21.8.05

Manif

Desculpa a intromissão...

Vi há pouco uma reportagem na SIC Notícias sobre uma manifestação da extrema-direita que terá sido, supostamente, dispersa pela polícia. Ora, a tal reportagem que vi durava uns bons minutos e incluía imagens e sons que deixavam perceber gestos e palavras de ordem e até entrevistas aos organizadores da tal manifestação que foi dispersa pela polícia, que eram identificados como membros de uma organização que se intitula "Frente Nacional".

Bom, apesar de se poder questionar se, tecnicamente, a manifestação foi, de facto, dispersa ou não, a verdade é que eu os vi e ouvi, na televisão, em horário nobre. Ou seja, a mensagem passou.

Os manifestantes insistiram sobretudo na ideia de que não existe liberdade de expressão em Portugal, pelo menos para os defensores da ideologia nazi, e que, no nosso país não existem condições para que os nacionalistas de manifestem ordeiramente.

Se isto não é uma ameaça velada, então eu não sei o que será... E se isto não é uma forma de expressão, então eu já não percebo nada de português... E se aquilo não foi uma manifestação, então eu não percebo nada de psicologia de massas...

Deixando de lado a discussão sobre se deveria ou não ser permitido que este tipo de ideologias se possam organizar e manifestar livremente - que é uma discussão séria de mais para se fazer a partir de duas de treta -, o facto é que eu pensava que este tipo de organizações eram de facto proibidas, que este tipo de manifestações não eram de facto permitidas e que existe responsabilidade civil e até eventualmente criminal da parte daquelas pessoas que foram entrevistadas na tal peça televisiva. Ora, a ser assim, talvez a polícia devesse ter feito mais qualquer coisa, para além de dispersar a manifestação.... E talvez os jornalistas devessem ter feito muito mais do que assistir impávidos e apontar atentamente nos seus cadernos aquilo que viram e ouviram fazer e dizer...

No que diz respeito ao papel e à responsabilidade dos jornalistas, parece-me um assunto bem mais interessante do que a discussão sobre a publicidade e a sua relação com o fenómeno desportivo...

Ah, para que conste, a tal manifestação que foi dispersa pela polícia era para homenagear Rudolf Hess, secretário pessoal e colaborador próximo de Hitler, conhecido entre os militantes da extrema-direita como "o mensageiro da paz", devido ao voo que realizou em 1941 com o objectivo de negociar com os britânicos... Churchill mandou-o prender e devolveu-o à Alemanha, em 1945, para ser julgado pelo Tribunal Militar Internacional de Nuremberga. Nunca mostrou arrependimento e, pelo contrário, afirmou em julgamento que se tivesse a oportunidade voltaria a fazer tudo o que tinha feito. Foi condenado a prisão perpétua... Em 1987, aos 92 anos de idade, suicidou-se.