24.2.04

O Zeca que me tem cativo...

... desde que me lembro, chegou-me pelos meus irmãos e pelo meu pai. Sem fervores demasiados, apenas a música pela música - e já é dizer tanto. Também me lembro dos dias da morte de Zeca Afonso. Andava pelo 9º ano e, na minha turma, o filho de um industrial-devidamente-PPD-PSD (não é uma mania santanista, na altura era mesmo assim) vociferava contra o músico-militante, ou, se calhar, só contra o militante, mas o músico levava por tabela. Por ser «comunista» (numa altura em que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno-almoço), gritava/insultava o B., em pleno balneário depois da aula de Educação Física. Saí em defesa de Zeca, citando um trecho de uma entrevista (ao Expresso?) em que ele admitia uma admiração por Jesus. A memória atraiçoa-me e o baú que guarda estas coisas deve estar perdido em Aveiro. Mas era aquilo que ele mais ou menos dizia. O outro, católico-suficientemente-devoto, não acreditava no que lhe contava. O mundo era a preto-e-branco, na cabeça formatada lá em casa. Há uns assim hoje em dia, mas - o pior - é que chegaram ao poleiro.