Os portugueses esquecem-se depressa das coisas. Às vezes, dão-lhes descanso durante algum tempo, mas depois esquecem-se. Esqueceram-se da foragida Fátima e votaram nela a correr. Esqueceram-se da corrida mais cara de sempre de táxi e entregaram o carro a Isaltino. Esqueceram-se do trabalho dos melhores presidentes de câmara pós-25 de Abril em Lisboa (João Soares, malgré tout) e Aveiro (Alberto Souto, malgré o vereador da Cultura) e correram com eles em eleições (no primeiro caso, para eleger um playboy que, por essa via, ainda chegou a São Bento). Esquecem-se depressa. Depressa e mal.
Em 1995 e 1996, os eleitores portugueses despacharam Cavaco Silva. Primeiro, nas ruas e nas buzinas, para o autismo ouvir. Depois, nas urnas, para o tabu acabar. Durante estes quase dez anos, o Professor (como ele prefere) acumulou reformas e declarações monstruosas. Não se lhe ouviu uma frase sobre as verdadeiras questões civilizacionais que atravessaram o Ocidente (a esfinge é a imagem adequada), uma ideia genuína sobre este país e o mundo, descontando os bitaites de um economista sobre números e números e números. Atrás da porta dos números, o político profissional - que geriu as suas intervenções para sempre queimar o PSD e alimentar um qualquer sebastianismo sobre a sua personagem - nunca viu pessoas. Nem nos dez anos em que governou, como provou a anedota do Carnaval.
Na fraca memória, agora cozinhada por quem tinha responsabilidade de fazer mais, esquecem-se outras marcas dos seus tempos de governação. Falam-me das profundas reformas que o país teve, e a da comunicação social é particularmente acolhida. Esquecem-se que os negócios (o da TV, mas também os da rádio e imprensa) foram estranhos e hoje muito do mal que se vive na comunicação social resulta de uma liberalização mal conduzida (a taxa da televisão que afundou a RTP, a crescente concentração dos grupos proprietários, nomeadamente na imprensa escrita, o segundo canal entregue à Igreja por capricho e sem sustentação financeira). Na banca, a venda do Totta nunca foi esclarecida. Nos transportes, abriu-se um país de auto-estradas que apagou do mapa estradas secundárias e ferrovias.
Cavaco, não. Portugal já deu para esse peditório. Parece é ter-se esquecido. Demasiado depressa. Mas por aqui preza-se a memória.
[Ainda não decidi em quem voto à esquerda. Se Soares ou Alegre. Num dos dois, claro. Porque as candidaturas de Louçã e Jerónimo são meras jogadas partidárias, que esquecem o carácter supra-partidário da eleição.]
Em 1995 e 1996, os eleitores portugueses despacharam Cavaco Silva. Primeiro, nas ruas e nas buzinas, para o autismo ouvir. Depois, nas urnas, para o tabu acabar. Durante estes quase dez anos, o Professor (como ele prefere) acumulou reformas e declarações monstruosas. Não se lhe ouviu uma frase sobre as verdadeiras questões civilizacionais que atravessaram o Ocidente (a esfinge é a imagem adequada), uma ideia genuína sobre este país e o mundo, descontando os bitaites de um economista sobre números e números e números. Atrás da porta dos números, o político profissional - que geriu as suas intervenções para sempre queimar o PSD e alimentar um qualquer sebastianismo sobre a sua personagem - nunca viu pessoas. Nem nos dez anos em que governou, como provou a anedota do Carnaval.
Na fraca memória, agora cozinhada por quem tinha responsabilidade de fazer mais, esquecem-se outras marcas dos seus tempos de governação. Falam-me das profundas reformas que o país teve, e a da comunicação social é particularmente acolhida. Esquecem-se que os negócios (o da TV, mas também os da rádio e imprensa) foram estranhos e hoje muito do mal que se vive na comunicação social resulta de uma liberalização mal conduzida (a taxa da televisão que afundou a RTP, a crescente concentração dos grupos proprietários, nomeadamente na imprensa escrita, o segundo canal entregue à Igreja por capricho e sem sustentação financeira). Na banca, a venda do Totta nunca foi esclarecida. Nos transportes, abriu-se um país de auto-estradas que apagou do mapa estradas secundárias e ferrovias.
Cavaco, não. Portugal já deu para esse peditório. Parece é ter-se esquecido. Demasiado depressa. Mas por aqui preza-se a memória.
[Ainda não decidi em quem voto à esquerda. Se Soares ou Alegre. Num dos dois, claro. Porque as candidaturas de Louçã e Jerónimo são meras jogadas partidárias, que esquecem o carácter supra-partidário da eleição.]