21.1.04

Temos os patrões que merecemos

Anuncia-se um aumento de 3,9 por cento para os transportes públicos, o dobro da inflação prevista. Os senhores das empresas dizem que os aumentos são demasiado «baixos». Deviam ser 25 por cento. E que os transportes portugueses são os mais baratos da União Europeia. Já cá faltava, este argumento!

O que os senhores das empresas não dizem/não explicam/não fazem é:
- que continuamos a ter transportes com horários descoordenados, sem um efectivo funcionamento em rede;
- que continuamos a ter autocarros velhos (apesar da melhoria substancial da Carris, em Lisboa);
- que continuamos a ver as empresas a não responderem às necessidades de transporte em determinadas localidades (exemplo próximo: apesar do aumento exponencial de trabalhadores e empresas em Queluz de Baixo, a Lisboa Transportes/Vimeca mantém uma oferta risível para esta zona);
- que o transporte público continua a ser preterido em relação ao privado;
- que o nível de vida (salários) dos portugueses é muito mais baixo que o dos europeus;
- ...

Há muitas outras questões. Estas são as respostas óbvias para o absurdo da medida.

P.S.: O título deste "post" inspira-se na reacção clássica do patronato às dificuldades em épocas de crise (curioso, como alguns, só lembram o "imobilismo" dos sindicatos, esquecendo o "conservadorismo" patronal): os despedimentos, travestidos de "reestruturações", e o aumento dos serviços, sem qualquer melhoria de qualidade.
Mais: ontem, o patrão dos patrões comentou o aumento do tempo de licença de maternidade para os quatro meses e meio desta forma: «"É claro que um patrão prefere ter um homem do que raparigas novas. Porque sabe que vão casar e querer ter filhos", afirmou Francisco Van Zeller da Confederação da Industria Portuguesa (CIP).»