15.3.04

10 chaves para compreender as eleições espanholas

A sombra do 11 de Março
O impacto do terror dos atentados do 11 de Março, nos quais morreram 200 pessoas, deu lugar a protestos para exigir ao Governo clareza na investigação policial e criticar directamente o PP. A sombra da Al Qaeda e, sobretudo, a participação espanhola na guerra no Iraque, serviram de pano de fundo.


Catalunha e a crise de Carod-Rovira
A convulsão política provocada pela reunião do líder da ERC, Jospe Lluís Carod-Rovira, com a ETA e pelo posterior anúncio de tréguas, ameaçou a estabilidade da coligação tripartida que governa a Catalunha e atingiu Zapatero num dos seus pontos mais fracos: a sua real influência sobre o PSC. No entanto, o PSOE consegue uma subida importante na Catalunha (mais 430 mil votos e mais 4 deputados) e, pela sua parte, Carod-Rovira não só salva a sua carreira política, mas também sai ganhador da sua aposta: sobe de um para oito deputados. A CiU é directamente prejudicada por esta subida republicana.


O Senado nas mãos do PP
Apesar de no Senado também se produzir uma reviravolta significativa, o PP continua a ser o partido mais votado, pelo que os socialistas terão de negociar na câmara alta para conseguir a aprovação das suas leis.


ZP e a mudança tranquila
Rodríguez Zapatero chegou sem alarido ao PSOE, quase por acaso. Foi acusado de "brando" dentro do seu próprio partido, até há poucos dias. A aposta do líder socialista, que teve inúmeros revezes, foi o pacto e o diálogo contra a "luta" política. E a mudança tranquila tornou-se realidade.


O adeus de Aznar e o seu sucessor
Aznar cumpriu a sua promessa de governar apenas durante duas legislaturas e deixou como legado o reconhecimento económico e uma sociedade dividida. Designou Mariano Rajoy para que continuasse a sua obra, preterindo Rodrigo Rato. Rajoy apresentou-se como o continuismo do PP e assumiu o balanço do governo de Aznar, o que, no fim de contas, se virou contra ele.


Bom para a esquerda, mau para a IU
Ainda que Gaspar Llamazares tenha dito que "o povo derrotou a direita autoritária e mentirosa", estas palavras não ocultam um dado catastrófico para a coligação comunista: uma redução de mandatos e uma descida abaixo dos 5% de votos, o que a impedirá de formar um grupo parlamentar próprio.


Uma participação avassaladora
Sem atingir um record histórico, a participação foi uma das chaves da vitória do PSOE: 8.5 pontos percentuais acima da registada em 2000. A base do PP é muito firme, já que apenas perde 700.000 votos. A derrota dá-se pelo aumento da votação socialista: três milhões de votos mais do que há quatro anos.


Andaluzia
Manuel Chaves fez coincidir as eleições autonómicas andaluzas (que o PSOE venceu com maioria absoluta) com as gerais com uma intenção evidente: arrastar com o seu poder eleitoral o voto socialista para Zapatero. E conseguiu-o. Nem mais nem menos do que oito deputados mais.


A matemática pós-eleitoral
O PSOE fica a 12 lugares da maioria absoluta (176). CiU, ERC, PNV e IU perfilam-se como candidatos para alcançar pactos de governo ou acordos pontuais que garantam a governabilidade, sem descartar outros grupos mais ou menos afins, como os nacionalistas galegos (BNG) e aragoneses (CHA). Mas há um dado a reter: a trindade que governa a Catalunha (PSOE, ERC e IU) tem peso suficiente para governar Espanha.


O PSE
No panorama político do País Basco, o equilíbrio entre nacionalistas e constitucionalistas mantém-se. Mas os socialistas (PSE) substituem o PP na posição de fiel da balança, com o Plano Ibarretxe no horizonte.