30.4.08

Abril de fecho

Há um discurso que por esta época faz caminho. Que teria sido melhor continuar com Marcelo, sem sobressaltos, que a seu tempo a democracia seria nossa. A direitalha que vibra com a ideia, invoca crescimentos económicos, esquecendo que - só com a democracia de Abril - o país deu de facto o salto, económico, social e cultural. Estes saudosos marcelistas-estadonovistas são os mesmos que depois batem forte e feio na Cuba de Castro, mesmo com as medidas de abertura de Raul Castro. Eu, por mim, quero mesmo o fim da ditadura castrista (versão Fidel ou Raul). Com rupturas, sem marcelices.

29.4.08

O estudo que Cavaco (tres)leu

Apenas um rápido apanhado das principais conclusões do famoso estudo citado pelo Presidente:

«os índices de participação social dos jovens são mais elevados do que os da restante população, facto que não se deve exclusivamente à pertença a associações estudantis ou a grupos desportivos»;

«os jovens seguem este padrão, mas com uma nuance importante: em geral – e mais uma vez exceptuando o voto – tendem a ser menos cépticos do que os mais velhos em relação à eficácia de todas as formas de participação política, convencionais ou não»;

«entre os mais jovens (15-17 anos) e os jovens adultos (18-29 anos), essa insatisfação [com o funcionamento da democracia] é algo menos pronunciada do que entre os mais velhos, assim como tendem a existir entre eles atitudes mais favoráveis (especialmente entre os mais jovens de todos) a reformas incrementais e limitadas na sociedade portuguesa»;

«os níveis de disponibilidade para a participação e de participação real dos mais jovens podem ser vistos como sendo comparativamente elevados tendo em conta a sua posição no ciclo de vida».

É de mim, ou o senhor Presidente forçou a nota, acompanhado pelo coro das velhas?!

Os dias a seguir. Abril ainda - e sempre

«A ansiedade pela certeza de que o 25 só seria uma vitória se aquelas portas se abrissem. As notícias que iam chegando e que nem sempre eram boas.

Abriram-se, tarde na noite.

A imagem aqui ao lado entrou-nos pela casa dentro dezenas, centenas de vezes. Em tempos, tirei-a eu do filme «Caminhos da Liberdade». Gosto dela assim.» [Joana Lopes, Entre as brumas da memória]


[e como gosto de ter uma Madrinha assim...]

Força, companheiro Vasco

«No filme A Vida de Brian, dos Monthy Python, uma das personagens mais estúpidas pergunta “mas afinal, que fizeram os romanos por nós?”. Alguém sugere: “o aqueduto”, “os esgotos”, “as escolas”, “as estradas”, e por aí adiante. O primeiro vai ficando irritado até que finalmente se vê forçado a responder: está certo, mas tirando os aquedutos, os esgotos, as escolas, as estradas, o direito, o comércio, e essas coisas todas — que fizeram os romanos por nós?

Na sua crónica de sábado sobre “O 25 de Abril”, Vasco Pulido Valente [VPV] garante-nos que “tirando as leis que instituíram a democracia, o PREC não deixou uma única reforma necessária e durável”. Com os termos definidos por VPV, em que 25 de Abril e PREC são tratados como intermutáveis, eis de novo a questão de A Vida de Brian: “mas afinal, que fez o 25 de Abril por nós?”.

Só que a resposta de VPV é mais divertida: “tirando as leis que instituíram a democracia”, nada. Por outras palavras: tirando eleições livres e justas, imprensa sem censura, extinção da polícia política, partidos políticos, fim da tortura e dos presos de opinião, liberdade de manifestação e associação, que fez o 25 de Abril por nós? Nada.

Alguém diz: então e a guerra? Eu não sei se o fim da guerra é uma “reforma”: para mim, é melhor do que isso. Ora, diz VPV, o “abandono de África não provocou nenhuma resistência interna, provando a artificialidade do imperialismo indígena”. Pois tirando o fim da guerra, que foram treze anos de “nenhuma resistência interna” mais a “artificialidade” de uns milhares de mortos, temos o quê? Nada.

***

E que reformas nos deixou o PREC? Três ao acaso: universalização das pensões de reforma, generalização das férias pagas e Serviço Nacional de Saúde. Mas não sei se cabem na definição de “necessárias” e “duráveis” de VPV. Terá sido a extraordinária diminuição da mortalidade infantil “durável”? Para os interessados, parece que sim. Terão sido necessárias as pensões adicionais? Para o milhão que passou a usufruir delas em poucos anos, sim. E as férias? Essas, como diz toda a gente, são muito necessárias mas pouco duráveis.

Recapitulemos: tirando os recém-nascidos que sobreviveram, os velhos que recebem pensões, os jovens que não foram à guerra e lotaram as universidades, os adultos que gozaram férias e o pessoal todo que viajou para o estrangeiro sem ser “a salto” e nem precisar de passaporte, que fez o 25 de Abril por nós? Nada.

Vasco Pulido Valente tem no entanto razão se pensarmos que em qualquer revolução há sempre coisas que já vinham de antes e outras que ocorrem depois, que a história é uma coisa atrás da outra, e que o resto é conversa. Um exemplo: a entrada na UE não é o 25 de Abril. Mas é muito duvidoso que chegássemos a uma coisa sem a outra. A não ser, é claro, para as mentes retroactivas da direita portuguesa, que ainda lamentam Marcelo Caetano porque nunca deixaram de acreditar que a única maneira de nos aproximarmos das democracias teria sido sempre dar mais tempo aos nossos regimes autoritários.

Em suma: tirando esse pormenor da democracia, tirando a descolonização e tirando o desenvolvimento, que fez o 25 de Abril por nós? Ridiculamente pouco, pelo menos se comparado com Vasco Pulido Valente, que só nos últimos meses já nos garantiu, para além desta pérola, que Menezes chegaria a primeiro-ministro e Mitt Romney seria o próximo presidente dos EUA.» [Rui Tavares, no Público de ontem]

28.4.08

Ignorantes, sem respeito, ai os jovens

“As crianças de agora amam os luxos; têm más maneiras, desprezo pela autoridade; mostram desrespeito pelos mais velhos e adoram tagarelar (…) devoram a comida nas mesas e tiranizam os seus professores.”

Quem foi que disse? Quem? Respostas aqui. Para cavacos aprenderem.

Credibilidade

«Foi ministra da Educação do Governo de Cavaco Silva, entre 1993 e 1995, altura de forte contestação por parte dos estudantes do Ensino Superior. Já com Durão Barroso no cargo de primeiro-ministro, entre 2002 e 2004, ocupou a pasta das Finanças.« (da Lusa)
Numa e noutra pasta Manuela Ferreira Leite falhou, mas hoje (dizem-nos) é credível. Estranha credibilidade que se ganha olhando para os restantes quatro candidatos.

25.4.08

Ignorância, 3

Também encomendei um estudo. Ontem, no autocarro 773, da Carris, seis miúdos desbobinavam o que é o 25 de Abril. "Acabou o salazarismo", juntou uma velhota. "Morra o Salazar", riu-se o miúdo saindo do autocarro. O meu estudo mostra que os jovens sabem o que foi o 25 de Abril. Pum!

Ignorância, 2

"Hoje, o 25 de Abril, é só um feriado para ir para a praia", lamentou-se Inês Serra Lopes, na SIC Notícias. Que bom que é assim! A democracia também se faz a ir para a praia. A liberdade também é isto.

Ignorância, 1

O Presidente está impressionado com a ignorância dos jovens mas quando primeiro-ministro deu fortes machadadas no associativismo juvenil nos anos 90. Preferia os jovens a agitar bandeirinhas.

Saímos à rua de cravo na mão



FMI, de José Mário Branco (via Arrastão), de que já tínhamos publicado o texto na íntegra

25 de Abril. Sempre

boomp3.com

José Mário Branco, Queixa das Almas Jovens Censuradas (Natália Correia) [via JMF]

22.4.08

Simples

As lojas do cidadão são uma excelente ideia. Em geral, rápidas e eficientes. Mas, na dos Restauradores, em Lisboa, o espaço acanhado instala a anarquia em qualquer serviço. E há dedos fáceis a apontar: o SEF que tem o funcionamento mais kafkiano à face da Terra. Não admira que muitos prefiram a ilegalidade a perder um emprego na obra ou na patroa por causa do atendimento destes senhores.

Verde

O Público assina a foto da capa de hoje como um anúncio publicitário. E deixa várias dicas nas suas cabecinhas, assinaladas como "pub", mas no mesmo estilo e corpo de letra de uma notícia. O Livro de Estilo proíbe-o. O P mudou mesmo.

[clicar na foto para aumentar; ver no canto inferior esquerdo]

21.4.08

Velhos nomes

Aguiar Branco, Passos Coelho, Patinha Antão, Menezes, Santana Lopes, Ferreira Leite, Rui Rio. Quem disse que o PSD se quer renovar?

Ordenamento

Os céus do Algarve já estão polvilhados de edifícios, mas as gruas acotovelam-se.

19.4.08

Uma imagem de Portugal

«Que Augusto Brázio é um fotógrafo fabuloso já o sabíamos. Diante da difícil prova que é fotografar um rosto ele sai quase sempre vencedor. E eu diria que é porque não o quer capturar. Mesmo próximos, os rostos mostrados por Brázio, mantêm a sua distância e reserva. Olham para nós, mas a partir do que lhes é próprio. Por isso, nunca são planos, nem banais. Porém, mesmo sabendo isso, a fotografia com que ele acaba de ganhar o prémio fotojornalismo de 2008, tirou-me, por momentos, a respiração. Sem perceber como, os olhos já estavam embaciados, e o tempo corria sem que eu tivesse coragem de passar à notícia seguinte.

A legenda da imagem diz: «O INEM presta assistência a uma mulher de 19 anos cujo terceiro filho acaba de nascer em casa. Lisboa, Fevereiro de 2007». «A mulher de 19 anos» é uma rapariga de um dos bairros pobres da capital, estendida numa maca de ambulância, a cabeça reclinada ao lado direito, presa a uma máscara de oxigénio, enquanto abraça com delicada firmeza o seu recém-nascido. Ela tem uma camisola ou um roupão rosa e o filho está (como o Outro Filho, de que reza a história) «envolto em panos», de cor azul.

Quem já contemplou uma «Madona con il Bambino», de Rafael, Boticelli ou de qualquer um dos grandes mestres já viu tudo o que aqui tem diante dos olhos. O mesmo grito impávido, um inenarrável desamparo, o mesmo abraço fragilíssimo e poderoso àquele que gerou. E a certeza de que nenhuma história é mais humana e mais sagrada do que esta. Mas, nem por isso, perante esta fotografia nos deixa de sobrevir uma vontade de chorar.

Portugal é um país estranho. As estatísticas dizem que o número de pobres não deixa de crescer, e o desnível económico entre os grupos sociais é um dos mais altos entre os países da Comunidade. As notícias sobre compensações e reformas milionárias chocam-nos cada vez mais remotamente. A euforia de um liberalismo arcaico, travestido de modernidade, aparece como receituário. E a inconsciência social ganha espaço como se fosse uma fatalidade. A imagem de Augusto Brázio vale por milhares de palavras.»

José Tolentino Mendonça

Editorial da Agência Ecclesia on-line

18.4.08

Casamentos (nova boda)

Eis como explicar ao inominável César das Neves (e a alguns bispos por atacado) que a certidão criada na Idade Média não faz dos homens e mulheres mais ou menos responsáveis no casamento. Ámen, Lutz.

Next Life' by Woody Allen

In my next life I want to live my life backwards. You Start out dead and get that out of the way. Then you wake up in an old people's home feeling better every day. You get kicked out for being too healthy, go collect your pension, and then when you start work, you get a gold watch and a party on your first day. You work for 40 years until you're young enough to enjoy your retirement. You party, drink alcohol, and are generally promiscuous, then you are ready for high school. You then go to primary school, you become a kid, you play. You have no responsibilities, you become a baby until you are born. And then you spend your last 9 months floating in luxurious spa like conditions with central heating and room service on tap, larger quarters every day and then Voila! You finish off as an orgasm! I rest my case.

[obrigado ao Z.]

Intempérie

Menezes contabilizou: desde o primeiro dia, a primeira hora, que lhe atiraram pedras. Mas o rapaz devia saber que quem atirou a primeira pedra foi ele - desde a primeira hora, o primeiro dia -, a Marques Mendes. E o pecador devia abster-se agora de o fazer.

Contabilidade

Cinco guarda-chuvas no chão, destruídos. Mais dois num caixote de lixo. Noite de intempérie.

17.4.08

Por uma vez, gostar da tropa

Nasceu a Teresa

Ontem, o Paulo e a Mónica tiveram de se apressar para a receber. Mas, no fim, correu tudo bem. Não se pode dizer que a miúda tenha mau timing: deu duas alegrias ao Pai.

A democracia explicada pelo sr. Silva

«No seu próximo mandato virei aqui dar conta da plantação que irei fazer com as sementes que levo daqui de Laurissilva», disse Cavaco Silva, sorridente, a Alberto João Jardim, ao que este replicou: «Mas vai haver outro mandato? Onde?». [in PD]

Mil vezes Zapatero


Os bispos italianos preferem a família à Berlusconi: um marido infiel, que gosta de apalpar mulheres, e deixá-las em casa. Mil vezes isto à família "desarticulada" de Zapatero, dizem eles. Mas, Senhor, porque não se calam estes bispos?!

[na foto, Zapatero e as mulheres - em maioria - do seu Governo]

Mais cabelo

«'IL CAVALIERE' VOLTA A MONTAR. Berlusconi, parte III. A Itália vai mal por causa da metade que se revê nele desde 1994 - e por causa da outra metade que quando lá está também faz maus governos. A Itália política são duas metades incompetentes que se diferenciam na maquilhagem: Berlusconi tem-na, exagerada; a esquerda não a põe, para dizer que existe. Com a volta de Berlusconi não faltará circo. Ou ele, com os dedos, põe cornos num colega europeu, em foto de cimeira, ou ele se vira publicamente para o eurocrata Javier Solana e lhe diz: "És alto-representante porquê, se tens a minha altura?" Com Il Cavaliere não falta o riso. Falta é a rima, o siso, como já se voltou a ver, agora, acabadinho de ser eleito. Berlusconi telefonou a Zapatero, admoestando o espanhol por pôr tanta mulher no Governo. Não que o italiano não aprecie inovações, aprecia. Será o primeiro político que, ao repetir o juramento para presidente do Conselho, levará mais cabelo do que da vez precedente.» [Ferreira Fernandes]

16.4.08

3-5

Pronto. Não se importam de despedir o Vieira?!

Peter Pan voa para a Terra do Nunca



[... e morreu Pedro Bandeira Freire. A ele devemos-lhe o Quarteto, das noites longas de aniversário, das cadeiras incómodas, dos sons dos filmes da sala do lado, mas de um imenso charme cinéfilo. E de filmes tantos.]

Round and round, up and down, Everyday I make my way, Through the streets of your town


The Go-Betweens, «Streets of your town»

Raios e trovoadas

Quando não há nada para dizer fala-se do tempo. Entramos no autocarro ou no elevador ou no táxi, e - desbloqueador de conversa - queixamo-nos da chuva ou do calor. Cavaco na Madeira, ontem, disse que estava um dia perfeito e que o Presidente levou a bonança. Para o táxi, não está mal, para um Presidente da República é pouco, mas para este Presidente, é típico. O senhor Silva não gosta de ondas, nem de enfrentar o mau tempo, e depois dá nisto.

15.4.08

E a salvação dele será a Luz

Pinto da Costa nas urgências do Hospital da Luz.

[pronto: é mentira do Expresso. Mania a minha de confiar em jornais de referência...]

A piada feminina do dia (por e-mail)

Tenho pneu sim, mas qual é o avião que não tem?

Ricochete

A direita que questionou e detestou o voto popular em Espanha (especialmente no 14 de Março de 2004) agora vem perguntar se alguém por cá se vai queixar dos votos em Itália. Não, , nós não amuamos com os votos dos italianos. Mas assustamo-nos com estes regressos. Salvíficos, mas sempre apocalípticos, como também se vê com o PSD-PP destes últimos dias.

[actualize-se: Pedro-o-inominável-Lopes diz que é impressionante a vitória de Berlusconi. Deve ter-se olhado ao espelho a imaginar-se numa manhã de regresso... O pior, para ele, é que ele Santana não tem 3 canais de televisão e os portugueses têm mais memória que o PSD.]

Pergunta para referendo

Concorda com a independência da Madeira?

14.4.08

Cavaco come e cala?
(ou de como a canalhice faz escola ou Menezes ameaçou trazer estilo trauliteiro para o continente ou e fdp, posso chamar-lhe?)

«Eu acho bem não haver uma sessão solene, acho que era dar uma péssima imagem da Madeira mostrar o bando de loucos que está dentro da Assembleia Legislativa», disse Alberto João Jardim, referindo-se a deputados da oposição como «o fascista do PND, o padre Egdar (do PCP)» e «aqueles tipos do PS». [da Lusa]

Neoliberalismo explicado às crianças

Ser chamado aos 5 anos para uma entrevista para entrar no colégio.

Regressos

Rui Gomes da Silva foi o mesmo senhor que inventou um caso com Marcelo, porque não gostava das suas missas dominicais (para memória futura: questionei na altura, como jornalista, o ministro Rui Gomes da Silva - sim, este tipo foi ministro - porque só então criticavam Marcelo, porque se tinham calado durante anos, quando o PSD era oposição; resposta: "não comento"). Agora este tipo (foi ministro; acreditem!) volta a insultar mesquinhamente (é perito nisso). É verdade: Santana bem nos avisou que estava de regresso. Ele e os seus. Os seus e a canalhice.

[e via Origem das Espécies, leio Ferreira Fernandes]

12.4.08

Cinco anos


Há cinco anos, Jorge Colombo ilustrou o mais bonito convite de casamento. Agora, fomos ao arquivo dele para ilustrar a festa, mesmo que o bolo roube duas velas... Até já.

11.4.08

Gostar de sofrer

0-3. E Vieira que não se demite.

Slalom

Atravessa-se o bairro em fim de noite, há donos que passeiam os seus cães, um, dois, vários. Só uma conclusão: porcos, cães e donos.

Duas cabeças

«O líder do PSD, Luís Filipe Menezes, criticou hoje a decisão do primeiro-ministro, José Sócrates,de escolher as questão da energia para tema do debate quinzenal na Assembleia da República. "Quando os problemas do país são centrais, nucleares do ponto de vista daquilo que é o futuro, o nosso primeiro-ministro fala de barragens, de política externa ou de fait-divers do género", disse.» [da Lusa]

«Santana Lopes considerou que há "um caminho continuado" desde o seu executivo em matéria de energia e que "o caminho que se está a seguir é acertado". "Quem tem de apresentar propostas é o senhor primeiro-ministro, nós apresentamos quando entendemos", replicou.» [horas mais tarde, também da Lusa]

Meteorologia

10.4.08

Trichados

«O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet apelou hoje aos sindicatos europeus que "moderem" as reivindicações salariais, porque a Zona Euro está a enfrentar um "período prolongado de forte inflação".» As usual: a moderação pedida é aos trabalhadores, não aos patrões que sacam reformas milionárias aos 46 anos. As usual.

Uma estátua para Jardim

"Recomenda-se ao Governo Regional da Madeira que proceda à construção de uma estátua de bronze ou outro metal nobre, com cerca de 50 metros de altura, que represente o amado líder da Madeira Nova, dr. Alberto João Jardim ."
É desta forma que se inicia uma proposta de resolução apresentada por Baltasar Aguiar, o deputado do Partido da Nova Democracia (PND) na Assembleia Legislativa da Madeira.
Se fosse feita como no projecto, o monumento teria uma "escada" interior possibilitando aos seus visitantes ver a baía da "mui nobre cidade do Funchal, através dos olhos do seu amado líder". No mesmo tom, o documento prevê que a estátua possa rodar, acompanhando a luz do Sol, "como fazem os girassóis".
O autor da proposta explicou ao 24horas que se trata de uma resposta, à letra, ao projecto de resolução do PSD, que será aprovado hoje, de congratulação pelos 30 anos de governação do João Jardim : "Aquele texto só pode ser uma brincadeira, tem uma linguagem inaceitável e parece saído de um velho discurso albanês, de um povo que tem uma adoração pelo seu líder."
"Se aquele texto for a sério, então o do PND também o é. Os grandes líderes merecem uma estátua à sua altura", ironiza o deputado.

[texto Ricardo Vilhena/ilustração: 24 Horas; clicar na imagem para aumentar]

Precários

A única precariedade que Menezes e Portas conhecem é a da sua condição de líderes. Nada mais. E é pouco: dali só lhes vem prestígio ao ego, eventualmente comendas e dinheiros casínicos ou eucalípticos. De resto, quando caírem, deixam de estar precários: voltam aos mil e um poisos que têm, ganhos a custo de muitas prebendas distribuídas. Por isso, quando falam da precariedade dos trabalhadores, custa-lhes pouco aceitá-la. Nunca o sentiram, sabem lá o que isso é.

Miúdos, escolas

Agora, em Portugal, achamos que escolas rimam com telemóveis, pancada, youtube, vídeos de má qualidade, badochas e processos disciplinares. Ignoramos que também rimam com youtube, ideias giras, filmes e livros. A ver, e votar.

[via Bibliotecário de Babel]

Rasganço

Se a Lusoponte assinou um contrato com o Estado claramente desvantajoso para o País, e muito bom para a empresa, com Ferreira do Amaral ministro (e Cavaco seu primeiro-ministro), é necessário responsabilizar judicialmente o(s) antigo(s) governante(s) por lesa-Estado. Depois, rever o contrato com a empresa - rasgar os papéis. Por que há-de o Estado - ou seja, todos nós - pagar por um mau contrato, que tem assinatura identificada? Não tem. Mais ainda, quando essa assinatura identificada agora está do outro lado, a colher esses frutos.

[machismo]

Pôr as culpas todas na mulher de César e lavar as mãos em relação ao senhor. Machismo, é o que é.

César

A César tudo se permite. Andamos todos distraídos a pedir que a sua mulher seja séria, e que o pareça, que nos esquecemos de pedir ao dito que ele o seja e pareça... Jorge Coelho devia ter recusado a Mota-Engil, mesmo não havendo nada de ilegal. Indo para lá, o Governo deve recusar qualquer negócio com a empresa, por óbvia suspeita. Sim: é contra as regras liberalóides do mercado. Sim: é para repor moralidade nesta coisa toda.

9.4.08

Ao sétimo dia...

Alegrar as crianças (desconfiar de Chávez)

«O governo venezuelano proibiu "Os Simpsons". O cartoon foi banido da televisão venezuelana por "não ser apropriado para as crianças". Segundo o Globo, a grelha televisiva foi agora preenchida com episódios repetidos de "Marés Vivas", uma série sobre nadadores-salvadores.» [in PD, sublinhado nosso]

Raízes

As nuvens

Fustigada a cidade, o rio batido, a ponte castigada. Esta noite violenta não se escreve numa ocorrência da PSP.

8.4.08

As estrelas

não vou, gostava de ir...

Estranhas convicções

O PSD de Ferreira do Amaral (hoje patrão da Lusoponte) e Cavaco Silva decidiu que a Ponte Vasco da Gama se fazia onde se fez. Contra a opção Chelas-Barreiro, e contra vozes avisadas ao que seria a especulação imobiliária em Alcochete e Montijo. Hoje, sai-se da auto-estrada e vê-se o que ali nasceu. Agora, o PSD e o CDS voltam a insistir numa opção que inclui o Montijo, ou aparentemente o que sobra ainda de espaço para especular. Eu que não percebo nada de pontes, parece-me estar em Chelas-Barreiro a alternativa à 25 de Abril (que a Vasco da Gama nunca foi), e não no Montijo. Mas há quem insista no contrário, por causa do aeroporto, que até seria bem servido (diziam eles na altura) só com a Vasco da Gama. Ou é de mim, ou há interesses inconfessáveis para os lados do Montijo.

I want to change the world, instead I sleep


Ingrid Michaelson, «Keep Breathing»

Early morning blogs

Ao quinto dia, E Deus Criou a Mulher continua a bater o Abrupto, na média de visitas diárias (e, mais do dobro, nas páginas vistas...)*.


* dados do Blogómetro

7.4.08

Imagine there's no country...

«[...] The wellbeing of the existing resident population is no more, and no less, relevant than the wellbeing of any potential immigrant to the UK, wherever in the world he or she may be. I recognise private property rights. My home is my castle and I can deny entry into it to anybody at any time. I don’t recognise national property rights. A country is not like a private home. A country is an open club.» [Willem Buiter]

[mais uma dica do Nuno... almoços frutuosos]

6.4.08

Gesto

M. e Minnie
(foto MM, Mar/o8)

5.4.08

Palavra

A Torre Eiffel vista do monumento à paz no Champ de Mars.
(foto MM, Mar/08)

FCP

Sim, parabéns ao campeão 07-08. Agora podemos despromover o clube que corrompeu em 03-04. Em Itália, foi assim. E ninguém estranhou.

Boicote

A SIC noticiou-o há pouco. Alberto João diz que não confia na objectividade dos jornalistas e que por isso proibia a cobertura do PSD regional por esses profissionais, excepto as sessões de abertura e encerramento (e disse-o em declarações aos jornalistas que comeram e calaram). Tenho pena que isto seja notícia, mais pena terei se os jornalistas forem às referidas sessões. O congresso devia ser boicotado, ninguém daria uma linha sobre o assunto - nem a proibição devia ter sido notícia, fazia-se de conta que não existia. Assim, provado o fel, este aprendiz de ditador ia perceber que os jornalistas são objectivos.

Por uma vez...

... o E Deus Criou a Mulher bateu o Abrupto, na média de visitas diárias (e, mais ainda, nas páginas vistas...)*. Bom dia!


* dados do Blogómetro

4.4.08

Lisboa

Sol, luz. Em dia de folga. Sabe bem, a cidade.

3.4.08

Há muita fraca memória

«Não aprendemos nada com países como a Irlanda, que deixaram as auto-estradas para o fim.» A frase é de Luís Filipe Menezes que foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares do segundo Governo de Cavaco, que só valorizou... as auto-estradas.

Aviso

O post aqui abaixo é longo, muito longo. Pouco apetecível para ecrã. Esforcem-se no scroll, imprimam-no, façam o que quiserem, mas leiam-no. José Mário Branco, quase 30 anos depois - e tão actual que está.

Abril sempre (um texto que foi escrito, assim, de um só jorro). Para o Olímpio, de novo

«Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto. Chama-se FMI. Quer dizer: Fundo Monetário Internacional. Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos... É o internacionalismo monetário!

FMI
Cachucho não é coisa que me traga a mim mais novidade do que lagostim Nariz que reconhece o cheiro do pilim Distingue bem o Mortimore do Meirim A produtividade, ora aí está, quer dizer Há tanto nesta terra que ainda está por fazer Entrar por aí a dentro, analisar, e então Do meu 'attachi-case' sai a solução! FMI Não há graça que não faça o FMI FMI O bombástico de plástico para si FMI Não há força que retorça o FMI Discreto e ordenado mas nem por isso fraco Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco Enfio uma gravata em cada fato-macaco E meto o pessoal todo no mesmo saco A produtividade, ora aí está, quer dizer Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder Batendo o pé na casa, espanador na mão É só desinfectar em superprodução! FMI Não há truque que não lucre ao FMI FMI O heróico paranóico 'hara-quiri' FMI Panegírico, pro-lírico daqui Palavras, palavras, palavras e não só Palavras para si e palavras para dó A contas com o nada que swingar o sol-e-dó Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas Sempre atentas E levas pela tromba se não te pões a pau Num encontrão imediato do 3º grau! FMI Não há lenha que detenha o FMI FMI Não há ronha que envergonhe o FMI FMI... Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandhi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta desestabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transacção e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? A-ni-qui-bé-bé, a-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho? A one, a two, a one two three FMI dida didadi dadi dadi da didi FMI... Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversivelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não desestabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da PIDE pá, Tarrafais e o carago, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ahn? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, A, venha ver o que isto é, E, o barulho que vai aqui, I, o neto a bater na avó, O, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah? FMI Dida didadi dadi dadi da didi FMI... Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-fascistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marrazes, Marrazes, fora o árbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de polícia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Deng Xiaoping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brejnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-chula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, desopila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe. Eu quero desnascer, ir-me embora, sem sequer ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viagem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de Lavacolhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grândola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.»

José Mário Branco - FMI
(via João, e com a ajuda da João para o áudio)

2.4.08

Amanhã

«Nós somos um rio»

Lembram-se da música? Uma xaropada que não ia parar, e não parou mesmo, que nos deu dez anos longos de cavaquismo... Agora, talvez lembrado dessa época áurea, Pacheco Pereira acha que Rui Rio é que é. Sim, para líder do PSD. Deve ser para defender a tese: um mau presidente da Câmara dará um bom primeiro-ministro. Só que como provou à saciedade Santana Lopes, a coisa de facto não se passa assim.

Casamentos

O meu casamento é misto: um baptizado casado com uma não-baptizada. Se o acordo foi entre os dois, a "autorização" para a sua "misticidade" teve de ir ao bispo, que (não conhecendo os nubentes) assinará sempre de cruz. A menorização da responsabilidade dos nubentes começa nestes pequenos gestos. (Já não falo do questionário feito.) É esta a pecha católica: menorizar os casais, homens e mulheres, porque por natureza se desconfia de cada um. A seguir, a desconfiança eterniza-se, se o casamento der para o divórcio: os divorciados que não podem recasar, os divorciados proibidos de comungar... Já aos casados, permite-se tudo, inclusive a violência. Com ou sem autorização eclesial.

Notável caixinha

Vejo um episódio do CSI NY que se resolve com uma viagem ao Second Life. A TV americana é neste momento um poço de originalidade e criatividade. Ganha o cabo, perdem as generalistas imersas na banalidade das telenovelas.

O post anterior...

... perdeu validade às 23h59. Era a mentirinha do dia 1. Aqui, neste espaço permito-me a este jogo. Nos jornais, é tradição que felizmente vai caindo em desuso.

1.4.08

À bomba!

Extra! Extra! extra! Pacheco Pereira acaba com o seu Abrupto. Abruptamente.

Advogado do diabo

O bastonário dos Advogados veio clamar pela libertação de Manuel Machado, um extremista perigoso, que estará preso, diz-nos este senhor Marinho, por ideias. Não está: foi preso por ter na sua posse armas proibidas, e outros crimes graves, incluindo ameaças públicas a uma juíza, que teve de ter protecção policial - tudo muito longe da vítima que vergonhosamente Marinho fez dele (como já Pacheco o tinha feito). O senhor Marinho devia pedir desculpas públicas. Ou demitir-se.

Não é mentira

D. Jorge Ortiga foi o reeleito presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. Faltou a terceira via, que não era Policarpo.

Jaime Gama insiste que não tem nada a corrigir nos seus elogios a Jardim. A esta gente, falta-lhes coluna.

A taxa de fecundidade atingiu um ponto baixíssimo: 1,35 filhos por mulher. Acolher famílias de imigrantes, reequacionar políticas de adopção, incentivar a maternidade e a paternidade são os caminhos a seguir.

O FC Porto e o Boavista podem descer de divisão e perder pontos. Poder, em Portugal, é um verbo que se conjuga no futuro impossível.