Têm sido de ansiedade contida os dias lá por casa, à medida que se aproxima a data do exame da Margarida para ingresso nas especialidades médicas. Ontem, perante o cansaço na leitura de um texto tenebroso - mais de mil páginas em corpo de letra minúsculo, em que é tão importante o corpo principal do texto como a nota de rodapé em letra quase ilegível - que dá pelo nome "familiar" de «Harrison», fiz de "ponto" e li em voz alta para que a Margarida fosse estudando.
Três breves impressões:
1. A quantidade de informação necessária para fazer este exame acaba por ser perniciosa - quase inumana. E entre as coisas a saber para debitar há dados como a percentagem de mortalidade de determinadas doenças nos EUA ou em Israel, a terapêutica aplicada nos EUA (que, por exemplo, no caso da tuberculose é completamente diferente daquilo que cá se faz)...
2. O corpo humano é de facto uma máquina complexa. Apesar de compreender que estamos a formar especialistas, bastava lermos todos uma página daquelas para refrearmos os nossos dedos em riste (principalmente, os jornalistas) quando se fala em «negligência médica», «erro médico» ou, apenas, o «médico não sabe nada»... O que não desculpa que se avalie, inquira ou analise eventuais queixas de comportamentos incorrectos.
3. Este segundo ano de formação dos médicos do internato geral é um desperdício: eles vivem para este exame, que despacha o seu destino em duas horas. Em vez de se apostar numa formação eminentemente prática dá-se lugar a um exame de 100 perguntas sobre matérias algumas delas de duvidosa aplicação nos hospitais e centros de saúde portugueses, que "abafa" a vida pessoal e profissional destes médicos durante meses.
O estado da Saúde em Portugal também se podia medir por aqui... E o médico de serviço na blogosfera também poderia dar o seu importante contributo...