16.3.04

Passou um ano

Faz hoje precisamente um ano que Durão Barroso assumiu a responsabilidade de acolher, na Base das Lajes, aquela que ficou conhecida pela Cimeira da Guerra. Dos quatro protagonistas de há um ano, só já sobram três: Aznar e o seu PP foram castigados pelos espanhóis, entre outras coisas por causa da participação da Espanha na guerra contra o Iraque. O seu sucessor socialista, Zapatero, já anunciou que as tropas espanholas destacadas no Iraque vão regressar a casa. A "Velha Europa" rejubila; os aliados de Aznar mostram-se preocupados.

Entretanto, por cá, o mesmo Durão Barroso que trouxe todos os chefes guerreiros aos Açores, colocando Portugal na primeira linha da coligação que haveria de bombardear, invadir e ocupar o Iraque, levando-lhe o caos e a morte e a destruição; o mesmo Durão Barroso que diz ter visto provas que, hoje, todo o Mundo reconhece nunca terem existido; o mesmo Durão Barroso que se prestou a participar numa encenação ridícula que pretendia mostrar aos espanhóis que os governos europeus apoiavam Mariano Rajoy e o PP; o mesmo Durão Barroso que não resistiu a desfilar, ao lado de Aznar e de Berlusconi, numa manifestação que fazia parte da estratégia mentirosa e vergonhosa do governo espanhol para retirar dividendos eleitorais da morte de 201 seres humanos; esse mesmo Durão Barroso, primeiro-ministro de Portugal, veio hoje garantir que não há qualquer ameaça terrorista credível dirigida contra o nosso país.

Eu gostaria de acreditar, mas a verdade é que já há muito que as "garantias" do primeiro-ministro Durão Barroso deixaram, elas sim, de ser minimamente credíveis. Acaso terá o nosso primeiro visto provas da não existência de ameaças terroristas dirigidas contra Portugal? Ter-lhe-ão sido fornecidas essas provas pelo aliado e amigo George W. Bush? Serão os serviços de informações e segurança portugueses mais eficazes e mais competentes do que os seus colegas norte-americanos e/ou espanhóis?

Diz o primeiro-ministro que nenhum país no mundo pode estar absolutamente imune a atentados terroristas. É verdade. Ainda que também seja verdade que há uns menos imunes do que outros... Mas se isso é verdade, porque raio vem o primeiro-ministro dizer que não há ameaças terroristas contra Portugal e que, por isso, devem os portugueses estar tranquilos?!

Sejamos sérios e comecemos já por pôr de lado o nosso proverbial machismo: estamos todos preocupados. Alguns de nós, só estamos preocupados desde a semana passada; mas há outros que já estamos preocupados há muito tempo. Para este últimos, os atentados de Madrid vieram apenas reforçar a falta de tranquilidade.

O primeiro-ministro Durão Barroso bem pode tentar tranquilizar os portugueses. Eu, pela minha parte, não só ficava mais tranquilo mas também mais agradado, se o Governo português não esperasse que o drama acontecesse para, depois, tomar medidas. Preferia que retirássemos já as nossas tropas, que retirássemos já o nosso apoio à acção ilegal dos EUA e do RU e que engrossássemos, como país, as fileiras daqueles que ainda acreditam, como nos mostraram os nossos irmãos espanhóis, que o terrorismo deve (e só pode) ser combatido através da cidadania, da democracia, do diálogo e da tolerância activa.

Passou um ano. 366 dias. Muitas mortes. Demasiadas mortes.
Basta ya!