30.10.05

Horas trocadas

A hora mudou, o país nem por isso. Ilusão pensar que tudo pode mudar, ou apenas uma pequena parte, quando se está fora e pouco se sabe do que aqui se passa. É verdade que os sms foram dando conta do que havia: o triunfo dos apagados Carmona e Rio ou a derrota do melhor presidente de Câmara de Aveiro nos tempos de democracia; o Peseiro de fora e os dois golos de Nuno Gomes no Dragão (onde páram os e-mails de amigos portistas e sportinguistas?); o Orçamento de contenção e a gripe das aves. No regresso, a leitura do Público e do Diário de Notícias não mostram nada de novo: Ota, aborto, Cavaco (não vi manchetes de pasmo sobre o abuso dos netos, mas a imprensa tem a sua agenda...) e uma realidade que conheci ainda mais de perto, a fuga dos cérebros portugueses para o estrangeiro. Para azedar o fundo de copo, temos Vasco Pulido Valente a imitar (ou será mesmo estilo?) uma "redacção" de um rapaz de 18 anos. O que vale nisto tudo é o reencontro das pessoas. Dos afectos. E dos lugares. Portugal sabe bem, mesmo que a pintura pareça borrada.
[Das Américas, falarei depois.]

17.10.05

Washington DC

No relvado do Mall, a marcha de um milhão de homens. A curta distância, a Casa Branca, indiferente a tudo, como quase sempre. Mais longe, o Lincoln Memorial. O discurso de Abraham Lincoln ali gravado na pedra nao é a leitura preferida de Bush. Infelizmente, "Dubia" só conhece o Velho Testamento - e mal...

[actualizado (a 30 de Outubro, no regresso a Portugal): duas notas aos comentários aqui deixados. Ao Nuno Guerreiro, que comemorou dois anos da sua bela rua - o post tem a ver com uma referência que falta, na frase final: Bush só conhece o Velho Testamento do "olho por olho, dente por dente"... Do reparo do anónimo, só apetece rir. Eu sei que Bush diz ler (sublinho: diz) a Bíblia todas as noites (de manhã está entretido com o jogging ou a despachar guerras). Duvido é que perceba alguma coisa do que lê.]

Sob ameaca

O anuncio e' repetido varias vezes. As vozes, feminina ou masculina, com sotaque carregado ou nem por isso, avisam os passageiros do metropolitano daquilo que os jornais antecipavam nas manchetes: "Subway threat", titula o METRO local. Nos corredores e nas plataformas do "subway", sempre abafados, a policia faz-se notar mais do que nos outros dias. De resto, ja e' uma cidade mais vigiada, com as bagagens ou mochilas inspeccionadas no MoMA ou na Catedral de Saint Patrick, no Empire State Building ou nas lojas de luxo da Quinta Avenida. Mas tambem e' a mesma cidade que, apesar de ter mudado com o 11 de Setembro, continua a recusar ficar prisioneira dos medos sensacionalistas dos tabloides e a fazer jus ao cliche da cidade que nunca dorme. No dia da ameaca, Dustin Hoffman passeava-se pelo West Village. Os restaurantes estavam cheios e o portugues da Patsy's, uma das melhores pizas da cidade, nao parecia preocupado com eventuais terroristas nos subterraneos. So se dizia cansado da cidade. "E' muita gente", resumia. Gente de todas as cores e feitios e credos e racas. A cidade, ela propria, continua a ser a melhor resposta aos fundamentalistas.

em Nova Iorque, a 9 de Dezembro

3.10.05

A minha América


Visitei Nova Orleães, antes do Katrina e sem nunca lá ter ido - pelo pé descalço de Tom Sawyer ou pela luz de Pursy Will. Passeei por uma Mulholand Drive inesquecível (Betty e Rita, lembram-se) sem que nenhum carro me levasse ali. E Nova Iorque pintou-se a preto e branco em Manhattan, quando Woody Allen desvelou a sua beleza.

A minha América é cinéfila - ou se preferirem um palavrão: imagética. Da TV às revistas, dos jornais ao cinema. Mas também é a América da música, de Johnny Cash ou Harold Budd ou... A América das palavras, relatadas por Jon Stewart ou ridiculamente alinhavadas por Kenneth Starr. Ou quase sussurradas numa cantilena como happy birthday, mr. president por Marilyn. A América é isto - mas também a política, por perceber que a defesa da cidadania neste mundo se decide pelos votos do Ohio ou da Florida. E é também odiar uma política como a de Bush, que mata a paz, sem odiar o povo e o legado de liberdade desse povo.

On the road - por um roteiro de afectos vou percorrer essa América. Ou descobrir que afinal, é outra a que existe. Volto já.


[E a vossa América?]
PS - Na casa do lado, desenhou-se um roteiro da viagem.

1.10.05

...

Por aqui, arruma-se a casa. Férias no Outono - para fugir ao mês de todas as férias. Ou apenas porque sim. Aqui ao lado, numa coluna que vai por aí abaixo há blogues com histórias, onde se lê e vê o mundo com olhos divertidos ou sérios, de esquerda e direita, com palavras ou apenas imagens. Uma maneira de entreter nestes dias cada vez mais curtos, nestas noites cada vez mais longas. Nós voltaremos a seguir...