Caro Afonso, a frase que me atribuis não é minha, mas citei-a por me parecer correcta/discutível. E suponho que o problema começa pela "semântica": o verbo tolerar tem hoje um significado quase depreciativo - e o dicionário não ajuda: "do Lat. tolerare, v. tr., consentir tacitamente; ser indulgente; deixar passar; permitir; desculpar; suportar." [in priberam.pt] Menos mal com a tolerância, mas ainda assim imperfeito: "do Lat. tolerantia, s. f., qualidade de tolerante; acto ou efeito de tolerar; atitude de admitir a outrem uma maneira de pensar ou agir diferente da adoptada por si mesmo; acto de não exigir ou interditar, mesmo podendo fazê-lo; permissão; paciência; condescendência; indulgência" [idem]. Trago aqui as definições para se perceber como as palavras acabam por atrapalhar mais. Mas, como dizes, "nas actuais circunstâncias histórias não haverá princípio alternativo que satisfatoriamente possa substituir o princípio da tolerância. Abandoná-lo, ou tão-só enfraquecê-lo, miná-lo, produziria o efeito perverso de abrir espaço não tanto para o vazio quanto para a intolerância". Por mim, prefiro dizer que a minha liberdade começa onde começa a do outro - e é este o exercício que deve ajudarmo-nos a conhecer ("co-naître", co-nascer) com o Outro (sem ser só "tolerá-lo").