Há um fenómeno na comunicação social que se vira muitas vezes contra os próprios jornalistas. Quando se pensa em alguém para falar sobre determinado assunto, por preguicite ou uma agenda "curta", ouvem-se sempre os mesmos "peritos". Quantas vezes, em questões ligadas à Igreja católica, não ouvi já na redacção a dica "telefona ao D. Januário", como se não houvesse mais nenhuma pessoa interessante para ouvir para além do bispo das Forças Armadas (apesar de ser, em muitos casos, o único bispo disponível para falar - mas isso é outro assunto).
Depois, há o fenómeno contrário. Aqueles que têm lugar cativo na imprensa, mesmo que nunca se perceba a sua importância ou representatividade. Por exemplo, Cláudio Anaia é uma personagem com lugar cativo nalgumas secções de Política. O jovem diz-se representante dos jovens socialistas católicos (what?) e sempre que se fala do aborto, lá vem o rapaz pulando e saltando ao melhor estilo "PP" (mas sem a verve de Bagão) a zurzir nos seus supostos camaradas de partido. Contra Sampaio, contra Ferro, contra o PS. Ele diz representar mais de 100 jovens. Nunca ninguém os viu. Supostamente, esta "tendência socialista" esteve agora reunida em Beja - cerca de 30 pessoas, dizem os jornais - para bater em Sampaio e no indulto deste à enfermeira da Maia.
Quatro perplexidades:
1. Não há jovens socialistas católicos. Há católicos que, politicamente, serão socialistas ou votarão à esquerda. É a velha confusão, pré-conciliar, da presença da Igreja no mundo, daqueles que querem ter um jornal católico, uma televisão católica, um partido católico (ou democrata-cristão)...
2. A democracia interna desta suposta tendência é fantástica. Em anos, nunca ninguém assumiu a "alternância" na liderança daquele alegado grupo... Cláudio sucede a Anaia que sucede a Cláudio que sucede a Anaia.
3. Há grupos e movimentos organizados, católicos, que dentro da comunidade da Igreja procuram reflectir sobre o mundo (e também sobre o aborto). Eu que passei por alguns destes espaços, sei da dificuldade em fazer passar esses debates para o exterior, para a comunicação social (sempre pouco receptiva). E esses grupos "mexem" com muito mais gente que aqueles supostos jovens socialistas católicos.
4. Sobra a perplexidade ideológica: Cláudio Anaia, discípulo confesso e dilecto de Bagão (assim ele se apresenta, desde os tempos em que o actual ministro do Trabalho era a Comissão Nacional de Justiça e Paz e Anaia os jovens da CNJP), está mais próximo da cartilha de Portas, Telmo, Bagão e companhia. Então: por que insiste ele em ser militante socialista?