Da Tatiana, "posto" mais este texto: De um dia de Verão.
Está um calor infernal no centro da cidade. O vento foi de férias e a freguesia de São José, um dos bairros populares da capital, está a estufar. As nuvens entupiram o céu e os idosos debruçam-se nas janelas à procura da fresca.
Uma loja não está fechada neste sábado de Agosto. Ao entrar, sente-se o ar condicionado ligado. A luz é artificial, apesar de ser meio-dia. Estão lá dentro 16 clientes: 15 rapazes e uma rapariga. Cada adolescente tem um computador à frente e auscultadores com microfones acoplados.Estão em guerra: oito contra oito.
– Foda-se!
– Dispara lá!
– Eles estão na praça!
– Fiquei sem balas!
– Estão atrás de ti, caralho!
– Atenção, está um gajo na praça!
– Está sempre ali um gajo!
– Tu hoje estás muito fraquinha, coelhinha!
(Risos)
– Defende a nossa última!
– Yes!!
– O Palhinha está atrás de ti!
– 28 putas mortas!
– Todos para a praça!
– Não se separem.
– Está ali um!
– Eu hoje não consigo matar este gajo!
– Preciso de ajuda na ponte!
– Atirem-lhe uma granada!
– É preciso começar a matar gajos!
– Quem é que está aí?
– Sou eu, cabrão!
– Perdemos a ponte.
– Onde é que morreste?
– Perto da igreja.
– Está aqui outro gajo!
– Protege-me à esquerda!
– Morri!
– Mata o gajo!
– Eu via o sangue a sair...
– Onde é que vocês andam, caralho?
– Então eu atiro e ele não morre?
– Eu preciso de outro rato, foda-se!
– Mata todos!
– Olha a janela na praça!
– Eles vão para a ponte!
– Cuidado, vai morrer muita gente!
– Está um “sniper” na igreja!
– Dá-lhe!
– Vá lá pessoal, só falta um “sniper”.
– Já os fodemos!
– Grande vitória! Toma lá, Moreira!
(Palmas)
– Finalmente!
Os vencedores levantam-se, mas o Palhinha quer desforra. Ainda têm dinheiro para mais um jogo. Voltam a sentar-se.