cível decorre no Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa, depois de no processo-crime não ter sido provado que foi um polícia quem alvejou a tiro Luís Miguel Figueiredo - que ficou paraplégico - embora fosse provado que houve disparos de balas reais. A defesa do jovem, que tinha 18 anos na altura dos acontecimentos, reclama uma indemnização de 225 mil euros ao Estado. [in Lusa]

Autopalermice

A Volkswagen recebeu benefícios para se instalar em Portugal. Ao longo dos anos, a marca alemã manteve sempre uma situação de privilégio, mas todos os anos aperta os calos aos trabalhadores - ou eles acatam as suas propostas ou os senhores vão montar carros para a Conchinchina. Os trabalhadores aceitaram sempre, com uma responsabilidade social, elogiada pela direita liberal e pelos empresários subsidiodependentes. Este ano, nova prenda no sapato: "ou aceitam ou marchamos". E o inenarrável ministro da Economia adverte que se não for viabilizado o acordo, a culpa é dos funcionários. Não, não é! A culpa é de um Estado (Cavaco, lembram-se?) que aceita as regras de uma multinacional e que todos os anos cede às ameaças, sem nunca negociar claramente com a empresa. Inaceitável.

A árvore da vida

Um texto belíssimo.

19.12.05

Ai pode!

Título cifrado, para prenda desejada no sapatinho.

Match point, mesmo
[ou Há tipos com sorte]

Scarlett Johansson, em "Match Point", de Woody Allen

17.12.05

Pequeno contributo para a democratização do Médio Oriente sem guerras


É um deus que não tem barreiras: um por cento dos que passam pela sua casa, vêm da República Islâmica do Irão*. Inch'Allah!

[* - dados do sitemeter, este sábado]

Pequeno contributo para a democratização dos EUA


Sete por cento dos leitores* desta Cibertúlia vêm dos Estados Unidos.

[* - dados do sitemeter, este sábado]

16.12.05

Procura-se [parábola para estes dias]

A imagem do Menino Jesus foi "raptada" do presépio instalado no Largo Frederico Laranjo, em Portalegre, estando desaparecida desde a madrugada de quinta-feira, informou hoje fonte da Associação Comercial de Portalegre (ACP). Segundo Francisco Silva, presidente da ACP, os autores do roubo romperam a rede que vedava a cabana do presépio e levaram a imagem do Menino Jesus. "É uma brincadeira inaceitável. Espero que o bom senso impere e que a imagem seja devolvida", disse. O dirigente da ACP, responsável pelo presépio, revelou que esta não e a primeira vez que acontece uma situação deste género. "No ano passado roubaram o Pai Natal e as hastes das renas, que mais tarde foram encontradas na Serra de São Mamede", frisou. [in Lusa]

[desabafo]

Temos saudades da Vanessa, pronto.

Um voto a menos?

O Cavaco é triste. O Miguel lá de Aveiro veio dizer-me que «tristeza [é] uma esquerda desenraízada das necessidades do país, desagregada e desunida e claramente consciente da sua derrota. Sim é este o verdadeiro nome da tristeza da esquerda!» Claro que o meu homónimo conterrâneo é de direita, o que explica o seu comentário. Mas não iliba Cavaco.

A candidatura cavaquista é triste: uma certa direita, a do PP, engole-a, com medo que lhe saia a fava. Outra, o PSD do centrão, não lhe perdoa o tabu em silêncio, embora agora regozije com o silêncio de campanha. Uma terceira direita, a do PPD-PSL, não lhe atura rodagens de carros e, menos ainda, a moeda má que atirou a Santana. Agora todos aparecem solícitos a apoiá-lo, sem convicção e sem se porem a seu lado na campanha. Revelador.

E há ainda o tom sebastiânico assumido, que se partirá em pedaços uma vez instalado os pés de barro em Belém. [Aos que criticam a falta de ideias e propostas à esquerda, podem explicar-me uma ideia clara, concisa e concreta do candidato único de direita, que não seja de um ministro das finanças, para o qual ele não concorre nestas eleições?]

À esquerda, que é onde me revejo, para minha pena, a campanha não tem sido mais alegre, ou pelo menos mobilizadora. Depois do debate de ontem, de Mário Soares e Manuel Alegre, mais desiludido fiquei. De Soares continuo a achar mais ideias e substância nos seus correlegionários do que no candidato, frouxo na explicação dos motivos da candidatura (afinal, como se pode lamentar que não haja renovação, se não deixa espaço para ela acontecer?) e quase mitómano na tecla da experiência que só ele terá. Alegre fraqueja no trabalho de casa, o que demonstra a falta de uma máquina mais preparada, valendo-se mais dos afectos. Menos mau, ainda assim que Soares no campo das propostas, falhou ontem redondamente no seu enunciado (o disparate da dissolução fala por si).

Recuso-me a considerar, à esquerda, as candidaturas meramente partidárias, de Louçã e Jerónimo, como também esta noite se pôde ver.

O resultado é claro: uma tremenda desilusão. Sobretudo pela esquerda. Sobretudo pela opção suicidária do espaço político do PS, mas também pela opção sectária das candidaturas do BE e do PCP. O meu voto? Por agora, um rotundo branco. Queiram convencer-me do contrário até 22 de Janeiro, detesto não botar uma cruzinha. Coisa de católico.



Saramago e o seu «Ensaio sobre a Lucidez», por António/Expresso

15.12.05

Eu também já O vi - parte II

A besta - e ela.

Madrugadas assim



[com posts destes e destes, sou obrigado a copiar e a "linkar". sem mais...]

13.12.05

Cavaco Silva


Nome de tristeza.

Pregados

Para desespero de uns (que esperavam para afiar as garras contra o "mundo") e outros (que se iam lançar aos "sucessores inquisitoriais"), os bispos portugueses reagiram sensatamente. Venha a próxima questiúncula.

O novo filme do governador da Califórnia

O assassino.

Irão ver...


Lutz, amigo, o Irão censurou a Heidi! Todos preocupados com as declarações do presidente iraniano e ninguém se lembrou de criticar este atentado à liberdade de expressão!

12.12.05

100 mil visitas!

A casa do lado louva as mulheres todos os dias. Elas apareciam aqui de quando em vez, mas os amigos insistiam. "Faz um blogue só para elas". Ele nasceu e ganhou vida (quase) própria. Hoje, às 18:07, chegou às 100 mil visitas - e mais de 200 mil páginas visitadas. Desde 20 de Março (os arquivos enganam, ao recuperar as datas de publicação aqui na Cibertúlia), E Deus Criou a Mulher gerou a sua legião de adoradores. Eu, mero sacerdote da casa, resigno-me a louvá-las todos os dias. Hoje, com bênção a preceito.

Pulo evangélico

Soares confunde evangélicos com evangélicos. Mas o meu amigo Tiago oblitera o essencial: Soares foi reconhecido pelo seu empenho no diálogo interreligioso pela Comunidade de Santo Egídio (católica).

E, sim, há fundamentalismos evangélicos, que apregoam uma missionação exclusivista e excluidora... (Como os há entre os católicos - quem não se lembre de César das Neves ou, noutro campeonato, de Lefèvre?!) Soares fala destes evangélicos. O resto é confundir evangélicos sãos (como o Tiago, malgré Cavaco) e evangélicos daninhos (como Buchanan-e-tantos-outros-fundamentalistas).


[Nota final: Tentei deixar este comentário a um post no Pulo do Lobo, o blog de apoio a Cavaco. Não deixaram. Já há dias me aconteceu isso. Das duas, uma: ou os cavaquistas não gostam de macintoshs ou o meu IP já foi detectado pelo spin dos senhores...
Reparos: 1. Afinal, os nossos pulistas têm um sistema de aprovação posterior de comentários; queixei-me sem razão. 2. Na Voz do Deserto, há um texto do Tiago que explica algumas coisas mais sobre isto dos evangélicos [Evangélicos, once again.]

Lua

[Arraiolos, foto MM]

11.12.05

Por estes dias

Conceição sem mácula.

Da série A educação conjugal da menina donzela em mil novecentos e troca o passo*

«Não digais: "Os romances honestos chateiam-me." Dizei: "Gostaria de algo interessante para ler."»

- in Manual de Civilidade para Meninas, Pierre Louÿs (2ª ed. port. Fenda: 1995).

* - a ler (outr)os originais no bombyx mori

Benfica, 2 - Cavaco, 0

1. O Benfica ganhou - e nem um e-mail ou SMS recebi de parabéns dos meus amigos sportinguistas e portistas, sempre tão lestos noutras horas.
2. Os sportinguistas e portistas gostam do Cristiano Ronaldo.
3. Não vi os dois debates deste fim-de-semana longo. Parece que continuam a ser posts com direito a réplica nos comentários.
4. À direita, Cavaco foi melhor. À esquerda, Louçã. Ao centro, os moderadores, claro.
5. Há uma pequena parte da geração de 70 que escreve no DN. Lá, Pedro Lomba faz campanha por Cavaco, sem nunca denunciar interesses em causa própria. Maneiras de estar. (Também no Público, Pacheco nunca é apresentado como «historiador/apoiante de Cavaco» ao contrário do simulacro intelectual que é Eduardo Prado Coelho, professor universitário e membro da comissão de Alegre).

10.12.05

[nota]

Agradeço mézinhas e melhoras. Mas o pior já lá vai. Agora só quantidades inenarráveis de «muco mais ou menos viscoso segregado pelas fossas nasais». A ausência deve-se a causas bem mais amenas. Dois dias de descanso num Alentejo soalheiro e outonal. O blogue segue dentro de momentos. Como o país.

7.12.05

Estado geral

Corpo moído, ligeiramente febril, muita expectoração, tosse qb. Mal, portanto. Como o país.

6.12.05

Cinema

Em antestreia. Num sítio aconselhável todas as semanas.

Confesso


Ontem com o debate, voltei a recordar a repugnância cultivada pelo modo de fazer política do político Cavaco. Aquele ar salvífico, aquele tom de mestre, arrepia... Porque nos lembramos do que foram os seus dez anos de Governo.

Opinion maker

O melhor comentário a Cavaco passa na rádio com a canção «Broken Wings».

Hipocrisias

Ao ouvir Cavaco falar que se preocupa com o desemprego e a pobreza, é impossível não recordarmos o fosso que cresceu sob o seu mandato entre ricos e pobres e o emprego precário e o desemprego, depois dos anos dourados dos fundos comunitários.

5.12.05

Lisboa perde

Carrilho ao que parece perde protagonismo na Câmara de Lisboa. Mal ou bem, quem votou nele, votou em Carrilho para a Câmara. Não me lembro na campanha de nenhum Dias Baptista, que agora assume as dores de quem quer que seja, sem que os votantes socialistas sejam tidos e achados (insisto). O PS de Lisboa tem tendência para a autofagia, como se vê, e como se viu antes.

A outra derrota maior de Lisboa? Independentemente de Carrilho (ou malgré lui...), termos perdido uma grande primeira-dama. Insisto, eu sei.

À escuta


Nine Horses, featuring David Sylvian.
Dos poucos que ainda me faz comprar novidades.

Intimidade

Ela desafia o frio nas ruas da cidade.
[actualização: o JMF tratou de ilustrar o equipamento adequado para sair à rua...; na casa ao lado também já a homenageámos.]

4.12.05

Ideias procuram-se

A direita que batia em Sócrates à procura de ideias (que as havia), não só não atiça agora os dentes sem açaime para Cavaco - que não diz nada, a não ser que está acima da populaça e não vai em intrigas - como ainda faz gala do estilo do seu sebastiãozinho.

Estado dos transportes

A Carris vai fechando os seus postos de venda. Comprar um passe, que não seja o de cidade, é cada vez mais difícil. Alguém falou em Ota ou TGV?

3.12.05

Cavaco já tinha avisado...

que não queria fazer campanha com o PSD e o CDS. Em Janeiro.

Memórias

Há 16 anos chovia muito. Boda abençoada, diz-se.

2.12.05

Corpos de delito

Falar do corpo sem tabus ou escolhos. Ter prazer, nisso. E falar do prazer. Os católicos também o fazem. Mas há uma semana, o Mil Folhas do Público só conseguia dizer que um grupo de estudantes dos ensinos secundário e superior o fazia, omitindo que era o MCE, Movimento Católico de Estudantes, que o promove numa revista, publicação oficial do movimento. Fosse um qualquer grupo obscuro católico a dizer que o corpo é pecado e o adjectivo estaria lá para não se ter dúvidas.

1.12.05

Pequenos prazeres de uma noite de chuva
[uma cowboy assim, em exibição no canal Hollywood]

Download (o capitalismo)

Nos EUA, comprei o primeiro EP dos Arcade Fire por sete dólares (menos de seis euros). Na FNAC, há dias, vendia-se por 15,95. É por estas e por outras que ando sempre desfasado no que se ouve cá por casa. Dessa visita à loja do Chiado trouxe o «16 Lovers Lane» (1988) dos Go-Betweens, o «Hips and Makers» (1994) da Kristin Hersh e o «Macaréu» (2002) dos Gaiteiros de Lisboa. Total: um pouco menos de 25 euros, por três discos.

A culpa disto tudo?

Há 365 anos houve uns tipos que atiraram outro pela janela abaixo e isto nunca mais foi o mesmo.

30.11.05

Mais um motivo para NÃO votar Cavaco


Pedro Granger, dito actor, apoia o dito candidato. [foto João Relvas, Lusa]

Despertares, menos

Pouco antes das oito, o martelar contínuo começa a ganhar forma, sente-se a parede ir abaixo. Porque será que as obras em casas de vizinhos têm de irromper, assim, cedo, para depois - com o sono entornado e o dia já alto - se acalmarem e quase parecerem um sussurro?

Despertares assim

Sete da manhã.

Curas inventadas para estes dias

Fechado o BdE, tomamos as aspirinas necessárias para estes tempos: um novo blogue colectivo, animado também por José Mário Silva, que se reinventa todos os dias, mesmo em letra minúscula. Nós agradecemos, no recato.

Em linha

29.11.05

Filmes Para o Milénio

Ciclo de Cinema Filmes Para o Milénio

às quartas, 21h, entrada livre
no Museu República e Resistência da Cidade Universitária - Lisboa
(Rua Alberto de Sousa - Zona B do Rego)



30 de Novembro
The Bottom Line: Privatizing the world (O bem comum)

7 de Dezembro
The Take

14 de Dezembro
The Corporation

28.11.05

Sementes da terra

"Denunciamos a ambiguidade do discurso do Magistério da Igreja sobre homossexualidade que contribui objectivamente para a discriminação social dos homossexuais. Afirmamos que os homossexuais não são cidadãos de segunda e que têm portanto igual dignidade e direito a ver reconhecida a sua diferença." [in Documento sobre Moral Sexual, do Movimento Católico de Estudantes, Setembro de 1993]

A partir de agora, a Terra lança sementes mais duradouras. Textos sem tempo, para que o tempo não os apague.

O macaco sábio

[Chinatown, San Francisco, EUA - por MM, 2005]


Cavaco Silva é o «macaco sábio, que não vê, não ouve e não fala», mas tira partido do silêncio. [Jerónimo de Sousa, este domingo.]

27.11.05

Cavaco, insiste - mas nós temos memória

"Cavaco Silva ficou surpreendido com a ordem governamental que obriga as escolas públicas a retirar os crucifixos das salas de aula. O candidato entende que não devem criar-se divisões «onde elas não existem». Em declarações reproduzidas na edição deste domingo do jornal Correio da Manhã o ex-primeiro-ministro chama a atenção para o facto de na sociedade portuguesa «predominarem os valores do catolicismo». Mas há uma coisa de que Cavaco Silva diz estar certo: «Face aos desafios que o país enfrenta, não é certamente este (os crucifixos) o problema que preocupa os portugueses». O candidato sublinhou saber e aceitar que «nos termos constitucionais há uma separação entre o Estado e a Igreja», mas voltou a frisar que «na sociedade portuguesa predominam os valores do catolicismo»."

Este é o mesmo senhor que tentou puxar da cartola, em 1995, uma ideia para cativar (algum) eleitorado "católico": o facto de Jorge Sampaio ser divorciado. Na altura, não pegou. Agora, volta a acenar aos católicos... Em questões que não existem, como ele próprio diz. Por isso, não se devem criar divisões onde não existem: retire-se os crucifixos.

Porque hoje é domingo

1. Sou católico.
2. Os crucifixos devem ser retirados das (poucas) escolas públicas onde estão.
3. A escola deve continuar a ser um espaço de conhecimento - das diferentes religiões, também.

26.11.05

A direita, sempre pela metade


A direita gosta de gritar liberdade no 25 de Novembro, mas esquece-se de o fazer no 25 de Abril. Porque a direita continua a esquecer-se que o Novembro do seu contentamento só foi possível por haver Abril. Não houvesse Abril, não havia quem gritasse liberdade.
Mas a direita é vezeira nestas coisas da História: a culpa da descolonização não foi do obstinadamente sós do regime fascista de Salazar, foi de Mário Soares; as guerras civis de Angola e Moçambique foram uma vergonha e deixaram muitos portugueses sem nada, esquecendo os que tudo perderam - mesmo a vida - na guerra colonial; a culpa do atraso da economia é das nacionalizações do PREC, não de uma classe empresarial intolerante com justos salários para os seus trabalhadores e indulgente para os seus próprios bolsos. A direita grita muito pela liberdade de Novembro; a direita gosta do Inverno, já se sabe.

25.11.05

posso rir que fique feie


O Blogue de Esquerda acaba hoje, 30 anos depois do 25 de Novembro, dia decisivo para afirmar a liberdade de Abril (também pelas mãos de Eanes, que escolheu na altura o lado certo da luta. Hoje, equivocou-se com os rios que voltam a passar debaixo das pontes para atrapalhação acidental.)

24.11.05

E não se pode julgá-los?

Eduardo Catroga está na SIC Notícias a perorar, qual académico, sobre desemprego e défices e afins, como se não fosse ele responsável por nada do muito mal que se fez algures na primeira metade da década de 90. Estes senhores são chamados impunemente a debitar bitaites... Para dizerem como foram incompetentes? Não, para ensinar como deve ser, para os que lá estão, quando ele(s) não fez(izeram) nada.

Sexo fora nada (mais preliminares)

A minha questão sobre o documento do Vaticano que quer afastar os homossexuais dos altares não tem a ver com noção de pecado, caro timshel. O meu problema com este documento prende-se com o celibato - de que discordo e que entendo ser um problema para a questão da sexualidade, como ela se colocou nos EUA e noutros países. Se há celibato, a pretensa homossexualidade ou heterossexualidade do seminarista não se coloca [nota: hoje no Público - sem link - o padre Carreira das Neves fala a partir deste ponto de vista, vale a pena ler].

Ainda assim: também não concordo absolutamente com a abordagem que fazes do pecado e da homossexualidade, mas a esse tema voltarei depois, com mais tempo e fundamento (espero).

Dos limites da tolerância
[um comentário]

Caro Afonso, a frase que me atribuis não é minha, mas citei-a por me parecer correcta/discutível. E suponho que o problema começa pela "semântica": o verbo tolerar tem hoje um significado quase depreciativo - e o dicionário não ajuda: "do Lat. tolerare, v. tr., consentir tacitamente; ser indulgente; deixar passar; permitir; desculpar; suportar." [in priberam.pt] Menos mal com a tolerância, mas ainda assim imperfeito: "do Lat. tolerantia, s. f., qualidade de tolerante; acto ou efeito de tolerar; atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente da adoptada por si mesmo; acto de não exigir ou interditar, mesmo podendo fazê-lo; permissão; paciência; condescendência; indulgência" [idem]. Trago aqui as definições para se perceber como as palavras acabam por atrapalhar mais. Mas, como dizes, "nas actuais circunstâncias histórias não haverá princípio alternativo que satisfatoriamente possa substituir o princípio da tolerância. Abandoná-lo, ou tão-só enfraquecê-lo, miná-lo, produziria o efeito perverso de abrir espaço não tanto para o vazio quanto para a intolerância". Por mim, prefiro dizer que a minha liberdade começa onde começa a do outro - e é este o exercício que deve ajudarmo-nos a conhecer ("co-naître", co-nascer) com o Outro (sem ser só "tolerá-lo").

descredibilizar a blogosfera

«O que dizer de um blogue que coloca um pedido de esclarecimento ao governo, convida toda a blogosfera a colocar a mesma questão, e que quando o governo responde, escreve:

"ver o Primeiro-ministro a responder aos blogues da micro-causa" (ah ah o parvalhãozeco que caíu no engodo de andar atrás do meu micro-rebanho)

"Ele fá-lo por arrogância, convencido que ganha uns pontinhos, mas está muito enganado." (ele está muito enganado, o arrogante)

O que não se encontra entre aspas e em itálico é, embora não pareça, da minha autoria.» [timshel]

Cartas ao Pai Natal
[de um e-mail]

Cartas ao Pai Natal I - Mário Soares

Pai Natal
Acordei agora da sesta. Tive um sonho original.
Conversei com a Maria
E achamos que não é sonho
Mas uma ideia genial!
Já fui ministro, primeiro-ministro
E duas vezes presidente deste país
Está na hora de mudar de ares
Aceitar novos desafios
Levar mais longe o nome de Portugal
Ou o meu nome? Como sempre quis.
Como tu tenho já uma certa idade
E no ventre a mesma proeminência
Decidi que para o ano quero ser o Pai Natal.
Portanto?
Olha pá faz as malas. Desocupa a Lapónia.
Vou ser eu o Pai Natal.
Tem lá paciência.

Assinado: Mário Soares
(Ex-deputado. Ex-Primeiro Ministro. Ex-Presidente da República. Ex-Deputado europeu. Futuro Pai Natal)


Cartas ao Pai Natal II - Manuel Alegre
Pai natal quando voares nos céus da minha Pátria
Quando aterrares as renas nas planícies do meu País
Lembra-te desta carta, pedido singelo
De um homem que só para a Pátria pede
Para si? Nada quis.
Se o nevoeiro que levou D. Sebastião
Te fizer perder o rumo e baralhar o norte
Segue o cheiro a verde pinho
Ouve a minha trova no vento que passa
E chegarás às chaminés do meu país
Pátria desafortunada. Sem euros. Má sorte.
Numa das chaminés de Lisboa
Sentirás o odor e verás o fumo negro da traição
Que o teu trenó sobre ela paire
Que sobre a chaminé de Soares a tua rena páre
E solte bosta. Um imponente cagalhão.

Assinado: Manuel Alegre


Cartas ao Pai Natal III - Francisco Louçã
Isto não é uma carta!
É um manifesto. Um protesto. Uma petição
Assinada por dezenas de intelectuais
E outras pessoas que jamais
Se reviram numa festa
Bacanal
Orgia de oferendas
Dadas sem qualquer critério
E que perpetuam uma tradição
Caduca. Reaccionária. Clerical.
Que tu representas oh pai do natal.
Com esta petição pretendemos
Que a data seja referendada
Não imposta, decretada
Por um estado economicista e liberal
E que seja celebrada quando um homem quiser
Não à roda da mesa. Consoada.
Mas num portuguesíssimo arraial.

Assina: Francisco Louçã


Cartas ao Pai Natal IV - Aníbal Cavaco Silva
Excelentíssimo Senhor Doutor Pai Natal
Venho por esta via pedir para a minha Maria
O Kama Sutra, versão condensada
Não sei se a minha Maria teria
Para a versão completa e ilustrada
Suficiente pedalada.
Eu para mim
Por ora nada peço
E de momento nada digo
Não abdico do meu direito de manter o suspense
E de fazer tabu do meu posterior pedido.
Mas?. E só isto adianto
Não preciso de Viagra
Para acompanhar a minha Maria na leitura
Do acima citado livro
Que teso e hirto ando eu sempre
Não precisando por isso de muleta
Ou qualquer outro suplemento
Para manter a rigidez
E o meu porte sobranceiro.
Despeço-me atentamente economizando palavras
Porque como vossa Excelência sabe:
Os tempos são de crise e tempo é dinheiro.

Assina o Professor Doutor:
Cavaco Silva


Cartas ao Pai Natal V - Jerónimo de Sousa

Camarada

Tu que és explorado pela entidade patronal
Durante a época do Natal
Usado como símbolo do capitalismo
Para fomentar o consumismo
Desenfreado, descontrolado
Que enriquece a burguesia
E empobrece o proletariado
Junta-te a nós no combate
Contra a guerra no Iraque
Oferece Che Guevaras, não ofereças Action Man's
Luta pela igualdade feminina
Não dês Barbies mas Matrioshkas
Educa as crianças de hoje
Comunistas amanhã
Substitui o Harry Potter pelo livro "O Capital".
Camarada
Reivindica o teu direito a um transporte decente
Pára o trenó e as renas
Que não é veículo de gente operária e trabalhadora
Como tu oh pai natal!
Unidos venceremos o imperialismo e os reaccionários
Viva o Natal dos oprimidos!
Viva o Natal dos operários!

Assinado pelo candidato: Jerónimo de Sousa
(Carta aprovada por unanimidade e braço no ar pelo Comité Central do PCP)

23.11.05

A lógica que nos mantém cativos

No sítio do costume.

Sexo fora nada

Gays fora dos seminários, dizem hoje as notícias. O Vaticano que me corrija: mas os heterossexuais também não estão fora dos seminários? Afinal, o sexo não é para ficar de fora da vida dos padres?!

22.11.05

[Portugal não é assim tão mau]

Basta ver aqui [via Trivial].

Rogai por nós

Denise Richards será a mais hottest das mães à face da terra, segundo a revista In Touch. A fleuma britânica tropeça nestas palavras e toca logo de alinhar 34 mamãs para contentamento de muitos petizes.

[daria um belo post para o dia 8 de Dezembro, dito da imaculada conceição...]

Morreu o Peter*

Nunca o conheci, conheci a sua casa. Bastou-me. Hoje, em navegação tardia, descubro a notícia da morte (já no dia 19) e a dedicatória breve da Ana. Saudades de voltar aquele porto...

[foto MM, Agosto/02]


* - José Azevedo, do Peter Cafe Sport, na Horta. Conhecido pelo gin, porto de abrigo de marinheiros e marujos de férias.

As certezas de Bush

George W. Bush não era o governador do Texas, ao tempo da execução de Ruben Cantu (para que conste: era uma democrata, mas na pena de morte os "azuis" temem ir contra a maioria americana das sondagens que é a favor da pena máxima). Para que chamo, então, Bush ao caso? Porque foi o governador que mais matou no exercício do cargo, na história recente americana: 152 pessoas condenadas foram executadas em seis anos (1994-2000).

Nestes casos todos, o actual presidente americano só teve certezas: «Bush has said: "I take every death penalty case seriously and review each case carefully.... Each case is major because each case is life or death." In his autobiography, A Charge to Keep (1999), he wrote, "For every death penalty case, [legal counsel] brief[s] me thoroughly, reviews the arguments made by the prosecution and the defense, raises any doubts or problems or questions." Bush called this a "fail-safe" method for ensuring "due process" and certainty of guilt.» [in NY Review of Books]

Confrontando o que ele diz com análises detalhadas às suas condenações, eis o resultado do seu método "seriously" e "carefully": «[...] The Chicago Tribune published a compelling report on an investigation of all 131 death cases in Governor Bush's time. It made chilling reading.
In one-third of those cases, the report showed, the lawyer who represented the death penalty defendant at trial or on appeal had been or was later disbarred or otherwise sanctioned. In 40 cases the lawyers presented no evidence at all or only one witness at the sentencing phase of the trial.
In 29 cases, the prosecution used testimony from a psychiatrist who - based on a hypothetical question about the defendant's past - predicted he would commit future violence. Most of those psychiatrists testified without having examined the defendant: a practice condemned professionally as unethical.
Other witnesses included one who was temporarily released from a psychiatric ward to testify, a pathologist who had admitted faking autopsies and a judge who had been reprimanded for lying about his credentials.
Asked about the Tribune study, Governor Bush said, "We've adequately answered innocence or guilt" in every case. The defendants, he said, "had full access to a fair trial."» [in commondreams.org]

O homem das certezas mergulhou o mundo numa guerra suja. Como já antes tinha mergulhado o seu governo no Texas na velha máxima de "olho por olho, dente por dente", sem qualquer compaixão.

21.11.05

Só mais este detalhe

«Ruben Cantu was charged with capital murder at age 17. He was 26 when he was executed. He had long professed his innocence.»

Porque sou (sempre) contra a pena de morte

«Executed man may have been innocent. Doubts are being cast on the guilt of a Texas man executed more than a dozen years ago after the crime's lone witness recanted and a co-defendant said he allowed his friend to be falsely accused under police pressure, the Houston Chronicle reported Sunday.» [in CNN, via Mar Salgado]

Cativar

"Tolerância é a capacidade de aceitar o diferente. Não confundir com o divergente. Intolerância é não suportar a pluralidade de opiniões e posições, crenças e ideias, como se a verdade fizesse morada em mim e todos devessem buscar a luz sob o meu tecto." Uma outra proposta de cativar o Outro.

20.11.05

Simulacro de um intelectual


[via Ivan Nunes, A Praia]

[piada por e-mail]

Atento às prevenções recomendadas para minimizar o risco da pandemia da gripe das aves, o Papa considera a hipótese de cancelar a Missa do Galo deste ano.

Low cost

Peço desculpa pelo eventual preconceito, mas as hospedeiras sempre me pareceram empregadas de hotelaria mais sofisticadas. As das companhias aéreas de baixo custo, onde tudo se paga, mais reforçam a imagem.

Do ar

Paris brilha, à noite. E distingue-se uma pequena torre que se ergue para o céu onde voamos. Não há sinal de tumultos - nem de carros a arder. Há políticos que devem viver muito tempo no ar.

17.11.05

Os velhos

Uma sondagem do final da semana passada dizia que Soares e Alegre colhiam menos votos entre os mais velhos. Cavaco reinava na terceira idade. Entre os jovens, Soares e Alegre eram mais populares. Não admira - e não é uma leitura política a que faço. Em Portugal, os velhos escondem-se em lares ou em casas ou abandonam-se em hospitais e "clínicas de rectaguarda". Os próprios velhos resignam-se à bisca no jardim ou à menorização na família. Por isso, desconfiam de um velho como Soares continuar no activo. Desconfiam da sua própria sageza. Há excepções, claro. Mas aquela sondagem revelou mais naquele detalhe do que nos resultados para as eleições.

Crónica de uma morte anunciada

A nove dias do fim: o Blogue de Esquerda II. Em orgia de textos, links, imagens, poemas, itálicos e concurso a propósito. Todas as mortes deviam ser assim: festivas.

16.11.05

Así habla Grissom

Escarrapachado no sofá, tarde e más horas, a ver o CSI, em versão Las Vegas, sou apanhado desprevenido depois de um curto intervalo no AXN. Regressam todos a falar em espanhol, com legendas em português. Arregalo os olhos e procuro um responsável pelo crime. Ninguém em volta se acusa e Grissom vai falando... por supuesto. Felizmente, o drama dura apenas uns minutos e voltamos ao inglês de sempre — também legendado. Crime resolvido.

Palavra a um ateu

Quando a igreja sai à rua em procissão antiga para reclamar nova evangelização, é caso para nos questionarmos. Nestes dias (tantas vezes), tenho-me perguntado como será isso de cativarmos o Outro, nos tempos que correm. Sem respostas, com muitas dúvidas. E mais uma vez não consegui pôr em palavras a tempo, algumas destas questões. Assim, na terra de hoje, o timshel vai levando (quase sozinho) a água à semente, mesmo que por palavras de outros. De um ateu, por exemplo. Para nos confrontarmos (confortados, seria um engano).

15.11.05

Quem será o próximo boy?

Paulo Ribeiro foi despedido pelo Conselho de Administração da TEMA, Teatro Municipal de Aveiro, EM, "em virtude da actual situação económico-financeira do Município de Aveiro". Aguardo com expectativa o próximo boy e lamento as prioridades que começam a ser desenhadas pelos "velhos" senhores da cidade. O Teatro Aveirense será de futuro para ranchinhos e filarmonias?

[adenda: deixei este comentário no blogue "aveirense" do JMO:
"Não percebo porque lamentas, João, as palavras de Paulo Ribeiro na hora da saída. O que me parece de sublinhar é o comunicado do CA do TEMA ao colocar o ónus nos ordenados dos directores demitidos (deixemo-nos de eufemismos). Paulo Ribeiro ataca quem o maltrata, como qualquer um de nós faria se fosse assim despedido. Se o ónus orçamental fosse da programação pedia-lhe para rever essa programação - e pedia-lhe que continuasse com um quadro eventualmente menos ambicioso em programa e actividades. Aí, Paulo Ribeiro podia decidir.
Sobre o novo espaço museológico, só me posso rir: Aveiro tem diferentes espaços museológicos municipais que estão subaproveitados por desinvestimentos passados e presentes, e que deverão continuar (a avaliar por estas medidas de "contenção").
Maria da Luz Nolasco (para dirigir o teatro)? Uma ex-vereadora do CDS? Cá está: saia uma girl for the job. Eu sei: é competente, é isto e aquilo, mas não deixa de ser alguém politicamente vinculada, longe do trabalho profissional que Paulo Ribeiro (ou outro) faria. Ficarei a aguardar, também, o seu ordenado. Que o novo executivo o divulgue se tiver coragem."]

Barbear (upgrade)

Todos (plural masculino) que fazem a barba com gillette (mesmo que usando uma Wilkinson ou uma BIC, em vez de uma Gillette) sorriem ao ver um anúncio televisivo às lâminas, que escorregam suavemente pelo rosto sem deixar marcas de pêlos nem sangue (sim, por vezes, o sono ou a falta de jeito dá nisso). Mas, agora, há uma nova Gillette* (sim, é mesmo da marca) que quase consegue esse barbear... A Mach3 Power ajuda a escanhoar quase com uma máquina. Vão por mim. A perfeição pode estar próxima.

[* - a empresa não me pagou nada, mas os pequenos prazeres da vida devem ser sublinhados]

14.11.05

A crise da República

No feminino

Que a Igreja não é exclusivamente masculina, como disse ontem D. José Policarpo, prova-o a Terra da Alegria desta segunda. Dois textos a não perder.

Em bom português

«Sou imigrante. Sou arquitecto. Sou pai de família.
De resto, não sei para onde me isto levará...»
Começou assim, há dois anos. E só tem ido por bons caminhos, como se vê e lê, todos os dias.

13.11.05

Cavaco é 'deus'?

"Cavaco Silva não quer que a sua foto apareça ao lado das de outros PM do PSD. Terá alegado o seu afastamento da vida partidária e a sua vida académica. É triste. Cavaco tem vergonha de Balsemão, Sá Carneiro, Durão Barroso ou Santana Lopes? Não foi presidente do PSD? Não foi PM? Não é militante do partido? Não são estes «primeiros-entre-pares» que devem estar sempre ao lado dos seus partidos, nas horas boas e más? Todos aceitaram, de bom grado, pelo que se sabe, incluindo naturalmente a família de Sá Carneiro, mas o professor disse que não, nem pensar. Não se mistura com os outros. Está acima? É «deus»? Não faz parte da história do PSD? Não sei qual será a reacção mais emocional dos militantes, mas certamente que não será muito agradável. Causou perplexidade e, de acordo com fontes do PSD, até «indignação». Se Cavaco não pode aparecer num cartaz tão simples como aquele, então por que razão vai o PSD empenhar-se na sua potencial candidatura a Belém? Aí já lhe servirá a militância partidária? A força da máquina do PSD? É um gesto que não fica bem a Cavaco e absolutamente inesperado pela desproporcionalidade e discrepância entre ele e os outros PM. Agora, sim, percebe-se o discurso de Santana sobre a incubadora. Tudo começa a ser mais claro."
Luís Delgado, a 5 de Janeiro de 2005 [sim, é verdade; se não acreditam, leiam aqui; há outros exemplos delgados que se encontram ali]

Garedelest


11.11.05

Um fim-de-semana assim

Cavaco, não. Portugal já deu para esse peditório


Os portugueses esquecem-se depressa das coisas. Às vezes, dão-lhes descanso durante algum tempo, mas depois esquecem-se. Esqueceram-se da foragida Fátima e votaram nela a correr. Esqueceram-se da corrida mais cara de sempre de táxi e entregaram o carro a Isaltino. Esqueceram-se do trabalho dos melhores presidentes de câmara pós-25 de Abril em Lisboa (João Soares, malgré tout) e Aveiro (Alberto Souto, malgré o vereador da Cultura) e correram com eles em eleições (no primeiro caso, para eleger um playboy que, por essa via, ainda chegou a São Bento). Esquecem-se depressa. Depressa e mal.

Em 1995 e 1996, os eleitores portugueses despacharam Cavaco Silva. Primeiro, nas ruas e nas buzinas, para o autismo ouvir. Depois, nas urnas, para o tabu acabar. Durante estes quase dez anos, o Professor (como ele prefere) acumulou reformas e declarações monstruosas. Não se lhe ouviu uma frase sobre as verdadeiras questões civilizacionais que atravessaram o Ocidente (a esfinge é a imagem adequada), uma ideia genuína sobre este país e o mundo, descontando os bitaites de um economista sobre números e números e números. Atrás da porta dos números, o político profissional - que geriu as suas intervenções para sempre queimar o PSD e alimentar um qualquer sebastianismo sobre a sua personagem - nunca viu pessoas. Nem nos dez anos em que governou, como provou a anedota do Carnaval.

Na fraca memória, agora cozinhada por quem tinha responsabilidade de fazer mais, esquecem-se outras marcas dos seus tempos de governação. Falam-me das profundas reformas que o país teve, e a da comunicação social é particularmente acolhida. Esquecem-se que os negócios (o da TV, mas também os da rádio e imprensa) foram estranhos e hoje muito do mal que se vive na comunicação social resulta de uma liberalização mal conduzida (a taxa da televisão que afundou a RTP, a crescente concentração dos grupos proprietários, nomeadamente na imprensa escrita, o segundo canal entregue à Igreja por capricho e sem sustentação financeira). Na banca, a venda do Totta nunca foi esclarecida. Nos transportes, abriu-se um país de auto-estradas que apagou do mapa estradas secundárias e ferrovias.

Cavaco, não. Portugal já deu para esse peditório. Parece é ter-se esquecido. Demasiado depressa. Mas por aqui preza-se a memória.

[Ainda não decidi em quem voto à esquerda. Se Soares ou Alegre. Num dos dois, claro. Porque as candidaturas de Louçã e Jerónimo são meras jogadas partidárias, que esquecem o carácter supra-partidário da eleição.]

10.11.05

Um mil folhas de ontem*...

Fui alertado para o artigo de Eduardo Prado Coelho, anteontem no Público, onde diz que o Metro e o Destak são "simulacros de jornalismo". Vindo de quem olhou para um mil folhas e aí viu a demissão de um certo ministro da Cultura, é caso para perguntar se o cronista entenderá o que é jornalismo, ou se saberá ler o que lê.

[Declaração de interesses: sim, sim, trabalho no Metro — e irritam-me estas críticas balofas!]

* - daqueles que se pede numa pastelaria e se percebe logo que não é fresco.

9.11.05

Digam o que disserem...


... aguardo com impaciência este álbum.

Zoogle

O Google deu nome a uma nova espécie de formiga e há um macaco recentemente descoberto que dá pelo nome de GoldenCasino.com. Cientistas americanos descobriram um novo filão de angariação de fundos e gostavam de ver uma base de dados de animais com o sugestivo nome de Zoogle. Eu, por mim, acho que Alberto João devia pensar seriamente pensar no patrocínio de uma nova espécie (caso se descubra) de sanguessugas...

A democracia (efeito de bola-de-neve)

As teses que sustentam a intervenção americana fala(va)m de um efeito de bola-de-neve no Médio Oriente. Há um ano batiam-se palmas às possibilidades que a morte de Arafat abria à paz na região. 365 dias depois, pergunta a insuspeita Newsweek: "Se o líder palestiniano era o verdadeiro problema, porque é que as coisas não melhoraram desde a sua morte?"

Ainda Paris

«O actual "estado social" francês não tem nada a ver com a protecção aos mais desfavorecidos mas com proteccionismos aberrantes. É por isso que ao lado do neoliberalismo mais selvagem se encontra na sociedade francesa um pseudo-estado-social feito para proteger os mais fortes (aliás este tipo de neoliberalismo proteccionista e corporativista encontra-se também muito enraizado nos EUA).»

A ler, sem dúvida, no sítio do costume.

8.11.05

[aviso à navegação]

Por causa do spam que invadiu a caixa de comentários passámos a moderar esse espaço. O que significa que os vossos contributos podem demorar algum tempo a aparecer online. Logo veremos que outra solução poderemos criar... Não deixem de mandar postas.

Leonor

Vai formosa e segura nas mãos dos pais babados. A pequena infanta Leonor de Espanha criou um frenesim entre saudosos de um regime esclerosado no nosso país e nem esses, que saltam à primeira "invasão" de zaras e prisas, parecem incomodados com a vontade de união ibérica que Duarte, o que se diz descendente de famílias "extintas", já manifestou — ao melhor estilo de casamentos arranjados... Eu, por mim, gostei de ver a carinha laroca de bebé, mas apenas isso. O debate constitucional que o nascimento de Leonor suscitou só ajuda à minha opinião sobre a monarquia: coisa passada, ultrapassada. Mesmo com a devida revisão.

7.11.05

2005

Em Espanha morreram cinco portugueses, operários na construção de uma auto-estrada no Sul do país vizinho. Para as estatísticas, não entra outro número: Portugal, em 2005, ainda é um país de emigrantes.

[actualizado: sobre Paris e o fogo, uma carta de André Belo (via A Praia); sobre i(e)migrantes e racismo e Paris, Francisco José Viegas nA Origem das Espécies]

Paris

Jaquinzinhos

Os nossos liberais que gostam de atacar a fúria reguladora de Bruxelas e que incensam por oposição a quase-ausência de Estado nos EUA deviam moderar esses ímpetos: em qualquer embalagem alimentar americana vêm lá os "nutrition facts", devidamente pormenorizados, e em qualquer instrumento ou produto há sempre um aviso, uma advertência ou um alerta à escolha do freguês: o álcool prejudica a mulher na gravidez e os secadores têm um componente que o Estado da Califórnia diz que pode causar problemas de saúde. Os jaquinzinhos por lá não se safavam.

A filha do papa

Ela vai fazer de Lucrezia Borgia. Corações ao alto.

Futebol americano

Tenho de voltar para os EUA. Desde que cheguei, o Benfica nunca ganhou... Avisem o Koeman, pode ser que ele pague o "ordenado"...

5.11.05

Breves retratos de um país
[working in progress]

Newark Liberty Airport. Impressões digitais que não sujam, máquina fotográfica que não sorri.

Tamanho. Os americanos só gostam deles grandes. Dos carros, claro. Porque a gasolina tem preços pequenos.

Empire State Building. Não há cinefilia que resista a hordas de turistas, lamenta o turista.

A gaja da tocha. A.k.a. Estátua da Liberdade.

Chrysler. Faz-se bem às fotos.

Cafés. Starbucks e afins não sabem de facto o que é um espresso. Nicho de mercado potencial: bica com pastel de nata.

ONU. Nicole Kidman was here.

Livraria da ONU. Alguma direita estremeceria entre estas prateleiras.

WC, no edifício da ONU. Necessidades universais.

NY Public Library. Pesquise-se "Marujo", por brincadeira, e D. Manuel I com a sua comenda de Soure surge em destaque. SMS para Portugal: João, you're famous.

Para o alto. Assim se caminha e olha em Nova Iorque.

4.11.05

Estados Unidos da América, 2005. Mais do que nunca é um país bilingue. E não apenas na Califórnia ou zonas fronteiriças com o México. Os anúncios públicos estão todos em Inglês e Espanhol. Ao "danger" junta-se o "peligro"... Mas, como em tudo, o caminho desta minoria-cada-vez-menos-minoria faz-se ainda longe dos lugares de decisão.

3.11.05

Agarrado

Há dependências que só fazem bem.

Boys assim

Não chegam às capas dos jornais, nem fazem notícia. O assalto ao poder já começou. Os novos governantes não deixaram nada de fora. A confirmar no blog do mais atento dos aveirenses. (Sim, é de Aveiro, e do PSD e do CDS, o novo poder, que falo.)

2.11.05

Look who's back

Estar fora e descobrir que as casas de sempre mudaram: Aos beijos, anda agora jmf, que ainda na morada antiga já se tinha convertido às fotos [a não perder o link da penúltima imagem lá colocada].

À bola

«Depois, bem, depois vieram mais 90 minutos de miséria, um golo sofrido, nenhum marcado, assobios e lenços brancos e o que se adivinhava (e veio a confirmar-se) ser o opus final de um homem que até era boa pessoa mas não dava conta do recado.» De como o futebol marcou o ritmo de um festival de cinema documental.

À bolsa

Cibertúlia


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E Deus Criou a Mulher


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À escuta

Com muito mais amor do que código.

À vista


O pequeno blogue do grande terramoto. Muito para saber. Tudo para ler.

[imagem do blogue do Rui Tavares]

1.11.05

Vidro duplo

Desassossegada, sem tempo perdido, mora em novo endereço.
A ler, sempre, como sempre. A Sara não desapareceu.

Antes do dia de finados*

Cavaco Silva.

* - clique no nome.

30.10.05

Horas trocadas

A hora mudou, o país nem por isso. Ilusão pensar que tudo pode mudar, ou apenas uma pequena parte, quando se está fora e pouco se sabe do que aqui se passa. É verdade que os sms foram dando conta do que havia: o triunfo dos apagados Carmona e Rio ou a derrota do melhor presidente de Câmara de Aveiro nos tempos de democracia; o Peseiro de fora e os dois golos de Nuno Gomes no Dragão (onde páram os e-mails de amigos portistas e sportinguistas?); o Orçamento de contenção e a gripe das aves. No regresso, a leitura do Público e do Diário de Notícias não mostram nada de novo: Ota, aborto, Cavaco (não vi manchetes de pasmo sobre o abuso dos netos, mas a imprensa tem a sua agenda...) e uma realidade que conheci ainda mais de perto, a fuga dos cérebros portugueses para o estrangeiro. Para azedar o fundo de copo, temos Vasco Pulido Valente a imitar (ou será mesmo estilo?) uma "redacção" de um rapaz de 18 anos. O que vale nisto tudo é o reencontro das pessoas. Dos afectos. E dos lugares. Portugal sabe bem, mesmo que a pintura pareça borrada.
[Das Américas, falarei depois.]

17.10.05

Washington DC

No relvado do Mall, a marcha de um milhão de homens. A curta distância, a Casa Branca, indiferente a tudo, como quase sempre. Mais longe, o Lincoln Memorial. O discurso de Abraham Lincoln ali gravado na pedra nao é a leitura preferida de Bush. Infelizmente, "Dubia" só conhece o Velho Testamento - e mal...

[actualizado (a 30 de Outubro, no regresso a Portugal): duas notas aos comentários aqui deixados. Ao Nuno Guerreiro, que comemorou dois anos da sua bela rua - o post tem a ver com uma referência que falta, na frase final: Bush só conhece o Velho Testamento do "olho por olho, dente por dente"... Do reparo do anónimo, só apetece rir. Eu sei que Bush diz ler (sublinho: diz) a Bíblia todas as noites (de manhã está entretido com o jogging ou a despachar guerras). Duvido é que perceba alguma coisa do que lê.]

Sob ameaca

O anuncio e' repetido varias vezes. As vozes, feminina ou masculina, com sotaque carregado ou nem por isso, avisam os passageiros do metropolitano daquilo que os jornais antecipavam nas manchetes: "Subway threat", titula o METRO local. Nos corredores e nas plataformas do "subway", sempre abafados, a policia faz-se notar mais do que nos outros dias. De resto, ja e' uma cidade mais vigiada, com as bagagens ou mochilas inspeccionadas no MoMA ou na Catedral de Saint Patrick, no Empire State Building ou nas lojas de luxo da Quinta Avenida. Mas tambem e' a mesma cidade que, apesar de ter mudado com o 11 de Setembro, continua a recusar ficar prisioneira dos medos sensacionalistas dos tabloides e a fazer jus ao cliche da cidade que nunca dorme. No dia da ameaca, Dustin Hoffman passeava-se pelo West Village. Os restaurantes estavam cheios e o portugues da Patsy's, uma das melhores pizas da cidade, nao parecia preocupado com eventuais terroristas nos subterraneos. So se dizia cansado da cidade. "E' muita gente", resumia. Gente de todas as cores e feitios e credos e racas. A cidade, ela propria, continua a ser a melhor resposta aos fundamentalistas.

em Nova Iorque, a 9 de Dezembro

3.10.05

A minha América


Visitei Nova Orleães, antes do Katrina e sem nunca lá ter ido - pelo pé descalço de Tom Sawyer ou pela luz de Pursy Will. Passeei por uma Mulholand Drive inesquecível (Betty e Rita, lembram-se) sem que nenhum carro me levasse ali. E Nova Iorque pintou-se a preto e branco em Manhattan, quando Woody Allen desvelou a sua beleza.

A minha América é cinéfila - ou se preferirem um palavrão: imagética. Da TV às revistas, dos jornais ao cinema. Mas também é a América da música, de Johnny Cash ou Harold Budd ou... A América das palavras, relatadas por Jon Stewart ou ridiculamente alinhavadas por Kenneth Starr. Ou quase sussurradas numa cantilena como happy birthday, mr. president por Marilyn. A América é isto - mas também a política, por perceber que a defesa da cidadania neste mundo se decide pelos votos do Ohio ou da Florida. E é também odiar uma política como a de Bush, que mata a paz, sem odiar o povo e o legado de liberdade desse povo.

On the road - por um roteiro de afectos vou percorrer essa América. Ou descobrir que afinal, é outra a que existe. Volto já.


[E a vossa América?]
PS - Na casa do lado, desenhou-se um roteiro da viagem.

1.10.05

...

Por aqui, arruma-se a casa. Férias no Outono - para fugir ao mês de todas as férias. Ou apenas porque sim. Aqui ao lado, numa coluna que vai por aí abaixo há blogues com histórias, onde se lê e vê o mundo com olhos divertidos ou sérios, de esquerda e direita, com palavras ou apenas imagens. Uma maneira de entreter nestes dias cada vez mais curtos, nestas noites cada vez mais longas. Nós voltaremos a seguir...

30.9.05

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

[à M., nos seus 29 assombrosos anos
com Alexandre O'Neill]

Decadência dos corpos [auto-ironia]

Um exemplo. Outro exemplo.

29.9.05

Classificados

Casal amigo tem uma casa à venda no coração da Bica (Lisboa): deliciosa e surpreendente. Assunto sério (informações para o e-mail deste blogue).

Pedido de desculpas

Não escrever porque se está em exames. E deixar este bigode aqui em baixo. É indesculpável, nós sabemos...

28.9.05

É p'ra já!



«A importância do clitóris é algo subjectiva. Tem uma função essencial no prazer sexual mas, para além disso, a sua mutilação não afecta nenhuma função vital [nomeadamente] a função reprodutiva.» Esta é uma das pérolas parlamentares de um senhor que já foi deputado do CDS que agora se candidata à Câmara Municipal de Vale de Cambra.

Sem acesso ao seu outdoor de campanha na net (ó Rui, fotografa lá isso!), imaginem a figura aqui posta olhando para o infinito, sobre um fundo azul-céu e umas nuvens... A frase, o slogan, a grande ideia de campanha? "Miguel Paiva, é p'ra já!"

New ceremony for an old skin

Terra. Terra. Terra.

New skin for an old ceremony

O Estado Civil é o mesmo de sempre. Irrepreensível. Pedro Mexia, claro.

27.9.05

A agência

Hoje, uma vez mais, a manchete do Público foi publicada no Metro e no PortugalDiário a 14 de Setembro.

26.9.05

Tão amigos que eles eram

"O programa mais perigoso do ponto de vista político é o do professor Carmona Rodrigues. É um programa que diz que é tudo mau, que é tudo para fazer de novo, apesar de ele (Carmona) ter sido vice-presidente e ser agora presidente" da autarquia, afirmou Maria José Nogueira Pinto numa acção de pré-campanha no Chiado. [da Lusa]

Quem desdenha...

O director do Público dizia há pouco tempo, num trabalho sobre os jornais gratuitos nas páginas do seu diário, que os gratuitos são uma compilação de breves notícias de agências noticiosas. Deve ser por isso que o Público diz hoje na sua primeira página que o novo carro da Volkswagen não será produzido em Palmela, citando a imprensa germânica de fim-de-semana, notícia que o Metro (um dos tais gratuitos) deu há uma semana, citando fontes da empresa.

[tempo de colheita]

A árvore frondosa.

25.9.05

O mundo como Nova Orleães

A revista "Forbes" diz que as 400 pessoas incluídas no top das mais ricas estão ainda mais ricas face à última análise. As fortunas subiram de 101,25 mil milhões de euros para os 915 mil milhões de euros.

Alegrete

O que faz correr Manuel, o poeta? Não sabemos. Eu não sei. Essa coisa da República é vaga qb para não se perceber o que o faz correr. Mas registem-se duas coisas positivas: 1) agora ficaremos a saber o real apoio que terá Alegre; 2) obrigará Soares a conquistar também o centro-esquerda...

23.9.05

Semana negra

Nunca como esta semana, descemos tão baixo, dirão os mais críticos. Ou os mais cínicos. Que me desculpem: já estivemos muito mais baixo, em quase 50 anos de ditadura. Nisto, não alinho no tom habitualmente autoflagelador dos opinadores (que nos males da pátria passam sempre uma esponja a esses anos - vd. Pulido Valente). O que torna esta semana má, mais do que o achincalhamento da justiça por Fátima Felgueiras, a juíza e a PJ, é o achincalhamento da democracia pelos populares que se prestam à aprovação destes "candidatos". Os políticos são maus, gatunos e o diabo a quatro, espumam os populares de raiva, mas quando têm oportunidade de se ver livre daqueles que são mesmo maus, gatunos e o diabo a quatro, juntam-se para os aplaudir...

Campanhas e encomendas II

O anónimo socialista postou agora o discurso na íntegra do primeiro-ministro na Assembleia da República.

22.9.05

Campanhas e encomendas

No post anterior falo de um tema que, há tempos, tinha abordado sobre a RTP e publicidade obscena. Agora, recuperei o post com a notícia da actuação da Autoridade para a Comunicação Social, e logo ali caiu um comentário sobre as medidas de Sócrates e críticas a uma suposta gente que ladra enquanto a caravana passa. Coisa encomendada, para pejar caixas de comentários dos blogues? Parece. Mesmo num blogue assumidamente à esquerda (pelo menos, por mim — solitário autor, de quando em vez ajudado, como nos últimos dias pelo João, no mundo da bola), estas encomendas sabem mal, às almas.

Alguém nos ouviu

O organismo que regula os media decidiu hoje instaurar um processo de contra-ordenação contra a RTP por ter transmitido um documentário sobre José Mourinho com um título semelhante ao anúncio protagonizado pelo mesmo treinador.
A Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) considerou, de acordo com uma deliberação hoje divulgada, que o documentário sobre José Mourinho, tr ansmitido pela RTP 1 a 12 de Agosto, contém "graves indícios de infracção [ao artigo do] Código da Publicidade que regula os patrocínios em televisão".
O documentário, produzido pela BBC com o título original "The Special One", foi transmitido em Portugal com o título "Ganhe Como Eu", frase que é também o slogan da campanha publicitária que o técnico português protagoniza para o banco BPI e que patrocinou o programa. [da Lusa]

Universo Futebol II

Universo Futebol: tremendo universo este do futebol. Vamos actualizando este quadro, que o Tiago publicou ao longo das jornadas. Ao aplicarmos a regra do nosso companheiro lagarto, e se entendermos os últimos resultados como tendência, daqui a 3 ou 4 jornadas as equipas votadas à censura serão outras. Como muito bem disse o Joca as contas fazem-se no fim. Os enxovalhos são diários ou jornada a jornada, mas se ajuda recordar, não são as equipas que jogam o futebol mais bonito que ganham campeonatos, são as que ganham pontos. E ainda não existe nota artística... Mais acrescento que li num jornal desportivo (já não me lembro qual, confesso) que o Sporting tinha deixado de jogar um futebol esteticamente evoluído (seja lá o que isso for) para se tornar mais pragmático. A continuar assim é melhor voltar ao artístico... Digo eu.

This is Major Tom to ground control

O nosso Guia fez dois anos. Nem deu pela data — mas quando deu, arrasou a plateia.

Defendermo-nos

Aqui há dias dizia que, felizmente, não estava cá para ter de decidir o meu voto nas autárquicas. O Rui lamentava-se nos comentários do que fizemos à democracia, para que o melhor fosse fugir ao voto. Não fujo — as férias já estavam combinadas antes de Sampaio escolher a data. Mas, ausente, fico aliviado: não terei de pensar arduamente até ao dia, em quem votarei. Se votasse em Felgueiras (ou Amarante, ou Oeiras, ou Gondomar) o caso seria diferente: seria mais que um dever cívico votar, seria um voto de defesa da democracia — em Lisboa, que me desculpem, não é assim. Não será assim.

E de repente

O Outono.

21.9.05

O costume

Fátima voltou, os populares batem palmas. Um homem ousa a crítica — logo é apupado e achincalhado. À frente das câmaras de televisão, que é onde o povo ganha coragem. As eleições ditarão a sua vitória. Como Avelino em Amarante, Isaltino em Oeiras e Valentim em Gondomar. Mas os políticos é que são os canalhas do costume.

Regresso às aulas

20.9.05

Universo Futebol

Não há nada como começar este novo espaço com a qualidade devida. Logo num dia de festa. O Nacional é Bom!

Respigador III

O Público adoptou uma nova política de aumento de preço de capa sem dizer nada a ninguém. Antes, ainda tínhamos direito a nota editorial, justificação do director, ou coisa que o valha. Agora não: despacha-se a coisa com um anúncio factual, sem mais nada na primeira página, no próprio dia do aumento. Tinha sido assim às sextas, quando do lançamento do Inimigo Público, foi assim depois com o suplemento infantil Kulto ao domingo, e, por fim, ontem, com a revista de economia DiaD. Nunca nas campanhas publicitárias a estes novos suplementos, a direcção do Público fez o óbvio: dizer aos seus leitores que ia cobrar mais...

PS - O Público agora custa entre 1 e 1,40 euros. Apenas às terças, quartas e quintas tem desconto...

Respigador II

Ontem foi dia de safra.

Respigador

Ao contrário de semanas anteriores, ainda não recebi nenhum e-mail dos meus amigos portistas e sportinguistas a gozar...

19.9.05

Pestanas

Em hibernação: estudos antigos oblige.

17.9.05

O Sebastião do costume

Candidato apoiado pelo PS queria ex-comissário na estrutura da campanha, mas apesar de se declarar como apoiante entusiástico de Soares, António Vitorino alega «motivos profissionais», «falta de tempo e de disponibilidade» para recusar funções institucionais.

16.9.05

Não és nada: a televisão cretina

Sobre o programa da SIC que anda para aí, nada como reproduzir o texto de Miguel Vale de Almeida — que diz tudo.

[Amanhã, parece que a extrema-direita (eufemismo para fascistas e nazis) vai protestar contra a coisa (mais uma vez autorizados pelo Governo Civil, contra a Constituição). Os cretinos são assim: gostam uns dos outros.]

"O 'Esquadrão G - Não és homem, não és nada' é apenas mais um programa cretino duma televisão cretina. A única razão porque merece alguma atenção é por ter ser sido propagandeado como programa cujos protagonistas são gay. No deserto da homofobia é razão que baste para despertar interesse. Ontem juntámo-nos uns tantos e umas tantas aqui em casa para ver a estreia da coisa. Confirma-se: é um programa cretino para uma televisão cretina. Embora sem grande drama (não me parece que o programa faça mossa, assim como não contribuirá para a famigerada "mudança de mentalidades"), perpetua estereótipos de género e sexualidade: os homens (hetero) serão broncos insensíveis; as mulheres (hetero) vêem os seus homens como Barbies para vestir; e os gays (homens) gostam de trapos, amaciadores e comidas com nomes franceses. Programa cretino para televisão cretina num sistema de género e sexualidade cretino. Tudo bem. Mas o mais curioso da noite foi isto: nem no programa propriamente dito, nem no stunt publicitário com a presença do Esquadrão no programa de Herman José, logo a seguir, alguma vez se referiu sequer que os rapazes são gay. Isto é, a sua gayness desapareceu depois do anúncio do programa nas últimas semanas. A sua gayness surge apenas confirmada nos sinais exteriores de... gayness - coisa que só pode acontecer se esses sinais forem os de um estereótipo*. Circularidade absoluta. O silêncio foi tal que quase suspeito que fosse combinado.

Bocejo.

* Um estereótipo não é uma imagem horrenda que deve ser combatida em nome de uma imagem belíssima, definida sabe-se lá por quem e com que autoridade. Um estereótipo é apenas uma forma de pobreza. Não de quem o transporta em si, mas sim de quem o promove/incita nos outros.[...]"

O aperto

Carrilho não apertou a mão. Carmona diz que o outro é um grande ordinário. Lisboa merece mais, mesmo! Não mais do mesmo. Felizmente (estou convencido) estarei de férias — longe do país — quando forem as eleições.

Já agora: podiam antecipar o referendo sobre o aborto para Outubro... Evitava ouvir os dislates pró e contra.

15.9.05

Deus escreve

Ele não tem "nenhum pretexto para dar o link de novo, é só porque sim". Nós não precisamos de pretextos para ir visitando essa nossa outra casa — é só porque sim. Mas o melhor desse blogue de contemplação é a fotografia que alguns leitores lhe tiram, como este brasileiro: "E Deus Criou a Mulher - que bela forma de começar o dia. Deu até vontade de brigar com os tradutores da Bíblia: Em verdade, em verdade, Deus escreve certo por linhas curvas!"

14.9.05

Serviços mínimos

Já devem ter reparado: este blogue vai navegando em ritmo mais pausado, ao sabor de uns dias mais complicados. As contradições explicam-se assim. Têm muitas casas onde aportar, por estes dias. Espreitem a coluna de links.

Prostitutas, proscritos e outros

13.9.05

En portugués, por supuesto

El partido del pequeño líder, conocido por empezar sus frases con una citación de un poeta genial — ganda nóia —, todavía quiere defender la lengua y la cultura lusas contra la tomada del poder de una televisión por el grupo Prisa. Sobre el nuevo año escolar, nada se escuchou de su boca.

12.9.05

Misturas perigosas

Posto em sossego

Pouse-se os olhos na maçã, não nos admiremos que Adão tenha caído assim em tentação. Sobra-nos falta de vontade para escrever.

11.9.05

10.9.05

Nova Orleães, Portugal

Fosse Nova Orleães uma cidade do Litoral português (ou num qualquer recanto da União Europeia) e já a nossa alegre direita teria decretado a falência do Estado Providência, da Europa, da Segurança Social, do rendimento mínimo garantido. Como foi ali, no Sul dos Estados Unidos, esses senhores insistem na culpa de todos, de preferência pretos, de deus, de alá, mas nunca do Estado-que-não-intervém e muito menos de Bush. Já conhecemos a lenga-lenga.

[ver também este post]

Jornalistas, esses anti-americanos

«Katrina, Tratados como animais»
Apresentado as vítimas como refugiados, fizeram deles estranhos indignos de socorro.

«Os brancos não vivem em Nova Orleães»
Há muito que os negros eram os únicos habitantes das zonas mais vulneráveis da cidade. Além disso, 35 por cento da população negra não tinha automóvel para poder fugir do Katrina.

«George W., incapaz e insensível».
Quando milhares dos seus concidadãos sofriam e morriam diante das câmaras, Bush esteve abbaixo de tudo.

«O Estado é a civilização!»
O caos que se espalhou em Nova Orleães relançou o debate sobre a importância do Estado.

«Onde está a segurança interna?»
Se Nova Orleães tivesse sido atingida por terroristas, as autoridades também não teriam sido capazes de organizar as acções de socorro. Triste lição, quatro anos após o 11 de Setembro.

Acalme-se Pacheco Pereira. Os títulos e entradas que se reproduzem não são da perigosa e anti-americana imprensa portuguesa. São artigos, reproduzidos no Courrier desta semana, com origem nas publicações americanas The Lexigton Herald Leader, The New York Times, Salon, Slate. Tudo gente primária, já se sabe.

9.9.05

Hilariante EDP

Um mês e meio e vários telefonemas depois, a EDP devolve-me aquilo que me roubou - e meço as palavras. Dizem eles que a título excepcional me emitem uma nota de crédito. Uma empresa assim, devia ter um fim: acabar-se o monopólio, para se acabar a pesporrência.

[e-mail]

Toda a correspondência - para insultos ou elogios, confidências ou cartas abertas - deve ser remetida de agora em diante para mmarujo@gmail.com [a gerência agradece].

8.9.05

De uma vez por todas

O que está em causa em Pacheco Pereira é outra coisa, é a histeria anti-Sócrates, e anti-esquerda, que varreu o seu pensamento, com o primarismo habitual. — nova provocação ao senhor Pacheco, ao adaptar palavras primárias da sua crónica de hoje no Público, onde mais uma vez o articulista bate no pão que o alimenta todos os dias e confunde alhos com bugalhos ao insistir que um anti-Bush é um anti-americano! Não há pachorra!

7.9.05

A prioridade de Pacheco Pereira*

"Por cada euro que Portugal investe em ajuda humanitária, o Ministério da Defesa reserva dez euros para o seu orçamento militar, refere o Relatório 2005 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), hoje divulgado."

* - o título é provocador. Mas o autor do Abrupto prefere a guerra à paz. Digo-o de modo simplista — mas aqui, a opção é simples.

Terra concebida com pecado

Juliette Binoche em "Mary"

“Fui educado como católico e quando assim é não nos ensinam a pensar por nós mesmos. Não somos ensinados a pensar nas coisas com profundidade.” Frase de Abel Ferrara, realizador de Mary, filme ontem apresentado em Veneza. Para contrariar esta ideia, leia-se o início da colheita da terra.

Deixe em branco

6.9.05

Identificação de estilos

Passam por mim revisores da CP em estágio, no comboio da Linha de Sintra: com cabelos compridos, tatuagens, óculos escuros. Uma política de proximidade com os clientes, diria eu.

5.9.05

A produtividade, ora aí está!

"Trabalhar muitas horas prejudica a saúde. Um estudo americano revela que os riscos para a saúde sobem 61 por cento com horários longos e horas extraordinárias".

Forum Lisboa

O debate entre dois leitores sobre os apoios (ou não) ao IndieLisboa. Eu, por mim, mantenho: é (era) dinheiro muito bem gasto com o IndieLisboa...

Espanha, 2 - Portugal, 0

Marques Mendes.

Espanha, 1 - Portugal, 0

A linha editorial do El País é bem mais inteligente, rigorosa e credível que a da TVI.

4.9.05

Van Zelo

"O ex-administrador da TVI, João van Zeller, que se demitiu na quinta-feira, criticou no sábado, num artigo de opinião publicado no Expresso, a venda de acções da Media Capital à espanhola Prisa. De acordo com João van Zeller, a "tranquila assinatura" da operação só foi possível "graças a cumplicidades políticas entre os partidos e os governos socialistas dos dois países". [...]" — in Diário de Notícias.

Onde esteve este senhor no caso Rui Gomes da Silva? Não me lembro. Não consta que ele se tenha preocupado com as interferências políticas, que as houve, na TVI. Agora, antes de qualquer mexida na Media Capital, acena-se um espantalho que não existe. Quer-nos dizer o PSD, o CDS e até Pacheco Pereira, que o El País é pressionável, que nunca ali se denunciaram escândalos do PSOE?

O país das autárquicas II

A SIC Notícias diz que anda a debater as autárquicas. Mas nós duvidamos. O único critério para fazer debates é ter um ou mais candidatos duvidosos. Veja-se a lista: Oeiras, Sintra, Amarante, Gondomar. Faltará Felgueiras, certamente à espera de um desembarque em Pedras Rubras. E faltam os debates sérios — de um outro país. Aquele que não se discute com frases do género seja um homenzinho... Mas isso talvez não dê audiências.

O país das autárquicas

Em viagem ao Norte, descobre-se o país das rotundas (cuja única virtude parece ser ajudar quem dá indicações — passa a terceira rotunda e é à esquerda), das obras que se apressam para as eleições e dos cartazes de candidatos, entre os anedóticos e folclóricos e os profissionais e marketeiros. Melhor ainda, é ver como os partidos, todos!, cedem no populismo: o virgem-puro-e-inocente CDS candidata o limiano Daniel Campelo, em Ponte de Lima. "Uma equipa com provas dadas", diz o cartaz. Sem dúvida.

1.9.05

O exemplo irlandês

Portugal encontra-se em segundo lugar na lista dos que menos dinheiro gastam, com apenas 33 por cento do total da despesa pública a ser disponibilizado para funções de protecção social, como o pagamento de subsídios de desemprego e pensões. Em primeiro lugar, destaca-se a Irlanda que encaminha apenas 29,1 por cento da despesa pública para a protecção social.

Mofo

A JSD diz que Soares cheira a mofo. Razão tem Pacheco: as juventudes partidárias parasitam a democracia.

Carta aberta à Câmara Municipal de Lisboa e à Assembleia Municipal de Lisboa

[da Zero em Comportamento e do IndieFestival]

Foi com profunda consternação e grande preocupação que a associação Cultural Zero em Comportamento, responsável pela organização do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa, tomou hoje conhecimento da decisão da Câmara Municipal de Lisboa onde foi aprovada a transferência da gestão do Fórum Lisboa - sede da assembleia municipal - para a autarquia, pondo assim fim à tutela até aqui exercida pela EGEAC.

Lamentamos ainda mais esta decisão quando os motivos que a ela presidiram se prenderam com uma programação que "desagradava aos deputados municipais por ser demasiado festiva", segundo notícia publicada hoje no diário "Público".

A deliberação do executivo camarário afigura-se-nos de extrema gravidade. Em primeiro lugar, a limitação do acesso a um equipamento que pertence à cidade parece-nos muitíssimo redutora naquilo que diz respeito à desejável diversidade da oferta cultural da capital. Sob o argumento da programação do Fórum Lisboa ser "demasiado festiva" e deste espaço ser a casa da assembleia municipal, Lisboa poderá ficar impedida de um sem número de actividades que ali encontraram o seu público e um espaço privilegiado para serem desenvolvidas, nalguns casos com assinalável sucesso.

Por outro lado, a transferência das competências da gestão e programação do Fórum Lisboa da EGEAC para a Câmara Municipal de Lisboa põe em causa todos os compromissos assumidos por aquela entidade. A acreditar no artigo publicado na secção Local do jornal "Público", esta proposta subscrita pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. Pedro Santana Lopes, teve a unanimidade dos vereadores, com a adenda que fosse criado um gabinete de programação de actividades para o Fórum Lisboa. Tudo isto nos leva a crer que, por exemplo, as conversações que a Zero em Comportamento manteve com a Dra. Maria Louro, administradora da EGEAC, desde o final da 2ª edição do IndieLisboa (que, como é sabido, decorreu no final do mês de Abril no Fórum Lisboa, e com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa), para que o antigo cinema Roma fosse novamente em 2006 o centro das actividades do certame, poderão neste momento ficar sem efeito, na medida em que o plano de actividades do Fórum poderá vir a ser revisto, senão mesmo re-equacionado.

Estas deliberações, tomadas à revelia dos compromissos assumidos pela EGEAC, revelam um enorme desrespeito e uma profunda incúria com as actividades desenvolvidas pelos agentes culturais da cidade, podendo mesmo pôr em causa o bom prosseguimento dos planos por estes delineados.

O que é facto é que este é apenas mais um episódio da inconsequência da acção camarária. Se agora quer abrandar o ritmo da programação cultural do Fórum Lisboa (voltamos a sublinhar, "por ser demasiado festiva"), já antes demonstrou incapacidade para lidar com o S. Jorge (onde a Zero em Comportamento realizou a 1ª edição do IndieLisboa em Setembro de 2004), outra sala da capital que prometia alternativa cultural. Quase um ano após fecho para obras de remodelação, não existem nem previsões do modelo de gestão a adoptar nem mesmo de data para reabertura.

Fica a questão: estará esta presidência da Câmara a tentar deixar Lisboa sem espaços culturais que se dediquem a algo mais do que festas populares? E o que pretende a Assembleia Municipal ao exigir a tutela de um auditório de 800 lugares, onde se reúne uma vez por semana, e que tem sido desde o encerramento do São Jorge o único local para a realização de festivais e mostras de cinema na Cidade? Que Cidade moderna pretendem?

Gostaríamos ainda de acrescentar a tudo isto, e porque a gravidade da situação assim o exige, que a Câmara Municipal de Lisboa se encontra em situação de dívida para com a Zero em Comportamento. Tendo aceite apoiar financeiramente o IndieLisboa, concedeu à associação um subsídio que pressupunha o pagamento da verba acordada (35.000 euros) antes do início do evento, conforme protocolo assinado 28 de Fevereiro de 2005. Passaram já quatro (4) meses desde o final do festival e seis (6) desde a data combinada e essa verba ainda não foi liquidada.
Sendo a Zero em Comportamento uma associação cultural sem fins lucrativos, não dispõe, por isso mesmo, de meios próprios de resposta aos compromissos e responsabilidades assumidos, compromissos esses que não teriam sido assumidos se não houvesse garantia de apoio financeiro por parte da Câmara Municipal de Lisboa.

Dado o carácter de urgência deste problema, os contactos com a Câmara sucederam-se, mas sem quaisquer frutos: não só não se efectivou nenhum resultado, como não nos foram dadas quaisquer previsões de pagamento, apesar de variadíssimas vezes termos alertado para o carácter da urgência da situação.

A tudo isto, soma-se ainda o facto de desde há dois meses, termos vindo a tentar marcar uma reunião com a Srª. Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Drª. Maria Manuel Pinto Barbosa, reunião essa que serviria não só para apresentar a 3ª edição do IndieLisboa, mas também para fazer o balanço da edição transacta, de onde, obviamente, se salientaria o facto da verba de apoio concedido pela Câmara ainda não ter sido liquidada. Para nossa grande perplexidade, a reunião não só não teve lugar, como ainda nem sequer conseguimos que fosse marcada.

Por todas estas razões, não podemos deixar de lamentar a situação absolutamente inadmissível que a Câmara Municipal de Lisboa criou, e muito gostaríamos que todos os sectores, políticos e civis, se pronunciassem acerca de uma decisão tomada apenas a pouco mais de um mês das próximas eleições autárquicas, mas que deixará marcas negativas da vida cultural da cidade a muito mais longo prazo.


A Direcção da Zero em Comportamento e do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente

Miguel Valverde
Nuno Sena
Rui Pereira