16.8.03

Obos móis à esquerda

1. A Praia não deixa a coisa por menos: está aqui o melhor blogue português. Já lá fui. Não sei se «Cristóvão de Moura» é o melhor, mas é pelo menos desconcertante - ou, dito de outro modo: provocador (e eu gosto muito desta palavra). Porque é um blogue escrito por alguém de esquerda - mas sem o peso de ideias-feitas-de-algumas-esquerdas. Deixo-vos apenas este naco de prosa, retirado de um texto mais longo, «que a revista do Bloco de Esquerda [Manifesto] não quis publicar» a Paulo Varela Gomes:
O desabamento das elites intelectuais e políticas, o desaparecimento destes corpos sociais (por exemplo, o fim dos partidos - que hoje não são mais que grupos profissionais de arrebanhadores de votos), deu lugar à presença “em directo” da multidão na esfera política e nos espaços colectivos.
O povo-em-directo faz com que a democracia, tal como a conhecemos, esteja de facto ameaçada de morte por todo o género de demagogos populistas e pelo poder oculto de quem nunca aparece na televisão.
Como se enfrenta esta ameaça, não sei.
Sei que o mundo anterior à Revolução Francesa não era bom, contrariamente ao que pensava o meu avô. Mas o seu instinto reaccionário apontava na direcção certa: o problema reside na necessidade de inventar novas instâncias e protagonistas para interpretar, traduzir, filtrar, mediar a “vontade popular”.
Precisamos de igualdade de direitos, sim, mas também de diferenciação nos acessos a esses direitos.


Houve um debate nosso que ficou esquecido lá para trás - sobre o voto. Vale a pena recuperá-lo.

2. A Cibertúlia tem gentes de muito lado. Menos que as gentes de todos os lados que é a blogosfera, é certo. Mas permitam-me esta nota regional, de terras de obos móis: descobri quem escreva «sobre o mundo a partir de Aveiro», «do lado esquerdo» - e conhecendo o autor só posso esperar um «lado esquerdo» que nos faça pensar.
Há outros blogues que partilham aquele ponto de partida: Suspeitos do Costume, do jornalista (que, olho-me ao espelho, nos últimos tempos, parece significar também ser bloguista) Rui Baptista - e outros suspeitos; entre Aveiro e Lisboa, João Oliveira discute «o estado da cidade de Aveiro» e promete «discussão pública sobre política regional»; do outro lado da margem, um murtoseiro fala-nos de «coisas chatas e de outras mais arredondadas».