31.12.03
«Se me puderes ouvir»
O poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui
à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer
segredamos
mas se hoje me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo
de Tolentino Mendonça, «Baldios» (ed. Assírio & Alvim)
para 2004: um bom Ano!
Leituras de fim de ano
Nem sempre concordo com Francisco José Viegas (apesar de, mesmo nesses momentos, me fazer reflectir). Mas, agora, ao fechar o pano de 2003, descubro mais razões para o aplaudir. Preto no branco, Viegas fala-nos de «estrangeiros e emigrantes». Deixo um breve excerto de um texto que merece leitura na íntegra: «Portugal, nessas duas décadas prodigiosas (retiro a expressão a António Barreto) utilizou a emigração como motor de desenvolvimento. Fez pontes e estádios com fundos europeus e emigrantes de Leste e de África. Nem sempre tratou bem esta gente. Se um dos partidos da coligação no governo se prepara para adoptar políticas de exclusão em relação à emigração e aos emigrantes, isso constitui – claramente – uma pulhice. Política e humanitária.»
30.12.03
A agenda de jornalistas da Política (ou o PP infiltrado no PS)
Há um fenómeno na comunicação social que se vira muitas vezes contra os próprios jornalistas. Quando se pensa em alguém para falar sobre determinado assunto, por preguicite ou uma agenda "curta", ouvem-se sempre os mesmos "peritos". Quantas vezes, em questões ligadas à Igreja católica, não ouvi já na redacção a dica "telefona ao D. Januário", como se não houvesse mais nenhuma pessoa interessante para ouvir para além do bispo das Forças Armadas (apesar de ser, em muitos casos, o único bispo disponível para falar - mas isso é outro assunto).
Depois, há o fenómeno contrário. Aqueles que têm lugar cativo na imprensa, mesmo que nunca se perceba a sua importância ou representatividade. Por exemplo, Cláudio Anaia é uma personagem com lugar cativo nalgumas secções de Política. O jovem diz-se representante dos jovens socialistas católicos (what?) e sempre que se fala do aborto, lá vem o rapaz pulando e saltando ao melhor estilo "PP" (mas sem a verve de Bagão) a zurzir nos seus supostos camaradas de partido. Contra Sampaio, contra Ferro, contra o PS. Ele diz representar mais de 100 jovens. Nunca ninguém os viu. Supostamente, esta "tendência socialista" esteve agora reunida em Beja - cerca de 30 pessoas, dizem os jornais - para bater em Sampaio e no indulto deste à enfermeira da Maia.
Quatro perplexidades:
1. Não há jovens socialistas católicos. Há católicos que, politicamente, serão socialistas ou votarão à esquerda. É a velha confusão, pré-conciliar, da presença da Igreja no mundo, daqueles que querem ter um jornal católico, uma televisão católica, um partido católico (ou democrata-cristão)...
2. A democracia interna desta suposta tendência é fantástica. Em anos, nunca ninguém assumiu a "alternância" na liderança daquele alegado grupo... Cláudio sucede a Anaia que sucede a Cláudio que sucede a Anaia.
3. Há grupos e movimentos organizados, católicos, que dentro da comunidade da Igreja procuram reflectir sobre o mundo (e também sobre o aborto). Eu que passei por alguns destes espaços, sei da dificuldade em fazer passar esses debates para o exterior, para a comunicação social (sempre pouco receptiva). E esses grupos "mexem" com muito mais gente que aqueles supostos jovens socialistas católicos.
4. Sobra a perplexidade ideológica: Cláudio Anaia, discípulo confesso e dilecto de Bagão (assim ele se apresenta, desde os tempos em que o actual ministro do Trabalho era a Comissão Nacional de Justiça e Paz e Anaia os jovens da CNJP), está mais próximo da cartilha de Portas, Telmo, Bagão e companhia. Então: por que insiste ele em ser militante socialista?
Depois, há o fenómeno contrário. Aqueles que têm lugar cativo na imprensa, mesmo que nunca se perceba a sua importância ou representatividade. Por exemplo, Cláudio Anaia é uma personagem com lugar cativo nalgumas secções de Política. O jovem diz-se representante dos jovens socialistas católicos (what?) e sempre que se fala do aborto, lá vem o rapaz pulando e saltando ao melhor estilo "PP" (mas sem a verve de Bagão) a zurzir nos seus supostos camaradas de partido. Contra Sampaio, contra Ferro, contra o PS. Ele diz representar mais de 100 jovens. Nunca ninguém os viu. Supostamente, esta "tendência socialista" esteve agora reunida em Beja - cerca de 30 pessoas, dizem os jornais - para bater em Sampaio e no indulto deste à enfermeira da Maia.
Quatro perplexidades:
1. Não há jovens socialistas católicos. Há católicos que, politicamente, serão socialistas ou votarão à esquerda. É a velha confusão, pré-conciliar, da presença da Igreja no mundo, daqueles que querem ter um jornal católico, uma televisão católica, um partido católico (ou democrata-cristão)...
2. A democracia interna desta suposta tendência é fantástica. Em anos, nunca ninguém assumiu a "alternância" na liderança daquele alegado grupo... Cláudio sucede a Anaia que sucede a Cláudio que sucede a Anaia.
3. Há grupos e movimentos organizados, católicos, que dentro da comunidade da Igreja procuram reflectir sobre o mundo (e também sobre o aborto). Eu que passei por alguns destes espaços, sei da dificuldade em fazer passar esses debates para o exterior, para a comunicação social (sempre pouco receptiva). E esses grupos "mexem" com muito mais gente que aqueles supostos jovens socialistas católicos.
4. Sobra a perplexidade ideológica: Cláudio Anaia, discípulo confesso e dilecto de Bagão (assim ele se apresenta, desde os tempos em que o actual ministro do Trabalho era a Comissão Nacional de Justiça e Paz e Anaia os jovens da CNJP), está mais próximo da cartilha de Portas, Telmo, Bagão e companhia. Então: por que insiste ele em ser militante socialista?
Durão na Cibertúlia
Algures, lá atrás, numa diatribe anti-blogspot, prometi mudanças, aqui no blogue da casa. Ficaram por cumprir em 2003. Prometo cumpri-las no primeiro mês de 2004, muito antes de qualquer promessa do primeiro-ministro (que tem uma qualquer fixação com 2007 e seguintes).
O mundo ao contrário
Lá em casa, no Natal, a M. recebeu um «Moleskine» e eu um avental. O terceiro...
Senhor, fomos roubados
O "boneco" aparece hoje em vários jornais. Durão Barroso, na viagem experimental do Metropolitano de Lisboa pelas novas estações da linha amarela, é fotografado numa carruagem que indica a próxima paragem - «Senhor Roubado». A legenda não lhe encaixa, claro. Nós é que nos sentimos roubados.
29.12.03
Tréguas de Natal
Não existem. Em parte alguma, como lembrou o Diogo. Hoje, uma vez mais, aí está um episódio de justiça-verdadeira, como alguma blogosfera gosta de apregoar: uma fuga de informação deu a conhecer que dez dos 13 arguidos da Casa Pia serão acusados. Só depois seguiu a notificação à defesa. O senhor João Guerra, procurador do caso, parece seleccionar bem as suas fugas de informação - ou também me vão dizer que foi a defesa a fazê-lo?!
O Pai Natal visitou-nos
À meia-noite da noite de Natal, a Cibertúlia teve um visitante. À hora da missa do galo ou quando se abrem as prendas ou quando se cantam as noites de inverno ou quando apenas nos confortamos e empaturramos entre doces e vinho, alguém desceu pela nossa chaminé e depositou aqui um "clique". Terá sido a Virgem grávida de Paula Rego que o chamou? Ou a solidão também se escreve no computador nestas noites mágicas?
Longe da vista, perto do sobrinho
Isaltino Morais, ex-ministro das Cidades e das contas bancárias na Suíça, faz hoje 54 anos.
27.12.03
Entre o Natal e o Ano Novo
Esta é daquelas épocas do ano em que melhor sabe não fazer nada... Passado o reboliço da Consoada, do bacalhau e das rabanadas, da troca de prendas e da Missa do Galo, das deslocações entre as casas de uns e de outros, sabe bem esta calma que antecede o novo reboliço do réveillon!
Ainda para mais, estou em Guimarães e isso muda tudo.
Ontem dediquei-me a visitar amigos, aproveitando o facto de ter onde e com quem deixar o Francisco e a Meg. Passei a tarde num café, à conversa com um grupo de amigos e a noite em casa de outros amigos. O tempo vai pasando e nem dou por isso. Mas também não estou peocupado. E isso é bom!
Isto é o que eu chamo férias! Longe do calor impossível do verão algarvio e do stress das viagens de avião que nos levam aos destinos de sonho. Isto sim, são férias!
Pena que os jornais insistam em trazer-nos as más notícias... Do terramoto no Irão, à explosão na China, passando pela queda do avião no Benim e pelos acidentes nas estradas portuguesas. E do Iraque e da Palestina e do Paquistão. Este ano, as más notícias chegaram até de Marte!
E, sobretudo, de Portugal. O país, visto do Norte, tem um aspecto diferente, mas os traços são os mesmos. Ele são as falências das empresas por causa da crise, as promoções antecipadas por causa da crise, os aumentos salariais ridículos por causa da crise, o aumento do desemprego por causa da crise, o natal pobrezinho por causa da crise... A crise em Portugal tem nome de mulher (Manuela Ferreira Leite) mas a causa da crise tem nome de homem (José Manuel Durão Barroso).
Enfim... hoje não me apetece falar de desgraças. Estou de férias. Estou em Guimarães. Os cheiros dos doces de natal ainda enchem a sala de jantar. A agitação do ano novo ainda vai ter de esperar. O tempo passa devagar e eu estou contente.
Vou ter com o meu filho, sentar-me no sofá e ver televisão. Qualquer coisa que esteja a dar na televisão.
Ainda para mais, estou em Guimarães e isso muda tudo.
Ontem dediquei-me a visitar amigos, aproveitando o facto de ter onde e com quem deixar o Francisco e a Meg. Passei a tarde num café, à conversa com um grupo de amigos e a noite em casa de outros amigos. O tempo vai pasando e nem dou por isso. Mas também não estou peocupado. E isso é bom!
Isto é o que eu chamo férias! Longe do calor impossível do verão algarvio e do stress das viagens de avião que nos levam aos destinos de sonho. Isto sim, são férias!
Pena que os jornais insistam em trazer-nos as más notícias... Do terramoto no Irão, à explosão na China, passando pela queda do avião no Benim e pelos acidentes nas estradas portuguesas. E do Iraque e da Palestina e do Paquistão. Este ano, as más notícias chegaram até de Marte!
E, sobretudo, de Portugal. O país, visto do Norte, tem um aspecto diferente, mas os traços são os mesmos. Ele são as falências das empresas por causa da crise, as promoções antecipadas por causa da crise, os aumentos salariais ridículos por causa da crise, o aumento do desemprego por causa da crise, o natal pobrezinho por causa da crise... A crise em Portugal tem nome de mulher (Manuela Ferreira Leite) mas a causa da crise tem nome de homem (José Manuel Durão Barroso).
Enfim... hoje não me apetece falar de desgraças. Estou de férias. Estou em Guimarães. Os cheiros dos doces de natal ainda enchem a sala de jantar. A agitação do ano novo ainda vai ter de esperar. O tempo passa devagar e eu estou contente.
Vou ter com o meu filho, sentar-me no sofá e ver televisão. Qualquer coisa que esteja a dar na televisão.
24.12.03
23.12.03
Ei, o que é aquilo no Céu?
Bom pessoal, a todos o meu desejos de um Bom Natal. Agora tenho que ir seguir uma estrela brilhante que de repente surgiu no céu... assim que conseguir deixar o estacionamento com o meu camelo, ir a uma grande superficie comercial comprar ouro, ou esmirna... se ainda não tiverem esgotado. |
22.12.03
O eixo do mal (antes da noite do Bem)
Há dois pesos e duas medidas na leitura dos dias. Diz-nos, brilhantemente, o Diogo, já aqui em baixo. José Manuel Fernandes não é só paladino da ocupação do Iraque. É o melhor exemplo de quem tem muitos pesos e muitas medidas (explica Diogo), talhados pelo alfaiate das conveniências políticas.
À reflexão aqui apresentada acrescento uma outra, antes do "sumiço" que levaremos todos em noites de Natal: por estes dias, foi divulgada uma importante notícia sobre a adesão da Líbia ao tratado de não-proliferação de armas nucleares e ao abandono de qualquer empenho na concretização de um programa de armas de destruição (ainda que, observem os peritos internacionais, faltasse muito à Líbia e a Kadhafi para obterem qualquer destas armas e que só o conseguiriam com ajuda externa).
O silêncio de quem defendeu a guerra contra o Iraque (JMF, incluído) sobre esta notícia explica-se facilmente: durante nove meses, os Estados Unidos preferiram a via negocial, do diálogo e (horror dos horrores!) da solução pacífica para um problema que, ainda não existindo, poderia acontecer. Sabiamente, a CIA negociou e arrematou uma paz duradoura no Norte de África, com uma ditadura sanguinária, capaz de muitas atrocidades (ou será que JMF também a "desvaloriza", comparando com Saddam, esse novo Estaline ou Hitler, como a Direita agora gosta de dizer?).
No Iraque, atrevemo-nos a dizer, a paz era possível sem a guerra, a queda de Saddam seria uma etapa inevitável com outros compromissos que fossem assumidos pelos Estados Unidos e pela Inglaterra. Mas a pressa do petróleo e os dólares da reconstrução voaram mais rápidas que a própria sombra das nunca-encontradas-armas...
A (des)propósito de Estaline e dos dois pesos e duas medidas, muita blogosfera (também à Direita), tem rejubilado com o novo romance de Martin Amis, «Koba, o Terrível». Por causa do retrato impiedoso do estalinismo. Pena que não se lembrem também de «Experiência», como recordou Mário Mesquita no Público, onde escreve: «O Texas não parece, por vezes, assemelhar-se à Arábia Saudita, com o seu calor, a sua riqueza petrolífera, os seus lugares de culto transbordantes e as suas execuções semanais?».
À reflexão aqui apresentada acrescento uma outra, antes do "sumiço" que levaremos todos em noites de Natal: por estes dias, foi divulgada uma importante notícia sobre a adesão da Líbia ao tratado de não-proliferação de armas nucleares e ao abandono de qualquer empenho na concretização de um programa de armas de destruição (ainda que, observem os peritos internacionais, faltasse muito à Líbia e a Kadhafi para obterem qualquer destas armas e que só o conseguiriam com ajuda externa).
O silêncio de quem defendeu a guerra contra o Iraque (JMF, incluído) sobre esta notícia explica-se facilmente: durante nove meses, os Estados Unidos preferiram a via negocial, do diálogo e (horror dos horrores!) da solução pacífica para um problema que, ainda não existindo, poderia acontecer. Sabiamente, a CIA negociou e arrematou uma paz duradoura no Norte de África, com uma ditadura sanguinária, capaz de muitas atrocidades (ou será que JMF também a "desvaloriza", comparando com Saddam, esse novo Estaline ou Hitler, como a Direita agora gosta de dizer?).
No Iraque, atrevemo-nos a dizer, a paz era possível sem a guerra, a queda de Saddam seria uma etapa inevitável com outros compromissos que fossem assumidos pelos Estados Unidos e pela Inglaterra. Mas a pressa do petróleo e os dólares da reconstrução voaram mais rápidas que a própria sombra das nunca-encontradas-armas...
A (des)propósito de Estaline e dos dois pesos e duas medidas, muita blogosfera (também à Direita), tem rejubilado com o novo romance de Martin Amis, «Koba, o Terrível». Por causa do retrato impiedoso do estalinismo. Pena que não se lembrem também de «Experiência», como recordou Mário Mesquita no Público, onde escreve: «O Texas não parece, por vezes, assemelhar-se à Arábia Saudita, com o seu calor, a sua riqueza petrolífera, os seus lugares de culto transbordantes e as suas execuções semanais?».
Luanda, Lisboa e Washington
José Manuel Fernandes, "paladino da ocupação do Iraque" nas palavras do Miguel Marujo, e uma das pessoas para cujos rendimentos mais lamento contribuir, assina o Editorial da edição do Público de hoje. O texto intitula-se «Durão no casamento de Luanda» e, basicamente, diz o seguinte: «Num país onde se morre de fome e que depende da ajuda internacional, uma festa com o luxo da do casamento da filha de José Eduardo dos Santos é um escândalo. Mas que contou com a participação cúmplice de Durão Barroso. Que vergonha...»
Desengane-se quem chegou a pensar que me preparo para defender José Eduardo dos Santos da opinião de José Manuel Fernandes. Deus me livre! Mas, não consigo deixar de perguntar a mim mesmo e a quem ler estas linhas a razão de, aparentemente, a Rua Viriato ter tão boa vista para Luanda e tanto nevoeiro a encobrir a vista do resto da cidade de Lisboa. Ou de Washington.
Porque é que JMF se envergonha da viagem privada, de "amigo", de Durão Barroso a Luanda e não se envergonhou, da mesma forma, da viagem oficial, de "aliado", de Durão Barroso à Base das Lajes?
Porque é que JMF acha escandaloso o luxo do casamento de Tchizé e não achou, da mesma forma, escandaloso o luxo do aparato militar utilizado nos bombardeamentos, invasão e ocupação do Iraque?
Porque é que JMF tem palavras tão duras para com este acto de Durão Barroso, quando foi, ele próprio, cúmplice do envio de "tropas" pagas a peso de ouro a partir de um país onde o salário mínimo não chega a 360 Euros por mês?
Acaso nos EUA e em Portugal não se morre de fome? Ou de frio? Ou será que a miséria dos angolanos vale mais que a dos norte-americanos e dos portugueses? Ou os angolanos dizimados pela guerra valem mais que os soldados norte-americanos e os civis iraquianos a quem acontece o mesmo?
Confesso que não entendo.
Que o primeiro-ministro português se deveria abster de praticar actos de vassalagem junto de José Eduardo dos Santos, eu entendo. O que não entendo é a razão pela qual JMF não faz o mesmo raciocínio quando o acto de vassalagem tem no seu centro um senhor chamado George W. Bush...
Porque JMF é mesmo assim. Tal como acusa os outros de fazer, tem vários pesos e várias medidas. Não se preocupa muito com a coerência de pensamento e de discurso, desde que o que pensa e escreve sirva para defender e alimentar a sua visão do mundo, feita a preto-e-branco, e da humanidade, dividida entre bons (os seus) e maus (os outros). JMF é daqueles que não teria hesitado em lançar a primeira pedra... mas talvez escrevesse um editorial contra a pena de morte no dia seguinte.
JMF dirige um dos melhores jornais portugueses com uma tiragem média que ronda os 70.000 exemplares; JMF foi colocado no pedestal dos comentadores televisivos e radiofónicos; JMF modera debates, comenta conferências e apresenta livros. JMF há-de ter algumas qualidades, mas isso não o coloca acima dos comuns dos mortais. Como jornalista profissional que é, deveria, ele também, abster-se de praticar actos de tal arbitrariedade.
Desengane-se quem chegou a pensar que me preparo para defender José Eduardo dos Santos da opinião de José Manuel Fernandes. Deus me livre! Mas, não consigo deixar de perguntar a mim mesmo e a quem ler estas linhas a razão de, aparentemente, a Rua Viriato ter tão boa vista para Luanda e tanto nevoeiro a encobrir a vista do resto da cidade de Lisboa. Ou de Washington.
Porque é que JMF se envergonha da viagem privada, de "amigo", de Durão Barroso a Luanda e não se envergonhou, da mesma forma, da viagem oficial, de "aliado", de Durão Barroso à Base das Lajes?
Porque é que JMF acha escandaloso o luxo do casamento de Tchizé e não achou, da mesma forma, escandaloso o luxo do aparato militar utilizado nos bombardeamentos, invasão e ocupação do Iraque?
Porque é que JMF tem palavras tão duras para com este acto de Durão Barroso, quando foi, ele próprio, cúmplice do envio de "tropas" pagas a peso de ouro a partir de um país onde o salário mínimo não chega a 360 Euros por mês?
Acaso nos EUA e em Portugal não se morre de fome? Ou de frio? Ou será que a miséria dos angolanos vale mais que a dos norte-americanos e dos portugueses? Ou os angolanos dizimados pela guerra valem mais que os soldados norte-americanos e os civis iraquianos a quem acontece o mesmo?
Confesso que não entendo.
Que o primeiro-ministro português se deveria abster de praticar actos de vassalagem junto de José Eduardo dos Santos, eu entendo. O que não entendo é a razão pela qual JMF não faz o mesmo raciocínio quando o acto de vassalagem tem no seu centro um senhor chamado George W. Bush...
Porque JMF é mesmo assim. Tal como acusa os outros de fazer, tem vários pesos e várias medidas. Não se preocupa muito com a coerência de pensamento e de discurso, desde que o que pensa e escreve sirva para defender e alimentar a sua visão do mundo, feita a preto-e-branco, e da humanidade, dividida entre bons (os seus) e maus (os outros). JMF é daqueles que não teria hesitado em lançar a primeira pedra... mas talvez escrevesse um editorial contra a pena de morte no dia seguinte.
JMF dirige um dos melhores jornais portugueses com uma tiragem média que ronda os 70.000 exemplares; JMF foi colocado no pedestal dos comentadores televisivos e radiofónicos; JMF modera debates, comenta conferências e apresenta livros. JMF há-de ter algumas qualidades, mas isso não o coloca acima dos comuns dos mortais. Como jornalista profissional que é, deveria, ele também, abster-se de praticar actos de tal arbitrariedade.
20.12.03
Isto é um assalto!
A história explica-se em duas linhas: há uma loja que "rouba" os clientes.
A S. fez o pagamento por multibanco, mas quando fez o "verde-código-verde" mecanicamente não confirmou que estava a pagar euros com zeros a mais. E há meses que espera pela devolução de cerca de 300 contos!
A loja tem coisas muito giras, é muito engraçada, mas um erro pode-nos ser fatal.
A «Art Wear» (C.C.Colombo e C.C.Vasco da Gama, Lisboa) é de evitar.
Mesmo com as coisas giras de Roy Lichtenstein que pululam pela loja...
19.12.03
Bush defende «revolução democrática» no Iraque
«Desde quarta-feira que os soldados americanos decidiram demonstrar a sua força pelas ruas de Samarra, cidade de sunitas que recusam a ocupação. Entraram com blindados em casas, esmagaram muros de escolas, prenderam e libertaram muitos habitantes.»
Estas palavras não foram escritas por mim. Nem por um qualquer perigoso esquerdista. Vêm na primeira página do diário dirigido por José Manuel Fernandes, paladino da ocupação do Iraque.
Estas palavras não foram escritas por mim. Nem por um qualquer perigoso esquerdista. Vêm na primeira página do diário dirigido por José Manuel Fernandes, paladino da ocupação do Iraque.
Nas salas de cinema esta semana...
... «Playtime» de Jacques Tati. Não percam, por nada deste mundo.
Fiquei contente...
... com a quantidade do que aqui se escreveu (ufff! duas vezes...). E há pano para mangas no que aqui se escreveu.
18.12.03
Há mesmo muitos!
Para vos provar que abortos há mesmo muitos, tomo a liberdade de citar aqui o Frederico Pombares. Este senhor, que eu não conheço, é um visionário. A 25 de Setembro, postava ele, no seu Blog de Notas, a seguinte pérola:
Novo referendo sobre o aborto.
Entretanto, ouve-se dizer que o país vai ser, de novo, referendado sobre o aborto. Ao que consegui apurar, a questão que será exposta aos cidadãos já está formulada e é aqui avançada em primeira mão. A saber:
Qual a sua opinião sobre o aborto?
a) Tem sido um bom primeiro-ministro.
b) Tem sido um primeiro-ministro ineficaz.
c) Nem sequer tem sido primeiro-ministro
O que é que eu vos dizia?!
Novo referendo sobre o aborto.
Entretanto, ouve-se dizer que o país vai ser, de novo, referendado sobre o aborto. Ao que consegui apurar, a questão que será exposta aos cidadãos já está formulada e é aqui avançada em primeira mão. A saber:
Qual a sua opinião sobre o aborto?
a) Tem sido um bom primeiro-ministro.
b) Tem sido um primeiro-ministro ineficaz.
c) Nem sequer tem sido primeiro-ministro
O que é que eu vos dizia?!
Abortos há muitos!
Já que toda a gente resolveu começar a mandar bitaites, eu também não quero ficar calado!
Quando eu era pequenino (ou menos gordo), na escola primária, chamava-se "aborto" às miúdas feias, aquelas que ninguém queria. Depois, mais tarde, "aborto" passou a ter outro significado. Na catequese diziam que era um coisa má. Que as mulheres más faziam. Na catequese nunca ninguém me disse o que era uma violação. Só fiquei a saber ao certo o que era uma violação quando vi, à escondida dos meus pais, um vídeo de um filme com o Dustin Hoffman chamado "Straw Dogs". Fiquei a perceber, nessa altura, que uma violação também é uma coisa má. Mas não estabeleci nenhuma ligação ao tema do "aborto". Nem à catequese. Depois, fui crescendo (e ficando mais gordo). E fui sabendo e entendendo outras coisas. E fui fazendo ligações. Um dia, chamaram-me para me pronunciar em referendo sobre a despenalizãção/liberalização do "aborto" que, nessa altura, se chamava IVG. Muita gente tentou convencer-me que, sendo eu católico, teria que votar "não". A verdade é que também aqui não vislumbrei qualquer ligação. Além disso, ser católico não quer dizer que não se tenha uma cabeça cheia de células ditas cinzentas que nos permitem pensar e fazer as nossas opções. Votei "sim". Entretanto, outros (alguns, na verdade, eram os mesmos) tentaram convencer-me de duas coisas: em primeiro lugar, corolário lógico dos acontecimentos passados, que eu não era um bom católico; em segundo lugar, que como os poucos portugueses que tinham ido votar tinham votado maioritariamente "não", então o assunto estava arrumado.
O problema, meus amigos, é que o assunto não está arrumado. Mesmo que o número de votantes tivesse sido superior a 50% dos eleitores inscritos, nenhuma decisão tomada por referendo é imutável. Era o que faltava! Se os deputados são eleitos de quatro em quatro anos e o Presidente da República de cinco em cinco, porque raio é que o resultado de um referendo haveria de ser eternamente válido?!
Hoje passei muito tempo no trânsito de Lisboa e, por isso, pude seguir, através da TSF, o debate no Parlamento. O PSD bem pode tentar disfarçar como quiser e puder, mas a verdade é que já ninguém duvida que quem manda na coligação é mesmo o PP. O outro PP, o Pacheco Pereira, bem avisou. O topo de gama desta tentativa de disfarce do PSD chegou esta semana por via do Nobre Guedes e foi hoje repetido por Durão Barroso no Parlamento: no PSD ninguém parece estar de acordo com a criminalização do aborto, mas, seja como for, a lei não vai mudar, pelo menos durante esta legislatura. Há duas razões para que isto não aconteça: uma verdadeira e outra falsa. A verdadeira é que o PSD sabe que enquanto tiver o PP como parceiro de coligação governamental não vai poder fazer nada sem a sua autorização; a falsa é a que Durão Barroso hoje utilizou: existe um compromisso eleitoral que impede o PSD de mexer na lei...
Será que o Dr. Durão Barroso é mesmo tão estúpido como aparenta ser? Ou será que decidiu começar a cumprir as promessas eleitorais? A mim, dava-me jeito que fosse esta última, porque desde que decidi não fazer um aborto e aceitar o Francisco no meu colo quando os médicos o tiraram do ventre da Inês, tenho-me farto de gastar dinheiro em fraldas... Um choque fiscal vinha mesmo a calhar!
Quando eu era pequenino (ou menos gordo), na escola primária, chamava-se "aborto" às miúdas feias, aquelas que ninguém queria. Depois, mais tarde, "aborto" passou a ter outro significado. Na catequese diziam que era um coisa má. Que as mulheres más faziam. Na catequese nunca ninguém me disse o que era uma violação. Só fiquei a saber ao certo o que era uma violação quando vi, à escondida dos meus pais, um vídeo de um filme com o Dustin Hoffman chamado "Straw Dogs". Fiquei a perceber, nessa altura, que uma violação também é uma coisa má. Mas não estabeleci nenhuma ligação ao tema do "aborto". Nem à catequese. Depois, fui crescendo (e ficando mais gordo). E fui sabendo e entendendo outras coisas. E fui fazendo ligações. Um dia, chamaram-me para me pronunciar em referendo sobre a despenalizãção/liberalização do "aborto" que, nessa altura, se chamava IVG. Muita gente tentou convencer-me que, sendo eu católico, teria que votar "não". A verdade é que também aqui não vislumbrei qualquer ligação. Além disso, ser católico não quer dizer que não se tenha uma cabeça cheia de células ditas cinzentas que nos permitem pensar e fazer as nossas opções. Votei "sim". Entretanto, outros (alguns, na verdade, eram os mesmos) tentaram convencer-me de duas coisas: em primeiro lugar, corolário lógico dos acontecimentos passados, que eu não era um bom católico; em segundo lugar, que como os poucos portugueses que tinham ido votar tinham votado maioritariamente "não", então o assunto estava arrumado.
O problema, meus amigos, é que o assunto não está arrumado. Mesmo que o número de votantes tivesse sido superior a 50% dos eleitores inscritos, nenhuma decisão tomada por referendo é imutável. Era o que faltava! Se os deputados são eleitos de quatro em quatro anos e o Presidente da República de cinco em cinco, porque raio é que o resultado de um referendo haveria de ser eternamente válido?!
Hoje passei muito tempo no trânsito de Lisboa e, por isso, pude seguir, através da TSF, o debate no Parlamento. O PSD bem pode tentar disfarçar como quiser e puder, mas a verdade é que já ninguém duvida que quem manda na coligação é mesmo o PP. O outro PP, o Pacheco Pereira, bem avisou. O topo de gama desta tentativa de disfarce do PSD chegou esta semana por via do Nobre Guedes e foi hoje repetido por Durão Barroso no Parlamento: no PSD ninguém parece estar de acordo com a criminalização do aborto, mas, seja como for, a lei não vai mudar, pelo menos durante esta legislatura. Há duas razões para que isto não aconteça: uma verdadeira e outra falsa. A verdadeira é que o PSD sabe que enquanto tiver o PP como parceiro de coligação governamental não vai poder fazer nada sem a sua autorização; a falsa é a que Durão Barroso hoje utilizou: existe um compromisso eleitoral que impede o PSD de mexer na lei...
Será que o Dr. Durão Barroso é mesmo tão estúpido como aparenta ser? Ou será que decidiu começar a cumprir as promessas eleitorais? A mim, dava-me jeito que fosse esta última, porque desde que decidi não fazer um aborto e aceitar o Francisco no meu colo quando os médicos o tiraram do ventre da Inês, tenho-me farto de gastar dinheiro em fraldas... Um choque fiscal vinha mesmo a calhar!
Assim de repente que tenho que sair...
Pois é, pois é... o Aborto outra vez.
Significa apenas que enquanto esta questão não for convenientemente discutida pela sociedade portuguesa tenderá sempre a renascer das cinzas. Pergunta-se: Se no referendo sobre o assunto o "Não" ganhou porque é que se volta à questão? Pois precisamente porque os "Sim"'s não ficaram convencidos. Mas fiquem certos de uma coisa: se, em novo referendo, o "Sim" ganhar, o "Não" voltará periodicamente à carga até levar a sua avante... e assim sucessivamente.
Eu pessoalmente...
... sou, para já, contra a liberalização do aborto. Lá que "des-criminalizem" tudo bem. Mas "des-penalizar" é que não. Isto porque sou bastante céptico em relação às situações que foram propostas para se permitir legalmente o aborto. Acreditem que tenho um terror absoluto que o aborto se torne um método contraceptivo "à-posteriori", uma espécie de pilula do mês seguinte.
Dizem-me:
"Uma mulher não aborta assim tão levianamente. Abortar é um trauma demasiado grande para isso.". Não sei se será assim. Já vi muitas entrevistas em telejornais a mulheres que abortaram porque "já tinham x filhos, o marido abandonou-me, e eu não tinha condições para ter outro.". Ora parece-me que nestas condições é que não. Se não tem condições entrega para adopção. Se o sistema de adopções em Portugal é incompetente, injusto, moroso então vamos todos lutar por um sistema melhor. Não optemos pela solução mais simples.
Parece-me que muitas das situações que levam ao aborto têm origem na má Segurança Social que temos, no deficiente acompanhamento a jovens mães, a mulheres violadas, a mulheres toxicodependentes. Acuso também as mentalidades retrógadas da nossa sociedade que ainda hojem condenam mães solteiras. Acuso a mentalidade dos que fazem juizos de felicidade, à priori, baseados na perfeição do filho por nascer. Acuso a sociedade por apoiar tão pouco os deficientes, discriminá-los mesmo, que leva muitos pais a pensarem que o filho nunca terá hipoteses de "ser alguém".
Reli o que escrevi e se calhar não era bem isto que queria dizer, ou poderia ter dito por outras palavras, ou se calhar estou a ser injusto. Provavelmente o que estou a precisar é de uma discussão séria sobre o assunto, sem lirismos, nem radicalismos. Talvez ficasse mais convencido...
Deixo aqui também a última frase do João:
"Não deixa de ser irónico, que este tema apareça por altura do Natal."
Pois precisamente quando se celebra o um nascimento...
Nota:
Sobre "des-criminalizar" ou "des-penalizar" não me puxa muito para a discussão. Eu não acho que a mulher que aborta é criminosa. Acho que quando alguém aborta a sociedade falhou por não dar alternativas. Dar a opção de aborto a alguém parece-me muito menos solidário.
Tenho que sair(!!!!!)...
... para ir buscar a minha filha, a inês, à creche e não tenho tempo para rever melhor o texto de algumas ideias... portantos vai mesmo assim. Se calhar não devia Postar um assunto tão melindroso... olha, azar. O que vale é que pela net ninguém me bate. E sempre posso voltar ao tema mais tarde... ou não.
Significa apenas que enquanto esta questão não for convenientemente discutida pela sociedade portuguesa tenderá sempre a renascer das cinzas. Pergunta-se: Se no referendo sobre o assunto o "Não" ganhou porque é que se volta à questão? Pois precisamente porque os "Sim"'s não ficaram convencidos. Mas fiquem certos de uma coisa: se, em novo referendo, o "Sim" ganhar, o "Não" voltará periodicamente à carga até levar a sua avante... e assim sucessivamente.
Eu pessoalmente...
... sou, para já, contra a liberalização do aborto. Lá que "des-criminalizem" tudo bem. Mas "des-penalizar" é que não. Isto porque sou bastante céptico em relação às situações que foram propostas para se permitir legalmente o aborto. Acreditem que tenho um terror absoluto que o aborto se torne um método contraceptivo "à-posteriori", uma espécie de pilula do mês seguinte.
Dizem-me:
"Uma mulher não aborta assim tão levianamente. Abortar é um trauma demasiado grande para isso.". Não sei se será assim. Já vi muitas entrevistas em telejornais a mulheres que abortaram porque "já tinham x filhos, o marido abandonou-me, e eu não tinha condições para ter outro.". Ora parece-me que nestas condições é que não. Se não tem condições entrega para adopção. Se o sistema de adopções em Portugal é incompetente, injusto, moroso então vamos todos lutar por um sistema melhor. Não optemos pela solução mais simples.
Parece-me que muitas das situações que levam ao aborto têm origem na má Segurança Social que temos, no deficiente acompanhamento a jovens mães, a mulheres violadas, a mulheres toxicodependentes. Acuso também as mentalidades retrógadas da nossa sociedade que ainda hojem condenam mães solteiras. Acuso a mentalidade dos que fazem juizos de felicidade, à priori, baseados na perfeição do filho por nascer. Acuso a sociedade por apoiar tão pouco os deficientes, discriminá-los mesmo, que leva muitos pais a pensarem que o filho nunca terá hipoteses de "ser alguém".
Reli o que escrevi e se calhar não era bem isto que queria dizer, ou poderia ter dito por outras palavras, ou se calhar estou a ser injusto. Provavelmente o que estou a precisar é de uma discussão séria sobre o assunto, sem lirismos, nem radicalismos. Talvez ficasse mais convencido...
Deixo aqui também a última frase do João:
"Não deixa de ser irónico, que este tema apareça por altura do Natal."
Pois precisamente quando se celebra o um nascimento...
Nota:
Sobre "des-criminalizar" ou "des-penalizar" não me puxa muito para a discussão. Eu não acho que a mulher que aborta é criminosa. Acho que quando alguém aborta a sociedade falhou por não dar alternativas. Dar a opção de aborto a alguém parece-me muito menos solidário.
Tenho que sair(!!!!!)...
... para ir buscar a minha filha, a inês, à creche e não tenho tempo para rever melhor o texto de algumas ideias... portantos vai mesmo assim. Se calhar não devia Postar um assunto tão melindroso... olha, azar. O que vale é que pela net ninguém me bate. E sempre posso voltar ao tema mais tarde... ou não.
Tristezas e distâncias
Para que o Miguel não fique a falar sozinho... explicações para a minha ausência:
1. por vezes perco algum tempo em ascese.
2. desde o dia em que o Ministro da Cultura foi ao "Prós e Contras" da RTP e... gaguejou... que fiquei em estado considerado grave de descrença e perplexidade. Tirem-me deste país! Fiquei sem capacidade de escrever... desculpas pedidas à Cibertúlia!
1. por vezes perco algum tempo em ascese.
2. desde o dia em que o Ministro da Cultura foi ao "Prós e Contras" da RTP e... gaguejou... que fiquei em estado considerado grave de descrença e perplexidade. Tirem-me deste país! Fiquei sem capacidade de escrever... desculpas pedidas à Cibertúlia!
Ufff...
... já julgava que esta tertúlia estava transformada em púlpito de uma voz só. Aí estão as palavras do João Borges. Venham lá mais!
Voltámos ao mesmo !
Desde o tempo em que a Zita Seabra era deputada de esquerda (aos anos a que isto foi) que esta discussão surge. A do aborto. É um tema recorrente, e muitas vezes mal tratado. Eu sou claramente pelo direito de opção (dos pais), e gostava que não ficassem dúvidas sobre isso. O papel que sistematicamente a igreja recusa ter neste debate, é assustador.
Estamos perante um dos "muros da razão", das verdades absolutas, dos sem alma ! Não são uns melhores nem piores que os outros, são só cobardes se não tiverem a frontalidade de debater o tema, de aceitar o outro (lembram-se?).
Não deixa de ser irónico, que este tema apareça por altura do Natal.
Estamos perante um dos "muros da razão", das verdades absolutas, dos sem alma ! Não são uns melhores nem piores que os outros, são só cobardes se não tiverem a frontalidade de debater o tema, de aceitar o outro (lembram-se?).
Não deixa de ser irónico, que este tema apareça por altura do Natal.
Para compreender (melhor) o mundo
Como as ideias pré-concebidas desajudam a ler as coisas deste mundo, há um blogue (recente) muito interessante e que começo a descobrir. Tem muito para ler e... aprender. Vale a pena passar por esta rua da Judiaria.
A direita não gosta da Europa, mesmo
O problema não é Chirac ou Schroeder. O problema é a Europa. Paulo Teixeira Pinto, ideólogo do cavaquismo (em todo o seu esplendor de verdadeira salganhada ideológica: nacionalista, monárquico e "laranja"), escreve sobre a Constituição Europeia e Saddam: «A única pena que ensombrou a magnífica novidade do desaparecimento da Constituição Europeia foi, curiosamente, outra boa notícia, ou seja, a tal detenção do histórico aliado do Presidente daquela Nação que nos séculos XVIII e XIX proclamava ao mundo o iluminismo ao mesmo tempo que invadia e saqueava outros Estados, entre os quais Portugal» [sublinhado nosso].
Veja-se a História reescrita em todo o seu esplendor: Saddam «histórico aliado» da França - e não dos EUA, que o alimentaram durante anos e anos. E o iluminismo reduzido a um movimento expansionista na Europa. Que dizer então do "novo iluminismo bushiano", que proclama ao mundo os direitos humanos e todos os dias os atropela em Guantanamo e nos seus corredores da morte?
Mas há sapos curiosos que o discurso nacionalista tem de engolir: para atacar Chirac, elogia-se Castela (peço desculpa: Espanha). O caminho para estas e outras redentoras ideias é aqui...
Veja-se a História reescrita em todo o seu esplendor: Saddam «histórico aliado» da França - e não dos EUA, que o alimentaram durante anos e anos. E o iluminismo reduzido a um movimento expansionista na Europa. Que dizer então do "novo iluminismo bushiano", que proclama ao mundo os direitos humanos e todos os dias os atropela em Guantanamo e nos seus corredores da morte?
Mas há sapos curiosos que o discurso nacionalista tem de engolir: para atacar Chirac, elogia-se Castela (peço desculpa: Espanha). O caminho para estas e outras redentoras ideias é aqui...
A Cibertúlia - pelas suas leitoras
Ao nosso e-mail chegou-nos este sem protesto:
«Para vos dizer que os v/ textos são límpidos e corajosos. Ajudam-me a suportar a hipocrisia das pessoas, das instituições, dos centros de Poder. É bom ler a v/ afirmação: "Nós tb somos Igreja".
Deixemos o musgo crescer nas paredes húmidas e espreitemos o sol. Continuem, não desistam.
[Maria]
(59 anos-na idade da desilusão)»
Muito obrigado.
Como não sabemos se a leitora desejava ser "publicada" optámos por a identificar apenas pelo primeiro nome.
«Para vos dizer que os v/ textos são límpidos e corajosos. Ajudam-me a suportar a hipocrisia das pessoas, das instituições, dos centros de Poder. É bom ler a v/ afirmação: "Nós tb somos Igreja".
Deixemos o musgo crescer nas paredes húmidas e espreitemos o sol. Continuem, não desistam.
[Maria]
(59 anos-na idade da desilusão)»
Muito obrigado.
Como não sabemos se a leitora desejava ser "publicada" optámos por a identificar apenas pelo primeiro nome.
17.12.03
«A» Igreja, dizem eles. Mas «nós somos Igreja»
Os bispos falaram em «a Igreja». A Agência Ecclesia faz-se eco de opiniões de uma parte da Igreja (eventuais médicos e enfermeiros católicos). E já está. Este é o pensamento da Igreja portuguesa. Não é. Há outros, muitos outros. Alguns desses dizem o óbvio, que os bispos parecem esquecer: «Nós (também) somos Igreja», os (muitos) rostos anónimos que passam por esta comunidade.
16.12.03
Lamento...
... pela oportunidade perdida de os senhores bispos iniciarem um debate sério e sereno sobre o aborto. Como fez, apesar de tudo, o bispo do Porto. E sem preconceitos "pró-vida". Todos somos pela vida.
[Voltarei ao tema.]
[Voltarei ao tema.]
A ideologia da Lusa
A Agência Lusa parece ter uns critérios estranhos na gestão das fotografias disponibilizadas (serviço reservado a assinantes).
Pesquisam-se imagens do julgamento em Aveiro de 17 pessoas por alegada prática de aborto e não aparecem quaisquer imagens. Entre as actividades registadas por fotógrafos da casa há muito futebol, claro. Esse notável acontecimento que foi, ontem, a «festa de Natal do FC Porto» tem direito a vários "bonecos".
Faz-se nova tentativa: escreve-se «Aborto» e surgem várias imagens de atentados anti-americanos no Iraque. Sem que a legenda das fotos em causa registe a palavra «aborto». Ideologia encapotada?
Pesquisam-se imagens do julgamento em Aveiro de 17 pessoas por alegada prática de aborto e não aparecem quaisquer imagens. Entre as actividades registadas por fotógrafos da casa há muito futebol, claro. Esse notável acontecimento que foi, ontem, a «festa de Natal do FC Porto» tem direito a vários "bonecos".
Faz-se nova tentativa: escreve-se «Aborto» e surgem várias imagens de atentados anti-americanos no Iraque. Sem que a legenda das fotos em causa registe a palavra «aborto». Ideologia encapotada?
A velha Europa
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, reiterou segunda-feira a oposição da Grã-Bretanha à pena de morte, mas afirmou que caberá «ao povo e ao governo iraquianos decidir» a pena a infligir ao ex-Presidente iraquiano Saddam Hussein. Já Washington não objectará a que o tribunal que os iraquianos estabelecerem para julgar Saddam Hussein possa aplicar a pena de morte, se for após um julgamento justo, declarou segunda-feira um alto funcionário do Departamento de Estado americano.
15.12.03
Para não esquecer o essencial
«Acabei de viver, no Iraque, dias de extraordinária intensidade, em comunhão com aquele que me enviou, o Papa João Paulo II. Raramente tive uma sensação tão forte, de que eu não era apenas o portador da sua mensagem de paz, mas que ele mesmo estava presente. Não fiz senão segui-lo pelo meio das comunidades cristãs, de todo o povo iraquiano, junto do Presidente Saddam Hussein, que manifestou uma intensa e profunda escuta da palavra viva que vem de Deus e que todos os crentes, descendentes de Abraão, recebem como o fermento mais seguro da paz.
Ao deixar esta terra, injustamente separada das outras, gostaria de ser mais do que o simples eco, o amplificador da aspiração de um País que tem urgente necessidade de paz.
Entre as grandes nuvens que se adensaram nos últimos tempos, abriu-se um pequeno clarão. Contudo, ninguém pode desanimar! A nova e breve trégua que se impôs deve ser utilizada por todos, integralmente e num espírito de confiança recíproca, para corresponder às exigências da comunidade internacional. O menor dos passos dos próximos dias tem o valor de um grande salto rumo à paz.
Sim, a paz ainda é possível no Iraque e para o Iraque. Volto para Roma, clamando-o mais vigorosamente do que nunca!»
Declaração do cardeal Roger Etchegaray, enviado do Papa João Paulo II, a partir de Bagdad, a 16 de Fevereiro de 2003. Outro que terá de tapar a cara, segundo o apóstolo da guerra Pedro.
Ao deixar esta terra, injustamente separada das outras, gostaria de ser mais do que o simples eco, o amplificador da aspiração de um País que tem urgente necessidade de paz.
Entre as grandes nuvens que se adensaram nos últimos tempos, abriu-se um pequeno clarão. Contudo, ninguém pode desanimar! A nova e breve trégua que se impôs deve ser utilizada por todos, integralmente e num espírito de confiança recíproca, para corresponder às exigências da comunidade internacional. O menor dos passos dos próximos dias tem o valor de um grande salto rumo à paz.
Sim, a paz ainda é possível no Iraque e para o Iraque. Volto para Roma, clamando-o mais vigorosamente do que nunca!»
Declaração do cardeal Roger Etchegaray, enviado do Papa João Paulo II, a partir de Bagdad, a 16 de Fevereiro de 2003. Outro que terá de tapar a cara, segundo o apóstolo da guerra Pedro.
Com a mentira me enganas
Pedro Lomba é incensado à direita e (mesmo) à esquerda. Parece que é bom nalgumas coisas que faz. Parece que sim. Mas quando fala de política - e quando cheira obsessivamente a flor da guerra - dá-lhe para o disparate. Puro e duro. Como aquele que escreve hoje no seu blogue:
«AFEGANISTÃO: Leio no Público de hoje que o Afeganistão vai começar a discutir a sua futura constituição. O Afeganistão é certamente um mundo de problemas. Mas o Afeganistão nunca teria chegado até aqui se não tivesse sido feita uma guerra. Um simples facto como este destrói por completa a consistência do pacifismo como ideologia política. Não me agrada dizer isto, mas quem andou nas ruas a gritar que todas as guerras são estúpidas devia, num momento como este, tapar a cara.»
Sim, Pedro, todas as guerras são estúpidas. E nunca taparei a cara, enquanto gritar que todas as guerras são estúpidas.
PS - Já se sabia: a boa notícia da prisão de Saddam é manipulada para nos atirar à cara a má notícia da guerra e da mentira que foi a guerra.
«AFEGANISTÃO: Leio no Público de hoje que o Afeganistão vai começar a discutir a sua futura constituição. O Afeganistão é certamente um mundo de problemas. Mas o Afeganistão nunca teria chegado até aqui se não tivesse sido feita uma guerra. Um simples facto como este destrói por completa a consistência do pacifismo como ideologia política. Não me agrada dizer isto, mas quem andou nas ruas a gritar que todas as guerras são estúpidas devia, num momento como este, tapar a cara.»
Sim, Pedro, todas as guerras são estúpidas. E nunca taparei a cara, enquanto gritar que todas as guerras são estúpidas.
PS - Já se sabia: a boa notícia da prisão de Saddam é manipulada para nos atirar à cara a má notícia da guerra e da mentira que foi a guerra.
Parabéns, companheiro!
O "nosso" companheiro secreto Tolentino faz hoje anos. Queria celebrá-lo aqui, mas um dos seus companheiros fê-lo com cumplicidade - e malícia. Deliciosa malícia. Parabéns, Tolentino!
Segunda-feira. De manhã
dói-me o joelho
dói-me parte do antebraço
dói-me a parte interna
de uma perna
e parte amiga
da barriga
que fadiga
o que é que eu faço?
escolho o baço ou o almoço?
vira o osso
dói o pescoço
é do excesso
do ex-sexo
alvoroço
perco o viço
já soluço
já sobrosso
esmiúço
os meus sintomas
e já agora, do meu médico
os diplomas
esmiúço
a consciência
e já agora, apresento a penitência
Ah que estou arrependido
de ter feito e de ter tido
ai coração, ora seja
como a que ouvi na igreja
Mea culpa, mea culpa
minha máxima desculpa
é ter vindo p'ro presente
conservado em aguardente
Quero ser p'ra sempre jovem
as minhas células movem
uma campanha eficaz
água benta e água-raz
O elixir da eterna juventude
esse que quer que tudo mude
p'ra que tudo fique igual
estava marado
falsificado
é desleal!
Vou implorar aos apóstolos
mas é pior, que desgosto-os
com tanto pecado junto
não lhes pega nem o unto
Vou recorrer aos meus santos
esses, ao menos, são tantos
que há-de haver um que me acuda
senão ainda tenho o Buda
Maomé vai à montanha
o papa, ninguém o apanha
na Rússia, o rato rói a rolha
venha o diabo e escolha
O elixir da eterna juventude
esse que quer que tudo mude
p'ra que tudo fique igual
estava marado
falsificado
é desleal!
Misticismo agora à parte
envelhecer é uma arte
"arte-nova", "arte-final"
numa luta desigual
Só me vou pôr de joelhos
ante o mais velho dos velhos
e perguntar-lhes o segredo
de p'ra ele inda ser cedo
Quando o espelho me mira
já nem o chapéu me tira
deito-lhe a língua de for a
pisco o olho e vou-me embora
O elixir da eterna juventude
esse que quer que tudo mude
p'ra que tudo fique igual
estava marado
falsificado
é desleal!
Sérgio Godinho, «Elixir da Eterna Juventude»
14.12.03
Aconchegam o ego, alimentam as audiências
Obrigado, Ana. E obrigado João Pedro, Maria José e Nuno por nada escreverem há três dias. E os beijinhos lá ficam!
Onde estavam vocês em 1999?
«O PSD elogia, por outro lado, a coragem de Durão Barroso, com a direcção a dizer orgulhosa "pelo facto de o Governo, e principalmente pelo primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, fazerem parte daqueles que não hesitam em ter coragem, suportando os tempos difíceis com estoicismo, e reagindo com contenção e humildade nestes dias".» [in PortugalDiário]
Durão Barroso sugeriu, às primeiras dificuldades em Timor-Leste, antes do referendo, o adiamento da consulta popular. Hoje, Timor seria independente com um primeiro-ministro chamado Durão?
Durão Barroso sugeriu, às primeiras dificuldades em Timor-Leste, antes do referendo, o adiamento da consulta popular. Hoje, Timor seria independente com um primeiro-ministro chamado Durão?
Boas notícias
Estar longe do blogue dá nisto. Breves apontamentos para duas tão boas e grandes notícias. Depois de um bispo a pedir o óbvio, a excelente notícia de Saddam preso. As reflexões sobre estes dois episódios ficam prometidas para depois.
13.12.03
Outro perigoso esquerdista da Igreja
«O bispo do Porto não concorda com a penalização das mulheres que praticam o aborto. D. Armindo Lopes Coelho assume a discordância com a posição oficial da Igreja Católica.» Esperemos o debate franco na Igreja, com a Igreja.
12.12.03
11.12.03
Os blogues da direita e Pacheco Pereira
Não consigo acompanhar quase nada do que se escreve por toda a blogosfera. Visito uns quantos blogues preferidos, uma, duas, três vezes ao dia. Espio mais uns quantos, algumas vezes por semana. E depois, silêncio. É impossível ir a todas. Mas gostava de ler agora as opiniões da direita quando JPP escreve coisas como estas:
«Segundo os jornais, Paulo Portas disse que Mário Soares terá sofrido recentemente "três derrotas". A saber: "João Soares (filho) perdeu as eleições para a Câmara Municipal de Lisboa; Maria Barroso (mulher) não se manteve à frente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP); Jorge Sampaio é o Presidente da República."
Portas, como dirigente partidário, pode falar do primeiro e do último facto como "derrotas", nunca do segundo, o afastamento de Maria Barroso da Cruz Vermelha, pelo Ministro da Defesa, ele próprio. Porque, se é assim, as razões para o afastamento de Maria Barroso foram motivos políticos e por ser esposa de Mário Soares, e isso configura um acto de retaliação inaceitável num estado democrático. Pela boca morre o peixe.»
SENTIDO DE ESTADO, in Abrupto, 9/12/03, 00:34.
«Segundo os jornais, Paulo Portas disse que Mário Soares terá sofrido recentemente "três derrotas". A saber: "João Soares (filho) perdeu as eleições para a Câmara Municipal de Lisboa; Maria Barroso (mulher) não se manteve à frente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP); Jorge Sampaio é o Presidente da República."
Portas, como dirigente partidário, pode falar do primeiro e do último facto como "derrotas", nunca do segundo, o afastamento de Maria Barroso da Cruz Vermelha, pelo Ministro da Defesa, ele próprio. Porque, se é assim, as razões para o afastamento de Maria Barroso foram motivos políticos e por ser esposa de Mário Soares, e isso configura um acto de retaliação inaceitável num estado democrático. Pela boca morre o peixe.»
SENTIDO DE ESTADO, in Abrupto, 9/12/03, 00:34.
Mais uma peça literária de perigosos esquerdistas anti-americanos
Bush «colocou essencialmente os Estados Unidos ao lado dos ditadores que prometem a guerra [China], em vez de ao lado dos democratas cuja ameaça são as urnas de voto [Taiwan]». O que move Bush? «Acima de tudo evitar mais uma crise de política externa em ano de eleições. Mas, ao evitar uma dor de cabeça, voltou a demonstrar como é maleável o seu compromisso de defesa de liberdade como princípio orientador da política norte-americana».
Editorial publicado neste suspeitíssimo jornal.
Editorial publicado neste suspeitíssimo jornal.
Independência, já!
«Deixem a Madeira em paz. Se quiserem ver-se livres de nós, com muito prazer, mas de uma vez por todas. Não me chateiem. Estou farto que se metam com as coisas da Madeira lá no continente, ainda por cima com deturpação dos factos», Alberto João Jardim, in Público.
10.12.03
Ainda o Mr. Harrison
Depois do exame, a angústia da médica antes da escolha da especialidade. A Margarida entrou na medicina interna dos miúdos - a pediatria, claro. E só pelo brilho daqueles olhos, valeu a espera. E a ansiedade de meses. Sim, meses.
9.12.03
De que fala Soares quando pergunta pela Madeira sobre pedofilia?
Não sei de que fala Soares, também caro jmf. Mas lembro-me, como se fosse hoje, de um encontro que tive há muito tempo, em 1992, nos anos eufóricos do cavaquismo.
Estava no Funchal, e pela mão do Edgar (com outros professores e psicólogos do MAC - Movimento do Apostolado da Criança, um movimento da Igreja de que o bispo Teodoro e o presidente madeirense Alberto João gostavam pouco) fui almoçar com os "miúdos das caixinhas". Que é como quem diz raparigas e rapazes, com 6, 8, 10, 15, 20 anos (as idades eram estas, os rostos ainda os lembro hoje), que pediam - e devem continuar a pedir - esmola junto à Sé do Funchal ou vendiam - sim, muitas vezes, e devem continuar a fazê-lo com outros nomes, as mesmas idades - o corpo aos turistas no Lido.
Aqui, a pedofilia tem um outro nome, escondido para baixo do tapete do desenvolvimento jardinista: chama-se dólar, libra ou o dinheiro que o parta. Na minha memória, chama(va)-se Sónia, Bruno...
Estava no Funchal, e pela mão do Edgar (com outros professores e psicólogos do MAC - Movimento do Apostolado da Criança, um movimento da Igreja de que o bispo Teodoro e o presidente madeirense Alberto João gostavam pouco) fui almoçar com os "miúdos das caixinhas". Que é como quem diz raparigas e rapazes, com 6, 8, 10, 15, 20 anos (as idades eram estas, os rostos ainda os lembro hoje), que pediam - e devem continuar a pedir - esmola junto à Sé do Funchal ou vendiam - sim, muitas vezes, e devem continuar a fazê-lo com outros nomes, as mesmas idades - o corpo aos turistas no Lido.
Aqui, a pedofilia tem um outro nome, escondido para baixo do tapete do desenvolvimento jardinista: chama-se dólar, libra ou o dinheiro que o parta. Na minha memória, chama(va)-se Sónia, Bruno...
Leituras em atraso (II)
Doçuras e travessuras. Ausente em parte incerta da sua fácil glória, longe das doçuras de outros dias, Ana Sá Lopes brindou-nos domingo com uma magnífica prosa sobre Portas, o Colonialista. Um texto na "mouche". Cito partes: «[...] Só um salazarismo doentio, profundo e alicerçado em toneladas de ignorância, explicam que o ministro da Defesa tenha relativizado o peso do racismo no império português. Este mito, que serviu de propaganda ideológica a Salazar no seu Portugal multirracial do Minho a Timor, é um embuste, desmontado por todos os historiadores e percebido por qualquer um que tenha acompanhado minimamente, com razoável grau de lucidez, os quadros do quotidiano do império - onde os portugueses pretos não tinham outro papel social que servir os portugueses brancos, ao preço da chuva. Já não era escravatura, eu sei. [...]
Agora, esse colonialismo latente conta com uma preciosa ajuda governamental: o ministro de Estado e da Defesa compraz-se na sua apologia, convocando todos os fantasmas mal resolvidos da sociedade, também porque se alimenta deles. Poder-se-à argumentar que Paulo Portas não tem princípios, só tem votos, mas neste caso não o creio: o seu anti-anti-colonialismo constitucional é efectivamente um princípio, o do colonialismo, agora já não envergonhado. Comparado com isto, a homenagem ao Maggiolo Gouveia foi uma brincadeira de crianças.
Esporadicamente, Paulo Portas gosta de se reivindicar herdeiro de uma direita europeia moderna - mas é falso. Portas é neto do salazarismo e das suas misérias, dos seus mitos mais patéticos, do seu obscurantismo e dos seus valores. O PSD julga que não, mas vai acabar por ser engolido na voragem.»
Outros, há muito avisados, falam em «amálgama ideológica». Pois.
Agora, esse colonialismo latente conta com uma preciosa ajuda governamental: o ministro de Estado e da Defesa compraz-se na sua apologia, convocando todos os fantasmas mal resolvidos da sociedade, também porque se alimenta deles. Poder-se-à argumentar que Paulo Portas não tem princípios, só tem votos, mas neste caso não o creio: o seu anti-anti-colonialismo constitucional é efectivamente um princípio, o do colonialismo, agora já não envergonhado. Comparado com isto, a homenagem ao Maggiolo Gouveia foi uma brincadeira de crianças.
Esporadicamente, Paulo Portas gosta de se reivindicar herdeiro de uma direita europeia moderna - mas é falso. Portas é neto do salazarismo e das suas misérias, dos seus mitos mais patéticos, do seu obscurantismo e dos seus valores. O PSD julga que não, mas vai acabar por ser engolido na voragem.»
Outros, há muito avisados, falam em «amálgama ideológica». Pois.
Leituras em atraso (I)
Afasta Carneiro (ou a cada um o seu mil-folhas).
Há o mito. E há o político. Os dois são (em muitas coisas) diferentes [ler Pacheco Pereira no Abrupto: «Incomodidade de Sá Carneiro» e «Amálgama ideológica»].
Agora, descubro também que há o quebra-corações. CAA, metido em doce «enleio», descobre na notícia da morte de Sá Carneiro o fim de uma possível amizade: «Esmagado, dei por mim a balbuciar: "Mataram-no". De imediato, a T. reagiu: "Não, claro que não". Olhei-a nos olhos e vi todo o mundo que nos separava nesse instante. Virei as costas e corri para casa.»
Há o mito. E há o político. Os dois são (em muitas coisas) diferentes [ler Pacheco Pereira no Abrupto: «Incomodidade de Sá Carneiro» e «Amálgama ideológica»].
Agora, descubro também que há o quebra-corações. CAA, metido em doce «enleio», descobre na notícia da morte de Sá Carneiro o fim de uma possível amizade: «Esmagado, dei por mim a balbuciar: "Mataram-no". De imediato, a T. reagiu: "Não, claro que não". Olhei-a nos olhos e vi todo o mundo que nos separava nesse instante. Virei as costas e corri para casa.»
Bloguímetro
Quando o site(mili)meter aqui da casa regista menos visitas em dia de semana que em dia feriado, das duas uma: ou anda tudo a dar ouvidos ao Bagão (trabalho! trabalho! trabalho!) ou o blogger.com deu-nos cabo de mais um dia bloguístico. Mas, nestas coisas dos problemas técnicos, uns parecem filhos outros enteados. Ao início da tarde, com a Cibertúlia transformada em «Error 500» (apesar de se poder "postar"), era possível aceder a blogues famosos (Abrupto, Aviz, por exemplo) alojados no blogger.com. Por momentos pensei num ataque de influência bushista, mas logo descobri que a Glória Fácil também se mostrava ao mundo. Azar dos pequeninos, então.
PS - E em ronda de fim de tarde descobre-se um renovado Aviz. Francisco José Viegas tomou-lhe o (bom) gosto: renovou (quase) sem mácula a «Grande Reportagem» de mensal-para-semanal e agora "limpa" o seu blogue. Já antes o Blogue de Esquerda tinha mudado de ares, acrescentado "postistas" (incluindo a Margarida Ferra, antiga companheira de estrada de alguns cibertúlicos) e renovado o visual. Com gosto, não nos cansamos...
PS - E em ronda de fim de tarde descobre-se um renovado Aviz. Francisco José Viegas tomou-lhe o (bom) gosto: renovou (quase) sem mácula a «Grande Reportagem» de mensal-para-semanal e agora "limpa" o seu blogue. Já antes o Blogue de Esquerda tinha mudado de ares, acrescentado "postistas" (incluindo a Margarida Ferra, antiga companheira de estrada de alguns cibertúlicos) e renovado o visual. Com gosto, não nos cansamos...
Ovos moles, 2 - Pastéis de Belém, 0
A prova - se ainda fosse precisa - de que os doces de Aveiro são muito melhores.
8.12.03
Está a chegar o Natal...*
à missa de Natal,
não digas: "Já não têm fé!"
Diz só:
"Eles não vão à missa".
Quem te encarregou de avaliar
a medida e o grau da fé
deste ou daquele?
Não esqueças nunca o Evangelho!
Foi diante daquela pagã,
a Cananeia,
ou daquele idólatra,
o centurião romano,
que Jesus exclamou,
cheio de alegria:
"Nunca vi, em Israel,
uma fé igual à tua!"
Se a tua filha vive com um amigo
sem ser casada,
não digas: "Ela vive em pecado!"
Diz: "A minha filha vive com um amigo".
Foi, por acaso, a ti que Deus mandou
organizar o juízo final?
Se os teus netos não são baptizados
ou não vão à catequese,
não andes a dizer a quem te queira ouvir:
"Não querem saber da Igreja nem dos sacramentos..."
Que sabes tu dos secretos encontros
que Deus pode ter
com os teus netos?
Estas estranhas surpresas
de que ninguém conhece nem o dia nem a hora?
Sabes que nunca foram tantos,
como neste tempo,
os baptismos de adultos?
Deixa que a fé dos teus netos
não esteja só nas tuas mãos
e não dependa só de ti.
Mas é porque sei
que sofres com tudo isto
e que corres mesmo o risco
de sofrer ainda mais
com as reuniões de família
que aí vêm,
que eu queria poder iluminar
o teu olhar com uma estrela.
Ser capaz de olhar o outro
como um filho de Deus
e não como um não-praticante,
vê-lo com a mesma ternura com que Deus o vê,
encontrar o outro como alguém a quem se deve amar
e não como presumível culpado,
É o sinal mais concreto
de que chegou o Natal
e de que é bem verdade
que Deus se fez homem.
* - texto de Jean Debruynne, trad. de José Manuel Pereira de Almeida
(in «Notícias de Santa Isabel», Dezembro de 2003)
5.12.03
A praia na poça
Ivan acha que a apresentação de um livro sobre Jesus, por Freitas, noticiada no Público, é digno de um tablóide (entre outros exemplos estranhos de "tabloidização pública"). Será esta a sua proposta de continuação da conversa sobre o catolicismo?
4.12.03
Adivinhem de que estamos a falar...
«[...] seis destes advogados foram afastados por discordarem com o modelo dos tribunais. Entre as queixas dos juristas estaria uma regra que permitia às autoridades escutar as conversas entre os advogados e os seus clientes. Os advogados terão então dito que não estavam preparados para trabalhar neste tipo de tribunais, e foram substituídos.»
De que estaremos a falar? De uma malévola ditadura, um regime que atropela os direitos fundamentais na Justiça? Avancemos mais pistas.
«Um grupo de advogados militares contratados para defender os detidos há quase dois anos [...] foi demitido por discordâncias [...] sobre o modelo dos julgamentos.»
Ainda não? Ok, nós dizemos: falamos dos advogados de defesa dos detidos de Guantanamo. A notícia do Guardian, citada pelo Público, foi desmentida pelo Pentágono.
De que estaremos a falar? De uma malévola ditadura, um regime que atropela os direitos fundamentais na Justiça? Avancemos mais pistas.
«Um grupo de advogados militares contratados para defender os detidos há quase dois anos [...] foi demitido por discordâncias [...] sobre o modelo dos julgamentos.»
Ainda não? Ok, nós dizemos: falamos dos advogados de defesa dos detidos de Guantanamo. A notícia do Guardian, citada pelo Público, foi desmentida pelo Pentágono.
As obsessões da Manuela têm várias (muitas) excepções
Quando o Sol nasce é para todos. Quando o défice cresce é só para alguns. Depois da França e da Alemanha serem perdoadas por Manuela Ferreira Leite, agora é a vez do Governo despesista da Madeira poder continuar o bailinho que vai dançando há mais de duas décadas. E quem paga são os "cubanos", pois claro. Apre!, lá dizia o professor.
3.12.03
Estatísticas contra a guerra
2/3 dos europeus afirmaram que a guerra contra o Iraque não foi justificada. 67 por cento dos portugueses têm esta opinião (dos quais 43 por cento acham que não era de todo justificada e 25 por cento inclinam-se mais para que não houvesse uma justificação válida para a guerra - ver aqui o relatório completo.
Numa sondagem ontem divulgada pela RTP, encomendada pela RTP e o Público [não está disponível na edição "online"], 79 por cento acham que as consequências da ocupação do Iraque pela "coligação" foram más (22 por cento) ou muito más (57 por cento). Apenas 22 por cento acham que as consequências da ocupação foram boas (14 por cento) ou muito boas (8 por cento).
As "boas consciências", que adoram defender a guerra, vão dizer que se trata de uma mera sondagem. Ou que o povo não sabe...
[sugerido pelo Blogo Social Português].
Numa sondagem ontem divulgada pela RTP, encomendada pela RTP e o Público [não está disponível na edição "online"], 79 por cento acham que as consequências da ocupação do Iraque pela "coligação" foram más (22 por cento) ou muito más (57 por cento). Apenas 22 por cento acham que as consequências da ocupação foram boas (14 por cento) ou muito boas (8 por cento).
As "boas consciências", que adoram defender a guerra, vão dizer que se trata de uma mera sondagem. Ou que o povo não sabe...
[sugerido pelo Blogo Social Português].
2.12.03
Em cima
Há algumas horas que já se podem ver e ler os blogues alojados no blogspot. Mas a decisão está tomada: dentro de dias, mudaremos de palavras e bagagens. Até lá, vamos postando por aqui...
Em baixo
O blogue tem estado inacessível:
«We are sorry, but a temporary problem is preventing your request from being completed. The system administration team for Blog*Spot has been notified. Error: 500».
Não sei se conseguirão ler esta mensagem agora, ou pelo menos nas próximas horas. Em todo o caso, a Cibertúlia vai preparar-se para mudar. Nos próximos dias daremos notícias.
«We are sorry, but a temporary problem is preventing your request from being completed. The system administration team for Blog*Spot has been notified. Error: 500».
Não sei se conseguirão ler esta mensagem agora, ou pelo menos nas próximas horas. Em todo o caso, a Cibertúlia vai preparar-se para mudar. Nos próximos dias daremos notícias.
1.12.03
Grande Beira-Mar
«Academica player Tixier(R), fights for the ball with Beira Mar player Petrolina» [legenda da Lusa]
30.11.03
Outras leituras
Ivan na praia diz que conhece poucos católicos. E menos ainda o que pensam os católicos. Melhor dito: conhece pouco aqueles que «são católicos porque pensam nisso». Nós por aqui, às vezes, pensamos nisso. Mas há outros. A blogosfera pode ser um primeiro encontro, em muitos e variados estilos (Companheiro Secreto, Palombella Rossa, A Quinta Coluna, Rui Almeida, por exemplo). Mas, também no Público de hoje, há uma entrevista a um teólogo muito estimulante (e pouco querido no Vaticano), Juan José Tamayo. Prometo voltar ao tema. Como Ivan prometeu.
O fim-de-semana às avessas
Agora, a companhia ao sábado mudou. O «DNa» passou para a sexta-feira, a «Grande Reportagem» passa a semanal e encartada no DN e no JN. Ao domingo, também a NotíciasMagazine (que acompanha os dois "notícias") teve um "lifting", ou nas palavras de Isabel Stilwell foi ao guarda-roupa e mudou tudo.
O que fica?
O guarda-roupa da «NM» mudou, mas o estilo é o mesmo. Não paremos aqui muito tempo.
A sexta não é dia para o «DNa», que fica à espera da noitinha ou do sábado de antigamente para a leitura sossegada.
O sábado é dia para a «GR» - e que excelente resultado está ali. Se acho que ficam arestas por limar - mais no grafismo, que no conteúdo, na minha opinião de leitor -, o que encontrámos ontem foi bom jornalismo mensal-tornado-semanal. Explico-me: se mês a mês se perdia muitas vezes na resposta à actualidade, ganhava-se com a profundidade na abordagem dos temas. E isso continua lá.
Resultado? O DN é assim um «Expresso». Não se consegue ler muito do caderno principal, mas alguns dos seus suplementos são um prazer.
O que fica?
O guarda-roupa da «NM» mudou, mas o estilo é o mesmo. Não paremos aqui muito tempo.
A sexta não é dia para o «DNa», que fica à espera da noitinha ou do sábado de antigamente para a leitura sossegada.
O sábado é dia para a «GR» - e que excelente resultado está ali. Se acho que ficam arestas por limar - mais no grafismo, que no conteúdo, na minha opinião de leitor -, o que encontrámos ontem foi bom jornalismo mensal-tornado-semanal. Explico-me: se mês a mês se perdia muitas vezes na resposta à actualidade, ganhava-se com a profundidade na abordagem dos temas. E isso continua lá.
Resultado? O DN é assim um «Expresso». Não se consegue ler muito do caderno principal, mas alguns dos seus suplementos são um prazer.
Os mitos da direita sobre a Constituição
Portas perorou ontem à noite a um grupo de jovens populares sobre a necessidade de acabar com «marcas revolucionárias» da Constituição de 1975. Também esta semana, Durão acusava que a Lei Fundamental «não nasceu democrática», com o mesmo ar com que - no mesmo ano de 1975 - se insurgia contra a «burguesia».
Hoje, no Público, Mário Mesquita faz um saudável exercício de memória, para lembrar aos desmemoriados "afilhados" de Sá Carneiro (o jovem Paulo, nos anos 70, e o "entradote" José Manuel, já na década de 80), a posição do PPD no voto da Constituição, em 1975.
«(...) Votámos a Constituição porque ela foi o produto honrado do jogo democrático. Votámos a Constituição porque, no essencial, ela também recolhe o fundamental do nosso programa. Mas votámos a Constituição sem qualquer crença fixista sobre a história. Votámo-la coma consciência clara de que este Povo de mais de oito séculos vai retomar, serena e firma, a sua longa aventura de liberdade». Barbosa de Melo, professor da Faculdade de Direito de Coimbra e, mais tarde, Presidente da Assembleia da República, na declaração de voto do seu próprio partido.
«Votámos a favor do texto da Constituição em globo com a convicção de que - com todos os seus erros ou defeitos - corresponde a um marco histórico fundamental na institucionalização da democracia e no avanço reformista para o socialismo humanista no nosso país". Os constituintes do PPD escrevem que, "no seu todo, em coerência com a opção social-democrática (...), votámos favoravelmente o texto da Constituição crentes de que o seu saldo é francamente positivo e esperançados de que todos os verdadeiros democratas (...) tudo farão para que a democracia triunfe irreversivelmente em Portugal (...).» Marcelo Rebelo de Sousa, Coelho de Sousa e Mário Pinto, então deputados do PPD, em declaração de voto.
Hoje, no Público, Mário Mesquita faz um saudável exercício de memória, para lembrar aos desmemoriados "afilhados" de Sá Carneiro (o jovem Paulo, nos anos 70, e o "entradote" José Manuel, já na década de 80), a posição do PPD no voto da Constituição, em 1975.
«(...) Votámos a Constituição porque ela foi o produto honrado do jogo democrático. Votámos a Constituição porque, no essencial, ela também recolhe o fundamental do nosso programa. Mas votámos a Constituição sem qualquer crença fixista sobre a história. Votámo-la coma consciência clara de que este Povo de mais de oito séculos vai retomar, serena e firma, a sua longa aventura de liberdade». Barbosa de Melo, professor da Faculdade de Direito de Coimbra e, mais tarde, Presidente da Assembleia da República, na declaração de voto do seu próprio partido.
«Votámos a favor do texto da Constituição em globo com a convicção de que - com todos os seus erros ou defeitos - corresponde a um marco histórico fundamental na institucionalização da democracia e no avanço reformista para o socialismo humanista no nosso país". Os constituintes do PPD escrevem que, "no seu todo, em coerência com a opção social-democrática (...), votámos favoravelmente o texto da Constituição crentes de que o seu saldo é francamente positivo e esperançados de que todos os verdadeiros democratas (...) tudo farão para que a democracia triunfe irreversivelmente em Portugal (...).» Marcelo Rebelo de Sousa, Coelho de Sousa e Mário Pinto, então deputados do PPD, em declaração de voto.
29.11.03
Lá como cá
Os portugueses parecem ter sido precursores de um novo movimento de protesto no mundo. Se o país está enfiado num buraco financeiro, enfie-se um autocarro numa cratera lisboeta para a metáfora. Agora, é em Itália. Ficamos apenas sem saber se o protesto é contra a realização da cimeira da União Europeia em Nápoles, contra o governo de Silvio Berlusconi ou contra a referência a Deus na Constituição Europeia ou nada disto...
28.11.03
Tendo a concordar, caro Tiago
«Pacto com o diabo
Durão Barroso foi rever a Concordata ao Vaticano. A Igreja Baptista de Moscavide tem um problema de infiltração de águas que torna o culto nos meses de Inverno num exercício de desportos náuticos. A culpa não é do vizinho negligente que provoca o fenómeno mas do maldito documento com Roma. Este trato é satânico. Mostra que ainda somos um país de malfeitores.»
Durão Barroso foi rever a Concordata ao Vaticano. A Igreja Baptista de Moscavide tem um problema de infiltração de águas que torna o culto nos meses de Inverno num exercício de desportos náuticos. A culpa não é do vizinho negligente que provoca o fenómeno mas do maldito documento com Roma. Este trato é satânico. Mostra que ainda somos um país de malfeitores.»
W de visita onde?
Não sei se alguém já terá dito isto. Ou se é apenas uma perplexidade minha. Todos, ou quase todos, falaram na «visita surpresa de George W. Bush ao Iraque», «a primeira de um presidente americano» ao país que já foi de Saddam. Duas horas e meia no aeroporto é visita a um país? Fixe, pá: já posso acrescentar algumas paragens exóticas no meu currículo de passageiro ocasional (Nova Deli, Qatar, ou mesmo Londres, onde consegui permanecer uma noite e duas manhãs inteirinhas em dois "stop-overs"). Depois, uma última dúvida me assalta: se os iraquianos querem tanto a democracia levada pelos GIs americanos por que é que Bush não se passeou um pouco mais por Bagdad?
Eu gostava de ter professores assim...
... ou como a (falta de) exigência no Ensino Superior é (muito) culpa de professores como este senhor.
Ele dá notas com uma facilidade extrema. Ele facilita imenso a vida aos seus alunos. Com professores destes não admira que haja cadeiras com notas inflacionadas (ao contrário de outros, que adoram chumbar os alunos). Marcelo Rebelo de Sousa diz, hoje em entrevista à revista «Tempo» (que substitui o desaparecido «Euronotícias»), que há um conjunto de ministros com uma prestação sofrível ou razoável neste Governo. Nota final: 14. Fantástico, professor.
Ele dá notas com uma facilidade extrema. Ele facilita imenso a vida aos seus alunos. Com professores destes não admira que haja cadeiras com notas inflacionadas (ao contrário de outros, que adoram chumbar os alunos). Marcelo Rebelo de Sousa diz, hoje em entrevista à revista «Tempo» (que substitui o desaparecido «Euronotícias»), que há um conjunto de ministros com uma prestação sofrível ou razoável neste Governo. Nota final: 14. Fantástico, professor.
27.11.03
Ele há presépios assim (II)
«Façamos então o presépio para este ano. Há musgo? Então acame-se. Agora, as figuras: os reis magos, o pastor, o menino e Maria. Ficou bonito? Para alguns ingleses está óptimo. José, o marido de Maria, não faz falta nenhuma. Foi assim que entendeu a cadeia de lojas John Lewis, que conta com diversos armazéns espalhados pelo país de Sua Majestade. O objectivo é vender presépios monoparentais, só com Maria e o menino. O êxito desta nova representação do nascimento de Jesus Cristo está assegurado para os lojistas da John Lewis: é que certas famílias monoparentais ou homossexuais preferem um presépio «adaptado» à realidade da família que têm.
Segundo relata o semanário Sunday Times, os clientes que têm perguntado aos lojistas o que aconteceu a José têm recebido uma e única resposta: «fugiu». Este fugiu tem um sentido comercial: falar ao coração das mães solteiras que viram os pais dos seus filhos «fugirem» antes do parto.
Mas as novidades não param por aqui. É comum saber-se que os três reis Magos, Baltazar, Gaspar e Melchior, eram dois brancos e um negro. Mas nesta cadeia de lojas, há pacotes de reis magos para o gosto de cada um: três brancos, dois negros e um branco, um asiático e dois negros, e por aqui fora. As combinações são feitas “à la carte”, e permitem que cada família escolha os seus reis. [...]»
João Vasco Almeida (que também me falou no porquinho natalício), in PortugalDiário, Dezembro de 2000
Segundo relata o semanário Sunday Times, os clientes que têm perguntado aos lojistas o que aconteceu a José têm recebido uma e única resposta: «fugiu». Este fugiu tem um sentido comercial: falar ao coração das mães solteiras que viram os pais dos seus filhos «fugirem» antes do parto.
Mas as novidades não param por aqui. É comum saber-se que os três reis Magos, Baltazar, Gaspar e Melchior, eram dois brancos e um negro. Mas nesta cadeia de lojas, há pacotes de reis magos para o gosto de cada um: três brancos, dois negros e um branco, um asiático e dois negros, e por aqui fora. As combinações são feitas “à la carte”, e permitem que cada família escolha os seus reis. [...]»
João Vasco Almeida (que também me falou no porquinho natalício), in PortugalDiário, Dezembro de 2000
Presépios
Hoje, «A Capital» traz um porco como oferta diária para o presépio que está a ser oferecido aos seus leitores. Leram bem: um porco. Ele há presépios assim.
É a vidinha...
... e regressámos mesmo à nossa vidinha: Casa Pia e exames e revistas, Moderna e sentenças, desemprego com recordes em cinco anos (mas a culpa deve ser de Guterres), cunhas no ensino (mas a culpa é do adjunto, nunca do responsável), greves da Carris (e nada de ideias claras para incentivar o uso do transporte público), cheias (e ainda agora caíram as primeiras chuvas), taxistas que querem ganhar mais no aeroporto e pagar nada nos impostos, futebóis.
Lá fora: há crianças detidas em Guantanamo (e nem um clamor, um simples ai! dos bushistas nossos de cada dia), há um Iraque que continua sem rei nem roque, há um terrorismo desumano que mata a esperança.
Valham-nos pequenas coisas, mesmo muito pequenas. Amanhã é dia de «O Inimigo Público», no Público, e de «DNa», agora às sextas no DN, porque aos sábados - e esta é outra boa notícia (outra pequena coisa) - haverá «Grande Reportagem» no DN.
Lá fora: há crianças detidas em Guantanamo (e nem um clamor, um simples ai! dos bushistas nossos de cada dia), há um Iraque que continua sem rei nem roque, há um terrorismo desumano que mata a esperança.
Valham-nos pequenas coisas, mesmo muito pequenas. Amanhã é dia de «O Inimigo Público», no Público, e de «DNa», agora às sextas no DN, porque aos sábados - e esta é outra boa notícia (outra pequena coisa) - haverá «Grande Reportagem» no DN.
26.11.03
Zero de cultura
Numa entrevista a publicar por estes dias, Simão Rubim, da Companhia Teatral do Chiado, diz que «não há teatro em Portugal». Deste Ministério da Cultura nunca ouviu falar, este ministro ninguém o conhece. Hoje, a Zero em Comportamento anuncia o seu fim. Diz-se farta das palmadinhas do ICAM e de Santana Lopes - «mas [que] até hoje não [contribuíram] com nada de concreto». É este um retrato possível da nossa cultura actual. Mas o que o povo quer é vela, ó marujo!
Classificados - uma pergunta repetida...
Quem foi Damasceno Monteiro?, perguntei aqui há dois meses. Hoje, um leitor da Cibertúlia questionou-me se já tinha resposta. Apesar da minha demanda, ainda não tenho. Não há ninguém que nos ajude? (E não estamos a falar da personagem do livro de Tabucchi...)
E já podemos voltar à nossa vidinha...
Lisboa-Cascais perdeu a Taça América em vela para Valência em Espanha...
Hoje somos todos marujos!
Os marujos agradecem a atenção que os meios de comunicação social têm dispensado à nossa arte de marear. Os hossanas que se cantam fazem lembrar a excitação pré-Expo e pré-Euro. Depois virão as preocupações com os dinheiros públicos, blá-blá-blá... Ó Durão: e as listas de espera nos hospitais?
25.11.03
Blogues novos, velhos amigos
Estão aí na coluna da direita as novas moradas que valem muitas visitas: Palombella Rossa, pela pena de José Pureza, e Causa Nossa, onde assina Jorge Wemans - com outros, vários outros, que mal ou bem também têm de ser lidos: Vicente Jorge Silva, Luís Osório, Luís Nazaré, Ana Gomes, Eduardo Prado Coelho, Vital Moreira e Maria Manuel Leitão Marques...
As Cobaias da Europa.
Há políticas que não se percebem. E por não se perceberem é que entram em descrédito. E por entrarem em descrédito é que se procuram alternativas. Foi assim com o PS e agora com o PSD...
Eu não percebo porque é que "Ferreira Leite não permite desvios no défice português, mas é benevolente com Paris e Berlim".
Quem lê a noticia linkada fica ainda com uma outra pior sensação. Que Portugal foi uma cobaia nesta história de Pacto de Estabilidade e Crescimento, e que agora "[...] a Comissão Europeia «aprendeu» com o caso português". Obrigadinho. Se ao menos isso significasse o desapertar do cinto.
Para mim, pessoalmente, fica ainda outra imagem passada pela ministra, se calhar errada e injusta, mas também tenho direito a erros.
Eu não percebo porque é que "Ferreira Leite não permite desvios no défice português, mas é benevolente com Paris e Berlim".
Quem lê a noticia linkada fica ainda com uma outra pior sensação. Que Portugal foi uma cobaia nesta história de Pacto de Estabilidade e Crescimento, e que agora "[...] a Comissão Europeia «aprendeu» com o caso português". Obrigadinho. Se ao menos isso significasse o desapertar do cinto.
Para mim, pessoalmente, fica ainda outra imagem passada pela ministra, se calhar errada e injusta, mas também tenho direito a erros.
Um autocarro engolido, o défice compreendido
Não sei se é metáfora, mas na mesma noite em que Ferreira Leite votou contra aquilo que era a sua obsessão, um autocarro foi engolido por uma enorme cratera que se abriu em Lisboa.
[foto captada, ainda noite, por telemóvel]
24.11.03
Alguém falou em Guterres (II)?
«Durão Barroso promete Marinha com nova capacidade de acção... em 2010».
[lido na Lusa; sublinhado nosso]
[lido na Lusa; sublinhado nosso]
A nova táctica de Manuel Monteiro: gritar contra o stress
«O método inovador de combate ao stress que o psicólogo Manuel Monteiro desenvolveu em França, onde reside há cerca de 30 anos, vai ser objecto de uma conferência em Lisboa no próximo sábado.
Monteiro define o stress como uma «doença invisível» que surge como uma «resposta do organismo à agressão exterior». «O problema actual é que as pessoas não se conseguem exprimir. Vão para casa descarregar nos próximos, na família», uma irritação que é transmitida e registada depois nas próprias crianças. O psicólogo propõe assim uma «terapia do grito» [...].»
In PortugalDiário
Monteiro define o stress como uma «doença invisível» que surge como uma «resposta do organismo à agressão exterior». «O problema actual é que as pessoas não se conseguem exprimir. Vão para casa descarregar nos próximos, na família», uma irritação que é transmitida e registada depois nas próprias crianças. O psicólogo propõe assim uma «terapia do grito» [...].»
In PortugalDiário
A rangelização da TSF
Trinta e dois estudantes estrangeiros morreram esta segunda-feira num incêndio que destruiu uma residência universitária em Moscovo. Às 10 horas, a TSF começou com a notícia da morte... de um gorila albino no Jardim Zoológico de Barcelona. Só depois veio a informação de Moscovo.
22.11.03
21.11.03
Santana está atrasado quase nove anos
É bom lembrar algumas promessas. Antigas promessas, como as de Santana Lopes, em 1994. Lido no Umbigo (post XXVII):
«É sempre um prazer reencontrar Santana Lopes. Na capa do «Expresso», número 1148, de 29 de Outubro de 1994, o título: «Santana Lopes abandona a política em 1995...»
O então Secretário de Estado da Cultura dizia, em discurso directo, que o seu limite de participação na vida política activa «é Outubro de 95». E adiantou: «Isto vai dar uma grande alegria a muita gente».
Só cabe perguntar: Pedro, porque estás há nove anos para cumprir a promessa? Vá lá, não nos dás uma «alegria»?
P.S. - lembre-se que, por causa de uma rábula de João Baião, Santana Lopes já tinha prometido outra vez que deixava a política. E até foi queixar-se da rábula do Baião ao Senhor Presidente da República. Pior ainda: foi recebido!»
«É sempre um prazer reencontrar Santana Lopes. Na capa do «Expresso», número 1148, de 29 de Outubro de 1994, o título: «Santana Lopes abandona a política em 1995...»
O então Secretário de Estado da Cultura dizia, em discurso directo, que o seu limite de participação na vida política activa «é Outubro de 95». E adiantou: «Isto vai dar uma grande alegria a muita gente».
Só cabe perguntar: Pedro, porque estás há nove anos para cumprir a promessa? Vá lá, não nos dás uma «alegria»?
P.S. - lembre-se que, por causa de uma rábula de João Baião, Santana Lopes já tinha prometido outra vez que deixava a política. E até foi queixar-se da rábula do Baião ao Senhor Presidente da República. Pior ainda: foi recebido!»
A Cibertúlia errou
O respeitinho é muito lindo. Quisemos associar o aniversário do Banco de Portugal ao rato Mickey e metemos o pé na poça (por uma "inside information" errada). Mea culpa: o aniversário do respeitável BP é apenas um dia depois do do ratinho da Disney. Vitor Constâncio é que antecipou os festejos porque viajava no dia seguinte para a reunião do BCE.
O bruááá merecido
O Diogo voltou para uma posta de um fôlego só e não parece que a blogosfera tenha dado grande conta. Malheureusement. Eu dei! Inteligente e mordaz, mesmo a citar prosas alheias, valeu a pena deixar de ser o cavaleiro solitário desta tertúlia. Venham de lá mais mentiras novas, Diogo. E dos outros todos, já agora.
As dúvidas que as perguntas pertinentes levantam
Porque o mundo não é feito de certezas. E porque o meu tempo é escasso e o Terras do Nunca responde às suas perguntas - e às de outros blogues -, volto a enviar-vos para aquele sítio. Tem três posts sobre o terrorismo. E muito que ler - e reflectir.
Uma pergunta pertinente
«O mundo está mais ou menos perigoso do que antes de George W. Bush ter iniciado a sua guerra contra o terrorismo?». A pergunta é chata, diz-nos Terras do Nunca. Eu acrescento: e muito pertinente. Mas devemos andar todos enganados, claro.
20.11.03
Lisboa, Istambul
Hoje almoçámos os dois. E falámos da Istambul que só conheço pelas palavras, imagens e sons que Ela me deu a conhecer, das duas vezes que lá foi. Hoje, aquele mundo de encontros e pontes, aquela «outra Lisboa» (como Ela falava dela) sofreu com a cegueira do Mal (qualquer que ele seja).
Ao fim da tarde, descubro um outro belo pedaço de encontro com Istambul, de quem se sentiu também em casa: «Eu sei que aquelas ruas escondem violências antigas, talvez latentes. Mas também percebo que a cidade poderia ser um começo, um entre tantos outros, para um mundo um pouco melhor. Os atentados desta semana são contra essa possibilidade. Esse esboço. Querem atingir Bush, Blair e companhia, mas o que realmente põem em causa é o outro lado. A parte do outro lado que Istambul representa.»
O horror e a dor ficaram ainda mais próximos.
Ao fim da tarde, descubro um outro belo pedaço de encontro com Istambul, de quem se sentiu também em casa: «Eu sei que aquelas ruas escondem violências antigas, talvez latentes. Mas também percebo que a cidade poderia ser um começo, um entre tantos outros, para um mundo um pouco melhor. Os atentados desta semana são contra essa possibilidade. Esse esboço. Querem atingir Bush, Blair e companhia, mas o que realmente põem em causa é o outro lado. A parte do outro lado que Istambul representa.»
O horror e a dor ficaram ainda mais próximos.
Sons em trânsito
Não posso estar em Aveiro. Mas tenho pena. E como o Filipe ficou a ver um filme mais "longo" - retirado do seu mundo asceta - e a Isa ainda não tem um blogue, faço eu a publicidade a quem puder ir àquela cidade, para assistir a músicas de todo o mundo.
Deixo aqui uma breve apresentação do Sons em Trânsito:
«O SET está de volta! Ou seja, o principal objectivo da primeira edição foi concretizado: Justificámos a existência de uma segunda! E aqui estamos nós prontos para mais algumas aventuras por línguas exóticas, viagens sonoras inovadoras ou instrumentos nunca antes escutados!
Nas músicas do mundo cruzam-se a tradição com a vanguarda, o rústico com o cosmopolita, derrubam-se fronteiras e dogmas, ignoram-se conflitos étnicos ou religiosos! Tudo se faz com tolerância, espírito aberto e vontade de partilhar.
Este ano, as responsabilidades aumentam, mas a qualidade, diversidade e espectacularidade do programa garante-nos que todos ficarão satisfeitos! Teremos hinduísmo e judaísmo, sul-americanos e norte-americanos, europeus e asiáticos, finlandeses e guineenses, a kora africana e as tablas indianas, o cajon catalão e a nossa braguesa, a sanfona e o acordeão, a harpa venezuelana e...muitas outras combinações e enquadramentos estranhos que fazem do SET uma festa da GLOBALIZAÇÃO FRATERNA!»
Deixo aqui uma breve apresentação do Sons em Trânsito:
«O SET está de volta! Ou seja, o principal objectivo da primeira edição foi concretizado: Justificámos a existência de uma segunda! E aqui estamos nós prontos para mais algumas aventuras por línguas exóticas, viagens sonoras inovadoras ou instrumentos nunca antes escutados!
Nas músicas do mundo cruzam-se a tradição com a vanguarda, o rústico com o cosmopolita, derrubam-se fronteiras e dogmas, ignoram-se conflitos étnicos ou religiosos! Tudo se faz com tolerância, espírito aberto e vontade de partilhar.
Este ano, as responsabilidades aumentam, mas a qualidade, diversidade e espectacularidade do programa garante-nos que todos ficarão satisfeitos! Teremos hinduísmo e judaísmo, sul-americanos e norte-americanos, europeus e asiáticos, finlandeses e guineenses, a kora africana e as tablas indianas, o cajon catalão e a nossa braguesa, a sanfona e o acordeão, a harpa venezuelana e...muitas outras combinações e enquadramentos estranhos que fazem do SET uma festa da GLOBALIZAÇÃO FRATERNA!»
2004, o ano de Bagão
O ano de 2004 é um ano bissexto... mais um diazinho de trabalho.
O 25 de Abril calha a um domingo... mais um diazinho de trabalho.
O 1 de Maio calha a um sábado... mais um diazinho de trabalho.
O 10 de Junho é também o dia de corpo de Deus... dois feriados num só, mais um diazinho de trabalho.
O 13 de Junho calha a um domingo... mais um diazinho de trabalho (pelo menos, em Lisboa).
O 15 de Agosto calha a um domingo... mais um diazinho de trabalho.
O Natal calha a um sábado... mais um diazinho de trabalho.
O dia 1 de Janeiro de 2005 calha a um sábado... mais um diazinho de trabalho. E Bagão feliz.
O 25 de Abril calha a um domingo... mais um diazinho de trabalho.
O 1 de Maio calha a um sábado... mais um diazinho de trabalho.
O 10 de Junho é também o dia de corpo de Deus... dois feriados num só, mais um diazinho de trabalho.
O 13 de Junho calha a um domingo... mais um diazinho de trabalho (pelo menos, em Lisboa).
O 15 de Agosto calha a um domingo... mais um diazinho de trabalho.
O Natal calha a um sábado... mais um diazinho de trabalho.
O dia 1 de Janeiro de 2005 calha a um sábado... mais um diazinho de trabalho. E Bagão feliz.
19.11.03
De volta
Voltei! E bastaria dizer isto para fazer notícia no blogosfera, mas não me contenho...
A paternidade tem-me absorvido quase completamente, o que significa que quando não estou a trabalhar, estou a ser pai, o que resulta em que não tenho tido tempo para mandar umas postas. E bem merecidas seriam, já que as últimas semanas têm sido férteis em matéria a pedir comentários.
Como estou há muito tempo parado e não quero contrair uma lesão de esforço, vou ser breve.
Hoje, na sua crónica no Público, o Álvaro Domingues faz referência a uma pintada existente num muro da Rua do Campo Alegre, no Porto. Fica do lado esquerdo de quem vai em direcção ao Fluvial e sempre que por lá passo não consigo disfarçar um sorriso, que fica a meio caminho entre o achar piada e a admiração em relação ao seu autor. A frase é simples e tem apenas três palavras mas, como diz Álvaro Domingues, «é um caso de produtividade comunicacional»: QUEREMOS MENTIRAS NOVAS!
Depois dos argumentos invocados para a invasão e ocupação do Iraque, depois das promessas eleitorais do Dr. Durão Barroso, depois dos últimos números avançados pelo Banco de Portugal em relação à economia portuguesa e de todas as outras mentiras a que nos foram habituando, está na hora de começarmos a pintar os muros de todo o país.
Já não pedimos a verdade; contentamo-nos com mentiras novas.
A paternidade tem-me absorvido quase completamente, o que significa que quando não estou a trabalhar, estou a ser pai, o que resulta em que não tenho tido tempo para mandar umas postas. E bem merecidas seriam, já que as últimas semanas têm sido férteis em matéria a pedir comentários.
Como estou há muito tempo parado e não quero contrair uma lesão de esforço, vou ser breve.
Hoje, na sua crónica no Público, o Álvaro Domingues faz referência a uma pintada existente num muro da Rua do Campo Alegre, no Porto. Fica do lado esquerdo de quem vai em direcção ao Fluvial e sempre que por lá passo não consigo disfarçar um sorriso, que fica a meio caminho entre o achar piada e a admiração em relação ao seu autor. A frase é simples e tem apenas três palavras mas, como diz Álvaro Domingues, «é um caso de produtividade comunicacional»: QUEREMOS MENTIRAS NOVAS!
Depois dos argumentos invocados para a invasão e ocupação do Iraque, depois das promessas eleitorais do Dr. Durão Barroso, depois dos últimos números avançados pelo Banco de Portugal em relação à economia portuguesa e de todas as outras mentiras a que nos foram habituando, está na hora de começarmos a pintar os muros de todo o país.
Já não pedimos a verdade; contentamo-nos com mentiras novas.
A cadeado
A Universidade de Coimbra voltou a ser fechada a cadeado. Durante as minhas férias perdi (um)a (das) maior(es) manifestação(ões) em muitos anos de estudantes. Mas os ecos que me chegaram (sobretudo na blogosfera) foi de repúdio pelo fecho a cadeado da Universidade coimbrã. É uma medida de protesto radical (sim, também eu preferia uma greve de zelo), que incomoda pelos vistos muito e muita gente (apesar de tudo, nada que se compare com os métodos de um jovem-mrpp-hoje-feito-cherne que, nos seus tempos áureos de lutador anti-burguês, chegou à sede do partido com uma camioneta carregada de móveis retirados da Faculdade de Direito). Feche-se o parêntesis, e olhemos para a realidade do ensino superior (para lá do parque de estacionamento, que tanto indigna os comentadores da nossa praça).
O que mudou em dez anos de propinas? Nada mudou na «qualidade do ensino», muito propangadeada pelo governo de então de Cavaco (e Ferreira Leite e Pedro Lynce e Durão Barroso), e muito mudou na desresponsabilização dos sucessivos governos - agravada com este, é verdade! -, na orçamentação das universidades e dos institutos politécnicos. As propinas servem hoje para pagar o papel higiénico e ordenados, não os laboratórios e as condições de excelência.
A propósito, aconselho vivamente a leitura de um texto do Barnabé (há lá outros textos, soltos, ao correr da pena, que vale a pena procurar sobre o assunto). E, à nova ministra do Ensino Superior, gostava de lhe indicar a leitura de um antigo documento, produzido pelo Conselho Nacional de Educação, algures no início da década de 90 (actualíssimo, se refrescarmos os dados estatísticos): «Manifesto sobre o Ensino Superior».
O que mudou em dez anos de propinas? Nada mudou na «qualidade do ensino», muito propangadeada pelo governo de então de Cavaco (e Ferreira Leite e Pedro Lynce e Durão Barroso), e muito mudou na desresponsabilização dos sucessivos governos - agravada com este, é verdade! -, na orçamentação das universidades e dos institutos politécnicos. As propinas servem hoje para pagar o papel higiénico e ordenados, não os laboratórios e as condições de excelência.
A propósito, aconselho vivamente a leitura de um texto do Barnabé (há lá outros textos, soltos, ao correr da pena, que vale a pena procurar sobre o assunto). E, à nova ministra do Ensino Superior, gostava de lhe indicar a leitura de um antigo documento, produzido pelo Conselho Nacional de Educação, algures no início da década de 90 (actualíssimo, se refrescarmos os dados estatísticos): «Manifesto sobre o Ensino Superior».
Alguém falou em Guterres?
«O primeiro-ministro garantiu terça-feira que o défice orçamental deste ano irá ficar abaixo dos três por cento, devido ao recurso a receitas extraordinárias, tendo admitido que o mesmo poderá suceder em 2004.
"Este ano vamos reduzir o défice abaixo dos três por cento. Tenho plena confiança nisso", afirmou Durão Barroso, acrescentando que em 2004 a despesa irá igualmente cumprir o valor máximo estabelecido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento, "se necessário" através de receitas extraordinárias.»
[in PortugalDiário, sublinhado nosso]
"Este ano vamos reduzir o défice abaixo dos três por cento. Tenho plena confiança nisso", afirmou Durão Barroso, acrescentando que em 2004 a despesa irá igualmente cumprir o valor máximo estabelecido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento, "se necessário" através de receitas extraordinárias.»
[in PortugalDiário, sublinhado nosso]
18.11.03
Silêncios
A Glória Fácil está a gerir o silêncio. O seu silêncio. Terrível tarefa, reconhece Ana Sá Lopes: «É preciso que os receptores (do silêncio) não incorram na imediata e fatal dedução segundo a qual quem está calado, regra geral, não tem nada para dizer.» Ora, também por terras de Aviz, o silêncio se faz de sugestões: «A noite», lembrou Francisco José Viegas (citando um jovem poeta), «é a plataforma/ da vinda áspera do coiote» - e foi à sua vida. Mas nós temos saudades, depois destes silêncios.
O Mickey faz anos (I)
O ratinho de grandes orelhas arredondadas criado por Walt Disney faz hoje 75 anos.
17.11.03
Impressões de quinze dias lá
O "cliché": o Brasil é um país de contrastes. Que se sentem no asfalto, olhando os morros do Rio de Janeiro. Que se espreitam nas manchetes ensanguentadas dos jornais, nas grades dos prédios de classe média, nos vidros fumados de carros potentes. Mas há outros brasis, para além deste retrato apressado de turista reincidente. Um desses retratos é aquele que volta e meia amantes daquelas terras nos trazem, só como eles sabem: Francisco José Viegas, Jorge Marmelo ou Rui Baptista. Eles (pelo menos eles) trazem-nos histórias das mil folhas que se escrevem e nos seduzem ali, naquele pedaço de terra. Os livros são obras de arte, que apetece tocar, ler, comprar, olhar, admirar, cantar. O livro ali é bem tratado, seja na cosmopolita Rio ou na pequena Paraty. Metade daqueles livros em Portugal - e este país respirava melhor.
Impressões de quinze dias longe disto
Saí porta fora e quando voltei a casa encontrei tudo mais ou menos na mesma. Muito desarrumado, portanto. As manchetes dos jornais voltaram a falar do mundo, mas só porque dois jornalistas cá do burgo se meteram em trabalhos. Antes disso, numa rápida volta pelas gordas de jornais já amarelecidos e da leitura fora de tempo de blogues descobri um umbigo animado com um casal de suposto jet-set apanhado com jóias não declaradas, uma actriz que vomitou o camarão estragado e foi tornada em fenómeno paranormal, a adequada resposta para-católica de duas estátuas que lacrimejam e curam, a provedora da Casa Pia que elogiou processos sumários dos tempos absolutistas de D. Miguel e a expulsão dos infiéis de hoje (pedófilos, who else?) para paragens exóticas que lá as criancinhas podem ser abusadas pois então, o aniversário de Cunhal que recebe cada vez mais encómios da mesma direita que critica a esquerda por eventualmente se subjugar perante Fidel, a inauguração contínua de estádios apadrinhadas pelo regime de agora esquecendo as críticas de ocasião quando assumiram o poder e os beija-mão a sua santidade o papa do norte transformados em caso nacional, a assobiadela dos bispos às vaias dos benfiquistas (serão sportinguistas? portistas? beiramarenses?) ao senhor primeiro-ministro, quando não ouvi idêntica reprimenda à assobiadela tenística com que o então primeiro-Guterres foi presenteado (o ténis é coisa de finos? ou os bispos não vêem aquele desporto?), as cidades que continuam a ser pensadas ao acaso com parques mayers pagos a peso de Gehry e torres quase aprovadas só porque são do Siza e um túnel que até "vai servir para alguma coisa" como diz o presidente da autarquia de Lisboa.
Uff! Respiremos. Deixo quatro sugestões. Atrasadas, mas que merecem a leitura - e reflexão: um retrato sobre a vida religiosa (dito assim, "simplisticamente") de Luís Osório, no DNa, de 8 de Novembro, sábado; um texto que procurou descobrir o melhor da pior escola do país, como assinalaram as estatísticas frias do Ministério, assinado pela excelente Sónia Morais Santos, também no DNa, mas deste último sábado, 15 de Novembro; a reportagem ontem, domingo, na Pública sobre a excisão, de Sofia Branco (já premiada por outra reportagem sobre o mesmo tema) e, por fim, o ódio de estimação de algumas lojas e botequins, Miguel Sousa Tavares, com nova leitura pertinente sobre o Iraque e a ida da GNR.
[Torno este "post" maior e cito parte de MST, porque o texto desaparece dentro de dias]
«[...] não sou contra o envolvimento de forças portuguesas além-fronteiras, onde e quando a intervenção for legítima e estiver em causa a segurança colectiva do mundo em que nos integramos ou a salvaguarda de direitos fundamentais violados de forma sistemática e intolerável. Com uma condição adicional: que a intervenção militar não seja um fim em si mesma, mas um meio para atingir uma solução política. Por isso, fui a favor de uma intervenção séria, ao lado dos Estados Unidos, na primeira Guerra do Iraque, onde se tratava, de expulsar Saddam do Kuwait e evitar que, de seguida, deitasse mão ao petróleo do Médio Oriente e iniciasse um processo de chantagem sobre o Ocidente (curiosamente, um governo de que Durão Barroso fazia parte reduziu esse apoio à coligação internacional a uma ajuda menos que simbólica e quase na fronteira da cobardia). Por isso, fui a favor da intervenção na Bósnia, onde uma guerra civil étnica de uma desumanidade impensável na Europa de hoje era uma ofensa intolerável à consciência de todos nós.
Por isso mesmo, também, fui contra a intervenção no Kosovo, que não tinha - como não tem até hoje - "follow-up" político que deixe prever o fim da presença militar internacional e que só foi levada a cabo porque os Estados Unidos queriam bombardear Belgrado e Milosevic e, de caminho, livrarem-se de toda uma geração de armas em final de período de validade.»
Uff! Respiremos. Deixo quatro sugestões. Atrasadas, mas que merecem a leitura - e reflexão: um retrato sobre a vida religiosa (dito assim, "simplisticamente") de Luís Osório, no DNa, de 8 de Novembro, sábado; um texto que procurou descobrir o melhor da pior escola do país, como assinalaram as estatísticas frias do Ministério, assinado pela excelente Sónia Morais Santos, também no DNa, mas deste último sábado, 15 de Novembro; a reportagem ontem, domingo, na Pública sobre a excisão, de Sofia Branco (já premiada por outra reportagem sobre o mesmo tema) e, por fim, o ódio de estimação de algumas lojas e botequins, Miguel Sousa Tavares, com nova leitura pertinente sobre o Iraque e a ida da GNR.
[Torno este "post" maior e cito parte de MST, porque o texto desaparece dentro de dias]
«[...] não sou contra o envolvimento de forças portuguesas além-fronteiras, onde e quando a intervenção for legítima e estiver em causa a segurança colectiva do mundo em que nos integramos ou a salvaguarda de direitos fundamentais violados de forma sistemática e intolerável. Com uma condição adicional: que a intervenção militar não seja um fim em si mesma, mas um meio para atingir uma solução política. Por isso, fui a favor de uma intervenção séria, ao lado dos Estados Unidos, na primeira Guerra do Iraque, onde se tratava, de expulsar Saddam do Kuwait e evitar que, de seguida, deitasse mão ao petróleo do Médio Oriente e iniciasse um processo de chantagem sobre o Ocidente (curiosamente, um governo de que Durão Barroso fazia parte reduziu esse apoio à coligação internacional a uma ajuda menos que simbólica e quase na fronteira da cobardia). Por isso, fui a favor da intervenção na Bósnia, onde uma guerra civil étnica de uma desumanidade impensável na Europa de hoje era uma ofensa intolerável à consciência de todos nós.
Por isso mesmo, também, fui contra a intervenção no Kosovo, que não tinha - como não tem até hoje - "follow-up" político que deixe prever o fim da presença militar internacional e que só foi levada a cabo porque os Estados Unidos queriam bombardear Belgrado e Milosevic e, de caminho, livrarem-se de toda uma geração de armas em final de período de validade.»
Ditosa pátria
Com este título, Francisco José Viegas "postou" - e muito bem - sobre a inauguração do novo Estádio do Benfica. Tenho pena que a ditosa pátria tenha esmorecido, agora que se inauguraram em directo na TV pública uma rua e uma loja.
E as vacas sagradas, conhecem?
Portugal tem muitas vacas sagradas. Passam por nós todos os dias, são utilizadas a todo o momento, gostamos delas - e queremos sempre mais. Margarida Rebelo Pinto, ela mesma, revela-nos tudo: «Isto é Portugal: carros e telemóveis. Telemóveis e futebol. Futebol e carros. Carros e carros, Futebol e futebol. Ou seja, mais do mesmo.»
Sim, vá, onde está o Helton?
No meu lento regresso à "actualidade noticiosa" dei de caras com esta pertinente notícia: «onde está o Helton?». Dão-se alvíssaras.
16.11.03
Actualizados
Já foi actualizada a coluna dos blogues que nos acompanham muitas outras vezes. O Bloguítica, na sua nova morada, e os amigos Ânimo e O Companheiro Secreto, mas também o Miniscente de Luís Carmelo e Murmúrios do Silêncio (cada vez mais obrigatório...).
Site (mili)meter
É divertido ver quem nos lê. Descobrir leitores (certamente perdidos) na Ásia (Rússia? Bangladesh? China?), ou algures no eixo EUA (André, és tu?)-Guiana-Brasil-Paraguai-Uruguai... E é divertido ver como andaram tantos (escassas dezenas, nada comparável à glória de outros, mas tantos para nós) a alimentar o site(mili)meter da Cibertúlia, mesmo durante estes tempos de esperado sossego.
Repórteres da sorte
Ainda bem! Carlos Raleiras foi libertado. Maria João Ruela estará a caminho de Portugal. Mas sobram algumas perplexidades, algumas dúvidas e algumas irritações (como as que João Pedro Henriques deixa no Glória Fácil) sobre o dia em que os jornalistas foram notícia.
Actualização: o sempre pertinente Terras do Nunca também deixa algumas notas sobre os jornalistas portugueses e as guerras. Também o "TSF" Carlos Vaz Marques conta que a libertação de Raleiras foi celebrada com tinto... e lembra que há reportagens que implicam mais custos.
Actualização: o sempre pertinente Terras do Nunca também deixa algumas notas sobre os jornalistas portugueses e as guerras. Também o "TSF" Carlos Vaz Marques conta que a libertação de Raleiras foi celebrada com tinto... e lembra que há reportagens que implicam mais custos.
14.11.03
Repórteres do azar
Carlos Vaz Marques tem um camarada de redacção desaparecido no Iraque. Mas não tem medo em escrever sobre o azar que se abateu sobre os jornalistas portugueses no Iraque, num alerta que é também um grito sobre o aventureirismo com que se faz jornalismo de guerra em Portugal - e que devia responsabilizar também os patrões da comunicação social, não apenas os profissionais. Outro jornalista, João Pedro Henriques, também promete voltar ao tema, mas «quando tudo se resolver». Esperemos que, para Carlos Raleiras, tudo se resolva bem.
Segredos revelados
Como por acaso descobri a nova morada do Tolentino Mendonça, que tinha partido para parte incerta com os seus intrusos amigos. Agora, apresentam-se como o companheiro secreto. E à Cibertúlia chamam de «caldeirada de enguias à moda de Aveiro». Há lá muitas outras iguarias.
13.11.03
O baile da paróquia
Nos voos da TAP, os passageiros podem assistir a um breve serviço noticioso da SIC que resume, em quatro ou cinco notícias, algumas das "histórias" do dia. Mas o serviço é mau. Dito de outro modo: é um serviço paroquial, burocrático e que se limita a um "boa viagem" do apresentador de plantão como sinal de que se trata de algo preparado para os aviões da TAP. Para os estrangeiros, será ainda pior: nas duas viagens que fiz tivemos direito a notícias sobre suspeitas de pedofilia (what else?!) de um professor de Évora, Casa Pia, nada de política (excepto o beija-mão que agora todos fazem à Casa Pia), João Vale e Azevedo, uma perseguição policial que acabou mal e o retrato da violência sobre os polícias, as obras do novo túnel das Amoreiras que complicaram ainda mais os acessos a Lisboa e uma única notícia do mundo: um advogado atingido a tiro por um seu alegado ex-cliente nos Estados Unidos.
É este o mundo da SIC, é este o mundo que a companhia aérea estatal portuguesa tem para mostrar aos seus viajantes, portugueses e estrangeiros, com direito a tradução em "canal inglês". Um mundo de vistas curtas, que se resume ao baile da paróquia. Será que Pacheco Pereira não viaja na TAP, para nunca se ter indignado com este serviço público de iniciativa privada?
É este o mundo da SIC, é este o mundo que a companhia aérea estatal portuguesa tem para mostrar aos seus viajantes, portugueses e estrangeiros, com direito a tradução em "canal inglês". Um mundo de vistas curtas, que se resume ao baile da paróquia. Será que Pacheco Pereira não viaja na TAP, para nunca se ter indignado com este serviço público de iniciativa privada?
Primeiros passos
O ritmo é ainda de férias. Doze dias longe de quase-tudo ajudaram a retemperar forças. Agora redescobre-se o mundo-como-ele-é. Pior: redescobre-se que o país não foi de férias, como lhe fazia bem. Bastou ler meia-dúzia de títulos da imprensa no avião de regresso ou ouvir na voz do comandante que o Benfica continua o mesmo. Depois: os e-mails de sempre ("pay your debt", "girls", "virus"), o blogger em baixo (Due to planned maintenance, Blogger will be unavailable for a few hours starting at 11pm (Pacific) on Wednesday, November 12. Thanks for your patience) e uma absoluta incapacidade de ler uma ínfima parte do que se escreveu na blogosfera. Valham-nos as águas calmas da Cibertúlia, com as chuvas de Novembro em Coimbra (obrigado, Saraiva) e o entusiasmo do João Borges (sim, o disco é muito bom e de onde veio, veio por metade do preço, com o nome certo de Maria Rita, JB!).
Devagar vamos chegando.
Devagar vamos chegando.
10.11.03
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos.
Porque nunca entendi a Cibertulia como um monólogo venho preencher alguns minutos da ausência do Miguel. Queria partilhar com vocês algo de Coimbra, porque só de Coimbra posso falar, porque é em Coimbra que trabalho e vivo.
Em Coimbra choveu de manhã e agora está sol. Acredito que ainda vá chover hoje e em seguida, num volte-face nunca visto, venha a ficar sol. Ou não. E depois vai anoitecer, o que não invalida que volte a chover.
Estou à minha secretária a trabalhar, enquanto olho para fora, pela janela, para vos poder fazer a crónica do tempo que faz em Coimbra. O Caetano Veloso está a cantar "Meia lua inteira" dentro de umas pequenas colunas que tenho em cima da minha secretária, consequência de prodigios da tecnologia que ainda hoje me espantam.
O meu trabalho, programador, permite-me estar a escrever isto e os meus colegas ficarem a pensar que, pela forma como ataco o teclado e carrego em teclas atrás de teclas, estou a trabalhar no duro. Na verdade coloquei um processo a correr e tenho que estar à espera que acabe para poder continuar a trabalhar. E entretanto pus-me a blogar, porque o Miguel nunca mais volta de férias.
Pensei em escrever qualquer coisa de pertinente sobre a actualidade portuguesa ou internacional... mas não há pachorra.
O processo acabou e tenho que voltar ao trabalho. Isto de Blog's é muito melhor numa perspectiva consumista mas eu não gosto de silêncios incómodos, de cortar à faca. Gosto deles contemplativos ou significativos, mas não incómodos.
E se o Miguel não voltar? [arrepio].
P.S.
Demoro sempre mais tempo a inventar um titulo para os Post's do que a escrevê-los. Normalmente (sempre) deixo isso para o fim. E agora? Como vou intitular este? Bolas. Tenho que voltar para o trabalho... Olha porque não... obrigado ó Caetano.
Em Coimbra choveu de manhã e agora está sol. Acredito que ainda vá chover hoje e em seguida, num volte-face nunca visto, venha a ficar sol. Ou não. E depois vai anoitecer, o que não invalida que volte a chover.
Estou à minha secretária a trabalhar, enquanto olho para fora, pela janela, para vos poder fazer a crónica do tempo que faz em Coimbra. O Caetano Veloso está a cantar "Meia lua inteira" dentro de umas pequenas colunas que tenho em cima da minha secretária, consequência de prodigios da tecnologia que ainda hoje me espantam.
O meu trabalho, programador, permite-me estar a escrever isto e os meus colegas ficarem a pensar que, pela forma como ataco o teclado e carrego em teclas atrás de teclas, estou a trabalhar no duro. Na verdade coloquei um processo a correr e tenho que estar à espera que acabe para poder continuar a trabalhar. E entretanto pus-me a blogar, porque o Miguel nunca mais volta de férias.
Pensei em escrever qualquer coisa de pertinente sobre a actualidade portuguesa ou internacional... mas não há pachorra.
O processo acabou e tenho que voltar ao trabalho. Isto de Blog's é muito melhor numa perspectiva consumista mas eu não gosto de silêncios incómodos, de cortar à faca. Gosto deles contemplativos ou significativos, mas não incómodos.
E se o Miguel não voltar? [arrepio].
P.S.
Demoro sempre mais tempo a inventar um titulo para os Post's do que a escrevê-los. Normalmente (sempre) deixo isso para o fim. E agora? Como vou intitular este? Bolas. Tenho que voltar para o trabalho... Olha porque não... obrigado ó Caetano.
4.11.03
Ana Rita
Sim !!!! A que vinha na revista do Expresso. Comprei, ouvi, amei. Tem em comum com a mãe (Elis Regina) a "espessura" da voz. As letras são boas, os arranjos de uma simplicidade fantástica. Depois do popular "tribalismo", há um regresso ao novo intimismo brasileiro. Passem por lá.
1.11.03
Momentos únicos
© Jorge Colombo (para M e M)
Estou de partida, por uns dias. Sem saber o que é isso de blogar. Fora de tempo - e (quase) fora deste mundo. Há outros "cibertúlicos" por aí. Pode ser que eles resolvam tomar este barco...
Early night blogs
Leituras nocturnas antes de ir de férias (e uma actualização pela fresquinha):
1. Um blogue - mais um a "linkar" em futura actualização da coluna de favoritos -, que também me chega por e-mail. «Miniscente», uma criação de Luís Carmelo que, numa visita impressionista, agrada - e não só à vista. A visitar com tempo, noutras tardes e noites.
2. Era impossível manter a nossa OPA (oferta pública de acolhimento) a Ana Sá Lopes depois da resposta que nos deu. Ficámos derretidos.
3. O nosso médico recorda os doentes que lhe passam numa urgência:
«[idade] 95 - [sexo] Feminino: agitação, sons imperceptíveis, grunhidos, gemidos, psicose senil, acamada, suja, urinada, escariada, abandonada dentro da família. Quando mostram a vida dos 113 anos, esquecem-se de muitos anos sem vida. Estes casos não convêm expor nos monitores das nossas televisões. Expor doentes, só com casas com piscina, da nossa nova burguesia, ou quando cheira a negligência médica ou do Estado. Quando a negligência é das famílias, as televisões escondem-se.
Este e outros breves retratos num retrato que ministros, políticos e jornalistas podiam espreitar.
4. A viagem de transportes do Terras do Nunca em dias cinzentos. E de como a (minha) alternativa não será blogar. Mas sair. Para longe - de férias (de tudo).
1. Um blogue - mais um a "linkar" em futura actualização da coluna de favoritos -, que também me chega por e-mail. «Miniscente», uma criação de Luís Carmelo que, numa visita impressionista, agrada - e não só à vista. A visitar com tempo, noutras tardes e noites.
2. Era impossível manter a nossa OPA (oferta pública de acolhimento) a Ana Sá Lopes depois da resposta que nos deu. Ficámos derretidos.
3. O nosso médico recorda os doentes que lhe passam numa urgência:
«[idade] 95 - [sexo] Feminino: agitação, sons imperceptíveis, grunhidos, gemidos, psicose senil, acamada, suja, urinada, escariada, abandonada dentro da família. Quando mostram a vida dos 113 anos, esquecem-se de muitos anos sem vida. Estes casos não convêm expor nos monitores das nossas televisões. Expor doentes, só com casas com piscina, da nossa nova burguesia, ou quando cheira a negligência médica ou do Estado. Quando a negligência é das famílias, as televisões escondem-se.
Este e outros breves retratos num retrato que ministros, políticos e jornalistas podiam espreitar.
4. A viagem de transportes do Terras do Nunca em dias cinzentos. E de como a (minha) alternativa não será blogar. Mas sair. Para longe - de férias (de tudo).
31.10.03
«Um dia muito feliz»
A Inês Versos defendeu hoje a sua tese de mestrado (que bem podia ser de doutoramento) - sobre os cavaleiros da Ordem de Malta, do Antigo Regime ao Liberalismo, mais coisa, menos coisa. Para quem acompanhou o processo, sabe a importância deste dia. Ou, nas palavras do orientador da nossa Inês: «Um dia muito feliz», para todos. Sobretudo para a Inês. Para quem não pôde estar, a Cibertúlia registou alguns apontamentos do júri: «Notável», «uma referência para trabalhos futuros».
[A propósito da tese, chegámos à conclusão de que Martins da Cruz é certamente um cavaleiro da Ordem da Malta, encapotado: já naquela ordem, nos séculos XVII e XVIII - perdoem-me o discurso jornalístico de menor rigor histórico - houve muitos candidatos para tão poucos lugares e os portugueses entravam com menos habilitações que em outros países. À imagem e semelhança dos esforços da filha do ministro para entrar em Medicina.]
[A propósito da tese, chegámos à conclusão de que Martins da Cruz é certamente um cavaleiro da Ordem da Malta, encapotado: já naquela ordem, nos séculos XVII e XVIII - perdoem-me o discurso jornalístico de menor rigor histórico - houve muitos candidatos para tão poucos lugares e os portugueses entravam com menos habilitações que em outros países. À imagem e semelhança dos esforços da filha do ministro para entrar em Medicina.]
Murmúrios com ânimo
Antes de partir, para além da Taprobana, deixo a sugestão de dois blogues: um que me chegou por correio e que se propõe ouvir os murmúrios do silêncio. E um outro que já há muito é de leitura obrigatória e que anima continuamente a blogosfera ao seu ritmo - e acompanhando os ciclos das vidas.
Apita o comboio
«Nas passagens de nível costuma estar escrito assim: pare, escute e olhe. Depois de parar, escutar e olhar, pode-se então atravessar.» Uma sugestão de leitura de Rogério Alves, da Ordem dos Advogados. Também para ajudar outras leituras, suscitadas pelo Jorge Barreiros.
30.10.03
À Marta (e aos pais da Marta)
do mistério da delícia
desse ventre
espalhem a notícia do que é quente
e se parece
com o que é firme e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse
Divulguem o encanto
do ventre de que canto
que hoje toco
a pele onde à tardinha desemboco
tão cansado
esse ventre vagabundo
que foi rente e foi fecundo
que eu bebia até ao fundo
saciado
Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
A terra tremeu ontem
não mais do que anteontem
pressenti-o
o ventre de que falo como um rio
transbordou
e o tremor que anunciava
era fogo e era lava
era a terra que abalava
no que sou
Depois de entre os escombros
ergueram-se dois ombros
num murmúrio
e o sol como é costume foi um augúrio
de bonança
sãos e salvos felizmente
e como o riso vem ao ventre
assim veio de repente
uma criança
Falei-vos desse ventre
quem quiser que acrescente
da sua lavra
que a bom entendedor meia palavra
basta é só
adivinhar o que há mais
os segredos dos locais
que no fundo são iguais
em todos nós
Sérgio Godinho, Espalhem a notícia
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