16.1.06

Eu também nunca votei Soares

Há quatro meses que não postava e não há fome que não dê em fartura!

Vistas de Bruxelas, a campanha eleitoral e as eleições presidenciais que se aproximam, parecem, ainda assim, muito distantes... Mas, vá lá, vou fazer um esforço.

Eu também nunca votei Soares: em 1986 e 1991 era demasiado novo para essas coisas. Se pudesse ter votado e soubesse o que sei hoje, em 1986 também teria votado em Maria de Lourdes Pintasilgo. Mas como não sabia o que sei hoje, talvez tivesse votado em Mário Soares logo à primeira volta. Em 1991, teria certamente votado Mário Soares, até porque não havia alternativa.

Em 1996 e em 2001, votei em Jorge Sampaio. Apesar da alegria provocada pela derrota de Cavaco Silva, a verdade é que Jorge Sampaio foi sempre uma desilusão e, a mim, não vai deixar saudades.

Em 2006 também não vou votar Soares. Bom, na verdade o que se passa é que não vou votar... Isto de ser emigrante tem os seus problemas... mas isso são contas de outro rosário... a questão que me traz aqui hoje é a de saber se votaria Soares...

Provavelmente não.

Apesar de todas as qualidades que reconheço a Mário Soares, que é um político que admiro, a verdade é que já não me convence... e digo isto com alguma tristeza, confesso... provavelmente votaria, como muitos outros socialistas, em Manuel Alegre.

Não é que Manuel Alegre me convença muito mais... mas, ainda assim, é o candidato que mais parece aproximar-se dos princípios e das ideias com que me identifico.

Seja como for, parece óbvio que já nada poderá evitar a vitória de Cavaco Silva à primeira volta. Esta eventualidade deixa-me triste... mas, em vez de procurar responsáveis e culpados, o que me parece mais importante, se isso se concretizar, é que a esquerda e, sobretudo, o PS faça a sua auto-crítica e procure avaliar, sem preconceitos, o que correu mal.

E o que correu mal não foi tanto o facto de haver dois candidatos saídos do PS ou tantos candidatos da esquerda; o que correu mal foi o PS e/ou a esquerda não ter sido capaz de apresentar um candidato vencedor. Isso é que é preocupante: a incapacidade para encontrar alguém que seja capaz de se bater de igual para igual com um desajeitado e nada carismático Cavaco Silva.

Mas também vale a pena pensar porque é que num país como Portugal, onde ainda resta tanto por fazer, a maioria do eleitorado continua a preferir a rigidez e a tecnocracia aos valores da Democracia e dos Direitos Humanos; porque é que num país como Portugal, onde vive um povo que tanto merece, o eleitorado continua a preferir as leis da economia neoliberal aos valores enriquecedores da Liberdade, da Justiça e da Solidariedade; porque é que num país como Portugal, cuja história permite retirar tantas lições, o eleitorado continua a preferir o centrismo estagnante à natureza transformadora do Socialismo Democrático.

Deixo as respostas para quem as tenha... eu, por cá, vou continuar a festejar a maravilhosa vitória de Michelle Bachelet no país que, num malfadado 11 de Setembro, foi sequestrado por Pinochet. Porque é preciso continuar a acreditar que a História nunca pode ser travada!