O PSOE conseguiu uma vitória contudente, inesperada e marcada pelos atentados do 11 de Março. José Luis Rodríguez Zapatero conseguiu dar a volta às sondagens e obteve quase 11 milhões de votos, que valeram ao PSOE 164 deputados. O PP, por sua vez, perdeu mais de 30 lugares, deixando Rajoy com um péssimo resultado (148 deputados).
Os efeitos dos atentados da passada quinta-feira (e, sobretudo, da forma como o governo do PP os geriu) parecem ter sido decisivos na viragem eleitoral. A oposição à guerra no Iraque e os pedidos de explicação sobre a autoria dos atentados terroristas foram sinais que o PP não entendeu e que podem muito bem ter estado na origem da sua derrota eleitoral.
Mas, para além dos dois partidos mais votados e que decidem entre si as vitórias eleitorais, há outros sinais que importa reter. Os partidos nacionalistas bascos e catalães convertem-se em forças pequenas mas com muito peso no Parlamento, indispensáveis para formar governo: a CiU perde apoio, mas confirma-se como terceira força (10 deputados); o PNV mantém os seus 7 deputados; a ERC, por fim, é o outro grande vencedor e passa de 1 para 8 deputados, apesar do escândalo Carod-Rovira e da trégua da ETA na Catalunha. A Izquierda Unida, por outro lado, é o outro grande derrotado: vítima do voto útil a favor dos socialistas, cai de 8 para 5 deputados e fica abaixo dos 5% dos votos.
Mas o dado mais relevante das eleições de ontem é o aumento da participação, 8.5% superior à que se tinha registado nas eleições de 2000. Relevante porque explica a vitória socialista (mais 3 milhões de votos do que em 2000, apesar de o PP apenas ter perdido 700 mil votos), mas, sobretudo, pelo que significa de manifestação cívica de resposta ao terrorismo e à arrogância e abuso de autoridade que o governo do PP tinha mostrado nas últimas 48 horas.
Tal como eu tinha desejado ontem, os eleitores espanhóis castigaram o PP e deram o poder ao PSOE. Para mim, é um sinal de esperança. Não só pelo que significa a substituição de um governo de direita por um governo de esquerda, mas sobretudo porque na primeira ocasião em que os eleitores foram chamados a referendar um governo que apoiou a guerra no Iraque, mostraram o seu descontentamento e acabaram por lhe retirar o poder. Para mim, este é um sinal importante de esperança: os cidadãos estão atentos e sabem escolher a paz. Se a tendência se mantiver, no próximo mês de Novembro John Kerry destronará George W. Bush. Pode ser que nessa altura os governantes se convençam de que os povos estão fartos de guerras, do terrorismo, da escalada de violência e que desejam profundamente a paz, a tolerância e a compreensão. Pode ser que nessa altura os Pachecos Pereiras e Josés Manuéis Fernandes deste mundo tenham de engolir as suas palavras, se forem suficientemente dignos para o fazerem.