29.8.03

Najaf a ferro e fogo

Não era difícil de prever... A notícia do dia refere-se à explosão de um carro armadilhado, ocorrida à porta da maior mesquita de Najaf, quando os fiéis terminavam as orações de sexta-feira... Parece que há cerca de 75 mortos, entre os quais o ayatollah moderado Mohammad Baqir al-Hakim, que já tinha sofrido uma tentativa de assassinato no domingo passado... Até parece mentira que a minha última posta foi precisamente sobre os confrontos em Najaf...

Não sei se viram as notícias de ontem. Se viram, ficaram a saber, como eu, que a administração Bush indicou, pela primeira vez, que poderá estar disposta a aceitar uma força multinacional no Iraque, que actue sob os auspícios da ONU... desde que seja comandada por um americano!

Quem fez este anúncio foi Richard Armitage (o sub-secretário de estado norte-americano) e, apesar de todas as cautelas de linguagem, a verdade é que isto pode significar uma mudança considerável na posição americana que tem insistido que todas as questões militares, económicas e políticas no Iraque, devem manter-se sob o controlo exclusivo dos EUA.

Desenganem-se os néscios: permitir à ONU um papel de liderança no Iraque tem por único objectivo conquistar o apoio do Conselho de Segurança para um novo mandato que autorize a ocupação do Iraque por parte dos americanos.

De qualquer forma, este é apenas mais um episódio da guerrilha institucional entre o Departamento de Estado e o Pentágono. De facto, na passada segunda-feira, o secretário da defesa, Donald Rumsfeld, foi questionado sobre se conseguia imaginar soldados americanos a lutar sob o comando da ONU. A resposta foi clara: "I think that's not going to happen."

O Pentágono é um tradicional opositor da ideia de colocar soldados americanos sob outro comando que não seja o seu próprio. A última vez que tal aconteceu foi no âmbito da força das Nações Unidas que interveio na Somália... com os resultados que se conhecem!

Por outro lado, sabe-se que o secretário de estado Colin Powell é bem mais apologista deste género de soluções e há quem diga que as negociações entre ele e o secretário-geral da ONU, Koffi Annan, se encontram avançadas. De qualquer forma, digo eu, nenhuma decisão será tomada antes da abertura da sessão anual da Assembleia Geral da ONU, no final de Setembro.

A ser verdade, esta solução poderá ser meramente estratégica; mas também pode indiciar que a Casa Branca começa a duvidar que o plano do Pentágono possa resultar. Não nos esqueçamos que no próximo ano há eleições presidenciais nos EUA e que o ritmo a que os militares americanos têm morrido no Iraque desde o final da guerra não deve trazer muita popularidade... E ainda lá estão 138000 soldados!

O General John Abizaid, máximo líder das tropas americanas no Iraque, veio ontem dizer que não precisava de mais tropas americanas, mas, ao mesmo tempo, sempre foi encorajando os aliados muçulmanos (tais como a Turquia e o Paquistão) a enviarem tropas de manutenção de paz...

Ele tem razão: mais tropas americanas não vão ajudar, antes piorar as relações com a população iraquiana. O problema é que não me parece que haja muitos países dispostos a enviar soldados para manter uma paz como a que se vive actualmente no Iraque...

26.8.03

Regresso ao Iraque

Para que não pareça que o Miguel levou a Cibertúlia de férias, cá vai uma posta para dar início às hostilidades da semana.

Devo confessar publicamente o meu espanto pela quantidade de elogios que fui ouvindo e lendo, a propósito da minha posta sobre a morte de Sérgio Vieira de Mello e o atentado que esteve na sua origem (se eu soubesse fazer links, fazia agora um que levasse os mais interessados directamente a esse texto... como não sei, os interessados terão de fazer scroll down...).

Confesso também que tais elogios me deixam muito feliz, mas a verdade é que não tenho a certeza absoluta de que a posta seja deles merecedora... não me parece uma posta assim tão boa. Afastada a hipótese da modéstia (que é coisa que, infelizmente, nunca tive), sobra-me continuar a tentar ser merecedor de tão prezados elogios.

E, por isso, regresso hoje ao Iraque.

Como a Baghdad regressou Carlos Fino, vou, desta vez, até Najaf, capital do islamismo shiita iraquiano.

E vou até Najaf para vos contar e lançar uns bitaites sobre a disputa violenta que se vive actualmente entre os clérigos shiitas. Esta disputa tem no seu centro o futuro do Iraque e, de cada um do seus lados, os ayatollahs mais velhos e estabelecidos (que defendem que há que ter paciência em relação à ocupação norte-americana) e os ayatollahs mais novos e mais militantes (que defendem a fundação imediata de um Estado Islâmico).

Os mais militantes são supeitos de terem levado a cabo uma série de ataques, que têm por objectivo eliminar (ou pelo menos abalar) o clero mais instalado. O mais recente destes atentados teve lugar no passado fim-de-semana (uma bomba explodiu junto à residência de um ayatollah conservador, matando três pessoas), mas o banho de sangue começou em Abril, com o assassinato de um jovem e proeminente clérigo (Abdel Majid al-Khoei), no interior do santuário mais sagrado da cidade. Este é um assunto tão inflamável que a polícia e os tribunais apenas ontem confirmaram a detenção de 12 suspeitos.

Esta situação de perclitante e tenso equilí­brio está a transformar os becos e ruelas desta cidade sagrada num campo de batalha pela liderança da comunidade shiita do Iraque, que corresponde a cerca de 60% do total de 25 milhões de iraquianos.

Num dos cantos deste ringue improvisado, sentam-se os ayatollahs mais velhos, concentrados em torno do Grande Ayatollah Ali al-Sistani, que apostam que se trata apenas de uma questão de tempo até que os Estados Unidos deixem como herança um estado democrático que, mais tarde, os shiitas poderão dominar pelo seu número.

Os seus adversários são opositores activos da ocupação liderada pelos norte-americanos. O seu líder, Moktada al-Sadr, defende que os shiitas devem lutar (literalmente) pela implementação de um Estado Islâmico à imagem e semelhança do reime clerical do Irão.

Não se pense, no entanto, que esta disputa se pode resumir a um qualquer generation gap. Na verdade, ela corresponde a duas linhas históricas distintas do pensamento shiita: há os que crêem que se deve recorrer à jihad em tempos de opressão e os que dizem que se deve esperar calmamente o regresso do Mahdi.

Apesar de não defenderem uma guerra santa no imediato, os jovens clérigos insinuam essa possibilidade. Ninguém aponta o dedo directamente a al-Sadr, que é descendente de uma longa linhagem de ilustres clérigos, mas a polí­cia, os tribunais e os ocupantes americanos atribuem ao seu grupo a origem da violência.

Na sombra desta disputa pela liderança dos shiitas encontra-se o Irão. Oficialmente, o regime iraniano diz querer um Iraque estável e democrático, acreditando que este processo levará ao domí­nio shiita. Mas há quem ache que ao Irão interessa manter os Estados Unidos ocupados com um Iraque instável, evitando, dessa forma, que os polícias do mundo olhem com mais atenção para a vizinha República Islâmica. Os defensores desta tese acham que, por isso, o Irão apoia al-Sadr ou mesmo o Ansar al-Islam, de quem também já vos falei.

Já aqui levantei a hipótese de o resultado final da intervenção dos EUA no Iraque ser a criação de um terreno propí­cio ao terrorismo islâmico (não era ele o inimigo que o mundo ficou a conhecer no dia 11 de Setembro de 2001?!). Hoje levanto uma nova hipótese: a criação de uma República Islâmica.

Era bom de ver que os EUA iam ganhar a guerra.
Infelizmente também parecem confirmar-se as previsões de que os EUA não seriam capazes de ganhar a paz...
O mundo está cada vez mais perigoso e Bin Laden não parece ser o único culpado.

23.8.03

As (minhas) geografias de Lisboa

A sair de Lisboa...
Há muitas geografias «nesta Lisboa que eu amo». A dos "lugares" da cidade. A das casas nos "lugares" da cidade.
Uma casa nos Olivais, depois da Expo, é uma casa «à Expo» ou «perto da». E da Expo ninguém diz que mora na freguesia de Santa Maria dos Olivais (a sul) ou Moscavide (a norte). Chelas é vizinha, mas pouco. A reconversão das "zonas" de Chelas em "bairros" resiste a preconceitos e hábitos.
A Rua da Emenda, onde vivi, não era Chiado, estava longe do Cais do Sodré e escondia-se de Santa Catarina. Quando o Pedro e eu demandámos a casa do anúncio que dizia «Lapa», quase tocávamos as Janelas Verdes, onde já era Rua Presidente Arriaga. Aí, no Beco da Bolacha, éramos espectadores da luta de classes pelas traseiras dos palacetes da Lapa, em salas iluminadas de glamour e empregados pretos de farda (verdadinha!). Talvez por isso nos sentí­ssemos no «cu da Lapa».
Quando na Rua da Fé, podia dizer que vivia ao pé da Avenida da Liberdade, mas depois de melhor explicado, o interlocutor não disfarçava a pena por me esconder no casario envergonhado e velho da colina de Santana.
Chegado à Possidónio da Silva, multiplicam-se as explicações e os desenhos: junto à presidência do conselho de ministros (mapa institucional), à Josefa de Óbidos (mapa educativo), aos Salesianos (mapa eclesial) e aos Prazeres (mapa necrológico).
Há quem pergunte por Alcântara ou Campo de Ourique. Que não à primeira, que sim nos limites do segundo. Novo contexto ensaiado: «Abaixo dos Prazeres». Nos joelhos?, interrompe maliciosamente alguém. Não, responde-se! Entre os Prazeres e as Necessidades, então? É. É isso mesmo!

22.8.03

antes de sair...

Última "posta" antes de sair, por me sentir obrigado a "postá-la":

JPP escreve: "Fiz uma comparação entre o cinema francês e o americano, pouco abonatória para o cinema francês."
Recomendam-lhe: "Alguns autores de outros blogues censuraram-me a nota e chamaram-me a atenção para determinadas filmes que eu não tinha visto."
Engole em seco: "Eu enfiei, como se costuma dizer, a viola no saco, e prometi voltar ao assunto depois de os ver."
E, agora, depois de "Fiel a uma promessa que fiz nos primeiros momentos do Abrupto, comprei uma série de DVDs de filmes franceses, que tenho vindo a ver ao acaso do tempo."
Acaba por, aparentemente, ficar com a mesma opinião... como não podia deixar de ser...

Aqui deixo o meu voto no cinema francês! E proponho uma campanha: Vamos ajudar JPP a descobri-lo!

Agora sim, até já...

Verão a gosto (VIII)

Antes de também eu ir a banhos uma semana, deixo-vos esta imagem. Não pretende ser um chamariz fácil, um piscar de olhos a outros blogues. É apenas um outro debate possível sobre a cultura. A legenda da foto é esta: «A undated handout photo of Brazilian singer and actress Petra Gil, 29, daughter of the Brazilian Culture Minister Gilberto Gil, posing nude in the cover photo of her latest CD disc "Pret-a-porter", that will be launched this month. Petra weighs 70 kilos and is 1.60 m tall».

Eis, então, a filha de Gilberto Gil, na capa do seu último álbum. Música sem preconceitos.

Pontos de vista (actualizado)

Volto já! Entre este Filipe e este Filipe, eu gosto dos dois!

Sexta-feira E entre a viagem do Diogo por um Portugal enorme e por um ambiente melhor, também gosto dos dois olhares.

Os amigos são assim.

Volto já!

é só esperar uma semana!
Até já.

Sexta-feira II

Desculpem lá, mas não resisto...
A Administração Bush prepara-se para fazer aprovar uma lei que permitirá a milhares de centrais eléctricas, refinarias de petróleo e outras unidades industriais antiquadas aumentar a sua capacidade produtiva sem ter de instalar novos mecanismos anti-poluição, isentando-os, na prática, de cumprirem o estabelecido no "Clean Air Act", o que lhes poupará, está bom de ver, milhões de dólares.
Mas o problema não é só esse. O problema é que estes senhores vão continuar (e mesmo aumentar) a emitir centenas de milhares de toneladas de poluentes para a atmosfera!
Se tudo correr bem para a Administração Bush e para estes industriais, a lei será publicada já na próxima semana, sem direito a discussão pública.
O Procurador do Estado de Nova Iorque já informou que dará início a um processo judicial de contestação da nova lei, mal ela entre em vigor, mas a verdade é que os malefícios não afectarão apenas o Estado de NY. Todo o Mundo será afectado por mais esta decisão da Administração Bush.
Para quem não percebeu, a moral da história é que há muitos tipos de terrorismo e muitos inimigos do mundo civilizado!

Sexta-feira

Antes de mais nada, aproveito para agradecer os comentários elogiosos feitos pelo Miguel e pelo Filipe às minhas últimas postas. Não sendo esse o objectivo delas, não deixa de ser simpático vê-las serem alvos da admiração de outros. Espero não vir nunca a desiludir-vos, mas sei que vai acontecer!

Ontem, compromissos profissionais levaram-me a duas cidades que visitamos menos do que devíamos: Sertã e Lousã. Não importa agora explicar o que lá fui fazer, o que, aliás, seria demasiado aborrecido. A questão é que estes compromissos me levaram a percorrer estradas muito diferentes das habituais auto-estradas e ipês que normalmente cruzo a alta velocidade.

Fui primeiro à Sertã. Até Tomar, a estrada não merece grandes comentários. Mas, depois, vamos por ali fora, passando por Ferreira do Zêzere e por Cernache do Bonjardim, terra do Condestável. Dali à Sertã, sede do concelho, é um saltinho. Fiz o que tinha a fazer, passeei como, costumo fazer sempre que tenho a oportunidade de visitar cidades exteriores aos meus circuitos quotidianos, e segui viagem.

Dali, como já disse, ia para a Lousã. Entre ã e ã, passei por outra terra esquecida do meu dia-a-dia: Castanheira de Pera. Ziguezagueada a serra, lá cheguei ao meu destino. Estacionei à sombra, almocei, passeei mais um pouco, fiz o que tinha a fazer e fiz-me ao caminho de regresso à capital.

Como tinha ouvido falar das longas filas de trânsito devidas às obras na A1, resolvi continuar por estradas secundárias. Direcção a Miranda do Corvo, passando perto de Penela, de Ansião e de Alvaiázere, até chegar novamente a Tomar e, daí, num instante, ao IP6, agora rebaptizado A23.

Onde é que eu quero chegar com esta descrição? Não sei bem... Mas sei que me fez impressão passar por estas terras, que sabemos existir, mas que não sabemos bem onde ficam, nem nunca lá fomos. Mora lá gente. Mesmo! Não sei o que fazem no seu dia-a-dia, se têm blogues, se trabalham em escritórios... não sei nada.

Sei que lhes ardeu a paisagem e que, mesmo que eu não me lembre deles todos os dias, são portugueses como nós. Cidadãos como nós.

E, ao pensar nisso, lembrei-me que Portugal é enorme!

Em resumo...

O Miguel... Disse!
É também este o mundo fascinante dos blogs: deliciarmo-nos de porto em porto.

O treinador de bancada que há em nós

Enquanto aguardo pelas análises (sempre lúcidas) do Diogo - das bolas de campo aos campos de bombas - aposto mais este blogue em casa própria. O Beira-Mar, ele mesmo, o clube auri-negro (sempre gostei de dizer este "palavrão"), é objecto de debate e postagem. Basta ir por aqui - que eles agradecem contributos!

Sem fim

O fim que se anunciou é o de Guerra e Pás. Não da Cibertúlia, claro. Que, aliás, se delicia em intervalos (às vezes forçados) a navegar sem porto certo pelos mares da blogosfera - ao acaso, clicando de link em link, lendo as coisas mais incríveis ou pousando os olhos em coisas "apenas" bonitas. Rendo-me em momentos diferentes ao nosso Filipe, tornado asceta, ou a Ana Sá Lopes, "cronista pública" - aqui já referenciada como Cristiano Ronaldo dos blogues -, que mostra aquilo que todos escondemos: que isto do mundo "blogger" tem que se lhe diga!

E é bom descobrir que há outros que escrevem aquilo que pensamos ou que gostávamos de ter dito. Ou aqueles que nos irritam e que insultamos sem elevar a voz. E quedamo-nos em silêncio. Até ao fim. Sem fim.

The end

Fomos várias vezes à guerra - e outras vezes sublinhamos a paz. O Guerra e Pás anunciou hoje o seu fim. Tenho pena. Mesmo quando discordava dele, a pena de Pedro Boucherie Mendes fazia-nos pensar.

Calamidade pública

Coreia do Norte. O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, quer que os possíveis candidatos à sua sucessão se reúnam e indiquem quem deverá ser o sucessor. «Se os delfins chegassem a um acordo, se se sentassem à mesa e indicassem o que queriam, o assunto ficava resolvido», vaticina Alberto João Jardim.

Ministro da Propaganda. A Central de Compras anunciada pelo ministro Paulo Portas para a Defesa não é um exclusivo do seu Ministério, mas resulta de uma determinação aprovada pelo Conselho de Ministros, que é dirigida a todo o Governo e mesmo ao Presidente da República.

Lido hoje no Público.

21.8.03

Cuidado com o Bagão

É verdade, ele está em todo o lado. Como António Bagão Felix, «sometimes credited as: Bagão Felix». Descubram-no!

Outro serviço nacional de saúde

Sexta-feira passada, no autocarro 13 da Carris, duas mulheres conversavam sobre a (pouca) saúde do filho de uma delas [não percebi de que padecia o miúdo]:

- Só no estrangeiro é que o punham bom. Parece que em Cuba há médicos bons para isso...
- ... a minha prima foi a Cuba agora!...
- ... mas eu não tenho dinheiro para isso!
- Chama a TVI! Chama a TVI! Eles ajudam tantos que te podem ajudar a ti.


Há quem nos ajude a perceber isto.

Intelectuais explicam medicina

O cenário de uma artroscopia está colocado de parte. Sokota contraiu um estiramento parcial do ligamento interno do joelho esquerdo, segundo revelou a ressonância realizada esta terça-feira. Apresenta já algumas melhoras, não tendo queixas. Agora vai fazer tratamentos, mas está afastada a hipótese de recorrer a intervenção cirúrgica.

Cito parte de um texto de uma camarada minha do MaisFutebol, para mostrar como os intelectuais da bola são - depois dos médicos - aqueles que mais "explicam" a medicina aos outros...

Contratações

A associação que o Miguel faz entre a contratação de Cristiano Ronaldo e a chegada de Ana Sá Lopes à Glória Fácil não surpreende.
Só podemos concodar com FJV: "aí está um blog a que é difícil resistir".
Trata-se de mais uma brilhante contratação do defeso!

20.8.03

Da terra onde emana o leite e o mel (II)

Agora não se diga mais entre nós «deixa-me»,
e nenhum dos nossos corações se afaste.
Eu irei para onde fores
e da tua morada faço também a minha.
Os teus irmãos e companheiros hoje recebo como meus,
o Deus da tua juventude, eu o amo profundamente.
E quando por fim a morte nos visite
quero morrer na terra em que morreres
e ser sepultada perto de ti.
O Senhor sabe: a vida me tratará com tristes rigores
se outra coisa que não a morte
esconda dos meus olhos a graça do teu rosto tão amado.


Livro de Rute (1, 16-17), na tradução de José Tolentino Mendonça (A Rosa do Mundo, Assírio e Alvim).

Cristiano Ronaldo

1. É a contratação da época! A grande novidade do defeso! Ana Sá Lopes juntou-se à Glória Fácil. Com Glória.
[Desculpem-me Diogo, Filipe, Nuno, Saraiva, Zé e todos os outros que já assinaram pela Cibertúlia. Mas fiquei com uma pontinha de inveja destes gloriosos confrades!]

2. Cheguei lá por ter cheirado obsessivamente uma flor (e os elogios multiplicaram-se): há umbigos hilariantes, imperdíveis. Tirem-lhe o cotão.

Cinema paraíso

Voltei ao São Jorge. Sem hipóteses de ver «O Verão de Victor Vargas» (está reduzido a duas sessões numa única sala lisboeta – já repararam: não são só os filmes que se repetem nas salas, são as horas uniformes que deixam pouca margem de escolha "fora de horas"), resolvi ver a velha sala do centro da cidade, recuperada com gosto, maltratada a gosto. Não sei se é de propósito, mas parece ser intenção do autarca de Lisboa deixar morrer este "canto" da capital (a notável Zero em Comportamento, com provas dadas, já se propôs, sem resposta, gerir as três salas).

Quase não há informação sobre os filmes em exibição (uma folha de aspecto carote limita-se a repetir o que os jornais nos dizem – realizadores, intérpretes, horas, géneros). O painel electrónico com os horários das sessões não funciona. Um aviso na bilheteira esclarece que «por motivos de avaria técnica» não há ar condicionado em nenhuma das salas (felizmente já lá vão os dias de canícula rigorosa). O bar é compostinho, mas mortiço. A programação é estranha (sobras das distribuidoras? já disse que a Zero em Comportamento quer "pegar" nisto?). A sala tem um travo a mofo de reposteiros e alcatifas pesadas. Valham-nos os três euros do bilhete às segundas e o terraço (será? tem vista para uma coisa sem graça chamada Tivoli Forum e para os carros da Avenida - e se, em vez do túnel, o fechamento dos bairros históricos se estendesse a este passeio público? A cidade respira ali, mas apetecia respirá-la de outro modo).
Antes das obras, um dos filmes em exibição era «Porcos e Diamantes». Agora está «Sonhos Desfeitos».

PS - Àparte cinéfilo: gostei de Rui Baptista, no Público de sexta-feira, a falar de «Casablanca» - e do Aveirense, uma vingança para todos os cronistas que falam de monumentais e impérios, como se o país inteiro os conhecessem.

[Este "post" foi escrito na noite de segunda-feira. Os acontecimentos precipitaram o atraso na sua publicação.]

A morte? A vida

É a reacção mais «surpreendente» dos blogues à morte de Vieira de Mello. Não que eu esteja de acordo, com muitas coisas que diz esta praia, mas pelas perplexidades que encerra. E porque fala sobretudo da morte - e de Deus, que bate sempre à porta de quem não crê - na hora da morte.
Lê-se ali: «Sou, convictamente, profundamente, cada vez mais, ateu. A ideia de Deus, da alma imortal e todas essas coisas parece-me absurdamente estúpida. Estúpida, é o que me parece - e não peço por isso desculpa a quem crê. Mas tenho nostalgia de Deus, quer dizer: sei que não existe mas tenho pena. O caso é que não me conformo com a morte.»
A almofada seria melhor se, qual «Truman Show», fosse mostrada a vida como ela pode ser: «Que realmente a vida existe para sempre, etc. - eu estaria disposto a aceitar. Seria espantoso e absurdo, mas a morte não o é menos.»
Não é da morte que ali se fala, então. É da vida.

«Os maus vão ficar furiosos»

Se não fosse trágico, esta notícia do Público era anedótica. O ataque à ONU não se explica por isto, mas pode também "explicar-se" por isto.

O exército americano parece evidenciar sinais de desespero na perseguição a Saddam Hussein. Fracassadas até agora as tentativas para o matar e capturar, apesar da oferta de uma recompensa de muitos milhões de dólares a quem fornecer informações sobre o seu paradeiro, a mais recente iniciativa é a divulgação de uma série de fotomontagens. O objectivo é irritar os apoiantes do ex-ditador iraquiano. Assim, cartazes com Saddam disfarçado como Veronica Lake [em baixo, à direita] ou Zsa Zsa Gabor, Elvis Presley ou Billy Idol [também em baixo, à esquerda] deveriam ter começado ontem a ser afixados em Tikrit, a terra-natal do deposto Presidente. "Muitos vão adorar e rir-se mas os maus vão ficar furiosos e isso permitirá que nós os identifiquemos", disse à Reuters o coronel Steve Russel, do 22º Regimento da 4ª Divisão de Infantaria dos EUA. Os seus planos poderão, contudo, sofrer um revés, observou o diário "The Guardian", de Londres. "Acho que as pessoas [de Tikrit] acharão [as fotos] ofensivas", disse uma porta-voz militar em Bagdad. "Vamos ter de contactar a 4ª Divisão para saber o que se passa."

A estratégia do caos

Olá Filipe! Sê benvindo a este espaço! Sei que ele vai ficar a ganhar com a tua chegada!

Ontem, porém, o Mundo ficou mais pobre. Perderam-se vidas inocentes em Baghdad e Jerusalem e, entre elas, a de, pelo menos, um homem bom. A morte de Sérgio Vieira de Mello não só deixa o Mundo mais pobre, como priva a ONU daquele que Ana Gomes considerava ser o seu "melhor funcionário". E deixa a utopia do respeito pelos direitos humanos, mais longínqua.

Não conhecia Sérgio Vieira de Mello a não ser da televisão. Vi-o, em meados de Abril, em plena conquista do Iraque, no HARDtalk, da BBC News. Entrevistado pelo durí­ssimo Tim Sebastian, Sérgio Vieira de Mello explicava aquele que poderia ser o papel da ONU no pós-guerra que estava a chegar. Calmo, ponderado, diplomata, lá foi dizendo que a manutenção da ordem e da segurança era responsabilidade dos EUA e dos seus aliados.

Sérgio Vieira de Mello morreu porque, quatro meses passados sobre o fim da guerra, os EUA são incapazes de manter a ordem pública no Iraque. Como, aliás, têm sido incapazes de manter a ordem pública no Afeganistão.

Que não fiquem dúvidas a ninguém: creio convictamente que o atentado de ontem foi uma acto cobarde e hediondo, injustificável a todos os tí­tulos. Os seus autores devem ser encontrados e entregues à justiça e devem pagar pelos seus actos. Não sinto a mí­nima simpatia pelo acto, nem pelos seus autores. Não festejei, antes chorei, as mortes de ontem.

Mas há que buscar mais fundo. Para que a verdade e a honestidade não pereçam também entre os escombros.

O atentado de ontem é uma prova evidente da nova estratégia das forças anti-Americanas: mostrar ao Mundo que os EUA são incapazes de assegurar a ordem pública e assustar e afugentar as agências humanitárias envolvidas na reconstrução do Iraque. Inscreve-se no padrão de recentes atentados contra condutas de petróleo e, mais recentemente, contra a Embaixada da Jordânia em Baghdad. No entanto, a existência deste padrão não é suficiente para garantir que os seus autores são os mesmos.

Temos assistido nas últimas semanas a ataques quase diários contra os militares americanos. Nós e os próprios americanos já nos costumávamos a habituar... nessa atitude terrí­vel que é a da vulgarização da morte. No entanto, o atentado de ontem veio mostrar que as forças que se opõem aos EUA no Iraque, sejam lá quais forem as suas origens e crenças, não querem apenas matar soldados americanos e seus aliados: querem espalhar o medo!

O Presidente Bush respondeu à moda do Texas, onde se encontrava de férias, a jogar uma partida de golf: «every sign of progress in Iraq adds to the desperation of the terrorists and the remnants of Saddam's brutal regime. The civilized world will not be intimidated, and these killers will not determine the future of Iraq». De acordo com aquilo que tem sido a sua estratégia, George Bush quis colocar-nos a todos como vítimas dos atentados, dizendo que os autores do atentado são inimigos de todas as nações que pretendem ajudar o povo iraquiano. De um certo modo, tem razão...

Mas a verdade é que a situação americana é complexa: se os iraquianos tiverem medo e se sentirem inseguros, não vendo a sua situação melhorar, a sua hostilidade em relação aos americanos pode aumentar.

De facto, estes ataques parecem dirigir-se sobretudo a impedir a melhoria da qualidade de vida dos iraquianos. Ao negarem a capacidade das forças de ocupação para pacificar o Iraque, estes ataques impedem os americanos de conquistarem os corações e a confiança dos iraquianos. Se o caos se mantiver, a reconstrução do Iraque não pode avançar.

A autoria do atentado ainda não foi reivindicada e, por isso, não é ainda claro se os seus autores são os resistentes do antigo regime ou se, pelo contrário, se tratam de fervorosos muçulmanos vindos de outros paí­ses para matar americanos. Os atentados com carros e camiões armadilhados têm a sua origem algures entre os movimentos religiosos terroristas do Médio Oriente, tais como o Hezbollah. Mas nos últimos anos esta táctica tem-se alargado e foi já utilizada nos ataques contra as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia, em 1998, que todos atribuem à Al Qaeda.

Não se deve afastar totalmente a possibilidade do atentado ter sido perpretado por elementos ligados ao regime de Saddam Hussein, mas a verdade é que vários oficiais americanos já admitiram que vários elementos do Ansar al-Islam se terão refugiado no Irão durante a guerra e estarão agora a regressar.

O Ansar al-Islam é um pequeno grupo fundamentalista acusado de ter ligações à Al Qaeda. Actua na clandestinidade e é integrado por iraquianos insatisfeitos (já desde o regime anterior) e muitos estrangeiros que querem integrar a "guerra santa" contra os militares americanos e os seus interesses no Iraque.

Será que a invasão e ocupação do Iraque, para além da violência gratuita (que terá provocado muitas mortes sob os escombros), da ilegalidade à luz do direito internacional, da justificação forjada e do não aparecimento das invocadas armas de destruição massiva, ainda irá criar um terreno propí­cio ao fundamentalismo islâmico e ao terrorismo da Al Qaeda?

Deus nos livre, senhor Bush!

Equilíbrios

Os pontos avançados pelo Filipe [ver os posts anteriores] mantêm a sua pertinência. Depois dos «avizos» aqui deixados, retomo - e equilibro - o debate. Para ouvirmos outras vozes. Para ouvirmos as nossas vozes.

Peço licença a João Pedro Henriques, do Glória Fácil, e reproduzo na íntegra as suas perplexidades.

O óbvio revelado em toda a sua brutalidade: a coligação EUA/Reino Unido soube preparar e concretizar a invasão do Iraque mas não soube nem preparar nem concretizar o pós-guerra (aliás, duvido que se possa falar em "pós-guerra", os factos recentes provam que se continua em guerra).

Disto isto, nem era preciso apostar que esta constatação seria interpretada pelos defensores da invasão como uma manifestação de alegria pelo horror que os atentados provocaram. Para esses, pessoas como eu estão neste preciso momento, secretamente, a celebrar em várias casas do país, num estado de felicidade suprema - mas silenciosa, para os vizinhos não acharem suspeito - as mortes de Bagdad e Israel. Porque somos da esquerda pindérica, só bebemos SuperBock e Raposeira. Alimentamo-nos de "pistachios" importados do Irão. Whisky é proibído. Só do irlandês, por respeito ao IRA.

E agora pergunto eu: não será possível falar sobre o que se passou ontem – e sobre as suas razões – com uma pontinha de sensatez? Será possível, pergunto eu, fazer, sem ser acusado de terrorista, um raciocínio suficientemente dinâmico que admita os três seguintes pensamentos, a saber:

1º – A culpa absoluta dos atentados de ontem é dos terroristas que os perpretaram;

2º – A coligação soube fazer a guerra mas não está a conseguir a paz.

3º - Estava na cara que isto iria acontecer, pela pressa imensa que os EUA mostraram nos preparativos da guerra.

Ou seja: o que é que eu preciso de dizer e fazer para, ao fazer estas constatações, não ser acusado de terrorista ou idiota útil ou cobarde ou tudo-ao-mesmo-tempo? Será possível ser um moderado? Porque é que as pessoas que mais audivelmente defendem, em Portugal, as posições de Israel e dos EUA, só o fazem por adesão cega à extrema-direita dos respectivos regimes políticos? Enfim: porque não se dão ao trabalho de ser algo mais do que luso-papagaios dos actuais governos de Telavive e Washington?

19.8.03

"Avizos"

Volto ao tema. A graça na pintura dos rostos e corpos de mulheres de Graça Morais não apagam o dia de hoje.

Importantes "avizos" colocados por Francisco José Viegas sobre o que explodiu neste dia no Médio Oriente. Breves epitáfios também no Outro, eu. Para melhorar entender os futuros entreabertos pelo Filipe.

A graça de Morais



Vale a pena ver. Em Aveiro, até 31 de Agosto. Saiba mais detalhes.

A insustentável ironia do destino

Se o destino tem razão de ser, então a saída deste silêncio faz parte desse desígnio inultrapassável!

Morreu Sérgio Vieira de Mello.
Aquele que foi o rosto das mais recentes e significativas operações humanitárias da ONU, contando no seu curriculum com a Administração do Kosovo, de Timor Lorosae e, dramaticamente, representante do Secretário Geral das Nações Unidas no Iraque, não escapou à lógica - ou à falta dela - incompreensível dos despojos da guerra!

Morreu Sérgio Vieira de Mello.
O homem da paz em Timor, após ter aceite mais um desafio exigente, voltando a estar no centro da geopolítica internacional, acabou por perecer debaixo dos indesculpáveis escombros dos atentados!

Morreu Sérgio Vieira de Mello.
Quem virá, agora, ganhar mais legitimidade? A administração Bush e Blair, reafirmando a necessidade de uma intervenção no Médio Oriente e legitimando a invasão do Iraque? Ou virá a dar razão às vozes que se opuseram, intransigentemente, contra a II Guerra do Golfo?

Esta discussão é importante, mas já não fará renascer das cinzas o homem que era Sérgio Vieira de Mello!

publicado em asceta.blogspot.com

Assustador

Há barulhos - e (ausência de) imagens assim: o momento em que explode o camião "filmado" no interior do edifício da ONU em Bagdad. Barulho, muito barulho. E às escuras, os gritos de pânico.

Um homem bom

Morreu Sérgio Vieira de Mello. Acreditava na luta pelos Direitos Humanos. Acreditou na independência de Timor-Leste. E acreditava que a ONU podia fazer pelo Iraque aquilo que os Estados Unidos não conseguiram fazer.

Bem-vindo, Filipe. Como vês, há debates que precisam de ser feitos - e mantidos.

O regresso

Se o destino tem razão de ser, então o reencontro com a Cibertulia faz parte desse desígnio inultrapassável!
Quem por cá andou em 1999 e 2000, não podia deixar de voltar, ainda que impelido por frágeis manifestações de saudosismo. Mas a qualidade das mensagens "postadas" e a indiscutível tendência dos cibertúlios para a discussão de assuntos polémicos - perceptível pelas mais recentes leituras deste espaço - obrigam-me a sair do ascético silêncio cibernáutico.
Eis-me, pois!
Teles

Pausa para o horror

Uma explosão atingiu o edifício da ONU em Bagdad. Vieira de Mello, o homem da paz em Timor-Leste, está «gravemente ferido». Há muitos outros feridos e pelo menos três mortos (apenas um confirmado). Não é este mundo que queremos.

A bola começou a rolar!

Queria ter escrito ontem, que a segunda-feira é que é dia de falar de futebol, mas não tive tempo... Depois de um fim-de-semana prolongado sem electricidade em Nova Iorque, era de esperar que o dia de ontem fosse preenchido. E foi.
Assim, vou ser obrigado a falar de futebol à  terça-feira.

1. A primeira nota não podia deixar de ir para a suspensão dos jogos do Estrela da Amadora e consequente suspensão daquele que deveria ter sido o jogo inaugural da Superliga 2003/04. Esse jogo que não foi, que não opôs o Belenenses ao Estrela da Amadora, foi, não tendo sido, a marca mais negativa do fim-de-semana desportivo. Que raio! Tá um gajo dois meses à espera disto e, em cima da hora, dizem-lhe que afinal tem de esperar mais um dia?! Só neste paí­s!

2. A segunda nota, por consequência, vai para o jogo que, em segundas núpcias, acabou por inaugurar a Superliga 2003/04. O Sporting esteve a perder, sofreu até ao final e, há que reconhecer, mereceu ganhar. Beto esteve magistral no remate certeiro e imparável que deu os primeiros três pontos ao Sporting, mas o melhor dos lagartos foi (cheira-me que será sempre) Rochemback! Apesar de caceteiro e algo indisciplinado, é decisivo nos lances de bola parada e contagiante na forma raçuda como joga. Eu que tanto tenho criticado a gestão de recursos humanos do Sporting, tenho de reconhecer: grande jogador!

3. A terceira nota vai para o Benfica. A estreia nesta edição da Superliga foi na linha daquilo a que Camacho já nos habituou: joga-se benzinho, mas não costuma dar para ganhar às boas equipas. Desta vez também não deu... É verdade que o Boavista de Sanchez mantém algumas das caractérí­sticas do de Pacheco, nomeadamente a dureza objectiva com que defende, mas o Benfica tem de se queixar de si próprio. Mais uma vez sentiu-se a falta de Tiago e, desta, nem Geovanni nos safou. Cristiano voltou a ser o jogador com as melhores oportunidades de golo (uma bola à barra e um remate já dentro da área, defendido com dificuldade pelo guarda-redes boavisteiro), mas há que salientar dois jovens jogadores portugueses: Moreira e João Pereira. Moreira fez uma exibição do mais alto ní­vel, defendendo tudo e transmitindo enorme confiança ao resto da equipa, mostrando aos benfiquistas que o dinheiro que í­amos gastar em Ricardo foi bem poupado. Para quando, senhor Scolari, uma chamada à Selecção A?
João Pereira, por outro lado, fez uma estreia que, no mí­nimo, se pode considerar entusiasmante! Oriundo do Casal Ventoso, produto das escolas do Benfica (pelos vistos também temos!), internacional português desde os sub-15, 19 anos. Na selecção de sub-19 joga a lateral direito, mas a rapidez e a generosidade que mostrou no Bessa parecem ser mais úteis lá na frente. Camacho pode não ter reforços, mas tem bom olho!
Por falar em reforços, outros dois jogadores, desta feita brasileiros, merecem também destaque: Roger e Luisão. Roger parece estar de saída, Luisão diz-se que vai chegar. Roger é uma promessa permanentemente por cumprir; Luisão é mais uma das 359 contratações prometidas nos últimos dois meses... Será que desta vez se vai cumprir?

4. O Porto começou bem a defesa do seu tí­tulo. Ganhou e somou os primeiros 3 pontos. Mas... a verdade é que o Braga incomodou muito e o Porto não jogou nada de especial. Bom mesmo só o golo do Derlei, um grande golo! De resto, continua Maniche a merecer destaque: corre que se farta, rouba bolas, pauta o jogo, remata, faz faltas, sofre faltas. Enfim, é um jogador indispensável, coisa que infelizmente os dirigentes benfiquistas não perceberam...

5. Última nota para o Vitória de Guimarães, que parece querer continuar a jogar o futebol mais bonito de Portugal. Um regalo para os olhos que, infelizmente, só está disponí­vel para quem tem SportTV (eu tenho!). Nos primeiros quinze minutos do jogo de ontem, o Vitória ofereceu um autêntico recital de bom futebol! Foi o Fangueiro que saltou do banco para marcar o golo, mas o trio maravilha é formado por Guga, Nuno Assis e Afonso Martins. 1-0 até nem é muito impressionante, mas é o mesmo resultado que o Porto fez com o Leiria e, apesar de tudo, este golo valeu mesmo! A única nota menos positiva é que para a semana o Vitória joga com o Benfica e, quem sabe, até já poderá utilizar o Romeu e o João Tomás... Acho que preferia que o próximo jogo do Benfica fosse com uma equipa mais fraca...

Remédio santo

Há uma Farmácia Morais Sarmento, na Rua de São José, em Lisboa. À porta, o nome da casa é anunciado pelo medicamento «Melhoral»: para as «dores de cabeça, garganta, febre e constipações». Confere.

18.8.03

Impressões dos Alpes

A Cóia (olá!) escreveu-nos um e-mail dos Alpes. Mais precisamente de Vaduz, Liechtenstein. Ficam as suas (soltas) impressões de viagem.

Pois é uma linda terra, sim senhora! Tudo verde, tudo arranjadinho, tudo no seu sítio, todas as pessoas são simpáticas e amigáveis, algumas já estiveram em Portugal, outras até mesmo no Algarve e há até quem passe férias no Carvoeiro, onde eu vivo neste momento. Por isso, aquela teoria de o mundo ser piqueno é mesmo verdade. Existem muitos portugueses por estas bandas, como por exemplo o director do McDonalds cá da terriola. Mas existem outros que não aprendem nada com novas culturas...é uma pena... Na sexta-feira, no feriado cá do burgo, houve uma "ganda" festa que acabou por volta das 11h da noite, foi engraçada, mas a família real nem sequer apareceu na janela e eu que até contava que o príncipe se encantasse mal me visse. Ele que até nem é de deitar fora.

Ouvi entretanto dizer que Portugal está a arder, é que não vejo TV há algumas semanas, até já recebi uma mensagem da minha vizinha inglesa a dizer para não me preocupar porque as nossas casas ainda estão intactas.

Aqui, meus amigos, chove, está frio e eu já não tenho roupa para usar porque na malinha vieram só coisas fresquinhas e sandálias. Uma pessoa a viver no Algarve fica mal habituada. Mas, quando estive em Frankfurt, bem me fizeram jeito com o calor que estava e com as caminhadas que fiz com a minha amiga Patricia.

Vou voltar para a semana e já não era sem tempo porque estou um pouco farta de tanta perfeição, falta-me o caos do Algarve, o sol, os turistas, os lisboetas de férias (eh, eh, eh)...

Enquanto cá estive aproveitei e aluguei uma bicicleta e andei a pedalar junto ao Reno, depois fui até aos montes. A paisagem é realmente linda, não há dúvida. O que me faz confusão é perceber o que levou aquela gente a subir aos montes, há 100 anos atrás ou mais, apenas com a ajuda de burros e vacas. Falo de montes com 1600 a 2000m de altura.

O bus por estradas muito arranjadinhas demora 30 minutos a subir e eu demorei 4 horas a descer a pé. Mas, sem estradas e os utilíssimos túneis, como é que aquela gente chegou lá acima, para depois ter de construir tudo. Sim porque lá em cima, não há nada a não ser uma vista linda, as nuvens ao alcance das mãos, o verde e as árvores. Dizia o meu amigo Marujo que talvez seja por isso mesmo, mas eu acho que para se ter uma vida as pessoas que lá moram têm de descer. A diferença é que descem de Porsche, Ferrari, Maserati, Harleys, etc..

Lembram-se do filme da Amélie? Pois aqui também existem muitos jardins com duendes e coelhinhos...

O Burro é um animal muito estimado e existe até o congresso internacional dos burros. É verdade! Pessoas de todos os lados trazem os seus burros para concurso e têm livro de família e tudo. As vaquinhas têm uns sinos muito ruidosos pendurados e as crianças jogam futebol nos jardins com camisolas do Figo. Ao segundo dia, quando lia o meu livro sossegadamente na varanda, os miúdos vizinhos juntaram-se e começaram a falar comigo. Foi engraçado porque com o dialecto deles é impossível perceber seja lá o que for, por muito alemão que se saiba. E então a minha primeira resposta foi "auf deutsch bitte"... Eles lá fizeram um esforço, gostaram de saber que vinha da terra do Figo e, pronto, já tenho amigos no Liechtenstein!

17.8.03

A TSF «aborrece», como o Acontece (outra teoria da conspiração)

O debate. A PT quer calar a TSF Rádio Notícias por motivos políticos, acusa João Pedro Henriques (JPH), em Glória Fácil. Com razão, acho eu. Também Guerra e Pás disso falou (e muito bem), mas defendeu a resposta económica para as motivações da monopolista PT. «O problema da rádio é sempre, mas sempre económico», escreveu. E, mais à frente, sobre a TSF acrescenta: «"A rádio de palavra" - como é a TSF - estará ainda mais ultrapassada, porque (diz-se) as pessoas querem é música! É uma ideia falsa e que (estou convencido) brevemente será rebatida pela realidade».

A notícia (antes do debate). Na modorra da silly season, Carlos Andrade pediu a demissão de director da TSF. Porque discordava dos cortes anunciados na redacção da rádio. Mas também porque estaria contra o novo modelo de programação, proposto por um "auditor" externo (Emídio Rangel), que incluíam noticiários de quatro minutos - muito adequado a uma rádio-notícias! - e fóruns para as mulheres.

Aborrece. Distraídos com o destino do «Acontece», poucos questionaram o destino da TSF. Excepção feita ao blogue-novo de JPH - que ainda protestou com a blogosfera por ter discutido o sexo dos anjos, que é como quem diz se a TSF é de esquerda ou assim-assim ou de direita (também nós aqui falámos disso). Talvez essa discussão ajude mais do que pareceu.

Afinal, a PT é um braço do Estado, Governo, o que quisermos. E se Morais Sarmento não hesitava em perguntar - de cada vez que se encontrava com membros do conselho de administração da RTP - se já tinham acabado com o «Aborrece» (não é piada minha!), nada me diz que aqueles fortes braços não se tenham estendido a outras pressões junto do CA da PT, como também sustenta JPH. Dizia Pacheco Pereira, em Dezembro de 2000, num texto que o próprio agora recuperou sobre a TSF: «Já ninguém é suficientemente ingénuo para pensar que a interferência do governo se faz por telefonemas directos dos ministros, embora ainda os haja. As formas são mais sofisticadas, uma das quais são as "reestruturações" em nome da eficácia dos "negócios" que condicionam carreiras, postos, compromissos e o destino de jornais e rádios. Também aí há alguém a premiar quem se porta bem e quem se porta mal e esse alguém está no governo, ou depende do governo.»

Ora, a TSF também "aborrece": uma "rádio de palavra" dá a palavra a todos. Os que dizem bem do governo, mas também os que dizem mal (que os há, que os há). E se o "fórum" de todas as manhãs é "esquerdista", acusa alguma direita, os nossos governantes podem querer antes dar música a quem ouve aquela rádio.

É uma teoria da conspiração, como qualquer outra. Mas de um Governo que usa a propaganda como poucos (o caso recente de Maggiolo Gouveia é extraordinário) nada surpreenderia. Mesmo sem telefonemas para a redacção.

Sarmente. A cultura da PT é adequada a um governo que desconfia da Cultura. Nos "mentideros" da comunicação social sopra-se constantemente a venda pela PT do Diário de Notícias, que é mais prestígio que lucros, sobretudo agora que o 24 Horas parece morder os calcanhares das vendas. O «DNa» - esse suplemento de amor-ódio com a blogosfera - é também dado como "a extinguir" [que me desculpem a extrapolação simplista: José Mário anseia todas as semanas com o "fecho" da sua edição].

Falsa pluralidade. O perigo do monopólio da PT não se resume ao perigo real dos «jornalistas [perceberem] que se se armassem em parvos, arruinariam as hipóteses de conseguir emprego em pelo menos 1/3 do mercado», como se escreveu no Guerra e Pás.

Apenas este exemplo doméstico, por todos facilmente constatável: para instalar o ADSL cá em casa, de uma empresa que não do universo PT, tive de esperar um mês, para a PT "testar" a ligação da minha casa à rede. E bem sabemos como é ter um telefone fixo, mesmo que "afectos" à Novis ou à Oni: a PT obriga-nos a pagar o aluguer do equipamento... Quem disse que Cavaco foi o grande liberalizador das comunicações?

16.8.03

Obos móis à esquerda

1. A Praia não deixa a coisa por menos: está aqui o melhor blogue português. Já lá fui. Não sei se «Cristóvão de Moura» é o melhor, mas é pelo menos desconcertante - ou, dito de outro modo: provocador (e eu gosto muito desta palavra). Porque é um blogue escrito por alguém de esquerda - mas sem o peso de ideias-feitas-de-algumas-esquerdas. Deixo-vos apenas este naco de prosa, retirado de um texto mais longo, «que a revista do Bloco de Esquerda [Manifesto] não quis publicar» a Paulo Varela Gomes:
O desabamento das elites intelectuais e políticas, o desaparecimento destes corpos sociais (por exemplo, o fim dos partidos - que hoje não são mais que grupos profissionais de arrebanhadores de votos), deu lugar à presença “em directo” da multidão na esfera política e nos espaços colectivos.
O povo-em-directo faz com que a democracia, tal como a conhecemos, esteja de facto ameaçada de morte por todo o género de demagogos populistas e pelo poder oculto de quem nunca aparece na televisão.
Como se enfrenta esta ameaça, não sei.
Sei que o mundo anterior à Revolução Francesa não era bom, contrariamente ao que pensava o meu avô. Mas o seu instinto reaccionário apontava na direcção certa: o problema reside na necessidade de inventar novas instâncias e protagonistas para interpretar, traduzir, filtrar, mediar a “vontade popular”.
Precisamos de igualdade de direitos, sim, mas também de diferenciação nos acessos a esses direitos.


Houve um debate nosso que ficou esquecido lá para trás - sobre o voto. Vale a pena recuperá-lo.

2. A Cibertúlia tem gentes de muito lado. Menos que as gentes de todos os lados que é a blogosfera, é certo. Mas permitam-me esta nota regional, de terras de obos móis: descobri quem escreva «sobre o mundo a partir de Aveiro», «do lado esquerdo» - e conhecendo o autor só posso esperar um «lado esquerdo» que nos faça pensar.
Há outros blogues que partilham aquele ponto de partida: Suspeitos do Costume, do jornalista (que, olho-me ao espelho, nos últimos tempos, parece significar também ser bloguista) Rui Baptista - e outros suspeitos; entre Aveiro e Lisboa, João Oliveira discute «o estado da cidade de Aveiro» e promete «discussão pública sobre política regional»; do outro lado da margem, um murtoseiro fala-nos de «coisas chatas e de outras mais arredondadas».

Três éfes

Substitua-se o fado, e temos a trilogia destes dias: fogos, futebol e Fátima. Hoje, dia de rescaldo (primeiro éfe), já começaram outros rescaldos (segundo éfe). No terceiro éfe, rezou-se pelo primeiro, e alguém há-de ter prometido uma ida a pé se o "seu" clube for campeão (segundo éfe).

Cegonhas

O TóZé Paulino já se pôs na linha de partida para ajudar americanos e canadianos na demanda da cegonha. E lembrou à Cibertúlia histórias de outras cegonhas. Deixo-vos a mensagem:
Eu como técnico da EDP já estou no aeroporto, com o passaporte na mão, e preparado com os meus antigos sacos de serapilheira que usava para a caça aos gambuzinos para ir agora à procura das cegonhas nos céus de Nova York…
Como deves saber aquando do último apagão em Nova York, ao fim de nove meses houve um grande crescimento da população. Ou seja o pessoal aproveitou a escuridão e em vez da TV foi fazer filhos.

15.8.03

Demitam-se, pois então

Nuno Melo (quem?) é deputado do PP. Marques Mendes é ministro dos Assuntos Parlamentares. Como Figueiredo Lopes (diz que) é ministro da Administração Interna. Ontem, todos eles - de um modo ou outro - disseram que «não se podia fazer política com os fogos». Pergunto-me: com o que é se faz política? O que é que devem fazer todos os dias aqueles senhores? A política não é isto?
Perguntas de retórica, que só têm uma resposta: demitam-se, meus senhores, os senhores não sabem o que fazem. Muito menos o que dizem.

Alentejo mais pobre

Bem avisava Francisco José Viegas: o Alentejo - e sua Aviz - é uma «terra de gente cada vez mais calada. E triste, já agora». A sua esperança era a blogosfera que começava a dar sinais de abrir portas. Mas ontem houve um apagão para os lados do Maranhão. Finou-se. Restam os outros, alguns outros, para perceber melhor porque é uma «terra triste» e de «gente calada» aquela.

14.8.03

Procura-se cegonha!

Nova Iorque está às escuras, de dia. O apagão estende-se pela Costa Leste e atinge Otava e Toronto. Há milhares de pessoas a pé ou em bichas intermináveis nos automóveis a dirigirem-se para casa. Outros estarão retidos nos metros e em elevadores. Afastada a hipótese de terrorismo, Durão deverá anunciar o envio de técnicos da EDP para procurar a cegonha. O director do Público vai defender a candidatura de outro "Terminator" a governador por o actual ter deixado a luz ir abaixo. E os dirigentes do Benfica querem fazer um jogo de solidariedade.

Clara Pinto Correia na imprensa

Goste-se ou não do estilo, da notícia, do que for: as manchetes do Correio da Manhã e do 24 Horas de hoje são cópias de um artigo de há dois dias do PortugalDiário. Ninguém inventa nada de novo, é certo - e não nego que tenham o direito de "pegar" na história. O que irrita é esta tendência para "copiar" como se os originais fôssemos nós. [E já nem falo no facto de "mandar" a deontologia que se citem as fontes.]

Mas não é de admirar esta prática. António Mega Ferreira escreve hoje uma crónica na Visão com laivos de obscena má educação. O título da crónica é «Cuidado com o Bagão» (já aqui falámos disso) e refere-se a uma entrevista dada no suplemento «Fugas de Verão» do Público. Ora, para o articulista visionário, o Público é apresentado como «um diário». Mais à frente, Mega fala do Diário de Notícias - e cita o "seu" nome, como deve ser. Estilos.

Férias oblige

Eu não queria mas... quando menos se espera, elas aí estão: as férias.
Se quiserem encontram-me, durante os próximos quinze dias, nessa bela vila turística que dá pelo nome de Figueira-da-Foz. Aliás se quiserem lá dar um salto domingo, dia 17, temos diversão garantida. E ainda pago um fino, que o calor continua a apertar.

Tenho só a dizer, em jeito de laracha de despedida, que acho que deviam pôr a defesa do Benfica a apagar os incêndios por essas florestas portuguesas... a meter água como metem... era um instante!

E prontos vamos abreviar isto que eu detesto despedidas, fico sempre com lágrimas nos olhos.
Até Setembro.

Roma

Chorar, chorar... não choro. Mas que fico triste, isso fico!
Comece-se por dizer, a bem da verdade e do amor-próprio, que o Benfica, ontem, rubricou uma excelente exibição.
O problema é que cometeu dois erros... e, a este nível, dois erros significam muitas vezes, como ontem aconteceu, dois golos.
No primeiro, apesar do mea culpa do Argel, concordo com o Miguel: o erro é para dividir entre o Fernando Aguiar e o brasileiro.
No segundo, o erro é cometido, a dois tempos, pelo Miguel e pelo Ricardo Rocha.
No terceiro não há culpados... é um golaço!
De Roma, podem tirar-se várias lições: o Tiago faz muita falta e não tem substituto à altura; o ataque do Benfica joga bem, mas marca poucos golos; a defesa é o pior sector e erra demasiadas vezes; apesar de tudo, o único defesa que não tem culpas no cartório de ontem é o Cristiano; nem sempre se pode culpar os árbitros pelas nossas derrotas. Há-de haver outras lições a tirar, mas deixo esse trabalho para o Camacho, que é para isso que lhe pagam.
De qualquer forma, é preciso ter esperança! Corrigidos os erros e repetindo-se a exibição, o Benfica pode perfeitamente eliminar a Lazio! Eu acredito que vamos conseguir e, apesar da tristeza de ontem, tenho de confessar que fiquei muito contente por poder confirmar que o Geovanni é um grande jogador!
Amanhã começa a Super Liga e, apesar de que todos (ou quase todos) gostaríamos de ver o Benfica na Liga dos Campeões, a verdade é que o que eu gostava mesmo era que o Benfica voltasse a ser campeão nacional já este ano!
Que role a bola!

Conversas de Verão

Da Tatiana, "posto" mais este texto: De um dia de Verão.


Está um calor infernal no centro da cidade. O vento foi de férias e a freguesia de São José, um dos bairros populares da capital, está a estufar. As nuvens entupiram o céu e os idosos debruçam-se nas janelas à procura da fresca.

Uma loja não está fechada neste sábado de Agosto. Ao entrar, sente-se o ar condicionado ligado. A luz é artificial, apesar de ser meio-dia. Estão lá dentro 16 clientes: 15 rapazes e uma rapariga. Cada adolescente tem um computador à frente e auscultadores com microfones acoplados.Estão em guerra: oito contra oito.

– Foda-se!
– Dispara lá!
– Eles estão na praça!
– Fiquei sem balas!
– Estão atrás de ti, caralho!
– Atenção, está um gajo na praça!
– Está sempre ali um gajo!
– Tu hoje estás muito fraquinha, coelhinha!
(Risos)
– Defende a nossa última!
– Yes!!
– O Palhinha está atrás de ti!
– 28 putas mortas!
– Todos para a praça!
– Não se separem.
– Está ali um!
– Eu hoje não consigo matar este gajo!
– Preciso de ajuda na ponte!
– Atirem-lhe uma granada!
– É preciso começar a matar gajos!
– Quem é que está aí?
– Sou eu, cabrão!
– Perdemos a ponte.
– Onde é que morreste?
– Perto da igreja.
– Está aqui outro gajo!
– Protege-me à esquerda!
– Morri!
– Mata o gajo!
– Eu via o sangue a sair...
– Onde é que vocês andam, caralho?
– Então eu atiro e ele não morre?
– Eu preciso de outro rato, foda-se!
– Mata todos!
– Olha a janela na praça!
– Eles vão para a ponte!
– Cuidado, vai morrer muita gente!
– Está um “sniper” na igreja!
– Dá-lhe!
– Vá lá pessoal, só falta um “sniper”.
– Já os fodemos!
– Grande vitória! Toma lá, Moreira!
(Palmas)
– Finalmente!

Os vencedores levantam-se, mas o Palhinha quer desforra. Ainda têm dinheiro para mais um jogo. Voltam a sentar-se.

Tangas

O Zé e a Maria choram: até a tanga me deixaram arder... Está na hora da vassourada, não está Cavaco Silva?. Eduardo Cruz, leitor da Visão.

Eu, o Diogo, e muitos outros "choramos". A tanga do Fernando Aguiar & Argel é que não lembra a ninguém. (Sim, falo do Benfica.)

13.8.03

O regresso do engenheiro numa leitura de Verão

- Eu não estava propriamente a representar. Quando me vi em perigo, ao pé da forca, ela não... não parecia assim tão importante para mim. Não conseguia perceber - nem agora consigo - bem a fundo - porque agi assim. Percebe o que quero dizer? Isto de certo modo torna tudo - e também a mim - absurdo. Quer dizer tudo desde o princípio.

Não consegui encontrar nada para dizer a não ser qualquer coisa insípida como:
- É a vida.


Dashiell Hammett, Ceifa Vermelha, A Regra do Jogo (1979), ed. original 1929.

O futebol está de volta!

O Saraiva tem razão! Sem futebol, as conversas de almoço com os colegas de trabalho são bastante difíceis!
Mas ele está aí, de volta!

O Benfica volta hoje, após dois anos (muito longos...), às competições da UEFA. Esperemos que não se repita o resultado da última eliminatória que o Benfica disputou! Mas podemos estar descansados: desta vez não defrontamos a técnica da força do Halmstad, mas sim a força da técnica da Lazio; para além de a História jogar a favor do Benfica (tem obtido bons resultados no Olímpico de Roma), o Papa já deu a sua bênção!
Para quem não entendeu a ironia, a verdade é que estou bastante preocupado: de bênçãos do Papa está o Mundo cheio e quanto à vantagem histórica, se ela funcionasse mesmo, o Benfica seria o crónico vencedor da Liga, da Taça de Portugal e dos campeonatos de quase todas as modalidades amadoras! O que, como se sabe, não se tem verificado nós últimos nove anos...

Depois de Cristiano Ronaldo, também Jardel vai jogar em Inglaterra no próximo ano.
Não, não é no Manchester United. Não é sequer no Tottenham de Postiga. É no Bolton, esse histórico do futebol inglês!
Mas não se pense que o Bolton foi uma solução de recurso... Jardel já avisou que «esta é a oportunidade que eu necessitava para recomeçar a minha carreira (...) eu sempre quis jogar em Inglaterra (...) o Bolton é um dos grandes clubes ingleses (...) até poderemos jogar para o título».
Desenganemo-nos, pois!
Ah, e o Sporting lá encaixa mais 2.5 milhões de euros!
É bastante menos do que os 7.5 que deram pelo Tello, mas pode ser que para o ano o consigam vender ao Southend (outro grande de Inglaterra) e minorem o prejuízo!

Está visto que a Liga preferida dos jogadores do Sporting é a inglesa, o que até mostra bom gosto.
A dos ex-jogadores do Benfica parece ser, por outro lado, a espanhola.
Não a que dá na SportTV. A outra, a segunda.
Ontem foi Calado a ser emprestado pelo Bétis ao Ejido (lembram-se? é aquela terra que apareceu em todas as televisões, porque a malta não gostava muito de marroquinos); hoje é Andrade que vai assinar pelo Tenerife. Parece que o Edgar também por lá anda e o Dani e o Hugo Leal também já andaram...
Pelo menos, por uma coisa podemos os benfiquistas estar satisfeitos: os jogadores que nós dispensamos não prestam mesmo!

Destilar (o estado dos transportes II)

O Público falou-nos há dias das profissões que "queimam": os padeiros "metidos" nos fornos, as engomadeiras nas lavandarias "à sec", os motoristas da Carris. "Mas, e o ar condicionado?", perguntava a jornalista ao motorista. Só nos autocarros novos, e mesmo nesses só quando funciona (como ontem não aconteceu no «9»...).
Eu, defensor e utilizador do transporte público, lembrei-me de um antigo presidente do conselho de administração do Metropolitano de Lisboa que defendia que as carruagens daquele meio de transporte dispensavam o luxo do ar condicionado. «Vivemos num país de clima moderado», disse então.

O Saraiva não foi maçador. Digamos que foi uma participação de nicho de mercado (e atrevo-me a sugerir que leiam também este artigo). Mas quem disse que a partir da "micro-economia" não se pode atingir a globalização plena? (O Nuno pode ajudar-nos, mas o exemplo bloguístico do que digo é «a formiga de langton», um site inteligente, que postei na coluna da direita para ver e ler).

Verão a gosto (VII).Sem maçar - e para destilar um pouco mais (não, não é a Traci Lords, Diogo!), deixo-vos esta imagem que nos chega da Austrália. Um outro nicho de mercado garantido.

O Titanic dos Sistemas Operativos.

Eis um texto que me chegou de um colega e que achei engraçado, em termos de cultura geral de Informática e cultura particular dos Estados Unidos.

Primeiro que tudo uma ligeira contextualização de siglas. O Santa Cruz Operations (SCO) é um sistema operativo (SO) baseado no Unix e de divulgação bastante generalizada na década passada. Entretanto nos tempos que correm ninguém está disposto a pagar licenças de SCO quando existe um outro Sistema Operativo Unix, o Linux, que faz o mesmo, ou mais, de graça. Tudo isto percebeu a IBM cuja estratégia tem sido a de se colar ao Linux. A RedHat e a SuSe são empresas que comercializam "pré-instalações" de Linux, e não licenças, ou seja pagam-se apenas das configurações particulares que fazem do Linux.
E posto isto vamos ao texto do meu colega.

"Como alguns sabem, a SCO decidiu que o Linux é um SO 'fora-da-lei' e lembrou-se de processar a IBM. A IBM entretanto iniciou um processo contra a SCO, cujo exemplo foi seguido pela RedHat e SuSe.

Bem, o que acontece é que o actual quadro de directores da SCO é formado por 'litigadores profissionais' (não, não tem gestores de mérito) e o actual presidente tem no seu currículo o facto de ter processado a sua anterior entidade empregadora (e ter ganho, ainda por cima).

O argumento da SCO é o mesmo que a 'antiga' SCO usou contra o UNIX BSD ( a 'nova' SCO é na realidade, a Caldera com um novo nome) e que se virou contra eles. De facto, a SCO alega que existe código fonte no Linux roubado ao System V e aos UNIXes SCO - mas suspeita-se que, tal como sucedeu com a história do BSD, o código foi tirado por 'empréstimo' pela SCO da fonte do Linux.

Resumidamente: a SCO processa tudo e todos (até empresas que fabricam microcontroladores para utilizar em VCRs e automatismos suportados sobre Linux estão na mira) - estes, por sua vez, processam a SCO. A SCO exige licenças aos utilizadores de Linux, por servidor e/ou posto de trabalho cujo valor ascende aos $600 (até Outubro, quando passará aos $1500) e que na realidade são licenças de UnixWare...

E, seria de esperar que os 'litigadores profissionais' que mandam na SCO (cuja sede é num piso de um edfício de escritórios que nem lhes pertence) estivessem confiantes na vitória, certo ?

Expliquem isto:
"According to the Salt Lake Tribune, 'SCO Group executives have sold about 119,000 shares of their company since it filed a lawsuit against IBM in March...' Their CFO started the $1.2 million sell-off just after the lawsuit."

Quando o barco afunda, os ratos são os primeiros a saltar...

--Tiago"

Espero não ter sido maçador.

Outra coisa:
Sempre fui do Benfica, desde pequenino, e os Romanos são doidos.
VIVA O BENFICA.

After-hours

1. Nestas noites de canícula nunca desejei tanto uma cama frigorífica.

2. Depois da madrugada, há um formigueiro de gente que sai à rua, mete-se no metro, sobe aos autocarros, anda de comboio. Andassem os nossos governantes de transportes entre as seis e as sete da manhã e mudaria a política de (contra a) imigração.

12.8.03

Mercado da Ribeira

Sete da tarde, estação do Campo Grande. Por entre autocarros e táxis, multibancos e venda de passes, passa outro mundo de produtos à escolha - e à venda. "Olha prós sutiãs", grita a mulher, no meio da frutas da época, roupas também para a época, "anda hoje à roda", gelados e a loja do Sporting. O mercado - o capital? - no seu esplendor antes que chegue a polí­cia municipal.

PS - impressionado pelo ritmo de postas do Diogo, dou-lhe as boas-vindas no seu regresso de férias. Depois falamos do resto.

Ironias à parte, de um sportinguista...

1. Amanhã, mas só entre as 20h e as 22h, sempre fui Benfiquista, desde pequenino!

2. No próximo Sábado, 16 de Agosto, mas só entre as 19h45m e as 21h30m, sempre fui da Académica, desde pequenino!

3. No próximo dia 28 de Agosto, mas só entre não sei bem que horas, sempre fui do F. C. Porto, desde pequenino!

Em todos os outros dias/horas... sempre fui do Sporting. Desde pequenino.
E é assim que vou vivendo a minha "aficcion" clubistica. Na mais pura das tolerâncias. Só que é claro que o Sporting vai ser campeão.

A Super-Liga vem ai!!! Já estava farto da "silly-season". Um tipo não tem nada que conversar ao almoço com os colegas de trabalho...

PS: O cansaço já é tanto que troquei os posts. Este devia ter ido para o meu blog onde adoptei um estilo mais de "Tens muita piada. Tens, tens..." e o que está lá devia ter vindo para aqui. Se calhar é a mesma coisa, prontos fica assim e não se fala mais nisso... Enfim, o cansaço já é muito. (Permiti-me aqui utilizar uma frase da Traci Lord). Já tinha dito isto no principio do PS. (Post Scriptum, não Partido Socialista que eu não estive no principio do Partido Socialista...)

A contagem decrescente indica: 2 dias para entrar de férias.

Impressões de férias

Estou de volta! Para o melhor e para o pior, estou de volta!
As férias, como de costume, passaram demasiado depressa e, desta vez, foram atormentadas pelo calor e pelos incêndios.
Voltei ontem ao trabalho. Tinha tantas mensagens para ler, que não consegui ler todas... A sério!
Hoje já comecei a responder... mas obriguei-me a fazer uma pausa e resolvi postar aqui qualquer coisinha.
Como o Zé Salvado ainda parece estar de férias, vai em jeito de impressões.

1. Calor
Estou farto do calor! Anseio pelo vento fresco de setembro e por poder voltar a vestir uma peça de roupa que não seja de manga curta!

2. Marylin
A Marylin também não gostava de calor, mas pelo menos ela podia vestir aquelas peças de roupa frescas e, quando isso não era suficiente, ainda lhe soprava o vento por baixo do vestido!

3. Isabel Figueira
Eu, se continua o calor, poso nu!

4. Traci Lords
Esse mito da nossa adolescência, apesar de posar nua, estava sempre muito quente!
Quanto à sua actual posição sobre a pornografia, acho que fala de barriga cheia!
Desafio o Miguel a procurar uma fotografia da Traci que lhe faça jus!

5. Maxmen
Não me lembro de ver fotos da Marylin e da Traci Lords na Maxmen, o que não quer dizer que não haja.
Mas lembro-me bem das fotos da Isabel Figueira e lembro-me ainda melhor das da Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu que a edição de Agosto traz! Ai se lembro!

6. Anjos de Charlie
Fui ver o filme e gostei muito. Não sei se é bom ou mau, mas eu gostei muito!
Quando era pequenino, via os Anjos originais na TVE, dobrados em espanhol. Já nessa altura gostava muito e, no jardim de infância, brincava aos Anjos de Charlie com as colegas. Eu fazia de Charlie.
Aqui há uns tempos, contei isto a um amigo e ele disse-me: "Tás parvo?! O Charlie nunca aparece!" Pois, ele nunca aparece porque lá no Jardim de Infância havia mais do que três anjos!

7. Bola
A Maxmen de Agosto também traz uma antevisão da edição da Liga Galp Energia que está quase a começar. Como na Maxmen eles escrevem os artigos com muita antecedência, esta antevisão já está muito desactualizada. Por exemplo, traz fotografias dos azulejos de Alvalade, mas não diz que o Cristiano Ronaldo já não veste de verde-e-branco. Consta que em Manchester as casas-de-banho são mais pequenas, mas arranjadinhas.

8. Sporting
Alguém consegue explicar porque é que uma equipa que encaixou 35 milhões de euros com as vendas de Hugo Viana, Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo, dispensa o Jardel e contrata o Silva, dispensa o César Prates e contrata o Mário Sérgio e tem nas alas jogadores da craveira de Luí­s Filipe e Rodrigo Tello?! Porque é que, para além disso, tem um treinador cujo ponto alto da carreira foi deixar o Sporting ser campeão quando era treinador do Porto do penta?! E que, ainda por cima, como as duas grandes figuras da equipa - o Ricardo e o João Pinto - é benfiquista!

9. Sporting II
Eu sei, eu sei. Há boas respostas para as minhas perguntas anteriores e, enquanto benfiquista, ainda vou ter de engolir todas estas linhas lá mais para o fim do ano... mas ainda tenho mais uma pergunta: porque é que uma equipa que encaixa 35 milhões de euros em menos de doze meses resolve poupar nos azulejos???!!!

10. Costinha
O Costinha é o maior! Está não sei quanto tempo lesionado, entra ao intevalo e... bastam seis minutos para decidir o jogo e a supertaça! E o golo só não valeu por dois, porque o guarda-redes do Leiria não ultrapassou totalmente a linha da baliza... e regras são regras!

11. Juventude
Hoje, 12 de Agosto, comemora-se, desde 1998, o Dia Mundial da Juventude.
Portugal está intimamente ligado a esta data, mas o senhor secretário de estado da juventude e, sobretudo, quase exlusivamente, do desporto, nem deve saber porquê...
Paciência, o último a rir é quem ri melhor e eu cá estarei para ver o que acontece ao Dr. Hermínio Loureiro quando acabar o Euro 2004...

12. Juventude II
Passei boa parte das minhas férias a escrever um artigo sobre Política de Juventude, que há-de sair num livro que deve ser publicado lá mais para o fim do ano. Abstenho-me de comentar a inexistência de Poí­tica de Juventude até que o livro esteja nas bancas.

13. Avante!
Só o Miguel Marujo se lembraria de achar estranho o revivalismo estalinista a que o PCP vai dar voz na próxima Festa do Avante! (esta exclamação é do tí­tulo do jornal e não serve para reforçar a minha supresa pela estranheza do Miguel)! (este é que serve para isso)
Mas gostei da referência ao Lidl. Os iogurtes não sei, mas tem uns lombos de salmão e umas lasanhas que são de ir às lágrimas! Tenho uma amiga que diz que as rações para animais também são muito boas, mas disso percebo tanto como de iogurtes.

14. The Clash
Já que falámos no Lidl, aproveito para dizer que comprei, numas promoções do Continente de Leiria, uma compilação de músicas tocadas ao vivo pelos The Clash. A compilação já tem quatro anos, mas eu não conhecia o Continente de Leiria nessa altura. Chama-se "From Here to Eternity Live".
Sou demasiado jovem para poder ter assistido a um concerto dos The Clash nos seus tempos áureos (1977-82), mas, como diz um dos testemunhos publicados no libreto que acompanha o CD: I would sell my grandmother to have seen them!
Que saudades de um concerto decente, de uma banda honesta para com a música e para com o público, de músicas inebriantes e de letras arrebatadoras! Que saudades de um discurso coerente com a prática! Que saudades da polí­tica feita arte!

Lutas fundas (um e-mail)

De um camarada do jornal, Carlos Lima, recebi uma interessante análise a um dos posts anteriores. Deixo-vos a sua leitura, tal e qual:

Interessante a associação feita pelo Marujo entre três personagens da vida contemporânea: Jesse Ventura, Luís Delgado e Traci Lords. Não sei se os três partilham interesses, ou meros pontos de vista sobre Deus, Alma e o Mundo. Seja como for, há questões que convém salientar: Jesse Ventura começou na luta e acabou na política; Traci Lords começou a lutar aos 13 e nunca se sabe se acabará na política; Luís Delgado luta há muitos anos para entrar na política.

O Governo e os incêndios

Gargantas fundas

1. Arnold é o novo Ronald?, perguntava Luís Delgado. Duvido: a avaliar pela capacidade discursiva deve estar mais próximo de Jesse Ventura, "wrestler" feito governador do Minnesota.

2. A actriz de «Garganta Funda», porventura o mais famoso filme pornográfico de sempre, faleceu depois de um acidente de automóvel em Abril de 2002. Linda Lovelace era à altura da morte uma activista anti-pornografia.

Este mês, Traci Lords falou à Nerve. Aquela que foi apelidada como «a princesa do porno», e que se iniciou nesta actividade dita "cinematográfica" aos 13 anos, enganando a indústria com um falso BI, tem agora um discurso demolidor: How anyone could think of it as really glamorous, after reading what it was really like, is beyond me. [...] It's just so evident. How could it not be soulless? How could it not be painful? How could it be anything that might be considered glamorous? Come on, there's nothing sexy about a kid in pain.

Ei-la: nos dias de hoje, a princesa convertida.

11.8.03

A mentira da juventude

Da Lusa, cito uma breve passagem para comprovar aquilo que escrevi sobre a mentira do «primeiro portal temático» sobre a juventude:

O Secretário da Juventude e Desporto, Hermínio Loureiro, apresentou hoje em Santa Maria da Feira o primeiro portal temático na área da juventude, que estará online a partir de 29 de Dezembro. O novo portal da juventude (www.juventude.gov.pt), apresentado na véspera do dia Mundial da Juventude, "passa a ser a única porta para conteúdos relacionados com os jovens", disse o secretário de Estado.
Com este portal, o Governo pretende ter um site organizado e actualizado "como não acontecia com o anterior", fazendo dele uma nova ambição para a juventude portuguesa. [...]


Os sublinhados são nossos - e sublinham o óbvio.

Depois de Marilyn

1. Apetecia-me deixar Marilyn a dar as boas-vindas a todos os que aqui aportam, aos amigos e aos outros. Está mais abaixo.

2. As «Associações Juvenis [estão] em Dificuldades Financeiras» lê-se hoje no Público. No caso reportado, tratam-se das associações que têm campos de férias. Nada que não suspeitasse já. Por estes dias o Governo anuncia com pompa e circunstância o lançamento do «primeiro portal temático» da Juventude. A mentira tem tanto de grosseira como o programa para a Juventude de inexistente na política deste governo. Esta área não dá votos, como o Euro2004, e é perfeita para os "anti-Estado" reclamarem, confundindo a árvore com a floresta.
Recordo-me, quando militante nestas coisas do associativismo juvenil, da luta de muitas associações contra a subsidiodependência. Mas separe-se o trigo do joio: em Portugal, os jovens associados não chegam aos 20 por cento (se me lembro dos números), quando na Dinamarca - por exemplo - anda pelos 100 por cento (corrige-me, Diogo, se estiver errado). Não tem, então, o Estado responsabilidades? Tem. Mas não em substituir-se como uma vulgar associação às associações juvenis. Deve apenas dar dinheiro? Deve, mas co-responsabilizando as associações: valorizando o auto-financiamento destas, obrigando a uma contabilidade minimamente profissional. Mas sem as asfixiar depois de se comprometer no financiamento. Como na notícia do Público.

O que acho extraordinário é o apagamento das associações - e dos seus representantes, como o Conselho Nacional de Juventude (CNJ) - face a estas situações. O facto de as associações dependerem em demasia, ou já estarem asfixiadas, não as deve inibir de criticar o governo, a começar pelo secretário de Estado do Desporto - que parece tutelar a Juventude.

3. «Começar como Acabou». Não sei se o título do Público se refere à vitória do FCPorto ou ao tradicional golo polémico de Costinha.
[Uma provocação afectuosa aos meus amigos, que devem andar de férias, e ao Francisco José Viegas.]

4. Glória fácil, promete um novo blogue de jornalistas (João Pedro Henriques, Maria José Oliveira, os dois "públicos", mais o dê-éne Nuno Simas). O debate sobre a TSF - e a PT como "dona" de muitos órgãos de comunicação social - que ali se propõe é muito interessante. Sobretudo se o lermos a olhar para o que se passa em Itália.

9.8.03

Marilyn

Esta semana passou várias vezes na RTP2. Um verdadeiro serviço público, que recuperamos na Cibertúlia.

Praias

Ainda não fui de férias, ainda não fui à praia. Já trouxe aqui a praia, que entre banhos e trabalhos escreveu alguns textos muito interessantes sobre João Pulido Valente, que - confesso - só agora descobri.

Também só descobri agora a Livraria Francesa. Pelos jornais. O Eduardo Prado Coelho lamentou no Público o seu iminente fecho. E na blogosfera houve quem aproveitasse para zurzir na matéria. Pacheco Pereira, por exemplo, que lamenta a mentalidade estatizante na defesa que EPC faz da Livraria (e tem pena de não ter uma livraria inglesa ou americana à mão - será por que os tipos não nos ligam nenhuma?). Au contraire, o blog-de-esquerda lamenta a perda. Eu que venho de uma cidade onde as livrarias eram anexos de papelarias, lamento o fecho de uma livraria, em francês ou português ou inglês. Há praias que não se deviam perder.

Retiro da estante a bela edição de «As praias de Portugal» de Ramalho Ortigão (Frenesi, 2002). E viajo até à Costa Nova, entre as «praias obscuras» para o escritor, outros pontos adequados à instalação de uma família em uso de banhos. O apontamento é breve - as memórias imensas (intensas): frequentada por algumas famí­lias de Aveiro e seus subúrbios.

8.8.03

Estado dos transportes

Pela cidade, há muitos carris de eléctricos que vão dar a lado nenhum.

Rescaldos (sem «error»)

Recordações. Voltei ao Quarteto. Aliás, voltei ao cinema (dois filmes em duas semanas consecutivas é uma pequena conquista!) - agora para ver «25th Hour/A Última Hora», de Spike Lee (belí­ssimo! mesmo de férias, corram a ver, quem - poucos? - ainda não viu). Do Quarteto relembro as suas noites longas de aniversário, a saltar de sala em sala, com gente sentada no chão porque naquelas cadeiras de "pau" já não cabia mais ninguém. Foi assim no meu primeiro ano de Lisboa, já há um ror de anos. Aquelas «quatro salas, quatro filmes» tornaram-se passagem obrigatória, por causa de alguns filmes-que-só-passavam-lá ou de outros-que-já-só-estavam-ali-em-exibição (como o filme de Spike Lee).

Entretanto, mudaram as cadeiras, chegaram e desapareceram as pipocas, os televisores da entrada passaram a transmitir a Eurosport e não os "trailers", o som melhorou (mas continua a ouvir-se a banda sonora da sala ao lado, quando a explosão é maior ou o bandido grita mais alto). Mas o Quarteto foi decaindo: lê-se de quando em vez, sobretudo quando fecha outra sala algures na cidade, e vê-se quando se repara na tela da projecção deteriorada. Ninguém lhe pega? Não vale a pena?

Monopólios. O Quarteto sofre do mal de ser "independente" (que é como quem diz, fora do chapéu da Lusomundo). Em Aveiro, o Estúdio 2002 não chegou ao ano que lhe deu nome e o Estúdio Oita aguenta-se nas mãos da Medeia Filmes, de Paulo Branco. Há mais 14-catorze-14 salas, sete no Fórum Aveiro e outras sete no Glicí­nias Shopping, todas nas mãos da Lusomundo e... Warner-Lusomundo. A diferença é óbvia: ontem, estavam em cartaz oito filmes (apenas um era diferente entre os dois multiplexes, com direito a uma exibição única às 23h45).

Cinzas. Os fogos ainda matam (já vamos em 15 mortos «restritos»), mas a situação está a melhorar, dizem os jornais e a Protecção Civil. Mantendo o que escrevi, há dias, reconheço a serenidade de Francisco José Viegas (que contestei então), recolocando algumas questões importantes. Como escreve, em «equí­vocos sem importância», «Portugal é o culpado. Mas nesses momentos é necessário, rigorosamente, recomeçar. Chorar; mas recomeçar.»

"Páses". O Lidl tem dos melhores iogurtes do mundo. Provem os de pedaços!

Cadáveres. Já tí­nhamos a democracia na Coreia do Norte, segundo Bernardino Soares. Depois veio a condenação da pena de morte em geral e a sua aceitação para a Cuba-que-sofre-o-bloqueio, na versão de Ruben de Carvalho. Agora, temos o «Avante!» a suavizar os crimes do estalinismo - e a clamar pela pureza socialista de Estaline. Os milhões de mortos são justificados pelo «inimigo nazi». Estas teses revisionistas são tão repugnantes como as que querem "apagar" o Holocausto.

Blogus interrumptus

Tinha escrito um "post" sobre algumas coisas - e foi-se tudo. «Error qualquer coisa», gritou a página do blogger. OK. Agora, só escreverei mais logo.

Rescaldos

... ****** [error] ******

7.8.03

No calor do debate, a Cibertúlia errou.

A propósito de um post meu sobre os fogos, devo corrigir uma afirmação. Não é verdade que PBM não goste de CVM. Fica a rectificação e o pedido de desculpas - sobretudo a PBM.

Terminator IV

Perigo! Ele vai mesmo candidatar-se a governador da Califórnia!

Públicas vidas

«Desde há dez anos que não falo na minha vida privada» (Santana Lopes, SIC Notícias, citado pelo Público).
«Vivi sete anos com uma pessoa com uma vida pessoal muito intensa» (idem, ibidem).

6.8.03

FÉRIAS PRECISAM-SE...

Antes de mais dizer (ainda) presente. Férias só para a segunda quinzena de Agosto.
Tal como o Miguel dizia, perante a catástrofe apetece pouco discorrer. Ou antes ou depois. Durante é complicado, corre-se o risco de reagir a frio, ainda sem os dados todos, chover no molhado, embora chover fosse uma dádiva dos céus por estes dias...
E, no entanto, dizer algumas coisas para que esta "posta" não seja só isto!

Bombeiros.
Imaginei há dias que se poderia reestruturar as Forças Armadas para incluir uma componente de combate aos fogos florestais. Brigadas de intervenção rápidas, treinadas segundo a disciplina militar, com tácticas, porque não dizê-lo, militares de combate ao fogo. Esse grupo de elite, tipo pára-comandos dos bombeiros, teria como mais-valia a eficiência máxima proporcionada pela hierarquia rígida dos militares (não há dúvida de quem manda); o "know-how" especializado, e em constante evolução, das últimas de técnicas de combate; a responsabilidade de coordenar os restantes intervenientes: bombeiros municipais, voluntários, aviões e helicópteros, população...
Estamos a viver uma Guerra, meus senhores! Uma guerra com um inimigo que não dá tréguas!
"Prontos, tábem", mas pelo menos um bocado mais de organização entre Protecção Civil, Bombeiros, Exército, Governo, Presidentes de Associações disto e daquilo, população, jornalistas... bloguistas...

Foguetes.
Apontados como uma das possíveis causas dos fogos. O governo já proibiu, as pessoas não sabem e têm licença... o Sporting já cancelou o fogo-de-artifício da festarola de hoje à noite.
O problema é que a tradição vale muito e qualquer festa que se preze tem de ter foguetes.
Pois eu tenho uma proposta, que imaginei depois de ler outra do Pacheco Pereira no Abrupto (o seu a seu dono). Um dispositivo, atado a uma cana perfeitamente normal, que prescindisse de utilizar técnicas de pirotecnia para se elevar e fazer luz e barulho. Para tal a cana seria lançada através de uma maquineta simples, tipo tiro ao pratos. O dispositivo na ponta da cana consistiria de um flash, normal de máquina fotográfica, de um dispositivo sonoro de reprodução (com colunas de som) e de um temporizador que se encarregava de accionar as anteriores características de forma coordenada. E já me estava a esquecer de um pequeno recipiente com pó para simular o fumo. A coisa bem feita e ninguém notava a diferença. E com um elástico atado, tipo "bungee-jumping", seria um dispositivo re-utilizável. Mais tarde poderia substituir-se a normal banda-sonora "PAM Ranta-pam" por um "PAM Rantam PAM pam RanTAM pam".
E já estou a imaginar um foguete com sons "polifónicos"...

Não liguem. O ano já vai comprido e estes delírios são cada vez mais frequentes.
FÉRIAS PRECISAM-SE JÁ!

Verão a gosto (VI)

Em dia de inauguração da maior casa de banho pública do país, deixo-vos esta pequena homenagem ao mundo da bola, quando um grupo de coelhinhas deu a volta a jogadores brasileiros de futebol.


Verão sem gosto

1. A blogosfera está muito parada. Numa ronda rápida por vários blogues, muitos despediram-se a 31 de Julho ou a 1 de Agosto, dizendo que se calhar "postam" de qualquer lado, mais tarde. Aqui, o ritmo também é outro. Não fomos totalmente de férias (o Zé e o Diogo, sim) - mas sobra pouca disponibilidade para blogar. Sobretudo quando, à nossa volta, a catástrofe - a palavra é esta - é cada vez maior, em número de mortos, nos hectares ardidos, nas frentes de incêndios.

2. Depois: o calor deve andar a derreter alguns neurónios. O ministro do Ambiente meteu incêndios e ex-combatentes da guerra colonial no mesmo fogo. Guilherme Silva (lí­der parlamentar do PSD) disse que «felizmente» o número de mortos é «restrito» para a dimensão das coisas. E, na blogosfera, Pedro Boucherie Mendes meteu as suas pás ligeiras em seara alheia e atirou-se a quem não gostou do que ele escreveu sobre os fogos. Sem nos citar [não sei se nos leu, mas pouco importa para esta matéria - ver "post" anterior] diz que há quem goste de se eriçar por pouco. Quando se goza com a vida dos homens e das mulheres, eriçamo-nos, é verdade. A ele, PBM, fazia-lhe bem a humildade. Ou uns dias de férias. Carlos Vaz Marques (de quem PBM não gosta) explica com calma, sem atear mais fogos desnecessários.

4.8.03

A ver arder

Em casa, depois de um fim-de-semana a trabalhar - e a noticiar quase em contínuo um país a arder em desespero - olho distraído para alguns blogues que tento ler diariamente. E páro estupefacto perante a diatribe de Pedro Boucherie Mendes contra a "jornalistada" (num tique-muito-monteirista-portista-do-jornalista-acima-dos-jornalistas) que não se explica, nem explica a geografia dos fogos (deve ser o mesmo PBM que se queixa da estudantada portuguesa que não sabe nada!).
E páro surpreso, pela reacção de aplauso de Francisco José Viegas, que admiro e respeito, ao tom das "postas" de PBM sobre os fogos. FJV mete tudo no mesmo saco e descobre os rostos de quem viveu à custa dos subsídios naquelas caras sofridas de quem vê o fogo tudo levar.
No meio disto, penso, «Como reagiria eu?», se fosse um qualquer Zé ou Maria de Mação ou Oleiros ou Vila de Rei ou Sertã. Tenho dúvidas de que pensasse: «Isto não é nada, melhores dias virão, não vou chorar em fogo derramado». Ou, como escreve PBM, «A vida é mesmo isso, é começar tudo outra vez».
Não! É HIPOCRISIA A MAIS, de PBM. Sentadinho, confortavelmente no seu sofá lisboeta, a escrever no seu computador para o seu blogue, a perorar sobre o «desespero nacional, um desespero sem conta, sem peso, sem medidas»... A incendiar a blogosfera, pensa ele.
Felizmente, no fim da minha ronda, passei pelo
Outro, eu, do (também) jornalista Carlos Vaz Marques. E respirei aliviado. Há quem não se sinta acima dos «desgraçados». Leiam aqui. Vale a pena. Para apagar fogos de palavras mal pensadas.

3.8.03

Bilhetes postais

O país real que encheu o peito e o ego de Durão está definitivamente queimado.

A catástrofe dos fogos do dia seguinte foi de facto maior do que a do dia anterior, caro Pacheco Pereira.

Estou ansioso por ouvir (ainda) Pacheco, Vasco Graça Moura e acólitos (também da blogosfera, claro) sobre o último dossier da (muitas vezes sua "bíblia") Economist a propósito de Silvio Berlusconi.

Pelos vistos, não há fuga possível neste Verão. A agenda telefónica do suplemento diário «Fugas de Verão» "afunilou-se": depois do sequeiro de Bagão, o Público regressa com as cartas de marear de Ferreira do Amaral.

A PJ mudou de nome. Agora é a PE - Polícia das Escutas. O TIC em Lisboa mudou de nome - agora responde por TIE (Tribunal de Instruções para Escutas) - e de instalações: está disponível num qualquer telefone perto de si.

O que nos vale é Calvin e o seu inseparável Hobbes, magistrais hoje no silêncio da natureza.

[Verão a gosto (V)] E o que nos vale é a França. Bem podem os americanos mudar o nome das "french fries" para "freedom fries" que nunca terão esta bela impertinente.