31.8.06

O fim de O Independente

«Je veux qu'on rit, je veux qu'on danse, je veux qu'on s'amuse comme des fous. Je veux qu'on rit, Je veux qu'on danse quand c'est qu'on me mettra dans le trou!» [Jacques Brel lembrado por Leonardo Ralha, nas últimas horas do seu jornal]

Quando os jornalistas sobem sete colinas

Os jornalistas não andam (salvo raras excepções) de autocarro e por isso pouco percebem do que se fala, quando escrevem sobre autocarros, bilhetes, passes sociais... Por exemplo, a Carris anunciou uma nova reestruturação das suas carreiras, a partir de 9 de Setembro, acabando com algumas, mudando o percurso de outras e introduzindo uma numeração diferente a novos percursos (será a "rede 7", com o 46 a passar a ser o 746, por exemplo; uma medida quase absurda, mas adiante).

Outro detalhe: também acabará com os módulos, impondo definitivamente o cartão "Sete Colinas". Rodrigo Guedes de Carvalho, há dias na SIC, explicava atabalhoadamente a alteração, numa notícia que parecia redigida sem conhecimento de causa a partir do comunicado de imprensa da Carris. Uma das ideias repetidas, sem confronto com a realidade pelos jornalistas, é de que esta mudança de bilhetes não tem implicações no tarifário. Mas tem.

Um exemplo prático: o BUC (bilhete único de coroa, assim chamado) para a "coroa urbana" de Lisboa custa 1,50 € e dá direito a duas viagens (ao contrário do nome, o passageiro não consegue comprar hoje em dia um bilhete para uma única viagem, a não ser no autocarro, onde paga 1,20€). Agora, com o "Sete Colinas" o carregamento mínimo obrigatório é de cinco viagens (3,55€). Um visitante ocasional de Lisboa pode em alternativa comprar o "Sete Colinas" diário (3,30€), mas se quiser fazer uma ou duas viagens apenas terá de comprar cinco viagens... Mais, para as contas: o cartão "Sete Colinas" custa 50 cêntimos. Ou seja, para começar a viagem teremos de pagar à cabeça 4,55€, quando até agora, com um simples BUC a coisa ficava por 1,20€. O aumento tarifário é nítido e as "nuances" de marketing da empresa não deviam iludir os jornalistas. Mas estes preocupam-se mais com portagens, combustíveis e parques de estacionamento.


[Declaração de interesses: sou utente (quase diário) da Carris, acho que a rede melhorou muito com novos autocarros, mas entendo que muito mais pode e deve ser feito, para conforto de quem viaja. Tenho dúvidas que o caminho seja a anunciada remodelação.]

A literatura para explicar a política

O romance «The Children of Gebelaawi», do escritor egípcio - e o único árabe premiado com o Nobel da Literatura -, Naguib Nahfouz, que morreu ontem no Cairo, aos 94 anos, foi considerado blasfemo pelos líderes da Universidade islâmica de Al-Azhar e foi banido até hoje em todo o mundo árabe, Egipto incluído, à excepção do Líbano. [a partir do Público, sublinhados nossos]

Renascer em Veneza [mais três contributos]

30.8.06

Renascer em Veneza

Um contributo.

Um jantar por causa do cartaz

Caro Miguel.

Não há nada como a provicoincidecisão ;)

Não é que ontem, de modo que não vou qui relatar, acabei por ir jantar com uns amigos, e uma deles também vira a tal suspensão amorosa de serviço da Camponesa onde… fomos então jantar (degustei uma picanha com batatas assadas com pele…)

Estávamos à porta vendo a ementa e os preços e vem o senhor lá de dentro, a quem dissemos que vieramos chamados pelo cartaz, e a sua resposta foi curiosa : Estávamos para dizer o que se costuma dizer : motivos pessoais, indisponibilidade, etc… até que dissemos, Bolas, mas porque não pôr a verdade e já está? ;)

Depois resolveu-nos a questão de três de nós que são vegetarianos (têm uns pratos pequenos a que chamam « diversos »).

Estávamos já no café, quando vem um daqueles mui conhecidos vendedores de flores asiáticos, e perante a nossa negação, lá explicou ele no seu português de desenrasca (aqui poderia ter-se uma extensa e pertinente conversa socio-política ;) que o senhor do restaurante no-las oferecia… Enfim, só às mulheres, mas pronto, são os usos e costumes…

No fim, entregámos ao balcão uma das toalhas de mesa onde escrevéramos, tais crianças ou whathever : Viemos por amor.

Enfim, foi um belo jantar.

Abraço.

Vítor Mácula

PS: Nova Orleães já é um pouco mais longe para ir em provicoincidecisão ;) (Enfim, mas nunca se sabe...) E Nova Orleães dava para outra longa e interessante conversa socio-política...

Nova Orleães, um ano depois


«Só lá dormi quatro noites, mas ainda hoje amo aquela cidade: é linda, lenta, louca, langorosa e pobre. Muito pobre.» [O Franco Atirador]

Quando católicos não dão o exemplo...

«A Direcção da Oficina de São José, no Porto, acaba de dispensar os serviços de duas técnicas que denunciaram situações de maus-tratos aos menores daquela instituição. Uma delas chegou inclusivamente a testemunhar durante o julgamento dos 13 envolvidos no designado caso Gisberta. A decisão foi comunicada oficialmente sob a forma de não renovação de contratos a prazo de uma assistente social e uma psicóloga, que estão ligadas à instituição "Qualificar para Incluir". O afastamento tem efeito a partir de 30 de Setembro.» [in JN]

A JOC e a LOC deviam intervir. O bispo do Porto devia intervir. Os católicos não devem calar mais este atropelo.

29.8.06

O peixe não morde

Os praticantes de pesca lúdica têm de respeitar as restrições biológicas e a dimensão mínima das espécies, além de guardar entre si ou face a pescadores profissionais uma distância mínima de 10 metros. Assim determina uma nova lei, que de tão anedótica quase nem merece comentário. Quem vai fiscalizar, quem vai medir, quem vai multar? Eu, assim, nunca teria aprendido a arte da pesca. Com o Rui e o Chico, aos 10/12 anos, às 4/5 da manhã, em São Martinho do Porto ou na Praia da Barra, a menos de dez metros, a aprender como se escolhiam os chumbos, os iscos... Uma lei para o lixo.

Elixires

Maria Esther de Capovilla, uma mulher com quase 117 anos, a pessoa mais velha do mundo (segundo o Guinness), morreu domingo no Equador. Para os que procuram o elixir quase eterno, foi revelado que na sua juventude beberia leite fresco de mulas. Mas o mais relevante é que Esther nasceu (a 14 de Setembro de 1889) no mesmo ano em que nasceram Adolf Hitler e Oliveira Salazar. Este dado é que é significativo, para mim que não o conhecia. Esqueçam os debates recentes sobre o fascismo (ou não) do Estado Novo: afinal há algo mais profundo que unia o nacional-corporativismo salazarento do nacional-socialismo hitleriano.

28.8.06

Encerrados por amor

... às vezes, também apetece a este blogue.

[afixado na porta do Restaurante A Camponesa,
Rua Marechal Saldanha (a Santa Catarina), em Lisboa, esta noite.]

Se fosse da vida que falássemos, NÃO seria assim

«Com apenas uma célula removida, o embrião mantém a plenitude do seu potencial de desenvolvimento. Contudo, [notou monsenhor Elio Sgreccia, que preside à Academia Pontifícia para a Vida, do Vaticano], o novo método não tem em conta que mesmo aquela única célula removida pode teoricamente evoluir para um ser humano totalmente desenvolvido. «Se o resultado que aguardamos - ou seja, reproduzir apenas células embrionárias - é resultado de uma manipulação de um processo que, de outra forma, resultaria num embrião, a objecção ética mantém-se.»

O Vaticano continua a objectar o que não terá objecções: esta única célula pode salvar vidas. E é isso que importa, sempre. Aqui, no aborto, ou no caso Gisberta.

Se fosse futebol, era assim

«Pela minha parte, acho que o mais simples era pôr o Gil Vicente a jogar com o Belenenses. Quem ganhasse ficava com o bom do Mateus.» [André Belo, no seu bistrô]

27.8.06

Ideias para o novo milénio*

«No que toca à beleza feminina, urge acabar com dois equívocos: a magreza e a musculatura abdominal. É preocupante que, numa atitude reveladora de vegetarianismo sexual, sejam tantas as mulheres a não perceber a obsessão da rapaziada por Scarlett Johansson.» [* - Vasco M. Barreto]

26.8.06

Vade retro, satanás!

Está lá tudo, na fotografia do Expresso: o presidente da CM de Setúbal a arrumar as coisas, posto na rua pelo PCP, não pelos eleitores. Duas cruzes, ao fundo na parede, denunciam-no: Carlos de Sousa é também católico. E ainda por cima desrespeita a liberdade religiosa e a não fixação de crucifixos em lugares seculares, não é camarada Jerónimo?!

Help Me

Lord, Help me walk
Another mile, just one more mile;
I'm tired of walkin' all alone.

Lord, Help me smile
Another smile, just one more smile;
You know I just can't make it on my own.

I never thought I needed help before;
I thought that I could get by - by myself.
Now I know I just can't take it any more.
With a humble heart, on bended knee,
I'm beggin' You, please, Help Me.

Come down from Your golden
And throne to me, to lowly me;
I need to feel the touch of Your tender hand.

Remove the chains of darkness
Let me see, Lord let me see;
Just where I fit into your master plan.

I never thought I needed help before;
I thought that I could get by - by myself.
Now I know I just can't take it any more.
With a humble heart, on bended knee,
I'm beggin' You, please, Help Me.

[Johnny Cash, fotografado por Martyn Atkins, canta "Help Me", de Larry Gatlin, em "American Recordings V"]

Nossa Senhora da Agonia com barbas

«[...] O que chega a dar um arrepio na espinha é a forma como Pacheco Pereira literalmente põe as suas esperanças em novo terror, muito terror, para que todos vejam como tem razão e se juntem a ele na ressaca de uma "catástrofe salvadora". Ter-se-á dado conta do que escreveu? Assim de memória, não me lembro de ver maior confissão de insegurança (e derrota) do que alguém depositar as suas "últimas reservas de optimismo" na esperança de que bin Laden lhe proporcione uma tragédia que lhe salve os argumentos.» [Rui Tavares]

Autocarro 9, 19h32

O beijo adolescente foi quebrado à porta do autocarro. Ela sentou-se à janela, mão no vidro, ele do lado de fora, também com a mão no vidro. A um sinal dele, cada um agarrou no telemóvel e conversou em tom de confidência os amores juvenis que o vidro separava. Quando o autocarro arrancou, o telemóvel deixou de fazer sentido: desligaram. Não havia como se olharem nos olhos.

25.8.06

O professor

«[...] o que motivou o professor de filosofia a mudar o seu nome foi o facto de já não existiam paredes suficientes, na sua casa que antes era orgulhosamente estéril e desprovida das coisas terrenas, para pendurar nem mais um termo de identidade e residência indevido, por processos que nunca lhe chegavam a manchar o cadastro, porque eram sempre arquivados pelo Ministério Público por falta de provas [...].» [de Dia]

[post de escuta]

came so far for beauty



este fim-de-semana, a ouvir muito, muito,
e Johnny Cash, a sós com a vida

Ora escutem lá!

Os amigos são para as ocasiões: dar música, por exemplo.

24.8.06

As notícias sobre o meu fim são claramente exageradas



[actualizado: quando já depois da meia-noite passeava pelos blogues que gosto deparo-me com este post do José Mário, cinco minutos antes do meu. Ele há coincidências. Coincidências giras.]

Os astros andam loucos

1. O Governo britânico nomeou uma secretária de Estado para a boa forma, Caroline Flint [na foto, com Eriksson].
2. José Manuel Fernandes defende as fontes anónimas de Eduardo Cintra Torres, crítico de televisão, sobre más decisões editoriais da RTP no alinhamento de um único dia de Telejornal. O mesmo JMF não o fez, na devida altura com jornalistas do quadro do Público, como Ana Sá Lopes, Eunice Lourenço ou José Manuel Rocha.
3. Plutão foi despromovido. Deixou de ser planeta, segundo a União Astronómica Internacional. Será mais ou menos como a Praça Velasquez ou o Aeroporto de Pedras Rubras no Porto, o Areeiro e a estação de Sete Rios em Lisboa. Ninguém os chama pelos nomes certos e Plutão continuará a ser planeta.

[o terror do bloguista, exercício prático]

...



















.

23.8.06

Chamem-lhe um cigarro

Não sou fumador. Não gosto do tabaco em lugares fechados, como locais de trabalho ou de lazer. Mas o absurdo, a caricatura e o fanatismo de quem "limpa" o tabaco de filmes do Tom & Jerry obriga-me a concordar com Vasco M. Barreto [no post Ode pífia a André Malraux, de 13/8/06]: «Estes [...] episódios são péssimas notícias para a causa dos não-fumadores e dão aparentemente razão a quem vê numa ambição razoável - proibir o fumo em espaços públicos fechados - a ponta do iceberg de uma cruzada antitabagista que faz dos fumadores criaturas a exterminar.» Nestes tempos de extremismos apetece estender estes simples avisos a outras áreas: ser contra a guerra não é ser-se anti-semita, ser-se contra a política de Bush não é ser-se anti-americano. De facto, e cito Barreto de novo, «enquanto se perde tempo com estas diversões, fica por fazer o essencial».

Chamem-lhe um figo

Os habituais detectores de spin nunca pareceram muito incomodados pelo facto de Rui Ochôa, fotógrafo oficial de Cavaco Silva nas suas maiorias, e que volta a sê-lo em Belém, repórter principal do Expresso, assinar primeiras páginas neste semanário com fotografias campestres como a do passado sábado, acompanhado do texto bucólico-laudatório, que se reproduz. Os spins quando funcionam não são para todos os lados.

«Aníbal Cavaco Silva e a mulher, Maria, ontem à tarde, a apanhar figos na Horta das Benfarras, em Boliqueime. A pequena propriedade de três hectares era já propriedade do avô do Presidente da República Joaquim Martins Cavaco, e localiza-se entre a Estrada Nacional 125 e o golfe de Vilamoura. Agora que está de férias no Algarve, o chefe do Estado todos os dias se encontra com o seu pai, Teodoro Silva, de 94 anos. E é entre figueiras, laranjeiras, mangueiras, romãzeiras e alfarrobeiras (estas, na maioria, centenárias) que ambos passam algum tempo juntos.»

Opiniões

"Sou um democrata, respeito as opiniões." Não é preciso pensarmos em Pinochet ou Fidel, para no nosso quotidiano encontrarmos pequenos ditadorzinhos. A diferença é que estes só não torturam ou fuzilam.

22.8.06

Noite europeia

[Foto: Paulo Carriço/Lusa]

O Benfica não precisa de fazer a festa com jogadores de outros clubes.

A memória elogiada

É porventura um dos blogues mais bonitos [dos que conheço], tão desarmante na sua simplicidade, e certamente um dos mais bem escritos [dos que leio]. Regressado de férias, leia-se, de fio a pavio, de Nova Iorque a Lisboa, e com volta pelo Belize ou outra parte do mundo, A Memória Inventada de Vasco M. Barreto.

Mais duas vítimas do nazismo



Grass e Ratzinger.

Lisboa zangada

Quem se passeia por Lisboa em ritmo de férias ou apenas com tempo acaba por se sentir indisposto com as buzinadelas de condutores apressados. Mas se elas quase não se ouviram durante dias e dias, começo a achar que esses condutores não são apenas apressados, são inconvenientes. Apetece mandá-los de férias, de novo.

Regresso a Moçambique (II)

O mundo ralha de tudo – crónica de uma viagem de "chapa" na EN1*




O quiosque está fechado. Esconde o que vende e não revela ao viajante apressado qualquer pista do que ali se encontra. As outras esquinas – assim se chamam as pequenas casas de venda que se arrumam na berma da estrada –, anunciam invariavelmente Coca-Cola, «páre! beba! curte!» [sic]. Só os tempos verbais permitem a pluralidade publicitária: «O alimento que fortifica», Milo, ou a pasta Colgate não são concorrentes do refrigerante. Esta esquina anuncia-se, sem dizer o que vende: O Mundo Ralha de Tudo. Nem o nome do proprietário, para indagação. Estamos em Maphinhane, província de Inhambane, na Estrada Nacional 1 (EN1), que une Maputo e Beira, numa sucessão de picadas, terra batida, crateras, lama, desvios de obras e episódios de asfalto.

Já levamos mais de 400 quilómetros desde a saída de Maputo, traduzidas em horas e horas de estrada. O "chapa" não dá mostras de se atrapalhar. As estradas moçambicanas morriam sem as carrinhas invariavelmente japonesas (e muitas nem escondem os caracteres orientais das empresas que serviram antes) que, nas ruas da capital, ou de vila em vila, de cidade em cidade, transportam pessoas, malas, animais, móveis, num amontoado de tralha e calor, mesmo quando o Inverno mais se sente. Com os "chapas", cruzam-se "machibombos", autocarros que circulam também eles num equilíbrio desengonçado de objectos e milagre da mecânica.

Da estrada, descobrem-se lugares que o mapa não conhece. Vêem-se palhotas, pequenas casas circulares, triangulares, quadradas, feitas de caniço e telhados de capim. Vidas suspensas da paragem dos carros. Se um veículo se detém na berma, por algum motivo, logo alguém surge de lugar nenhum. Para vender. Castanhas de caju, bananas, laranjas, carvão, abóboras, arcos e flechas e máscaras, "pré-pago o celular", tubos de escape, corpos. "Salão de corte". E a Escola Primária Completa. Há mulheres que carregam fardos e crianças, lenha e comida, num vaivém incessante. Jovens muito negras, bonitas, sempre muito negras. E miúdos, da escola para o campo, da palhota para a estrada. Também eles carregam, o irmão mais pequeno ou o bidão que a mãe não consegue transportar. São mais mulheres e crianças que se vêem a caminhar na estrada.

É Inverno, o sol queima. Há queimadas no horizonte. O Ministério da Saúde moçambicano afirmava em Setembro de 2005 que a taxa de infecção por VIH no adulto, no país, tinha aumentado de 14 por cento em 2002 para 16,2 por cento em 2004, valores calculados a partir de dados recolhidos por todo o país durante o ano de 2004. A prevalência do VIH dos 15 aos 49 anos saltou para 19,9 por cento face aos 13,6 por cento de 2002 e era muito superior nos centros urbanos. Os números frios escondem outros: a diminuição da esperança de vida, a morte de adultos que deixam filhos ao abandono ou entregues a avós sem rendimentos suficientes.

Na EN1, a campanha aposta na colisão frontal: «Onde está o motorista? Chocou com o sida.» Também junto dos miúdos se faz campanha: há uma «Escola livre do sida». Ao lado, o combate contra a malária. «Deixe a malária fora da rede.» Esta doença continua a ser a principal responsável pela mortalidade infantil em Moçambique. Segundo a Unicef, é responsável por cerca de 35 por cento das mortes entre os menores de cinco anos de idade. Morrem por dia 125 crianças por causa da doença. Os alunos vão à escola com sacolas da Unicef: «Aprender para melhor crescer.»

Quase tão endémica como a doença é a corrupção. A pequena propina para resolver o problema. Depois de sair da província de Maputo, em direcção ao Norte, o polícia de Gaza manda encostar a viatura. Impecável na sua farda branca, pede papéis, implica com o facto do veículo de Maputo estar em Gaza a fazer serviço de transporte. Depois desaparece com o motorista do "chapa". «Quis chatear?» «Não, quis dinheiro.» Seguimos viagem. Muitos quilómetros e outras operações stop depois (sem mais problemas), atalha-se caminho e metemo-nos em trabalhos. Os trabalhadores que alisam a terra batida do troço em obras entravam a marcha com uma máquina. Nada que 20 mil meticais (pouco mais de 60 cêntimos) despachados pelo motorista não resolvam. No regresso a Maputo, quando ultrapassamos um carro da polícia, eles não gostam – ou então esfregam as mãos. Nova discussão com o motorista: embirram com os papéis do atrelado. Temos direito a escolta até ao hotel. «Desta vez não levaram nenhum.»




A EN1, a partir do Xai-Xai é um slalom gigante. O "chapa" que passa, pede: «Liga mais tarde.» Outro, de matrícula sul-africana, desconfia. «Trust nobody.» Parece adivinhar: os acidentes na estrada são violentos. «Como conduz ele?», pergunta-se nas traseiras do autocarro. Mais valia perguntar como se aguenta o "machibombo". Cá como lá: as antenas de telemóveis, a rasgar o horizonte. Para Norte, acabam-se as campanhas contra «o sida», só fica a Coca-Cola. A vegetação tropicaliza-se. O pôr-de-sol é único.

Junto à estrada um «memorial às vítimas comuns da guerra dos 16 anos». Adérito, 32 anos, nove filhos, que estão «aqui e ali», no Maputo, em Inhambane, motorista, profissão inscrita no passaporte, também combateu – foi chamado pela Frelimo com 16 anos, para cumprir dois. Não fala mais disso. Os olhos denunciam tempos duros. «É. Foi duro.» Prefere olhar para a estrada.

Há mesquitas e madrassas. E um autocarro que parou para que os passageiros, todos homens, possam orar em direcção a Meca. Há igrejas evangélicas, assembleias de Deus, pentecostais, metodistas, testemunhas de Jeová, Reino de Deus. Todos se anunciam, em placas mais ou menos artesanais. Os católicos vêem-se menos, ou anunciam-se pouco. Algumas missões e ordens religiosas, pouco mais. A presença portuguesa também é discreta. Marcas de anos de guerra, de raiva, de descuido, de degradação, entranham-se nas paredes das casas de tijolo e cimento. Algumas poucas são hoje lojas, muitas apenas escombros. Todas guardam fantasmas. A noite cai cedo, às seis da tarde está como breu. Os rostos e corpos que passam são pardos, seguem caminho. Os carros que se aventuram assinalam o cruzamento com outros fazendo pisca. Assim se vê onde vai passar o veículo, explica o motorista.

Mais para Norte, a estrada piora. Buracos. O difícil é acertar no alcatrão. O estado das estradas imprevisível. Depois de Massinga, a chuva é inimiga da estrada de terra batida. A chuva é abençoada, replicam os locais. As cheias de 2000 afectaram a EN1. O Governo aproveitou e lançou uma grande empreitada de reconstrução da principal via de Moçambique. "Venha ver de perto", diz o nome do quiosque. Não é preciso. À velocidade a que se segue – a carrinha não passa dos 20, 30 km/h – é impossível não ver o que se passa, o que se vende. Há outras lojinhas. "Esquina legal", "Esquina Fala Verdade". Há desvios que nos levam para picadas, enquanto que, ao lado, a estrada a ser construída parece rir-se. Ali, sem se usar. «Paraíso do camionista. Casa de Repouso.» Quase que apetece.

Leio "A Baía dos Tigres", África entranhada no corpo e mente de Pedro Rosa Mendes, que viajou da costa à contracosta. Há pormenores que revisito à boleia do "chapa": a mulher que se alivia nas ruas de Maxixe, como o rapaz à noite que abre a porta do jipe, com a luz dos faróis de quem segue atrás.

Chegamos a Vilanculos, 500 quilómetros a Norte de Maputo. Bazaruto ao largo, sol e chuva. A chuva esconde o paraíso, o sol revela-o – uma fina língua de areia que separa o azul do céu do índico azul. Ben é marinheiro. Não é diminutivo de Benjamim, nem de nada. É Ben. Diz que «está melhor , muito melhor». «Já não tem guerra.» A vida está cara, mais cara («os "boers" vêm para aí com dólares e rands»), «mas já não há guerra». Durou 16 anos. E mais dez. E mais.

Afonso não conheceu a guerra. Tem 13 anos, 12 irmãos. É de Bangai. Vende lenços e espanta-espíritos na praia deserta. Espeta dois paus na areia, os lenços agarrados apelam mais à compaixão que ao consumo. Seja. A escola não é hoje. O professor morreu. «One hundred», 100 contos, três euros, pelo lenço. Por tudo, tudo custa 100 contos. A cabeça dele mostra a doença – tinha. O doutor Cabral, «está lá», e aponta para lugar indefinido, "lá" ainda não recebeu a visita de Afonso.

O mundo ralha de tudo. Os turistas amaldiçoam o vento e a chuva, pedem bom tempo. «Tem de pedir a Deus», responde-lhes Ben. O deus de Ben, qualquer que ele seja, é o deus das chuvas. «A chuva é uma bênção, senhores.» Mesmo quando irrompe violenta e faz os rios galgar campos, estradas e vidas. O pequeno pedaço de terra é uma amostra de um provável paraíso. Afonso desconhece-o. Não ralha de nada.




* - notas de uma viagem a Moçambique de 16 de Junho a 1 de Julho, na companhia de 12 fantásticos amigos e de M., a estrela que veio do céu, coligidas em crónica dada à estampa em Julho. Fotos desta viagem na Estrada Nacional 1.

21.8.06

Cidade [em] Agosto



instantâneo na Rua Duques de Bragança, Lisboa [junto ao Teatro Estúdio Mário Viegas]

Sem nomeações

O Diário da República vai deixar de ter piada. E Sócrates começa a ter.

20.8.06

Invertidos

Gunter Grass* tem sido crucificado à direita. Falso moralista, hipócrita, incoerente, you name it. À esquerda, o escritor alemã nobelizado é justificado. Divertida inversão: há um ano e pouco, o Papa Bento XVI era atacado por algumas esquerdas pela sua passagem no exército nazi (e posterior deserção) e defendido por outras direitas.



* - história resumida: «O escritor alemão Günter Grass, Prémio Nobel da Literatura, revelou, numa entrevista à edição de hoje do jornal "Frankfurter Allgemeine", que pertenceu às infames SS nazis na parte final da Segunda Guerra Mundial.» [12/8/06]

Ir a banhos


[imagem PortugalDiário]



A política foi a banhos, aqui na Cibertúlia, deliberadamente. Não que ache que o estado de coisas não mereça discussão. O mundo anda aflito, com extremismos à solta de um lado e outro, confundindo em vez de se esclarecer, prós-tudo ou prós-nada, sem lugar à discussão ponderada. Ontem, no Público, Timothy Garton Ash escreveu um texto interessantíssimo sobre «porque andam tão zangados os jovens muçulmanos britânicos» [o original no Guardian pode ser lido aqui]. As coisas nunca são a preto e branco, ao contrário do que nos querem fazer crer umas quantas alminhas.

[PS - Hoje, Vasco Pulido Valente chama à «festa de Abril» de «má memória», por oposição ao «luto académico» de 62 de «boa memória» (que o será). É assim: aos 60, afogamos a inteligência e esquecemos que só podemos escrever estes dislates por causa de festas de má memória.]

19.8.06

Divirtam-se no fim-de-semana

Every Sperm is Sacred [Monty Python's Meaning of Life]

Jogos destes dias

«É assustador pensar que muitos acontecimentos da vida dependem da sorte, numa fracção de segundo. Ao contrário do que se pensa, não se controla tudo. Como num jogo de ténis, quando a bola toca na rede e todos ficam suspensos à espera que ela caia - nesse instante, pode cair para a frente, e nós ganhamos. Ou não: a bola cai no nosso campo e perdemos. Uma questão de sorte. [...

Jogos assim

Não sou excêntrico. Já o sabia: nem joguei.

18.8.06

Lost

Como se diz perdido em japonês?


Para quem nos visita, a foto quase dispensa legenda: Charlotte (Scarlett Johansson), no filme Lost in Translation. Clicar na imagem para se perder ainda mais.

Brigadeiros

Em 1936-1939, com a democracia em perigo na vizinha Espanha, muitos voluntários estrangeiros correram a barricar-se nas ruas de Barcelona, nas colinas do País Basco e nas montanhas de Saragoça. Os brigadistas queriam ajudar o governo republicano democrático, vítima de um golpe de estado patrocinado por dois poderes tenebrosos, o da Alemanha nazi de Hitler e o da Itália fascista de Mussolini. Por contraste, hoje, ao ler os opinadores da praxe, fico sempre à espera de ver Vasco Pulido Valente, Luciano Amaral, Helena Matos ou Pacheco Pereira alistarem-se numas quaisquer brigadas de apoio ao Tsahal, para fazerem jus àquilo que escrevem. Ou talvez seja mais sensato continuar a escrever algumas larachas sobre os perigos do mundo de hoje confortavelmente sentados neste cantinho de iletrados e sentimentais (na expressão de VPV, no Público desta sexta-feira).

Post de porcaria

O motocão não sobe as escadinhas de Lisboa, logo a porcaria fica ali pojada, sem que a chuva consiga levar o enfeite. Depois passa o varredor e pergunto-me porque não fará a vassoura o seu trabalho. Já vamos no quinto dia de montículo acumulado, dos muitos que a capital gosta de exibir aos seus turistas.

17.8.06

[Isto é que ter garra]

o pior golo da vida... [descoberto aqui no café]

Última tentação

Então ela quis tentá-lo definitivamente. Olhou bem em volta, com extrema atenção. Mas só conseguiu encontrar uma pêra pequenina e pálida.
Ficaram os dois numa desesperante frustração.
Não há dúvida que o Paraíso está a tornar-se cada vez mais chato!

[Mário Henrique-Leiria, Contos do Gin-Tonic, Editorial Estampa, 1973]

16.8.06


[leituras de dias de verão - actualizadas ao sabor dos dias]

Tralha de primeira: «[...] acreditei novamente que não sou louca e que não perco o meu precioso tempo, quando começo os dias, com uma vista bastante exaustiva nos classificados de toda a imprensa diária, à procura de algo belo [...]»

História Exemplar

Entrei.
- Tire o chapéu – disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
- Sente-se – determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
- O que deseja? – investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.

[Mário Henrique-Leiria, Contos do Gin-Tonic, Editorial Estampa, 1973]

Regresso a Moçambique

Moçambique, Estrada Nacional 1, algures entre Vilanculos e Massinga [foto MM, Junho 06]

Andam aí histórias espantosas deste país de terra em carne viva, amordaçado por guerras infindas e pobrezas maiores, mas vivo nas varandas estendidas no Índico e na estrada nacional de mil e uma surpresas. Apetece voltar.

15.8.06

O motorista famoso

A repórter na praia interpela a pequenita que diz que já viu «famosos». «Que famosos viste tu», pergunta-lhe a jornalista. «O motorista da Floribella», resposta pronta.

14.8.06




[leituras de dias de verão - actualizadas ao sabor dos dias]
1. Melancómico regressado: «Eu disse: nunca levava nada até ao fim. Nem a morte.»
2. «Quem tem o mar colado à pele sente saudades só de ouvir as gaivotas que rondam as lixeiras.» As vagas nas cidades.

Cidade vazia

Vai vazia a rua, poucos carros, não há telefonemas, os blogues estão parados. Em Agosto, os liberais do protesto a banhos no Algarve esquecem a produtividade perdida com as "pontes". Agosto é assim.
We could be heroes

[Elephant Love Medley, de "Moulin Rouge", cantado por Ewan McGregor e Nicole Kidman]

Quatro minutos e dezoito segundos de pura magia.
Esculpir

Milo Manara

13.8.06

40º à sombra

No fundo da avenida
bebendo um capilé
quarenta graus à sombra
nas mesas do café
e aquela rapariga
eu já não sei o que dizer
o que fazer

mediterrâneo agosto
é pleno verão
o sol a pino
e eu faço uma revolução

parte um navio
desce a maré
vejo o céu vermelho
tomara que estivesse a arder
e aquela rapariga
eu já não sei o que dizer
o que fazer

mediterrâneo agosto
é pleno verão
o sol a pino
e eu faço uma revolução

eu só te quero a ti
eu só te quero para mim
agosto aqui para mim
só ter um fim
é ter-te a ti
só para mim
agosto aqui
só para mim

Radar Kadafi, in «Prima Donna» (1987), acompanhados de Jennifer Connelly.

[legenda]

A estátua que deixa que aconteça é de Augusto Rosa. O busto da autoria de Teixeira Lopes, em homenagem ao actor de teatro Augusto Rosa, nascido em Lisboa, em 1852, no seio de uma família de grandes actores teatrais. Foi realizado por encomenda da Câmara Municipal e inaugurado em 25 de Dezembro de 1925, no Largo da Sé (Jardim Augusto Rosa). Chega-se lá com o autocarro 37 e os eléctricos 12 e 28. [informações do Lisboa Interactiva] Ideias para um programa de férias.

12.8.06

Deixo que aconteça


[Lisboa, junto à Sé, em Janeiro de 2006, foto MM]

A lista de Helena

Hoje, por uma vez, somos tentados a concordar em parte com Helena Matos, no Público [sem link disponível], que ataca a censura e as proibições, porque «[...] quanto mais pactuarmos com ela [censura], mais precisamos de acentuar as memórias e as histórias sobre as censuras e as opressões passadas. Nada que nunca se tenha visto. Infelizmente funciona quase sempre. Até ao dia em que a realidade nos explode diante dos olhos. Seja sob a forma de carros incendiados nos subúrbios, cadáveres atirados para o fundo de poços, como Gisberta, ou raptados e torturados, porque são judeus, como aconteceu, em França, a Ian Halimi. [...]» A dúvida só se instala porque esta é a mesma Helena Matos que bate palmas a cada movimento anglo-americano para erradicar a insegurança do mundo, e que se compraz com as medidas de vigilância a todos os árabes. A lista de Helena nunca incluiria a morte de Jean-Charles de Menezes nesta lista de coisas que nos explodem diante dos olhos.

11.8.06

Revisionismos no calor do Verão

Pacheco Pereira* diz que a geração dele perdeu a noção do que é a guerra. Vasco M. Barreto lembra que "para frisar que a Europa vive sob a protecção dos EUA muito me custaria se, por omissão, a experiência de um familiar ferido em combate [na Guerra Colonial] passasse à História como paintball radical". Afinal, adverte e bem Vasco M. Barreto, "anda por aí um certo revisionismo, que fez do 28 de Maio um fim à choldra, da ditadura de Salazar uma catequese compulsiva e do 25 de Abril uma inconsequente brincadeira de magalas, tendo em conta o prognosticável - ao bom estilo de João Pinto - estiolamento do Marcelismo" [no post de leitura obrigatória, "Paintball em Cabinda"].

* - biógrafo de Cunhal, e que combate (muito bem) a hagiografia-revisionista comunista sobre o antigo líder do PCP.

Por estes dias [uma legenda]

«A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a dez metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! [...] Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canadá ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acha normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar!»

[José Mário Branco, FMI, recordado pelo Bruno, para legendar a foto do cravo, e cá por coisas!]

10.8.06

Orgulho português


100+200=duas medalhas.

Fora daqui

O Chiado de Agosto não tem lisboetas, é uma Babel grande, que apetece percorrer devagarinho. E nem o Sol é desculpa para nos abrigarmos no ar condicionado de lojas e cafés. Vale a pena deixarmo-nos levar. Os corpos são ainda mais bonitos assim. E, por breves instantes, tudo parece mais calmo: o mundo, Londres, Haifa, Beirute, o emprego. Longe de tudo.

Pecar por omissão (um comentário)

[Respigo da caixa de comentários, estas observações de Isabela, sobre o caso Gisberta, para não se perderem.]

«Os miúdos já não são bem miúdos. Estes miúdos já deixaram de o ser, como a Gisberta provavelmente deixou de ser, muito cedo. Este é um caso muito triste. Porque nos choca que os meninos matem. Mas somos nós que construímos este lugar onde os meninos aprendem a matar. Penso que os miúdos deviam ter sido culpados, obviamente culpados, porque o são, está aos olhos de toda a gente, não há defesa possível.
O problema é que eu, sendo uma idealista, gostaria de ter uma esperança de que estes rapazes pudessem mudar, ser gente, não assassinos, criminosos, para o resto da vida. E então, como se fôssemos pais, e eu, com desgosto meu, não sou, penso que poderíamos castigá-los como merecem castigo os culpados, mas ao mesmo tempo dar-lhes uma oportunidade de se reconstruírem. Numa instituição especial para estes casos. Não sei se existe em Portugal. O que eu queria é que, cometido horror, não voltassem a fazê-lo. Mas sou sonhadora de mais, não é?»

Amigos

1. Dois anos de cinema tratado com dedicação e sem peneiras de crítica encartada.
2. Cinema, Londres, amigos, arte. Sem peneiras de emigrante viajada.

Calcanhares (II)

O golo de calcanhar de Nuno Gomes (à Madjer - sim, naquela noite de 87, saltei tanto na sala que quase partia o candeeiro) não foi lembrado aqui a propósito de Jacobus. Há paralelismos que nos recusamos a fazer. E prognósticos, já se sabe, só no fim do campeonato.

9.8.06

Calcanhares

Jacobus. "O nome Jacó ou Jacob deriva do latim Iacobus, que por sua vez é uma latinização do nome hebreu Ya'akov (יעקב), que significa literalmente calcanhar." Descubro no comunicado do FC Porto sobre a saída de Co Adriaanse que o agora ex-treinador se chama afinal Jacobus. Um verdadeiro calcanhar de Aquiles.

Por estes dias (II)


... é preciso meter o pauzinho na engrenagem — ou a revolução feita de flores em todo o mundo*.



[a foto é do Bruno, que ma ofertou, *da sua viagem a Marrocos, num restaurante em Marraquexe.]

Por estes dias

Há interditos e silêncios. Momentos que não se dizem, coisas que se escondem. Agosto não é a silly season, já devia saber o jornalista que colecciona manchetes como por exemplo a invasão do Kuwait pelo Iraque de Saddam (em tempos, o Público respigava essas manchetes para dizer que havia mais a mexer neste mês do que se pensa). Agora que as histórias pessoais se misturam com manchetes impublicáveis, mais vale seguir à bolina, assim como marujos de boas memórias e melhores aventuras. Apetece partir, mesmo.

8.8.06

Indicadores económicos

No fim-de-semana, a RTP descobriu um novo indicador económico: as famílias portuguesas estão em crise porque levam farnel para a praia, para poupar dinheiro. No domingo, numa praia fluvial do concelho de Marvão largas dezenas de espanhóis poupavam muito dinheiro com os seus farnéis. Logo, segundo os economistas da RTP, Espanha atravessa uma grave crise económica.

7.8.06

Graça fácil

Silêncios

Dois dias na quietude do Alentejo — no sopé de Marvão, o castelo e as muralhas lá em cima a recortarem o horizonte, a definirem uma linha entre o céu azul e o dourado da terra iluminada pelo sol quente. Dois dias na quietude, para esquecer tumultos.

Casa de ferreiro

Parece que o E Deus Criou a Mulher foi citado na Única (revista do Expresso) da semana passada por Rita Ferro Rodrigues - e as visitas dispararam. Esta semana, a Notícias Sábado (revista do DN, JN e demais família) colocava a menina a descer naquelas colunas de popularidade. Invejas, é o que é, de uma revista que tenta todas as semanas fazer uma capa como o blogue.

4.8.06

Três caras, o mesmo rosto




Qana, Haifa, Guernica

Massacrados

Eu sabia: hoje José Manuel Fernandes no Público defende que afinal só morreram uns 28 gatos pingados em Qana. E que a comunicação social enganou-nos a todos ao falar em massacre! 28 mortos, na minha contabilidade, é um massacre. Na de JMF, não. Pois: ele não chorou nenhum filho, dos 28 ou 50 ou 3 ou 10 mortos, dos ataques de Israel e do Hezbollah.

3.8.06

Coerência

O PSD quer aplicar no partido a receita que gosta de impor ao país. E dizem sempre que é amigável.

[Mais um amigo do Hezbollah]


"Invito tutti, infine, a continuare a pregare per la cara e martoriata regione del Medio Oriente. I nostri occhi sono pieni delle agghiaccianti immagini dei corpi straziati di tante persone, soprattutto di bambini – penso, in particolare a Cana, in Libano. Desidero ripetere che nulla può giustificare lo spargimento di sangue innocente, da qualunque parte esso venga! Con il cuore colmo di afflizione, rinnovo ancora una volta un pressante appello all’immediata cessazione di tutte le ostilità e di tutte le violenze, mentre esorto la comunità internazionale e quanti sono coinvolti più direttamente in questa tragedia a porre al più presto le condizioni per una definitiva soluzione politica della crisi, capace di consegnare un avvenire più sereno e sicuro alle generazioni che verranno." [Papa Bento XVI, ontem, na audiência geral, sublinhados nossos]

Antes que...

Afinal, em Qana (Caná) morreram 28 pessoas. Tenho a certeza que as habituais vozes dirão que já se sabia que não seriam tantos, blá-blá-blá... Antes que digam isso, reitero o óbvio: uma morte que seja, numa guerra absurda, é sempre uma morte que se chora. E que se devia ter evitado.

2.8.06

Pecar por omissão



Este rosto tem um nome: Gisberta. Foi assassinada, no Porto. Não por irresponsáveis, como decidiu preconceituosamente o tribunal (transexual, brasileira, sem-abrigo: tanto anátema numa mulher só), mas por quem quis fazer o mal. Neste caso, a Igreja Católica pecou por omissão: bispos, padres, leigos (eu incluído), ninguém (poucos) veio (vieram) acusar o horror do crime, a leviandade do castigo e a absolvição dos menores. Como sempre, há cristãos que são menos peremptórios na defesa de certas vidas.

De um filme da minha vida


Irène Jacob, em "La Double Vie de Véronique"


«Weronika est une jeune chanteuse habitant en Pologne. Elle aime marcher pieds nus, regarder le monde à travers une boule de verre et a une malformation cardiaque. Un jour, à Cracovie, une jeune touriste qui lui ressemble la prend en photo. Weronika meurt peu après lors d’un concert. A Paris, Véronique est musicienne et possède les mêmes caractéristiques que Weronika : la voix sublime, le corps, la défaillance cardiaque. [...
A descoberta de um blogue (que merece duplas visitas e está quase a fazer um ano) é pretexto para lembrar um filme da minha vida: «La Double Vie de Véronique». E um realizador a pedir urgência na (re)descoberta: Kieslowski.

1.8.06

Scoop
[entretanto, noutra parte do mundo]


«Scarlett é a resposta de Deus a Job. Deus diria: Criei um universo aterrador e horrível, mas ainda consigo fazer uma coisa assim. Ao que Job responderia: OK, ganhaste.»

[Woody Allen, sobre Scarlett Johansson - na imagem, no filme Scoop]

QANA