31.10.03

«Um dia muito feliz»

A Inês Versos defendeu hoje a sua tese de mestrado (que bem podia ser de doutoramento) - sobre os cavaleiros da Ordem de Malta, do Antigo Regime ao Liberalismo, mais coisa, menos coisa. Para quem acompanhou o processo, sabe a importância deste dia. Ou, nas palavras do orientador da nossa Inês: «Um dia muito feliz», para todos. Sobretudo para a Inês. Para quem não pôde estar, a Cibertúlia registou alguns apontamentos do júri: «Notável», «uma referência para trabalhos futuros».

[A propósito da tese, chegámos à conclusão de que Martins da Cruz é certamente um cavaleiro da Ordem da Malta, encapotado: já naquela ordem, nos séculos XVII e XVIII - perdoem-me o discurso jornalístico de menor rigor histórico - houve muitos candidatos para tão poucos lugares e os portugueses entravam com menos habilitações que em outros países. À imagem e semelhança dos esforços da filha do ministro para entrar em Medicina.]

Murmúrios com ânimo

Antes de partir, para além da Taprobana, deixo a sugestão de dois blogues: um que me chegou por correio e que se propõe ouvir os murmúrios do silêncio. E um outro que já há muito é de leitura obrigatória e que anima continuamente a blogosfera ao seu ritmo - e acompanhando os ciclos das vidas.

Apita o comboio

«Nas passagens de nível costuma estar escrito assim: pare, escute e olhe. Depois de parar, escutar e olhar, pode-se então atravessar.» Uma sugestão de leitura de Rogério Alves, da Ordem dos Advogados. Também para ajudar outras leituras, suscitadas pelo Jorge Barreiros.

30.10.03

Todos diferentes, todos iguais

Um post de várias cores, num dia cinzento.

À Marta (e aos pais da Marta)

Espalhem a notícia
do mistério da delícia
desse ventre
espalhem a notícia do que é quente
e se parece
com o que é firme e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse

Divulguem o encanto
do ventre de que canto
que hoje toco
a pele onde à tardinha desemboco
tão cansado
esse ventre vagabundo
que foi rente e foi fecundo
que eu bebia até ao fundo
saciado

Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher

A terra tremeu ontem
não mais do que anteontem
pressenti-o
o ventre de que falo como um rio
transbordou
e o tremor que anunciava
era fogo e era lava
era a terra que abalava
no que sou

Depois de entre os escombros
ergueram-se dois ombros
num murmúrio
e o sol como é costume foi um augúrio
de bonança
sãos e salvos felizmente
e como o riso vem ao ventre
assim veio de repente
uma criança

Falei-vos desse ventre
quem quiser que acrescente
da sua lavra
que a bom entendedor meia palavra
basta é só
adivinhar o que há mais
os segredos dos locais
que no fundo são iguais
em todos nós


Sérgio Godinho, Espalhem a notícia

Nasceu a Marta

Desta vez, "crescemos" a Norte. O João ganhou uma irmã, a Marta, que não pôde falar à Cibertúlia por estar a «almoçar», segundo o Rui-pai-babado. A mãe-Cláudia também está bem.

Das tripas coração

A glória é fácil e eles "zangam-se". Ana Sá Lopes anunciou o «trespasse» da sua quota, por manifesta "falta de escrita". Ironias à parte, nós por cá acolhemo-la, ao ritmo que quiser, sem olhar a "sitemeters". Apenas porque gostamos!

29.10.03

A tripa do Marujo

É de insulto que se trata, nada mais, queridos cibertulianos.
Marujo, com posta recente, faz algo de indígno, ignaro que é: promove a tripa (agora com variação after-eight) e, ao mesmo tempo, goza no seu fundo outros não poderem comprar ali mesmo tanta iguaria.
Bem pode ele escrever sobre livros, p'ra tentar ser um Quitério da tripa, um intelectual a piscar o olho à massa e mirando ao lado a último número da Visão.

Qual quê. Revoltemo-nos e exijamos, pelo menos, um saquinho de bolacha com after-eight ou chocolate. Que interessa o intelecto se ao cérebro apenas chega o cheiro dessa massa meia cozida, desse ovo açucarado, dessa barra de chocolate que se derrete, dessa espátula que dobra com harmonia...

Numa rima fácil, nem Sócrates resistiria.

28.10.03

Uma instituição...

Já há tempos (de férias não consigo fazer o "link") o João Vasco, que aqui assina por Primo Galarza, falou-nos das tripas... à moda de Aveiro. Um doce, uma instituição - em terra dessa outra instituição chamada ovos moles - que se faz acompanhar nas suas variantes clássicas de chocolate ou ovos moles ou... mista!
E o fim da tarde, depois do sol a pôr-se na Costa Nova e de uma visita (privilegiada) ao renovadíssimo Teatro Aveirense, ficou mais perfeito.

PS - E «Adeus, Lenine!» é um saboroso retrato sobre este nosso mundo. Mas já há quem tenha falado melhor disto, na blogosfera. Procurem em «A Praia» e no «Barnabé» ("links" aqui ao lado).

27.10.03

Na "terra"

Estou de férias. E de visita a Aveiro. Hoje à noite, anuncia-se no cartaz «Adeus, Lenine». Voltarei, quando me apetecer. Andam por aí outros cibertúlicos?

26.10.03

Peço desculpa pelo "post" anterior. Afinal, "calvinista" me confesso



In Público

Insultos e idiotices

Um senhor que destila ódio na sua página blogosférica - e que acha que todos (e nós sabemos quem são os "todos") são culpados até prova em contrário, ao contrário do que se presume de um Estado de Direito, que é aquele que eu presumia em que se vivia até ler este senhor e outros -, dedicou-me uma posta. Onde escreve:
«"Ana Gomes diz que cabala pode vir do PS"
este post é dedicado a esse expoente máximo do neo-calvinismo blogosférico que é o Miguel Marujo...
»

A idiotice é um fenómeno próprio de quem não tem ideias. E esse senhor é o seu expoente máximo. Não me conhece de lado nenhum, nem sabe o que penso, nomeadamente sobre igrejas, religião, moral...
Esse senhor ofendeu-se privadamente porque citei publicamente um e-mail seu, onde nunca o identifiquei. Como não gostou da contra-resposta privada, julga agora que me insulta por me chamar de "neo-calvinista"... Não, não me insulta, apesar de não ser "religião" que professe, nem na Moral, nem na Ética, coisa que esse senhor mistura sem conhecer as duas...
Diz ainda (no seu e-mail) que prefere os «transparentes e cristalinos e que atacam às claras e em campo aberto por oposição aos que atacam na sombra...». Ah, mas o dito senhor assina «Manuel» no blogue e nos seus e-mails «AM»!
Eu assino com nome próprio: Miguel Marujo. Transparente e cristalino, às claras e em campo aberto: Miguel Marujo.
E escuso de pôr o link para o sítio daquele senhor... Canta Sérgio Godinho: Antes a morte, que tal sorte.

25.10.03

O novo director do DN comentado por Pacheco Pereira

«Nunca tinha visto um bando de pardais proteger-se da chuva debaixo de um pequeno arbusto. Vantagem de quem anda à chuva. Lá estão eles, pousados entre os ramos, debaixo das folhas, com uma completa incapacidade para estarem quietos. Se eu fosse romano, interpretaria os augúrios. Se eu fosse Stephen King, sabia que augúrios com pardais não são auspiciosos. Como não sou nenhuma dessas coisas, estou solidário com os pássaros, mas menos irrequieto.»
In Abrupto, 25/10, 11:43

24.10.03

Tenho de ir ao cinema...



De Luís Afonso, em «A Bola»

Urdidura

O DN tem novo director. É Fernando Lima, ex-assessor (um dos vários inúteis assessores deste Governo) de Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e ilustre presidente honorário do Clube da Cunha. Quem disse que a comunicação social foi privatizada pelos governos de Cavaco Silva? O "site" do jornal, entretanto, está em baixo. Urdidura? Cabala? Tristeza?
Esta informação perde validade a partir do momento que o "site" arribar com a chegada de Lima.

Jornalistas «cooperantes de crimes»?

Sugiro algumas leituras para aquilo que o Jorge questiona, em «Crimes e cooperantes», sobre a violação do segredo de Justiça.

Por exemplo, o texto do Código Deontológico dos Jornalistas não se refere especificamente ao segredo de Justiça - ou à sua eventual violação. Mas deixa algumas pistas, especialmente nos pontos 6 e 7. [Por este Código ser pouco "conhecido" ou "praticado", mesmo entre a classe que se deve reger por ele, reproduzo alguns excertos (o texto completo está acessí­vel na página do Sindicato).]

«1. O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendí­veis no caso. [...] 2. O jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais. [...] 6. O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar informações falsas. As opiniões devem ser sempre atribuídas. 7. O jornalista deve salvaguardar a presunção da inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado. O jornalista não deve identificar, directa ou indirectamente, as ví­timas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor. [...] 9. O jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indiví­duo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende. [...]»

No mesmo dia em que o Jorge aqui questionava os jornalistas (que são dois, nesta tertúlia, ao contrário do que então escrevi - mil desculpas, JVA!), o Público de quarta-feira, na sua primeira página, fazia publicar um editorial de toda a Direcção em que pedia «Serenidade e equilíbrio» (não disponível na edição on-line). Como estou de férias, não imagino a reacção de outros jornalistas a este texto. Como noutras ocasiões há-de ter provocado reacções menos de concordância, mais (noutros meios) de grande discordância. Percebe-se: neste momento, é difícil não dar notí­cias sobre o processo Casa Pia, sem recorrer às "inevitáveis" fontes anónimas ou a fugas de informação de coisas que estão em segredo de Justiça. Acuso o "toque" do Jorge: será o "mensageiro" tão responsável pela fuga de informação como o "emissor" dessa "mensagem/fuga"?

Neste ponto, concordo com a Direcção do Público: «[...] Como jornalistas, não deixaremos de publicar o que entendermos ser de interesse público, independentemente de poder servir a estratégia de A ou B. Fá-lo-emos com as preocupações de contenção, frieza e equilíbrio que, neste momento, sentimos serem nossas responsabilidades acrescidas. Também seremos chamados a julgar, todos os dias, o que merece ser ou não publicado [...]».

É neste fio da navalha que se joga também a credibilidade dos jornais e dos órgãos de comunicação social. Mas, neste caso, acho que o fogo não deve ser apontado sobretudo à comunicação social. É desviar do alvo principal. Hoje, também no Público, Miguel Sousa Tavares apresenta-nos «algumas reflexões rigorosamente inúteis», que são tudo menos inúteis. E sobre um exemplo concreto de violação do segredo de justiça, questiona-se MST: «As alegações completas do Ministério Público no recurso da prisão preventiva de Paulo Pedroso, incluindo a transcrição integral das escutas, veio publicada esta semana como suplemento de 12 páginas no jornal "24 Horas". Repito: as alegações completas, com indicação de origem e tudo. Segredo de justiça? Lealdade processual? Presunção de inocência? Direito ao sigilo da correspondência de quem não é parte em processo nem suspeito? O que é isso? Repito o que disse há dias: a PIDE também escutava, mas, ao menos, não publicava as escutas.»

Coisas do mundo outro

Pausa em tempo de férias, para mais uma "blogada" (e para ver se preparo algumas coisas atrasadas, como responder ao desafio do Jorge). Salto de blogue em blogue, procuro as referências diárias, descubro novos sítios, visito os amigos e caio apenas um pouco tarde num lugar onde já não ía há alguns dias. Cito na íntegra.

«Terça-feira, Outubro 21, 2003
El Pais
Uma das maiores vantagens de se trabalhar num jornal reside no facto de ser possível - e quase obrigatório, sempre que o outro trabalho o permite - ler uma data de jornais. Na edição de hoje do espanhol “El Pais” há dois textos que se não deviam perder por quase nada deste mundo. Uma crónica da Rosa Montero sobre a pobreza escondida de Madrid e uma reportagem do horror: a história de um grupo de emigrantes africanos mortos de sede e fome enquanto o barco fantasma que devia levá-los a Itália andava à deriva no Mediterrâneo. Quando deixaram de ter forças para lançar os cadáveres à água, os sobreviventes passaram a utilizá-los para se aquecerem e para se protegerem da chuva. É verdade: acontecem no nosso mundo coisas que parecem do outro.»

Destas coisas, quase ninguém se ocupa. Andam todos a escutar o telefone errado. Obrigado a Jorge Marmelo.

Da morte (uma semana depois)

«Que tipo terá escolhido no momento da morte? Gostarias de te transportar até essa masmorra como uma Verónica e de lhe passar a toalha sobre o rosto, para gravares o rictus sincero do que vai morrer. É sincero esse rictus? Por acaso a cultura educou-nos por forma a escolhermos o rictus da morte, inclusive a última frase? Qual seria o grito de um ser humano sem cultura, perante a presença da morte? Um alarido, que é a linguagem mais sincera, o alarido ou, na sua falta, a tristeza biológica do resignado que abre as portas do corpo à morte a partir da melancolia paralisante, com os olhos interiores fechados perante o inevitável. A água da piscina contém-te as lágrimas, mergulhas como se renunciasses à realidade do dia e da terra e quando emerges ficou nas águas a tua angústia, como uma sujidade viscosa da alma e espera-te a verticalidade de um empregado que descobriu o ponto exacto da tua emersão.»

Manuel Vázquez Montalbán, Galíndez, ed. Caminho (1994).

Hoje somos alguns, amanhã seremos mais uns quantos...

Do meio do Atlântico, o Paulo Decq associou-se à Cibertúlia. A nossa comunidade estende-se agora à ilha de São Miguel. Já cá andam 18-dezoito-18 cibertúlicos (não parece, pois não?): em Aveiro, a Luísa Marujo, o Filipe Teles, "asceta", o Pedro Prí­ncipe, o Rui Viegas e o João Marujo; em Lisboa, a Ana Rita Varela, o Zé Manuel Salvado, o João Quirino, o Diogo Pinto, o João Borges, o Nuno Alves, o João Vasco Almeida, "primo galarza", e eu-me-myself-and-I. Em Coimbra, o "sir" José Saraiva e o Miguel Branco. No Algarve, a Cláudia Soares. No Porto, o Jorge Barreiros. Venham de lá essas postas.

23.10.03

O melhor momento da TVI que eu perdi

O famoso diálogo de terça-feira, entre Miguel Sousa Tavares e Manuela Moura Guedes...
Actualização: Alertado pelo Terras do Nunca, cada vez mais um "clássico", dou com uma versão ainda mais corrosiva no Jornal de Notícias. Actualizo então o texto:

[...]
Miguel Sousa Tavares (MST) - Estava eu a dizer que o meu primeiro trabalho, quando saí da faculdade foi na Comissão de Extinção da Pide, onde tive ocasião de folhear muitos processos que a Pide tinha instruído aos antigos resistentes...
Manuela Moura Guedes (MMG) - Ó Miguel, por amor de Deus, não vais comparar o que agora vivemos com a Pide!
MST - Não vou comparar porque há uma diferença grande, é que as escutas da Pide não apareciam nos jornais e agora aparecem...
MMG - E tu pões uma comparação... É grave, muito grave
MST - Para dizer o seguinte, aprendi outra coisa...
MMG - Havia perseguições políticas...
MST (já em voz mais alterada) - Ó Manela eu ouço todas as semanas o prof. Marcelo Rebelo de Sousa, aqui, nunca o ouvi ser interrompido nem deixarem acabar o raciocínio...
MMG - Não, nunca estive com o prof. Marcelo ...
MST - Ora, eu não me importo de ser interrompido, de ser contraditado, mas importo se tu me impedes de acabar o raciocínio. Se me impedes, eu calo-me e passemos ao assunto seguinte.
MMG - Eu só te peço que não faças comparações com a Pide porque o que eu te perguntei é o comentário ...
MST - Mas tu não tens de me pedir nada, tens de ouvir a minha opinião.
MMG - Sobre a Pide...
MST - Sim, sobre a Pide. O que havia na Pide não eram apenas as actividades subversivas que o Governo pedia. Havia a vida familiar, sexual, extra-sexual, extra conjugal, as dívidas de jogo, havia tudo sobre as pessoas. Portanto, não há nada mais grave do que uma escuta telefónica e é por isso que a Constituição estabelece que o sigilo da correspondência privada é um princípio fundamental. Um juiz só pode decretar em último caso, tem de ser imediatamente apresentado ao juiz, tem que mandar apagar o que é irrelevante. E eu quero saber se isso aconteceu neste caso. E não pode, de maneira nenhuma, deixar que isso chegue aos jornais.
MMG - Tu achas que tudo isso é irrelevante.
MST - Eu não sei se é ou não, sei é que o julgamento não se faz aqui. Eu digo-te uma coisa. Se te puserem sobre escuta telefónica e se publicarem as tuas conversas no jornal tu não te vais reconhecer a ti própria ... E não vais conseguir explicar muitas das coisas que disseste.
MMG - Não percebo...
MST - Porque as pessoas quando falam normalmente, e quando falam com os amigos, falam de maneira completamente diferente. Por isso é que eu digo que isto só faz sentido... É evidente que eu percebo. É uma conclusão que eu tirei. O PS mexeu-se. Claro que se mexeu...
MMG - Não é mexer. São as pressões...
MST - Resta saber que pressões. Se o processo fosse abafado...
MMG - E achas isso normal...
MST - Não. Se fez essas, está errado, e está por demonstrar...
MMG - Está por demonstrar com estas escutas?
MST - Num Estado de Direito, os julgamentos fazem-se em tribunal porquê? Porque obedecem a um contraditório. Porque aparecem as escutas da acusação e a defesa tem o direito de se defender, e de explicá-las.
MMG - E o que é que nós temos assistido se não a explicações dos diversos dirigentes socialistas...Há uma fase, inclusivamente, que Ferro Rodrigues sabe que está sob escuta e de propósito faz uma adjectivação pouco simpática aos magistrados, aos juízes...
MST - Também eu faria. Não gosto que me escutem as conversas.
MMG - Já fizeste o teu comentário?
MST - O meu comentário é assim: eu acho que, infelizmente, e vou voltar a dizer isto (deve ser a quinta vez que digo na TVI), as deficiências da instrução são tamanhas, os incidentes laterais são tamanhos, que eu acho que o grosso dos implicados vai acabar de fora, com prejuízo de acabarem dentro, se calhar, alguns inocentes, e que jamais alguém neste país vai ter a certeza de que se chegou à verdade, seja ela qual for. Foi isso que eu acho que se conseguiu.

Todo o diálogo é de antologia. O texto completo - da sua presença na TVI - pode ser lido no Diário Económico. E rebate ponto por ponto muitas ideias feitas sobre o processo Casa Pia. A ler, obrigatoriamente, sobretudo para quem não viu...

O país, lá fora



De Quino
Como as leituras de férias nos fazem pensar...

22.10.03

Desafio estimulante

O que o Jorge escreve é muito estimulante. E merece-me (sou o único jornalista que aqui intervém) uma ponderação grande à qual não posso agora dedicar mais do que esta breve referência. Mais logo, ou se calhar amanhã, "postarei" aqui a minha "retaliação" amiga.

Crimes e cooperantes...

Nesta sequência de escutas divulgadas, lamentos gerais e assumpções de responsabilidades vazias, há uma questão que me assalta:
- quem colabora num roubo, também é considerado criminoso...
- é criminoso aquele que compra/vende um bem roubado - sabendo que o é...
- é delito assistir a um crime e não o tentar evitar ou sequer denunciar...

Então... porque carga de água e a que título, pode um jornalista ser cúmplice de um crime de revelação de segredo de justiça sem que nada aconteça?
Ou existirá um juízo moral distinto entre divulgar escutas telefónicas feitas por outros ou fazer as escutas e divulgá-las?
Certo. Em primeira linha os responsáveis são os que deixam transbordar a informação para fora do Ministerio Público (e aí o PGR já devia ter assumido as falhas... como disse ontem o Júdice), mas podemos ser todos cúmplices impunemente?
Quem é mais criminoso: o que rouba ou o que se aproveita do bem roubado para uso próprio? De acordo que o primeiro o é mais, mas ninguém deixa de atribuir responsabilidades ao segundo.

O que mais me espanta é que as nossas classes política e crítica achem perfeitamente normal que os nossos jornalistas ajam em conluio com a origem das referidas revelações... - ainda ninguém tentou saber como foram parar estas escutas às mãos dos meios de comunicação e em troca de quê! Será que têm medo de também eles serem colhidos por estas ondas de devassa?

Já sei que os jornalistas que intervêm na Cibertulia me vão cair em cima... mas ao menos não apelem a argumentos que não sejam a simples conquista de audiências e vendas... o que por si só não é de lamentar. Lamentável é que os jornalistas apelem constantemente à moral e bons princípios quando estão na linha da frente da sua violação!

Espero retaliações...

PS. Quando falo em jornalistas não me quero referir exclusivamente à classe, mas também a gestores de meios de comunicação.

Para não perder de vista o essencial

Dei por mim no primeiro dia de férias a deambular por livrarias (FNAC, Bertrand e uma obscura-sem-nome-visível enfiada nos corredores do Metro do Colégio Militar...) e constatei que nenhuma delas punha em destaque Manuel Vásquez Montalbán. É sórdido fazer negócio com a morte? Será, mas não neste caso. Aqui tratar-se-ia de homenagear esse grande escritor e que tem muitas obras publicadas em português. Então: porquê o esquecimento?
[Do Nobel, J.M. Coetzee, quase que podemos dizer o mesmo: apenas a FNAC dispensava um escaparate, plantado num corredor, aos seus livros. Em destaque estava o novíssimo de Margarida Rebelo Pinto.]

Há Lodo no Cais.

Numa comunicação do Presidente à população somos alertados para não perder de vista o essencial. Não podia concordar mais com ele, e no meio desta novela mexicana que se tornou o Processo Casa Pia, género "Não perca o próximo episódio que nós também não", já há muito que perdi a pachorra. Apenas duas coisas se me apresentam interessantes e dignas de reterem a minha atenção nos media, se alguma vez lá chegarem:
1. Houve ou não abuso a menores na Casa Pia? Quem Abusou?
2. Quem violou o segredo de Justiça?

Primeiro é uma preocupação clara pelas verdadeiras vitimas neste processo: as crianças (Lembram-se?).
Segundo porque considero muito grave a divulgação de escutas telefónicas, seja lá qual fôr o seu conteudo.
Tirando estas questões tudo o resto parece-me uma açorda (detesto açordas) ao melhor estilo do "Anjo Selvagem": quando tudo parece acabar eles lançam mais uma temporada de polémicas para sustentar o enredo.

Tudo o resto apenas serve para deteriorar, mais uma vez, a confiança que temos nos responsáveis politicos deste pais (Esquerdas, Direitas e Centros). Mas isso nem é uma novidade assim tão grande se atentarmos nos niveis de abstenção que aumentam a cada sufrágio.
Ao melhor estilo do Octávio, "Vocês sabem do que é que eu estou a falar!", apetece-me lembrar enigmaticamente: Por muito menos já anteriormente houve demissões.

(Hoje de manhã não encontrei estacionamento e portantos não estou muito tolerante! Isto sim, estacionamentos, é que é importante!!!)

Vocês fizeram os dias assim...



In Público

21.10.03

Dislates e Palavrões

De há muito conhecido, assumido como exemplo da excepção do sistema democrático, o erro tem nome - Alberto João - tudo nele me cria repulsa, e enquanto não tivermos um sistema Anti vírus que funcione em ambiente democrático ele vai continuar a existir. O fenómeno parece estar a alargar à ala esquerda do parlamento, (PS) e encontramos hoje uma Ana Gomes ao melhor nível de Alberto João, dispara ao nível do mesmo, sem nexo, para todos os lados, e mais grave para cima, um dia destes ainda se magoa.
Quanto ao famigerado caso da pedofilia, parece-me que é necessário vivermos em algum silêncio , sem serem minados os caminhos que a investigação tem de precorrer.
Não podemos estar reféns de ruído comunicacional, fogueiras públicas, o acto de privar alguém da liberdade ser número de circo, o acto de devolver alguém à liberdade ainda sem decisões transitadas em julgado, ser motivo de aclamação héroica em sede de soberania nacional, baralha mais do que esclarece.
Se calhar todos receiam o mesmo - o real conhecimento dos factos.
As conspirações de café são salutares, quando estas passam a ser primeira página de jornais assusta.

Palavrões

Há quem tenha memória e não coma muito queijo. Quem hoje se incomoda com as afirmações de Ferro, nunca deve ter estremecido a ouvir os dislates alcoolizados de Alberto João. Obrigado pela lembrança, JPH!

Eça é que essa!

Atrevi-me a questionar o tom odioso de um escriba da blogosfera portuguesa, sobre todos aqueles que ousem questionar o processo Casa Pia (quer-se dizer: o sô dótor juiz e a excelsa equipa do Ministério Público).
Esse escriba desanca a Clara Ferreira Alves, por causa do texto que publiquei aqui em baixo. Entre muitas verdades e certezas (entre as quais a inevitável frase sobre "Ela": «Não me apetece viver sob uma Santa Inquisição do "politica" ou "socialmente" correcto ou porque o tema A ou B seja tabú»), no e-mail de resposta deixa-me alguns conselhos: «Leia na última Visão o que diz o Miguel Carvalho, Arranje uma gravação das declarações da Constança ontem à TVI, leia muito Eça e Ramalho e sobretudo leia as Memorias do Cardeal de Retz...».
Não me atreverei de futuro a questionar tão venerável escriba sobre a Casa Pia. Mas sei que, a partir de hoje, é política e socialmente correcto defender o Estado de Direito. E de Paul de Gondi, cardeal de Retz, apraz-me lembrar que «Nada persuade tanto as pessoas de pouco juízo como o que elas não entendem».

A despropósito: deixo as boas-vindas ao João Borges, agora que descubro termos perdido de vez a possibilidade de "contratarmos" a Vírgula que nos acompanhou na primeira versão da Cibertúlia, respondendo então por Margarida Ferra, minha sucessora-bem-sucedida num projecto que procurou ser diferente, a Juvenilia.

Caros Amigos

Finalmente entrei de novo nesta casa, que também já foi minha. Quanto ás participações futuras como calculam não fogem à regra daquilo que dá vida a este espaço, controversas .... Até já

Mas a indignação não vai de férias...

De Clara Ferreira Alves, excertos de um texto muito lúcido (que descubri em Terras do Nunca, outro lugar onde mora a lucidez):
«Aconteça o que acontecer, a guerra entre o partido, o procurador e os acusadores e investigadores da pedofilia é total e é até à morte. Ou caem os socialistas, ou cai toda a máquina que investigou e desenhou este caso. Porque, como se viu após a libertação de Pedroso, o «outro lado» não hesita no golpe baixo e na má língua. A divulgação destas escutas telefónicas destinadas a destruir Ferro Rodrigues e a envolver outra vez o nome de Jorge Sampaio são um sinal de que a democracia portuguesa está profundamente doente.
(...)
Não é apenas por boas razões que a máquina judicial e judiciária anda a violar o segredo de justiça, é também porque quer transformar Pedroso e Ferro, e os outros, em canalhas e culpados. Esta gente sabe que se perder este processo, perde a carreira e perde a dignidade. Sabe que se perder esta guerra perde o emprego e a credibilidade, e perde a vida. Por isso, utiliza todos os truques e subterfúgios e vai «vomitando» esta papa para os jornais, que a publica, evidentemente. A única reacção que podemos ter é a do asco.
(...)
A cabala não deve existir mas existe gente que não tem escrúpulos nem vergonha. E essa gente tem de ser denunciada. E têm de existir mecanismos de controle desta gente, mecanismos democráticos. Uma «cabala» pode ser constituída por um intriguista bem colocado. Além do PS, estão a destruir a democracia.
»

O texto todo merece ser lido.

Ritmos

Entrei ontem à tarde de férias. Que não é (ainda) o mesmo que ir de férias. Mas, por aqui, o ritmo vai ser outro. Mais calmo. Também preciso de tirar férias deste país. Os outros aqui ao lado (coluna de favoritos) continuam a olhar para o mundo.

20.10.03

A pluralidade da comunicação social

Pacheco esquece. Que criticou a esquerda por monopolizar a comunicação social. E como explicou, tão bem e pedagogicamente, sobre blogues "mentirosos", uma mentira tantas vezes repetida...
Ontem à noite, voltámos a ter o verdadeiro pluralismo nas televisões. Pacheco esquece.

Soldadinhos de tanga

O ministro da Defesa tem medo de não ter tropas para comandar quando acabar (finalmente) o Serviço Militar Obrigatório. E lembrou-se de convocar os "mancebos" (jovens de 18 anos, em linguagem de caserna) para uma sessão de propaganda obrigatória.
Se os rapazes (pelos vistos, as raparigas estão dispensadas, apesar de estas já poderem fazer carreira militar voluntária...) faltarem serão multados de 50 a 250 contos (para falar em dinheiro que se entenda) e terão restrições no «exercício de funções públicas».
Proponho uma medida retroactiva: o senhor Portas, que "fugiu" à tropa, pode começar por dar o exemplo e ser restringido no exercício da sua função pública como ministro.

Outubro ou nada

O Zé escreveu melhor que eu, logo aqui em baixo - sobre Montalbán. Faltava, no meu breve "obituário", a nota pessoal: sim, foi pela mão do Olímpio, mas também do Zé, que mergulhei na Barcelona e no mundo todo de Pepe Carvalho. Depois de Carvalho, veio o "resto", como «Galíndez», que ironicamente me tem acompanhado nos últimos tempos. Os amigos têm destas coisas: dão-nos a conhecer grandes pessoas. Bom dia, Zé. Bom dia, Olímpio. Bom dia.

19.10.03

Nem o Bush se lembrava desta!

A Velha Europa parece querer dar razão a Bush, meses depois de ninguém ter encontrado qualquer arma de destruição maciça no Iraque. Numa escolha de todos os presidentes das câmaras municipais francesas, o novo busto da República Francesa será Evelyne Thomas [em cima], 39 anos, apresentadora de televisão, com um programa equivalente a Jerry Springer, versão franco-feminina (alguns temas dos programas: «eu não gosto de louras», «eu vivo com dois homens»). O mais grave, quanto a nós, não é a qualidade destes programas - ou até a madura idade da senhora. O que custa é ver destronada Laetitia Casta [em baixo], que tinha substituído Brigitte Bardot e Catherine Deneuve.



Actualização: E a história contada como só eles sabem.

A idade não perdoa

Ontem, numa festa de anos de um amigo, constatámos que estávamos num aniberçário. Cada vez mais.

18.10.03

Tou, Frank?!



- Tou, pá! Olha tou a pensar fazer umas obras cá no burgo. Nã, não é na minha vivenda de Monsanto. É ali num buraco que temos na Avenida da Liberdade. Sim, pá. Aquilo é um buraco, já ninguém lá vai, mas o pessoal lá apoiou-me nas eleições, tás a ver. Pois. Eu quero dar-lhes emprego. Fazes isso? Eh, pá. Depois falamos do graveto, ok? Eu tou aqui a ver se arranjo umas slotes para pingar dinheiro lá no sítio, e pagar-te, por isso não te preocupes, pá. Pede lá o que quiseres...
- ...
- Hummm. Um milhão só para estudos? Ok, pá. Peanuts, tás a ver?! Depois falamos, quando cá vieres. Com a press, tás a ver, tem mais pinta! Tchau, pá.

Publicidade ao ponto

Houve quem tentasse saber se a Le Point tem publicidade paga pelo Governo. A curiosidade anda pela blogosfera, pelo menos aqui e aqui. Não tem, disseram responsáveis comerciais da revista francesa. Nem têm nada previsto para breve. Deduz-se: o Governo está atento. Ou teve acesso a escutas?

Toca a vasculhar os papéis, pessoal! (O Serviço Público da Cibertúlia)

A Portugal Telecom vai devolver aos clientes o dinheiro da activação de chamada cobrado em 1999, depois de o Supremo Tribunal de Justiça ter considerado que esta era ilegal e que os assinantes poderiam pedir a devolução dos valores pagos, afirmou fonte da operadora à agência Lusa. «A empresa decidiu optar por ser ela própria a tomar a iniciativa da devolução, num esquema muito mais simples», restituindo o dinheiro a quem apresentar as facturas justificativas de ter pago a taxa, explicou.

Esta tarefa, diz a PT, revela-se «complexa», aliás, «conforme o próprio acórdão do tribunal reconhece», uma vez que a operadora não tem dados para comprovar quanto deve a cada cliente, porque o sistema de informação utilizado na altura era analógico e não digital, como agora acontece. Para ser ressarcido, o cliente terá de apresentar todas as facturas entre Janeiro e Dezembro de 1999 para a PT poder analisar quanto tem de ser devolvido.

A empresa começará a aceitar as facturas a partir de 3 de Novembro e, depois de apurado o valor a restituir, creditará os clientes nas facturas seguintes.

Este caso remonta a 1999, quando a Deco interpôs uma acção em tribunal contra a PT por estar a cobrar um chamado impulso de activação de chamada. Sempre que um cliente da PT fazia uma chamada, pagava a activação do serviço, além dos impulsos.

Hipócrita indignação

Ainda não li quase nada hoje na blogosfera, mas imagino a indignação que por aí varre as nossas mentes. Eu, que não costumo comer muito queijo, lembro-me que as escutas telefónicas caíram cirurgicamente na SIC, ontem à noite, porque o Ministério Público ou o juiz ou a Procuradoria ou alguém a estes ligados quebrou o segredo de Justiça. Estes senhores é que se estão a cagar para o segredo de Justiça. Desde o início do processo, aliás!

Sob escuta

Este blogue está sob escuta. Os meus tertúlicos amigos quase que desapareceram. Só pode ser porque notam a interferência constante que se verifica quando nos "ligamos". Mas, daqui aviso o Zé que está no seu posto de escuta: só falámos do Pedroso, do Ferro, e dos outros, por motivos bloguísticos, mas não os conhecemos. Nunca os encontrámos. Escusam de nos escutar.

Pepe Carvalho ficou órfão

Todos perdemos! O escritor espanhol Manuel Vásquez Montalbán, 64 anos, morreu este sábado. Não acredito em bruxas, mas...: há dias que ando a ler o seu espantoso romance «Galíndez».

17.10.03

Algures no Extremo-Oriente

Um leitor ligou-se a nós algures em UTC+8, que é como quem diz na Austrália ou em Timor-Leste ou... Como escreverá ele "tertúlia" para aqui arribar?

Actualização: segundo os dados das "organizações", há um por cento de leitores no Japão, outro um por cento no México e três por cento na Bélgica. Não posso dizer que seja grande esforço de globalização...

I'm in love with a critic-star

Margarida Rebelo Pinto atira-se a Eduardo Prado Coelho e a um «escritor de barbas» e a todos os que não têm «tomates» para assumirem as suas críticas porque «quando mija um português mijam logo dois ou três». «Uma animação», aqui! (Palavra de honra!)

Inimigo Privado

Às 8:45 tive a resposta habitual das sextas-feiras do homem da tabacaria: «O Público ainda não chegou». Às 9:00, na estação de Campolide, a senhora «já não» tinha o Público. É um fenómeno que não compreendo: o rei da distribuição não consegue distribuir em condições um simples jornal.

16.10.03

Catrapás!

Zás! Alertado pela Ana Sá Lopes dou de caras com Pedro Boucherie Mendes, regressado «do Além». (A 16 de Outubro, nos 25 anos do Papa, isto anda tudo ligado.)
Por aí também já anda de novo a bloguítica internacional, depois de curta paragem.
Daqui a mais temos a formiga no carreiro a andar em sentido contrário. E o nosso «depósito legal» (coluna à direita) definitivamente desactualizado!

Línguas esquisitas

Dois blogues, que muito aprecio, têm trocado galhardetes amigos em línguas que nos deixam de olhos em bico, se a Oriente se falasse dinamarquês ou islandês. Não preciso de ir tão longe (e desta vez dispenso os préstimos sempre atentos e simpáticos do nosso médico): «Os fármacos causam anemia imunoemolítica por dois mecanismos de acção: (1) eles induzem um distúrbio idêntico em quase tudo à anemia imunoemolítica de anticorpo quente (p.ex., alfa-metildopa [um anti-hipertensivo]) e (2) se associam, como haptenos, à superfície do eritrócito, induzindo a formação de um anticorpo direccionado contra o complexo fármaco-eritrócito (p. ex., penicilina quinidina).» De onde esta veio há muitas mais! Como diria o outro, caros FJV e jmf - e sem saber como se dirá numa qualquer língua escandinava - vão buscar!

O regresso do filho pródigo

Incompreendido, mas de volta.

Que passos futuros?


Está lá atrás...

... um "post" sobre aquilo que entendo ser a vivida como coisa pública. E muita da minha discordância com atitudes do Papa, no seu longo pontificado de 25 anos, passam por algumas daquelas questões. Mas se não louvo sem reservas João Paulo II, também não alinho pela condenação fácil. A complexidade do seu exercício merece leituras mais profundas.

Um país de especialistas

Até há meses éramos um país de poetas e treinadores. Hoje, somos todos um país de juristas, advogados, juízes, psiquiatras, jornalistas e provedores das crianças. Eu retiro-me.

15.10.03

De uma parte da Medicina, mal explicada por mim...

Têm sido de ansiedade contida os dias lá por casa, à medida que se aproxima a data do exame da Margarida para ingresso nas especialidades médicas. Ontem, perante o cansaço na leitura de um texto tenebroso - mais de mil páginas em corpo de letra minúsculo, em que é tão importante o corpo principal do texto como a nota de rodapé em letra quase ilegível - que dá pelo nome "familiar" de «Harrison», fiz de "ponto" e li em voz alta para que a Margarida fosse estudando.
Três breves impressões:
1. A quantidade de informação necessária para fazer este exame acaba por ser perniciosa - quase inumana. E entre as coisas a saber para debitar há dados como a percentagem de mortalidade de determinadas doenças nos EUA ou em Israel, a terapêutica aplicada nos EUA (que, por exemplo, no caso da tuberculose é completamente diferente daquilo que cá se faz)...
2. O corpo humano é de facto uma máquina complexa. Apesar de compreender que estamos a formar especialistas, bastava lermos todos uma página daquelas para refrearmos os nossos dedos em riste (principalmente, os jornalistas) quando se fala em «negligência médica», «erro médico» ou, apenas, o «médico não sabe nada»... O que não desculpa que se avalie, inquira ou analise eventuais queixas de comportamentos incorrectos.
3. Este segundo ano de formação dos médicos do internato geral é um desperdício: eles vivem para este exame, que despacha o seu destino em duas horas. Em vez de se apostar numa formação eminentemente prática dá-se lugar a um exame de 100 perguntas sobre matérias algumas delas de duvidosa aplicação nos hospitais e centros de saúde portugueses, que "abafa" a vida pessoal e profissional destes médicos durante meses.
O estado da Saúde em Portugal também se podia medir por aqui... E o médico de serviço na blogosfera também poderia dar o seu importante contributo...

Abençoadas neuras

O Zé regressou. E cheio de força. Já começava a ter saudades! Marremos todos na árvens...

14.10.03

Campanhas confusas

Anda nas ruas uma campanha com "outdoors" gigantescos a anunciar que a rádio toca mais as pessoas do que (apenas) músicas. Assina a RFM. Até podia ser verdade se aquela ideia não fosse ilustrada com as "playlists" dos animadores da rádio. E o que se lê/vê é confrangedor. O mais confrangedor é que parece estarmos a olhar para as novas "playlists" da TSF, que - tirando experiências de nicho, como em tempos a XFM, e nos dias de hoje a Vox ou a Luna (como exemplifica JPH) - era a melhor rádio generalista musical. Que tocava as pessoas. Para além de ser a melhor nas notícias. Hoje, nos dias da rangelização, já não é a melhor na música. E começo a ter estranhas dúvidas na informação, quando a «manhã TSF» é animada pelas meninas de Bragança na capa da «Time». Mas isso é outra "posta"...

E assim, acontece!

O JPH voltou à TSF - certeiro! Eu também hei-de lá voltar...

Actualização: E a nostalgia também mexeu com Bruno, do Avatares de Desejo. E, como JPH, duvido que Pacheco Pereira se atreva a pegar no tema. Talvez num domingo qualquer à noite...

Salvem-nos!

Caro JPH, temos de voltar à TSF! É impossível aguentar uma "playlist" (que antes não existia) que nos impinge um som formatado sem rasgo nem novidade e com o Luís Represas a debitar várias músicas ao longo do dia. Proponho uma nova lei das incompatibilidades entre programadores de "playlists" (Margarida Pinto Correia, no caso) e maridos-cantores...

Fora de Time



Bragança faz capa na edição europeia da revista americana, que descobriu na pequena cidade um novo «Europe's new red light district». Não sei se ria do absurdo (do título da Time, sobre uma coisa que agitou durante uns dias este país no passado mês de Maio...) ou do provincianismo da reacção da comunicação social portuguesa e das autoridades locais à referida capa.

13.10.03

Dupond et Dupont



A esquerda domina claramente a comunicação social, acusa sistematicamente alguma blogosfera. Aos domingos à noite, mudo da SIC para a TVI e da TVI para a SIC e fico com a impressão de estar a ver duas conhecidas personagens em episódios antigos de «les aventures de Tintin - d'après Hergé».

Uma fé sem portas

Haja fé. Nos últimos tempos o tema da religião apareceu em múltiplos fóruns, muitas vezes confundido com a Igreja Católica, mais institucional ou nem por isso, outras vezes reduzido à sua expressão apenas folclórica ou usado como bandeira de arremesso político. Por aqui, quero falar da (minha) relação da fé com o mundo. Haja fé: é um "post" longo, aviso já.

Hoje, a fé: não é fácil manter serenamente o diálogo com determinadas correntes, que se fincam em absolutismos:
- não dando espaço às dúvidas e incertezas, preferindo o comodismo do dogma e dos esplendores da verdade ("intra-muros");
- preferindo misturar folclores e práticas, muitas vezes com uma hostilidade que raia o insulto ("extra-muros").

Mas também reajo a esta separação entre o "mundo de cá" e o "mundo de lá". Prefiro o lugar de encontro entre os dois mundos, um constante diálogo que rompe fronteiras, construídas necessariamente pelos homens. É nesse lugar, de uma fé sem portas, que a Igreja - universal e ecuménica - se deve construir.

Da Doutrina Social da Igreja. Não é possível fazer um discurso de exclusão, de negação dos direitos dos Outros, todos os outros. É isto que significa a opção preferencial pelos pobres, expresso pela Doutrina Social da Igreja. Esta doutrina não é um programa político-partidário, recauchutada na "democracia cristã" propagandeada por Paulo Portas e acolitada por um Pires de Lima defensor da pena de morte (um exemplo). No Aviz, um seu leitor defendeu que «o que distingue a democracia cristã não é o seu apego aos valores morais da Doutrina Social da Igreja, bem mais presentes em partidos conservadores, mas sim o seu apego à construção e reforma social de acordo com aqueles princípios que, de uma assentada, impedem Estados centralizadores, totalitários, socializantes, egoístas, liberais, assentes no capital» [sublinhado nosso].
Lê-se e não se acredita, olhando para a prática conservadora e moralizante dos que se reivindicam da "democracia cristã" (uma expressão absurda e abusiva, nos dias de hoje). A Doutrina da Igreja é obviamente socializante, mas recusa os totalitarismos, à esquerda e à direita. Há um discurso de João Paulo II, sistematicamente esquecido por alguma esquerda (que podia olhar para além do preservativo - que também é importante!): este Papa, que daqui a dias celebra 25 anos de pontificado, vindo dos países de Leste, cedo levantou a voz contra o capitalismo, um rolo compressor dos direitos dos indivíduos e dos excluídos. Logo no início dos anos 80, quando floresciam os neoliberalismos selvagens de Reagan e Tatcher, o Papa apontava a necessidade de uma terceira via - não confundir com o programa de Tony Blair.

Da evangelização. O discurso exclusivista da direita-dita-democrata-cristã é contrário àquilo que deve ser a "praxis" dos cristãos. A mim, pouco me interessa ter um partido democrata cristão (pior: um partido cristão), uma televisão cristã, uma rádio católica, e por aí fora. Tomo emprestadas algumas ideias, que ajudei a construir há alguns anos: não se deve encontrar uma nova e mais atraente "embalagem" para um projecto de poder, que promova quer a lógica da conquista cristã da sociedade quer a do arregimentamento dos católicos e dos cristãos em grupo isolado e moralizador daquela. Ou, nas palavras de um amigo, o historiador António Matos Ferreira, no livro dos 20 anos do MCE, «o grande desafio em torno da evangelização situa-se na possibilidade de tornar pertinente a experiência cristã enquanto vivência de liberdade e de pluralidade no seio de uma sociedade mais livre, mais democrática, mais participativa, menos sacralizada, menos dominadora. A evangelização não é outra coisa senão a longa aprendizagem da humanização centrada no Jesus evangélico.»

É isto. Não é pouco. E é feito, todos os dias, de incertezas e dúvidas, sem dedos em riste, a apontar os "maus". Uma fé definitivamente sem portas.

«Para não dizerem que não falei nas flores»: está lá atrás um primeiro debate, promovido pelo Diogo, «às portas da fé». E há mais: uma entrevista sobre estas coisas a Bagão Félix («Católico, por acaso ministro»), e dois textos que enquadram a entrevista («Graças a Deus» e «Democracia Cristã, o que é?»).

12.10.03

O regresso ao blogue



In Público

Fim-de-semana, o que é?

Chuva, música, jornais, sossego, televisão, Portugal a ganhar a feijões à Albânia, música, sol de Outono, uns textos por acabar. Voltamos amanhã.

10.10.03

A noite, o que é? (um contributo)

Por vezes, a noite é uma insónia. E as cantorias no bairro às três da manhã não têm qualquer poesia. E nem uma manhã bonita de nevoeiro atenua o sono.

9.10.03

Do Governo e das empresas

«La Cosa Nostra está estructurada como cualquier gobierno o gran corporación, o grupo de gangsters, pongamos por caso. En la cima está el capo di tutti capi, o jefe de todos los jefes. Las reuniones se realizan en su casa, y tiene obligación de ofrecer pinchitos y cubitos de hielo. Dejar de hacerlo la muerte instantánea. (La muerte, dicho sea de paso, es una de las peores cosas que pueden ocurrírsele a un miembro de la Cosa Nostra y muchos prefieren simplemente pagar una multa.) Por debajo del jefe de los jefes están sus oficiales, cada uno de ellos gobierna un sector de la ciudad con su "familia". Las familias de la Mafia no consisten en una mujer y ninõs que siempre van a lugares como el circo o a hacer picnics. En realidad, se trata de grupos de hombres más bien serios cuya mayor satisfacción en la vida consiste en contemplar cuánto tiempo puede alguien permanecer sumergido en el río East antes de empezar a hacer gárgaras.»

Woody Allen, in Como Acabar de una vez por todas con la Cultura (Getting Even, no original), Tusquets Editores, Barcelona 1990.
Esta oferta de uma amiga espanhola é a única edição que existe cá por casa. Daí a citação em espanhol. No mercado português, já só existem edições antigas da Bertrand de «Annie Hall», «Manhattan» e «Sem penas» (pelo menos, na rápida consulta feita). Uma pena. Vale a solução das prosas completas em inglês.

Seca tudo em redor, é?

«Novo secretário das Florestas é eucaliptista».

Irritação

Há uma raiva incontida que passa (por vezes) pela blogosfera - e que, aqui (confesso), a tempos, também mora. Sobre a coisa pública. Mas ao ler o que escrevem, por exemplo, os leitores do PortugalDiário cresce a minha perplexidade pela irritação que transparece daquelas palavras. Por tudo e por nada, insultam-se uns aos outros, insultam tudo e todos, e só pararão quando este país for «tudo raso»... Porquê esta irritação, esta raiva - que mora definitivamente em Portugal?

Actualização (sobre a blogosfera): e o que dizer da raiva quase incontrolada de quem se abespinhou contra a defesa do tabaco «Português Suave» feita por FJViegas? (Assina um não-fumador.)

8.10.03

Pausa - para um agradecimento

«A HISTÓRIA NUNCA PODE SER TRAVADA
A Cibertúlia é um espaço que prova que só se pode ser cristão a sério olhando para o mundo que nos rodeia com verdadeiro sentido crítico, mesmo correndo o risco de não dizer sempre o mais agradável ou previsível.
Creio que a fé se manifesta no silêncio e na rebeldia. Juntos e, necessariamente, sem medida.


Por mim, pela Cibertúlia, agradeço publicamente ao Rui Almeida estas palavras. De um amigo, que conheci aqui.

Só mais esta

Peço licença a Joel Neto e cito-o na íntegra:

«Prisão preventiva

Na Suécia, o Ministério Público teve de fazer um pedido especial de quinze para deduzir a acusação ao (primeiro) alegado assassino da ministra dos Negócios Estrangeiros. Ao fim de uma semana, o sistema disse: ou há acusação ou o cidadão tem de ser libertado. A Suécia é um país onde dois governantes foram assassinados nos últimos 20 anos e onde as câmaras do centro comercial em que Anna Lindh foi morta estavam desligadas na altura. Mas é também um país que percebe os limites da prisão preventiva.
Paulo Pedroso, solto hoje, já devia ter sido solto há mais tempo. De todos os seis arguidos detidos preventivamente, apenas Carlos Silvino tem acusação deduzida - só ele poderia estar ainda preso. Quanto aos restantes, e no que diz respeito ao sistema, duas coisas deveriam acontecer: que fossem de facto culpados (será grave de mais se algum deles for inocente); e que fossem libertados de imediato, até que lhes fosse formada a culpa (esta prisão preventiva é terceiro-mundista).
Sim, há crise da Justiça em Portugal. E essa não é uma constatação de esquerda nem de direita, não é pró-PS nem pró-Paulo Portas, não é securitária nem libertária - é uma questão de Direito. Uma questão de desprespeito do Direito, isto é.
»

Fez-se justiça!

É verdade, fez-se justiça. Não porque Paulo Pedroso tenha sido libertado, mas sim porque estava preso sem conhecer os fundamentos dessa medida. Agora, sim: pode fazer-se justiça, nos locais adequados - nos tribunais, e não na praça pública.

Um "post" à Eduardo Prado Coelho

Podia-se temer que a mais recente telenovela da Globo, exibida na SIC, tivesse um ar levemente oficioso. Afinal de contas, sempre é uma novela da maior embaixadora da Cultura do Brasil que está em exibição. Mas esse risco desvaneceu-se por completo desde a primeira entrada em cena. Eu sei que alguns consideram que eu ver e analisar telenovelas é uma extravagância. Mas arrisco. Ajudam-me a perscrutar sinais, como aquele que nos transmite um mil-folhas comido por Manuel Maria Carrilho em vésperas de demissão (nada que se compare com esta nova mentalidade durí­stica que prolonga as remodelações fazendo perigar a qualidade dos bolos e azedando as necessidades da sua equipa).

Donde ser fácil admitir que vejo «Mulheres Apaixonadas». Os seus episódios são calorosos, entusiásticos, desburocratizados, marcados por uma certa obsessão da identidade sul-americana, mas também abertos ao mundo e à modernidade. E podemos ainda ser sensí­veis à forma progressista de incorporar essa energia vital. Afinal está lá tudo: cancro da mama, aborto, violência doméstica, violência nas ruas, uso de armas, homossexualidade (lésbicas, malgré tout), conflito de gerações e relações entre maiores-menores... Todo um programa, como diria Pacheco Pereira. Abruptamente, em frente de uma bola de creme.

[Texto inspirado na crónica de hoje de EPC no Público.]

Viva a República!

Um prí­ncipe holandês quer casar com uma senhora que, para além de ser do povo, parece que - antes de se meter em "namoros reais" - andou enrolada com outros homens e, entre estes, um que não seria uma companhia muito recomendável (parece que o rapaz é suspeito de tráfico de droga e assassí­nio).
Perante estes "factos", noticia ontem o Público (a notí­cia não está "online"), a jovem da plebe defendeu-se dizendo que só tinha dormido no iate do tipo, sem manter relações com o dito. Entretanto, o Parlamento holandês vai discutir se o jovem prí­ncipe deve casar ou não...

Os dois nubentes não se pronunciaram sobre se eles querem casar ou não.

7.10.03

Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros



In Público

O país como o bar


Luís Afonso, in Público on-line.

20 bons jogos

Da Lusa: «O central Fernando Couto, que deverá cumprir sábado a 100ª internacionalização "AA", apenas falhou 20 encontros desde que começou a jogar com regularidade (1991/92) na selecção portuguesa de futebol e na sua ausência... Portugal nunca perdeu.»

Portanto: dispense-se o suplente da Lázio e os seus préstimos caceteiros.

As propinas (segundo um perigoso "estatista")

Duas afirmações:
- «Mais do que saber quanto pagar ou como pagar, está em causa saber que tipo de ensino queremos pagar.»
- «Esta é uma má lei do financiamento: aumenta a responsabilização financeira das famílias e diminui a justiça social; faz das propinas a prioridade educativa.»

Declaração de voto de Jorge Moreira da Silva, novo secretário de Estado do Ensino Superior, ao votar contra a lei de financiamento do ensino superior público, de Marçal Grilo, no Governo de António Guterres, em 1997.

Eu não quero que eles "sejam" Igreja

«Prós e contras» sobre João Paulo II. Do lado dos "prós": Bagão Félix, Maria José Nogueira Pinto e Victor Feytor Pinto. Do lado dos "contras": António Arnaut, Clara Pinto Correia e Eduardo Prado Coelho.
Mas o mundo é todo a preto e branco? E que Igreja representam os senhores dos "prós"?
(Recuso-me a falar de quem esteve "contra", sem viver o dia-a-dia das dúvidas e das incertezas, quem aprecia de "fora" e se acha no direito de perorar sobre o que se experimenta "dentro", sem questionar quem está dentro...)

A Europa pode começar aqui - e o país também

Um novo blogue, escrito a três mãos (e uma delas é a de Joel Neto), apresenta-se como o «rosto com que a Europa fita... é Portugal. E o rosto com que Portugal fita a Europa, é qual?». Para quem gosta de reflectir estas coisas, vale a pena a viagem.

Outra viagem que pode provocar estragos no modo como olhamos o país é-nos proposta por Pedro Almeida Vieira, dos jornalistas que mais insiste num outro ambiente para Portugal!

E será que ele, depois de perder, promete voltar?

E tudo isto normalmente padeceria de interesse se não fosse a candidatura dessa figura (caricatura?) sui generis que é Arnold Shwartzanneger (ou lá como ele se chama...). E é só por causa dele que isto me merece um post.
Arnold aliás é bastante conhecido pelas suas ideias politicas para o futuro da Califórnia, e dotado de anos e anos de experiência no meio. E parece que fez também uns filmes pouco divulgados...
No país de todas as oportunidades e de todas as liberdades não se estaria à espera de menos. Se a moda pega por cá ainda vemos o Tarzan Taborda candidato a Belém ou pior... Um partido dos Malucos do Riso candidato ao governo... com a oposição dos bonecos da Contra-Informação.
Peço desculpa por esta extrapolação exagerada, mas... não resisti.

Eu não quero o Terminator na política

Não percebo o fascínio de alguma direita por uma anunciada vitória de Arnold «Terminator» Schwarzenegger na Califórnia. É a vitória do grau zero da política, de uma política sem ideias, reduzida a "slogans/soundbytes" quase boçais de efeito pastilha-elástica, mastiga e deita fora, sem qualquer conteúdo. Essa "alguma-direita" que rejubila com o "extermínio" do actual governador daquele estado americano, acaba por apoiar o extermínio da política e dos valores que costuma apregoar como "património" genético seu - et pour cause deste governo...

Eu não quero o Hugh Grant no Vaticano

1. Francisco José Viegas assusta-se com as sondagens aos portugueses que querem que o Papa abdique. E questiona, certeiro: «devíamos perguntar-nos sobre o que incomoda os portugueses naquela imagem doente». Sim, incomoda-nos a dor e a morte.

2. Esta manhã ouço Baptista-Bastos na TSF. Que fala de «Prós e Contras» sobre o pontificado de 25 anos de João Paulo II, ontem na RTP, que vi a espaços (muito curtos). Para destilar ódio atrás de muitos disparates contra o Papa porque é «o mais reaccionário desde o amigo de Hitler» e «contra» tudo e todos (resumo possível dos 15 segundos de glória matinal de BB). Também foi contra o Bush e a guerra, ó BB?! E deu jeito citá-lo na altura...

6.10.03

Satanás em Coimbra - ou de como alguma direita ainda nos faz chorar a rir!

Não resisto a divulgar um artigo - que me chegou por e-mail, desse farol da nossa imprensa (não, caro JPH, não é o «Público»), que é «O Jornal de O Dia» -, escrito por Antero da Silva Resende, antigo presidente da Federação Portuguesa de Futebol e quase-putativo candidato à câmara de Lisboa por esses arautos da liberdade que são (os hoje desavindos irmãos) Manuel Monteiro e Paulo Portas (nos idos de 90)...

O texto mostra como alguma direita ainda nos faz chorar... a rir!
[Se Silva Resende conhecesse a Voz do Deserto, ó céus!]


SATANÁS EM COIMBRA. Por Antero da Silva Resende.
«Desde os seus começos na década de cinquenta que o movimento da música "rock" era suspeito de práticas ocultistas e pretensos misticismos orientais. Foi, no entanto com Elvis Presley que tomou, à laia de preparação imoral, o pleno significado de um rito animalesco e libidinoso, quando o nome da música foi confessadamente adaptado a práticas sexuais dentro dos automóveis e se compôs uma expressão retirada do calão americano.

"Rock'n'roll" passou a ser sinónimo de "fornicação", e Elvis Presley fazia essa exibição nos palcos com movimentos corporais adequados, a tal ponto que na gíria dos frequentadores o seu nome aparecia mudado para "Elvis Pelvis". Depois do seu suicídio, provocado pela sobredose de droga, em Agosto de 1977, apesar da degradação da sua imagem, os discos passaram a vender-se a ritmo alucinante entre a juventude, e o próprio "rock" não cessou de multiplicar em formas cada vez mais provocantes e selváticas: "hard rock", "heavy rock", "punk rock", "acid rock", todos eles com mensagens dirigidas à prostituição, à violência e à droga, e todos assentes numa tal intensidade de ruído, a mais de 100 decibéis, que além da destruição do cérebro excitam as pulsões sexuais - este efeito ampliado pela "stroboscopia", isto é, a alternância da escuridão e da luz intensa a ritmos frenéticos.

Coube aos "Beatles", por quem tantos amantes de música vertem prantos saudosos, a iniciativa confessa de integrar no "rock" o culto de Satanás, com o número designado por "Norwegian Wood", integrado no álbum "Rubber Soul". Isto inspirou um filme para a TV, chamado "Magical Mystery Tour", em 1968; e ainda o "Devil's White Album" (Álbum Branco do Diabo), cujo nome não deixa dúvidas sobre a sua natureza e seus fins: propagar o evangelho de Satanás.

Só muito mais tarde e já em nossos dias é que cientificamente se descobriu que tudo isto mais não era do que uma forma subtil de influenciar o psiquismo dos ouvintes ferindo-os abaixo do nível da consciência.

As mensagens subliminares que contêm obedecem a este catálogo, conforme apurou de ciência certa o padre Jean-Paul Regimbal, de Quebec, a quem se deve a denúncia desta praga diabólica que se infiltrou no seio da sociedade do nosso tempo e muito particularmente no seio da juventude:
- perversão sexual sob todas as formas;
- apelo à revolta contra a ordem estabelecida;
- incitamento ao suicídio;
- apelo à violência e ao crime de morte;
- consagração a Satanás.

Não precisamos de demonstrar os efeitos desta vaga demoníaca porque eles se sucedem na Humanidade, desde a perversão moral que deixa a perder de vista a aliança dos prostíbulos e das cloacas, até aos suicídios colectivos que rivalizam com as grandes tragédias que enlutam a Humanidade.

Aliás, o "beatle" mais responsável pelas músicas do grupo, acabou assassinado num café de Nova Iorque, às mãos de um satanista tornado instrumento da seita, como "punição" contra a exibição torpíssima desse "beatle" num palco de teatro a manter relações com a mulher no dia do casamento...

Como refere o mesmo autor, os temas das canções nunca se afastam desse modelo obrigatório: rebelião contra os pais, contra a sociedade e contra tudo o que existe; libertação de todos os instintos sexuais; apelo à anarquia para fazer triunfar no mundo o reino universal de Satanás.

Na verdade, porém, o processo ainda estava no começo. Em 1970 emergiam do anonimato os "Rolling Stones", que logo suplantaram os "Beatles" e sob o impulso de um sujeito chamado Mick Jagger, tomaram uma orientação ainda mais abertamente satânica, como se pode ver dos seus hinos a Satanás:
- Sympathy for Devil (Simpatia pelo Diabo);
- Dancing with Mister D (Dancemos com o senhor Diabo);
- To their Satanic Majesties (A Suas Majestades Satânicas).

Para ilustrar o programa, estes concertos contam no seu activo com violências inauditas, não raro mortos e feridos, e um clima de exaltação confundível com a loucura.

Lê-se na Enciclopédia Rock: "príncipes das trevas e campeões da música mais provocante, os Rolling Stones confirmaram desde 1967, a sua reputação luciferiana, com o trecho "passemos a noite juntos", que foi censurado devido às referências sexuais provocantes. Os incidentes escandalosos que sobrevieram levaram Jagger à prisão.

Todas as enormes tragédias que enlutam as sociedades modernas e que deixam de boca aberta aqueles mesmos que de boa fé duvidam da existência do Maligno, tantas vezes mencionado por Cristo que lhe chamou o "homicida desde o princípio", não deixaram de subir de tom à custa de outros grupos rivais e concorrentes dos "Rolling Stones", nomeadamente os "Pink Floyd" e os "Black Sabbath", tendo todos despertado uma "elite" de possessos diabólicos em que avulta o sempre falado Mick Jagger, que foi iniciado na entrega a Satanás por duas bruxas especialistas de práticas de magia: Marianne Faithfull e Anita Pallemberg.

Este último aspecto bem como os títulos de alguns trechos, merecem um esclarecimento suplementar.

Satanás não tem, por si mesmo, o poder de penetrar no santuário da consciência das pessoas. "De intimis solus Deus" - já assim se consagrava na filosofia e na teologia. Só Deus pode penetrar no recesso das almas.

Mas o homem pode consagrar-se, não apenas a Deus, mas por devoção que espelha a sua crença e a sua confiança na protecção do Céu, à Virgem Santíssima ou aos Santos Anjos, por exemplo, dando-lhes assim o poder da pertença, o oferecimento de todas as suas faculdades, como, aliás, consta de uma fórmula ainda muito em voga entre nós. Essa livre disposição que pode chegar à entrega total no acto de consagração é igualmente eficaz na consagração a Satanás, que desde então passa a comandar os pensamentos, as palavras e as obras dos que se lhe ofereceram. É de pensar que estes infelizes caídos nas malhas do Mal, nunca antes tinham suspeitado do acto de consagração, praticado no culto cristão. Mas o Diabo aspira ao senhorio do mundo e à conquista da Humanidade, nem que seja a macaquear a obra divina. É certamente de inspiração demoníaca esta consagração ao Anjo Caído que perpassa com suspeita insistência nos álbuns do "rock".

Significativa vem a ser também a caminhada dos portugueses até Coimbra onde acabam de aterrar os "Rolling Stones" e os seus velhinhos já a cair da tripeça, com ar esquálido e olhares vidrados pelo frio da vida que lhes anoitece.

A multidão e o delírio da comunicação social espelham os estragos morais e intelectuais já feitos no seio da nossa população, nomeadamente das gerações novas que podemos considerar em parte maior completamente perdidas. A passagem triunfal dos "Rolling Stones" é a contraprova do apodrecimento moral de populações de jovens e menos jovens tocados do vírus satânico. Almas viradas do avesso, buscam a felicidade nas emanações pantanosas dos vícios mais abjectos. Escolhem como ídolos indivíduos que se despojaram, nos braços do Diabo, de toda a dignidade humana. E ocupam os cérebros derrancados com mensagens subliminares que os impulsionam até às regiões desoladas da consciência, onde deixou de pulsar o afecto, a aspiração do belo, a esperança da luz e da verdade.

P.S.: a substância deste escrito não é nova. Já mais do que uma vez tratei este assunto em O DIA. Pretexto novo é esta visita dos "Rolling" e o alvoroço causado numa sociedade que vai à desfilada a caminho dos abismos.
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As «tias» e os «tios» - um "remake"

[À atenção do Pedro Príncipe e da Inês Versos]
Quando a Cibertúlia era uma mailing list, nos idos dos anos 99-00, houve um aceso debate sobre o uso e abuso do termo «tia» e «tio», «tias» e «tios». A Tatiana, ainda por empréstimo, traz-nos uma outra leitura possível. À vossa consideração.

«Os "tios" e as "tias" não são da família nem muito íntimos e têm sempre uma certa idade. Nunca são mais novos do que os nossos pais.
– Mas isso é expressão de gente que tem a mania que é fina. Chamo as pessoas pelos nomes.
– E se não sabes os nomes? Entras numa sala e estão lá sentadas seis pessoas que nunca viste mais gordas. Como é que as tratas?
– Não trato. Digo "bom dia" ou "boa tarde" e ponho-me a andar.
– Estás a fugir à questão. Imagina que vais fazer um cafézinho para todos. Afinal, são amigos dos teus pais...
– Trato-os por você.
– Mas a palavra "você" é formal e impessoal. Qualquer pessoa é um "você". Nestas circunstâncias, queremos marcar a diferença. Estamos a dizer que aqueles indivíduos naquela sala não são estranhos. E daí o "tio" e a "tia": delicado, mas simultaneamente familiar:
– Está aqui a sua chávena, "tio".
– A "tia" quer adoçante?
– Só gente fina ou armada em carapau de corrida é que se põe com "tios" e "tias".
– Admito que seja um termo utilizado pelas camadas sociais mais altas. Mas as palavras, ao contrário de outros bens, podem ser usurpadas. Nada mais fácil de roubar do que uma palavra.
– E tu sugeres que os pobres roubem as expressões "tio" e "tia" aos ricos e aos parvos?
– Exactamente!
– Mas quando os finos se aperceberem que toda a maralha está a falar assim, vão deixar de utilizar as expressões.
– Pois, mas isso é irrelevante. Ou melhor, os finos é que ficariam a perder. Porque os pobres não estariam a roubar as palavras numa tentativa de adquirir outro status, mas sim de absorver duas expressões que dão muito jeito quando estão seis pessoas numa sala.
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Eurodeputado porno?

Carlos Coelho apresentou-se como o primeiro deputado português do Parlamento Europeu com um "site" (não confundir com outros que só têm blogues, claro). Ora, hoje acedendo ao dito "site" aparece uma estranha advertência. Entre o meia-dia e as 13:24, eis a frase que surge aos cibernautas:
«Com que então a tentar ver sites porno...
O site www.carloscoelho.org não existe. Espere uns minutos que a gente vai criar!!!
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Parabéns

O André do Barnabé casou-se! Ficam os parabéns de quem descobriu recentemente esta maravilha. Continua em falta quase toda a rapaziada do Desejo Casar.

Põem-se a jeito...

A Igreja às vezes põe-se a jeito - e a blogosfera e a comunicação social indignam-se. Mas a comunicação social também consegue ser ridícula e ignorante - e quase ninguém se indigna. Ontem, a SIC repetiu um erro crasso, primeiro no Jornal da Tarde e depois no Jornal da Noite: que o Papa «canonizou três beatos». Hoje, o Público repete o erro, apenas na primeira página (lá dentro, modéstia familiar à parte, o disparate era impossível!).

Actualização: E o Diário de Notícias consegue falar em Daniel (misturando Daniele e Daniel várias vezes na notícia) Comboni, um dos canonizados, que viveu no século XIX, como um dos «novos cardeais» [sic]: «Sobre Daniele Comboni, o bispo de Cartum, capital do Sudão, e um dos novos cardeais, salientou que, para os africanos, por tudo o que disse e fez, "foi um enviado de Deus".»

4.10.03

Fim-de-semana

Sossego. Esparramado no sofá. Louça acumulada. E uma breve visita ao computador. Ah! E Virginia Astley, acompanhada de alguns senhores: Rufus Wainwright , David Sylvian, Johnny Cash e Ryan Adams. Volto quando me apetecer.

Restos da semana




Bandeira, in Diário de Notícias

3.10.03

Regresso aos jardins

Desculpem-me insistir no tema. Entusiasmado com os conselhos do Aviz e do Homem a Dias, dei por mim a encomendar o álbum de Virginia Astley. Devo-me ter precipitado porque o Alfacinha dá-nos conta (e põe a música!) de uma edição de «From Gardens where we feel secure» com o complemento de «Melt the snow», um EP publicado em 1986. Tal e qual como a minha velhinha K7 BASF, que anda lá por casa nuns caixotes...
Nunca mais acaba este dia de trabalho às voltas com a filha do ministro, é o que é.

PS - E vão espreitando o Retorta, que não só "mostra" as imagens dos discos, como coloca em linha as palavras cantadas por Virginia Astley.

Já não há vaga

A Cibertúlia está em condições de adiantar que Martins da Cruz foi o único candidato - pelo contingente especial para diplomatas - do curso «Pouca Ética e Sem Vergonha».

Mais vale tarde que nunca

«Nunca na vida fiz um favor a quem quer que seja», afirmou Pedro Lynce aos deputados da Comissão Parlamentar de Educação. Hoje fez!

Hás-de ter muitos amigos...

«Aqueles que me conhecem melhor sabem que, toda a minha vida, nunca fiz um favor a quem quer que seja», Pedro Lynce, ministro demissionário, 3.10.2003.

["posta" sugerida pela Mariana e pelo Olímpio]

Lynce caiu...

Falta Martins da Cruz...

Hope in a darkened shop

Descubro (obrigado, Francisco, que me levou até às informações originais de Mário Filipe Pires, Alberto Gonçalves e jmf) que, finalmente, Virginia Astley pode ser encontrada nos escaparates de algumas discotecas a preços razoáveis.
Explico: até hoje só encontrava importações japonesas a rondar os cinco contos de «From Gardens where we feel secure» e «Hope in a darkened heart», dois discos obrigatórios em qualquer discoteca. Agora, pelos vistos, «From Gardens where we feel secure» já aparece por aí num preço "normal" (eu que só o tenho em K7, gravado do LP velhinho do Olímpio, outro entusiasta do álbum).
Falta «Hope in a darkened heart» (a ser reeditado em breve), que conheci antes: o primeiro LP que comprei, com o meu dinheirinho amealhado e sem a "tutela" seventies de irmãos mais velhos, e onde descobri - maravilhado! - outra voz: David Sylvian, que (felizmente) tem a discografia toda disponível em CD (e na minha estante, onde também mora «Colossal Youth» dos Young Marble Giants, comprado uma vez na FNAC na inevitável secção de promoções, que se confunde nalguns poucos casos com a secção de «esquecidos/desconhecidos»).

A blogosfera também se faz de cumplicidades: obrigado ao Aviz, ao Homem a Dias, ao Terras do Nunca e ao Retorta (um blogue obrigatório, descubro também agora), pelo regresso a Virginia Astley. Tenho de estar atento nas minhas visitas à FNAC.

18 valores

A Madalena no seu ensino secundário teve sempre notas altíssimas (17, 18, 19 e mesmo 20). Um curso feito numa escola muito mal classificada no "ranking" das escolas (longe das bonificações do Liceu Francês, onde a filha do ministro fez o 12º ano). Tentou em dois anos sucessivos - com uma média a rondar os 18 valores... - entrar em Medicina. Sem sucesso. Pelas médias que se sabem. Ao terceiro ano, cansou-se: candidatou-se a Espanha e ao Reino Unido e entrou em várias faculdades espanholas e na exigente Universidade escocesa de Glasgow! Optou por esta, apesar de dois meses depois descobrir que tinha entrado na Faculdade de Medicina de Lisboa, com 18,9, no contingente normal. Foi para fora.
Sem favores de qualquer ministro. Porque não é filha de ministro. E sem dramas - o «sacrifício» de que falou, hipocritamente, esta manhã, Guilherme Silva, no Parlamento, referindo-se ao "castigo" imposto a Martins da Cruz: «O grande sacrifício que constituirá para a família de Martins da Cruz a decisão de voltar a separar-se da sua filha».

Como a Madalena, senhor ministro, há muitos portugueses nesta situação.

O Amanhã da humanidade: Quo Vadis, pá?

Células Foto-Voltaicas de baixo custo. Dos actuais cerca de 4€ por watt para 0,20€, diminuindo assim a diferença de competitividade para as normais fontes de energia.

Carros Hibridos (Gasolina-Electricidade) mais baratos, diz a Toyota.

E que tal um carro movido a ar? A tecnologia já existe...

E finalmente a descoberta que revolucionará o mundo tal como o vemos...

2.10.03

Também eu, também eu

Também eu gostava ontem de ter perdido com o Real, caro Francisco. E espero que outros Franciscos - o meu sobrinho e o filho do Diogo - possam lamentar-se muitas vezes também com derrotas destas. Sim, porque tenho muitas saudades daquela noite em que as chuteiras teimavam em saltar dos pés de César Brito e Veloso...

Voltei... mas nunca mais serei o mesmo...

Esta posta é só para dizer que já voltei da licença de 5 dias úteis, a que tive direito por causa da paternidade. Esta manhã, quando saí de casa para o trabalho, apoderou-se de mim uma enorme tristeza... queria muito ter ficado junto da Inês e do Francisco. Depois, quando cheguei ao escritório, percebi que sou outro e que não voltarei nunca a ser o mesmo...

Aproveito para agradecer as mensagens simpáticas dos cibertulianos e dos leitores avulsos da cibertúlia. Os beijos e abraços, asseguro-vos, foram todos entregues. Os desejos de felicidade eterna, esses, ser-vos-ão cobrados ao longo dos próximos anos!

O coração do homem

«Você vai aprender. Vai aprender a latir. A atacar. A morder. A farejar cocaína. A receber restos de comida. É isso, você aprende, ódio é uma coisa fácil de aprender. É mais fácil você aprender a odiar do que a cozinhar ou usar o computador. Eles dizem, aquilo é uma merda. Aquilo fede. Fede mesmo, eu sinto o fedor. Aquilo é podre. Podre, é podre, a gente aprende. O homem aprende tudo. Por isso o homem progride. A ciência progride. Os Estados Unidos progridem. A indústria. A tecnologia. Mas o coração do homem, eu ouvi um homem falando isso na televisão, um homem muito importante, o coração do homem não progride.»

in Patrícia Melo, O Matador, Campo das Letras (2001).

Nem de propósito

No seu regresso, Francisco José Viegas fala-nos do novo livro de Patrícia Melo. Na "mouche": acabei ontem à noite de ler O Matador, um fantástico retrato de um outro Brasil, que não passa por Pipa ou Porto de Galinhas. Leio no Aviz: «Os livros de Patrícia são retratos violentos sobre a violência e a amargura; e escritos pela mão de uma mulher muito inteligente». Nem mais. Tenho de descobrir os outros livros - e essa Valsa Negra, que nos traz FJV.

1.10.03

Early Night Blog

Depois de aqui termos escrito (e "mostrado"), esta tarde, sobre a dor pública do Papa, também Pacheco Pereira "olha" para «uma coisa muito difícil» que João Paulo II está a fazer, «em que o "corpo é que paga". Está a morrer diante de nós, depois de envelhecer diante de nós, restituindo a uma parte da vida, que escondemos em lares sórdidos para nosso conforto, uma dignidade essencial. É uma opção que muitos não compreenderam, porque têm o culto da juventude e da eficácia, da energia e da vitalidade, e não perceberam a última lucidez deste homem – a de nos devolver a integridade da vida toda».

A dor como "coisa pública"




Hoje, na Praça de São Pedro.

Quando a dor e a morte incomodam

Num blogue, que só agora descubro (são tantos), o Catalaxia lamenta-se por João Paulo II: «Não merecia o que lhe está a suceder». Propõe Rui, o autor, que se reforme a sucessão do bispo de Roma, «de quem, infelizmente, a memória futura, feita de imagens e de sombras, registará mais o triste fim do que o seu fantástico percurso de vida».

O percurso é, de facto, notável. E ainda que o Catalaxia prefira sublinhar «pelo menos, um forte contributo para o desmoronamento do Império Soviético e a libertação da Europa de leste», falta também referir a forte denúncia do capitalismo (associada à do comunismo). Adiante.

O que aqui me toma é o incómodo manifesto - para «memória futura» - das imagens de um Papa debilitado e frágil, a adoecer à nossa frente. Incomoda sim, mas julgo que esse incómodo resulta mais de nos incomodar todos os dias a dor e a morte, em geral. Queremo-las privadas, recatadas, sem que os outros nos possam ver a morrer.

No 12º ano (há quanto tempo!) fiz um trabalho - naquele ensino que produziu uma "geração rasca" - sobre a Arte e a Morte no Antigo Regime (que acabou por se estender até à II Guerra Mundial: entusiasmos adolescentes...). Uma das coisas que me lembro de reflectir foi «a arte de bem morrer», Ars Moriendi, que na segunda metade do século XV ensinava as pessoas a morrer. Hoje, longe de tentativas "estranhas" para recuperar esses discursos, julgo que é importante reflectir se a doença e a morte não podem ser vistas assim - como nos aparece João Paulo II, como o Papa se tem exposto. Contra a lógica deste século, em que os corpos se querem bonitos e saudáveis. E em que as reformas antecipadas são "normais" aos 40 anos. Ou «de modo a impedir que se repita o que está a suceder com este Papa».

O mundo da bola é um mundo lixado

Título do MaisFutebol, hoje, no IOL: «Mão nos genitais pode custar um jogo de castigo». Bolas!

Xanana na blogosfera

Calma, não se trata de um blogue pessoal do Presidente de Timor-Leste, abruptamente chegado à blogosfera. Mas deve tratar-se da primeira entrevista de um presidente de um país a um blogue. E tem muito interesse. Está no blogue sobre Timor-Leste, mantido por Paulo Gorjão, animador das páginas bloguíticas, indexadas aqui ao lado.

Regresso pródigo

Discretamente, quase à socapa, Francisco José Viegas recomeçou a sua escrita, aqui na blogosfera. Não resisto a transcrever: «NOITE, O QUE É?, 11. Sentar-se um homem diante das coisas e parar, para que o resto dance à sua frente como um retrato que traz preso aos olhos. Talvez isso seja o que mais acontece à noite, ou quando há um perfume preso às camisolas, uma variação qualquer naquele vento. Relva, relva verde. Varandas delicadas cheias de sombra. Insónias. São tão simples, os favorecidos do mundo, tão cheios de sorte. Tão cheios de frio, de coisas caladas.»

Nasceu...

O João, da Teresa e do Nuno Estêvão, nasceu esta madrugada. Mãe e filho estão bem. O pai está cheio de sono!

Pregão da manhã

«Olhó Borda D'Água pró ano que vem!»

Andrómeda vs Via Láctea

Hoje jogam os galácticos Espanholo-Mundiais contra os galácticos Portugueses apitados pelo galáctico, e careca, Colina.

O diz que disse:
Um adepto: "Eu cá sou Portista e não Desportista."
Mourinho : "Gosto muito do Ronaldo, e do Figo,[...] Fizeram-me ganhar muitos prémios de jogos..."
Um adepto: "O árbitro que ponha gel na cabeça, logo à noite, para ver se o cabelo não lhe cai para os olhos."

Pergunta-se:
Entre débitos e créditos, custa mais a factura, paga pelo Sporting, da derrota numa SuperTaça Europeia, ou aquela que o Porto se habilita a pagar pela derrota do Real Madrid na ultima jornada espanhola?

Claque.
Mas de uma coisa não me consigo livrar: nestes jogos sou sempre português por isso hoje há noite vamos todos cantar:
"O Rei de Espanha
é feio como um Bode
E não é com ele
que a Rainha...
Brinca."
(cortesia da Antena3)


Um Post-Scriptum: Depois do ataque do Fogo às florestas agora a Água ataca as cidades. S. Pedro reaje às preces: "Oh pá vocês decidam-se. Não andaram o verão todo a rezar por Água?"