30.12.03

A agenda de jornalistas da Polí­tica (ou o PP infiltrado no PS)

Há um fenómeno na comunicação social que se vira muitas vezes contra os próprios jornalistas. Quando se pensa em alguém para falar sobre determinado assunto, por preguicite ou uma agenda "curta", ouvem-se sempre os mesmos "peritos". Quantas vezes, em questões ligadas à Igreja católica, não ouvi já na redacção a dica "telefona ao D. Januário", como se não houvesse mais nenhuma pessoa interessante para ouvir para além do bispo das Forças Armadas (apesar de ser, em muitos casos, o único bispo disponível para falar - mas isso é outro assunto).

Depois, há o fenómeno contrário. Aqueles que têm lugar cativo na imprensa, mesmo que nunca se perceba a sua importância ou representatividade. Por exemplo, Cláudio Anaia é uma personagem com lugar cativo nalgumas secções de Polí­tica. O jovem diz-se representante dos jovens socialistas católicos (what?) e sempre que se fala do aborto, lá vem o rapaz pulando e saltando ao melhor estilo "PP" (mas sem a verve de Bagão) a zurzir nos seus supostos camaradas de partido. Contra Sampaio, contra Ferro, contra o PS. Ele diz representar mais de 100 jovens. Nunca ninguém os viu. Supostamente, esta "tendência socialista" esteve agora reunida em Beja - cerca de 30 pessoas, dizem os jornais - para bater em Sampaio e no indulto deste à enfermeira da Maia.

Quatro perplexidades:
1. Não há jovens socialistas católicos. Há católicos que, politicamente, serão socialistas ou votarão à esquerda. É a velha confusão, pré-conciliar, da presença da Igreja no mundo, daqueles que querem ter um jornal católico, uma televisão católica, um partido católico (ou democrata-cristão)...
2. A democracia interna desta suposta tendência é fantástica. Em anos, nunca ninguém assumiu a "alternância" na liderança daquele alegado grupo... Cláudio sucede a Anaia que sucede a Cláudio que sucede a Anaia.
3. Há grupos e movimentos organizados, católicos, que dentro da comunidade da Igreja procuram reflectir sobre o mundo (e também sobre o aborto). Eu que passei por alguns destes espaços, sei da dificuldade em fazer passar esses debates para o exterior, para a comunicação social (sempre pouco receptiva). E esses grupos "mexem" com muito mais gente que aqueles supostos jovens socialistas católicos.
4. Sobra a perplexidade ideológica: Cláudio Anaia, discí­pulo confesso e dilecto de Bagão (assim ele se apresenta, desde os tempos em que o actual ministro do Trabalho era a Comissão Nacional de Justiça e Paz e Anaia os jovens da CNJP), está mais próximo da cartilha de Portas, Telmo, Bagão e companhia. Então: por que insiste ele em ser militante socialista?