8.10.03

Um "post" à Eduardo Prado Coelho

Podia-se temer que a mais recente telenovela da Globo, exibida na SIC, tivesse um ar levemente oficioso. Afinal de contas, sempre é uma novela da maior embaixadora da Cultura do Brasil que está em exibição. Mas esse risco desvaneceu-se por completo desde a primeira entrada em cena. Eu sei que alguns consideram que eu ver e analisar telenovelas é uma extravagância. Mas arrisco. Ajudam-me a perscrutar sinais, como aquele que nos transmite um mil-folhas comido por Manuel Maria Carrilho em vésperas de demissão (nada que se compare com esta nova mentalidade durí­stica que prolonga as remodelações fazendo perigar a qualidade dos bolos e azedando as necessidades da sua equipa).

Donde ser fácil admitir que vejo «Mulheres Apaixonadas». Os seus episódios são calorosos, entusiásticos, desburocratizados, marcados por uma certa obsessão da identidade sul-americana, mas também abertos ao mundo e à modernidade. E podemos ainda ser sensí­veis à forma progressista de incorporar essa energia vital. Afinal está lá tudo: cancro da mama, aborto, violência doméstica, violência nas ruas, uso de armas, homossexualidade (lésbicas, malgré tout), conflito de gerações e relações entre maiores-menores... Todo um programa, como diria Pacheco Pereira. Abruptamente, em frente de uma bola de creme.

[Texto inspirado na crónica de hoje de EPC no Público.]