31.1.08

Modo repeat

A PSP prossegue a sua acção pedagógica: carros bloqueados, ao lado de tráfico de droga à vista. Espantoso país.

Gaitinhas

Que o Exército seja coisa anacrónica nos dias que correm e tenha fanfarras que podem animar as comemorações do Regicídio; que o PSR-hoje-Bloco tenha deixado cair a luta que tinha contra o serviço militar e agora se preocupe com as fanfarrices; que o Regicído deve ser celebrado como acontecimento histórico que é, ainda que uns se exaltem a defender essa coisa velha e não democrática que é a monarquia; que... São meras constatações.

Posto isto: é idiota que o ministro da Defesa proíba a fanfarra na festa.

Boçalidade

Zapping distraído deixou o televisor numa coisa inenarrável: Fátima, um programa da SIC que tem uma "crónica" de um sujeito chamado Nuno Eiró. Hoje, pelo menos hoje (mas o registo deve ser idêntico nos outros dias), o tipo espalhou boçalidade em cada linha, com piadas-sem-piada de um baixo nível indescritível. Uma emissão que não tem bola vermelha.

30.1.08

O rolo com receio

Manuel Alegre faz Sócrates t(r)emer.

Humores


[via Ponto Média]

Descomprimir o rolo

«"Vamos trabalhar em conjunto para dar mais segurança aos cidadãos e reforçar o Serviço Nacional de Saúde"», afirmou Ana Jorge, dizendo entender o medo das populações em contextos de mudança. "Entendo [o medo das populações] sempre que há uma mudança", disse a nova ministra, afirmando que a sua aposta é na melhoria das condições dos utentes "num ambiente de diálogo". [da Lusa]

Rolo

De Ana Jorge e José Pinto Ribeiro esperam-se mais que meras linhas de continuidade de políticas gastas e apupadas. Bastava ler hoje as reacções às saídas dos dois ministros: "boa notícia", "excelente", etc. e tal. Assim: mudar de cara é mudar de política, e a coisa fica justificada. Sem rolo compressor, claro.

29.1.08

Remodelação

E ao contrário das certezas dos opinadores, José Sócrates vai buscar dois bons nomes fora do partido. Sobreviverão ao rolo compressor do chefe?!

Polícia de segurança fácil

Ao lado de traficantes que ali estão todos os dias, os agentes da PSP andaram a multar e a bloquear carros, estacionados em passeios largos, sempre usados pelos residentes, mas que não estavam em segunda fila nem entupiam a rua. Quando se aponta o dedo ao tráfico, a senhora polícia responde que está ali apenas a cuidar do tráfego.

28.1.08

Good news... DIG, LAZARUS, DIG!!!

Nick Cave & The Bad Seeds announce their European tour dates for 2008...

e a abrir...

Mon 21st April - Lisbon, Coliseum
Tue 22nd April - Porto, Coliseum

CSI: com sorte, isto-ia


... mas Paulo Bento sabe bem que não.
[via Adufe, Eva La Rue, a Natalia Boa Vista, do CSI Miami, ontem em Alvalade]

Como não gostar dela?!...

"I am engaged... to Barack Obama," Johansson joked in an interview with The Associated Press on Thursday. "My heart belongs to Barack, and that is who I am currently, finally, engaged to."

Rufar de tambores


27.1.08

Leão esta noite

Gosto sempre quando o Sporting nos dá uma ajudinha.

Suharto

Morre Suharto e o único lamento é o facínora nunca se ter encontrado com a Justiça. Tal como Pinochet.

26.1.08

25.1.08

[linhas]

Roma (foto MM, Dez/07)

Curtas memórias (de Roma a Lisboa)

Berlusconi já rosna por eleições, para voltar ao poder que lhe permite a impunidade e a imunidade absoluta. Basta ver os seis canais nacionais de TV: três públicos, de uma RAI pouco dada ao serviço público; três privados, nas mãos de Don Silvio, il padrino que é chamado a participar em tudo o que é programa, da bola ao social, uma permanente campanha, um precioso tempo de antena. Este não é um verdadeiro regresso: ele andou sempre por lá, a pairar, a esbranquiçar os dentes, a colocar mais cabelo, a eliminar rugas. A cosmética serve para gritar agora por uma preocupação social, que a Forza Italia não representa. Em Florença, nos dias que antecediam o Natal, havia cartazes a protestar da Forza contra os aumentos do custo de vida promovidos pela esquerda, obliterando a realidade de um país que foi governado para ricos e por lóbis.
Um pouco à imagem e semelhança de um CDS-PP que agora se traveste em paladino de uma reforma fiscal, supostamente em defesa dos mais fracos, quando o seu Governo e ministro deu cabo do rendimento mínimo garantido. (Lembram-se da rábula dos velhinhos e lavradores? E também Paulo Portas embranqueceu os dentes.) Ou ainda à imagem deste PSD bicéfalo, em que agora Santana quer aparecer transfigurado contra as agências de comunicação ou contra o país doido do futebol, ele que fez da política de governo uma agenda de venda de comunicação e propaganda e do futebol trampolim. Eles andam aí, e o mundo definitivamente não se viu livre deles. A memória curta aflige.

[Senadores da Forza Italia a festejarem a votação da moção. Como no futebol.]

23.1.08

Futebol, pouco

Jogo mau, em Alvalade. Mais grave ainda: os comentários da RTP. Três (leram bem: três) senhores que não escondiam a ansiedade por o Sporting não marcar, aplaudindo um amarelo idiota ao guarda-redes aveirense (porque "não aguentou" os insultos do público, explicaram - elucidativo), aliviados quando os lagartos marcaram e desconhecendo em absoluto o que o Beira-Mar anda a jogar na II Liga. Não há trabalho de casa?, não procuram preparar-se?, e dizem-se jornalistas?

Se os bebés fossem para os ginásios...

«[...] a APSI solicitou ao Governo, em Abril de 2007, a redução da taxa de IVA sobre as cadeirinhas para 5%, à semelhança do que já acontece no Reino Unido e na Irlanda. Solicitou também que a aquisição destes equipamentos fosse tratada como uma despesa de saúde, dedutível à colecta do IRS. A APSI considera lamentável que as famílias portuguesas tenham que trabalhar 2 a 3 vezes mais do que as restantes famílias europeias para adquirir uma cadeirinha, quando mais de um quinto do seu valor reverte para o Estado».

22.1.08

Um segredo efémero

9,7 milhões

«Casi 9,7 millones de niños mueren al año por enfermedades prevenibles», divulgou a Unicef. Teixeira Pinto, por sua vez, recebeu a «remuneração total referente ao exercício de 2007» no BCP: 9.732 milhões de euros em «compensações» e «remunerações variáveis». O bom católico que gosta de despedir não se sobressalta com os outros números, só com os seus.

Alien vs Predador

Sinto-me um alien quando olho para os nomeados aos Óscares. E não consigo voltar aos tempos de predador...

21.1.08

Bushice

Bush incensado pelos nossos neocons, deu cabo da economia. Agora que a recessão espreita, que as bolsas derrapam, vale a pena lembrar esta coisa básica: George W. não asneirou só com a guerra. A economia que vivia com um superávit estragou-se com o sorvedouro do Iraque (apenas alimentado por ele) e com a baixa de impostos para os mais ricos. Agora, o mundo sofre com a constipação americana. E o sr. Bush continua a falar na estratosfera.

Notícia do dia

É a notícia do dia, a ASAE decidiu inspeccionar uma missa na Sé de Lisboa para inspeccionar as condições de higiene dos recipientes onde é guardado o vinho e as hóstias usadas na celebração. Depois de sugerir ao cardeal que se assegurasse que as hóstias têm um autocolante a informar a composição e se contêm transgénicos e que o vinho deveria ser guardado em garrafas devidamente seladas, os inspectores da ASAE acabaram por prender o cardeal já depois da missa, depois de terem reparado que D. José Policarpo não procedia à higienização do seu anel após cada beijo de um crente.
A ASAE decidiu encerrar a Sé até que a diocese de Lisboa apresente provas de que as hóstias e o vinho verificam as regras comunitárias de higiene e de embalagem, bem como de que da próxima vez que cardeal dê o anel beijar aos crentes procede à sua limpeza usando lenços de papel devidamente certificados, exigindo-se o recurso a lenços descartáveis semelhantes aos usados nos aviões ou nas marisqueiras desde que o sabor a limão seja conseguido com ingredientes naturais.
Sabe-se ainda que a ASAE inspeccionou igualmente a sacristia para se assegurar que D. José, um fumador incorrigível, não andou por ali a fumar um cigarro, já que não constando nas listas dos espaços fechados da lei anti-tabaco as igrejas não beneficiam dos favores dos casinos pois tanto quanto se sabe o inspector-geral da ASAE nunca lá foi apanhado a fumar uma cigarrilha.
[do e-mail]

20.1.08

Os amigos

Em três dias, de Lisboa a Aveiro, muitos reencontros. Sabem bem.

18.1.08

Felizes a preto e branco

O jornal feliz é tão feliz que nunca tem espaço para pretos ou quase pretos, nas vozes ouvidas na rua. Gente assim não condiz com marketing bonito.

[corrida]

17.1.08

Aos 36

É preciso tremer para crescer
- escreve René Char, numa antologia que há 12 anos o Olímpio me ofereceu neste dia, dizendo que era uma colecção de poemas fora de moda.

16.1.08

Mundos


An Israeli soldier points to a Palestinian boy during an operation following a shooting incident against a Jewish settlement enclave in the southern West Bank city of Hebron, Wednesday, Jan. 16, 2008. (AP Photo/Nasser Shiyoukhi)

Breaking news

Carmona foi acusado no caso Bragaparques. Marques Mendes deve andar a rir-se, Santana vai calar-se. "Este país anda doido".

Olímpio

Mais textos para ler e guardar: este (extraordinário) do Daniel e este (de arrepiar) do Ivan. [E mais uma compilação de homenagens ao nosso amigo.]

Geometria

15.1.08

E homens, não?

«O secretário-geral do PSD/Porto, Virgílio Macedo, afirmou hoje que a "distrital" do partido vai dar formação às militantes, para que haja candidatas "com qualidade" nas eleições legislativas e autárquicas de 2009.» [Lusa]

Argumentos à... portuguesa

Ficou ali o serviço público, de divulgar os vencedores dos Globos de Ouro. É interessante ver como um sindicato nos EUA consegue ter um poder que não se vê num qualquer sindicato português. Aguentar uma greve de meses, abanar mesmo a indústria onde se trabalha. Não, por cá não: temos um sindicato que zela pelo despedimento de uma funcionária. Com sindicatos assim...

Tabaco

«Nunca tive tanta noção de o tabaco ser uma droga como nos últimos 15 dias, após ler textos alucinados por parte de colunistas habitualmente respeitáveis como Vasco Pulido Valente ou Miguel Sousa Tavares. O que eles têm escrito sobre a nova lei do tabaco, deitando mão a comparações que deviam envergonhar qualquer pessoa que tenha lido dois livros de História, é de tal modo inconcebível que só se explica pela carência de nicotina. Eles fingem que um café inundado de fumo é coisa que não incomoda ninguém. Eles chamam fascismo a uma decisão que chateia dois milhões de portugueses e protege oito milhões. E Sousa Tavares conseguiu mesmo a proeza de afirmar no Expresso, sem corar de vergonha, que a lei faz "lembrar, irresistivelmente, os primeiros decretos antijudeus da Alemanha nazi". Ora, isto não é texto de um colunista prestigiado - isto é conversa de um junkie a quem o dealer cortou na dose. Faço, pois, votos que os fumadores descompensados acabem de ressacar rapidamente, para o bom senso regressar e nós podermos voltar a lê-los com gosto.» João Miguel Tavares

14.1.08

Globos (act.)

A lista dos vencedores com uma possível galeria das estrelas... que não estiveram lá. E o pior e o melhor da noite.

Globos

Este ano, não há tapete vermelho, mas há resultados na mesma - vencedores e vencidos.

13.1.08

Obsceno

Sábado, no Expresso, Miguel Sousa Tavares comparou a Lei do Tabaco às leis que criaram os guetos judaicos no regime nazi. Já não sei o que me incomoda mais: se este despudor de linguagem, se a falta de memória desta gente. Apetece dizer, voltem lá a fumar no raio que vos parta, para ver se acabam com estas comparações imbecis.

Cheques

Os únicos cheques que não corremos a depositar têm timbre da FNAC. Merecem demoradas visitas, necessárias ponderações, de como melhor os rentabilizar. Mas ontem, em passeio pela novíssima Byblos (na vizinhança, para doer mais), lembrei-me de como a FNAC era novidade ao princípio e hoje vai sendo apenas o único* sítio onde se podem comprar CDs.

[* - sim, há a Ananana ou a Flur ou... mas sabem a pouco, e ficam fora de mão.]

11.1.08

Lusobscura

A Lusoponte contribuiu com 5 por cento para o estudo de Alcochete. Van Zeller diz que a empresa não sabia que a opção era Alcochete. Sim, e todos nós acreditamos no Pai Natal da CIP.

Ê mantenã?

Telmo Correia e os pêpês riram muito hoje a dizer «é mantenã» (quando ele queria dizer et maintenant). São estes senhores que fazem discursos muito contristados sobre o ensino em Portugal - mas tratam aos pontapés línguas estrangeiras...

Posto de escuta

Dig, Lazarus, Dig!

Quando a pobreza é tema de campanha


E o que dizem Edwards, Obama e Clinton sobre a pobreza? «The inaugural issue [of Pathways] takes on one of the most basic policy questions of our time: How, if at all, might a new war on poverty be fought? Featuring essays by Hillary Clinton, John Edwards, and Barack Obama.» [dica do Nuno]

Quatro em um

Fosse democrata americano, e estaria muito indeciso: Hillary, Barack, Edwards? Este tem um discurso social sólido, os outros são uma lufada de ar fresco e a queda de um preconceito - que nenhuma mulher, nem nenhum negro poderá ainda governar a América. Como se os EUA continuassem WASP e não descobríssemos um país bilingue. Por mim, Hillary ganhava - e tínhamos Bill a acompanhar, o que era óptimo - e Barack seguia como vice. Edwards seria chamado para um secretário de Estado para as políticas sociais. I have a dream, tá visto.

A azia republicana (regada a vinho carrascão)

«Put another way, Mrs. Clinton won the beer drinkers, Mr. Obama the white wine crowd. And there are more beer drinkers than wine swillers in the Democratic Party.»

Karl Rove (sim, ele), sobre as primárias do New Hampshire (descoberto na Revista Atlântico, sim, a rapaziada ainda o venera!)

Tremenda lição

«“É melhor ser cristão sem o dizer do que dizê-lo sem o ser”, escreveu Santo Inácio de Antioquia. [...].»

10.1.08

Faz toda a diferença, ah pois faz!

«A Portugal Telecom (PT) anunciou hoje que a remuneração mensal fixa de cada um dos seus sete administradores executivos é, em média, de 86.561 euros, dados que a empresa nota virem divulgados no seu Relatório e Contas de 2006.
A PT reagia assim à notícia publicada hoje na revista Visão, que atribui uma remuneração média mensal de 185.590 euros aos administradores executivos da operadora.» [Lusa]

Alcochete

Insisto. Não conheço os dossiês que avalizaram durante anos a Ota, muito menos os de Alcochete que criaram o paraíso aeroportuário em meses. Pergunto o que ninguém ainda quis responder: de que cartola veio este coelho? Quem financiou os estudos? Cheira-me que daqui a uns anos vamos conhecer a factura completa. (E a Lusoponte enviará as boas festas.)

9.1.08

...

[O Correio do Vouga pediu-me um texto sobre o Olímpio. Saíram estas palavras.]

Morreu o Olímpio. Desculpem a notícia crua, seca. Foi assim que a recebemos, é sempre assim que a sentimos. Um murro no estômago. Não a soube dar de outra maneira aos amigos, não a consigo partilhar de outro modo convosco, aqui nas páginas do jornal da diocese que o viu nascer e crescer.
Há uns vinte e poucos anos, o miúdo franzino, de Águeda, começou a aparecer pelo Secretariado da Juventude, no seu centro permanente, levado pela mãe Adélia. De quem com ele conviveu então sobram memórias difusas, mas já lá estava o sorriso do tamanho do mundo, o humor e a timidez.
Hoje, muitos anos depois, o Olímpio paginava livros e revistas (ou o convite de casamento mais bonito do mundo, também por causa dele, desculpem-me a imodéstia), o homem da sombra que assinava em letras pequeninas arrumadas por ele nas fichas técnicas – que, porventura, nunca lemos – de livros e revistas em que punha tanto cuidado. Este cuidado foi o mesmo que descobrimos, anos antes, no Movimento Católico de Estudantes (MCE). E também na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se candidatou aos órgãos de gestão, numa lista que fez da irreverência a sua marca. Era também a dele. Irreverente, inconformado, sempre curioso – a fé constrói-se na dúvida, ele vivia-a assim.
No MCE, primeiro em Coimbra, depois em Lisboa, já na Equipa Nacional, o Olímpio tratou de nos ensinar – olhar as coisas de modo diferente, pôr solenidade e risco nos gestos pequenos dos dias e dos trabalhos. Ou como disse o padre Tolentino Mendonça, na sua missa (lembrado pelo encenador Jorge Silva Melo, num texto no “Público”, 4/01/08), “não seremos jamais órfãos, sempre seremos herdeiros”. É assim que olho para um percurso pessoal e afectivo que se cruza com a nossa caminhada em movimento, no MCE, na Igreja, ou fora destes, na vida comum que fomos partilhando, nos livros e discos e filmes que descobrimos a dois, ou que ele – tantas vezes, descubro agora – me deu a ler, ouvir ou ver. Tinha um entusiasmo juvenil delicioso a falar de um poema lido, de uma cena vivida ou de um som escutado, e dizia-nos desse entusiasmo. Era impossível ficarmos indiferentes. As noites longas de leitura de livros, maliciosos e deliciosos, ou de audição de discos quase clandestinos (há uma geração do MCE que lhe deve o “FMI” de José Mário Branco, trauteado como senha).
O Olímpio, disse Tolentino Mendonça, “encontrava o justo espaço para a palavra na página”. Assim foi a sua vida, mal contada por mim. Faltam-me as palavras certas para o espaço justo. O amigo que vi partir abruptamente no dia 30 de Dezembro deixou-nos uma memória maior que a morte – uma memória como projecto. Ele pegou nesta simples expressão (do Edgar, se bem lembro, outro “compagnon de route”) e deu-lhe um significado, com a sua vida. No MCE, nas coisas que vivemos, nas viagens pelo país a contactar com os militantes, ele pedia que vivêssemos também essa memória: a sua exigência em desenhar com esmero um simples folheto de um encontro diocesano ou nacional; as suas anedotas (“o melhor contador do mundo”, insistiam os amigos por estes dias) para resgatarem momentos duros de debate.
Depois seguiu caminho – sempre atento às coisas da política, das artes, das letras, que é outra forma de estar atento à Cidade, que é outra forma de expressar as suas dúvidas, a nossa fé. Enamorou-se da Mariana, encantou-se com os dois filhos, o Miguel e o André. Nós, os amigos, ficamos com a memória das suas palavras. A mim faltam as palavras para dizer adeus. Sem nunca dizer adeus.

Dizer sim

A direita queria o referendo ao aborto e, por calculismo, atira-se ao não referendo de Sócrates na Europa, apesar de não o desejar. O PCP preferia despenalizar o aborto na Assembleia, agora pelava-se por ir para a rua referendar a governação. O Bloco de Esquerda antinacionalista enxufra-se por Sócrates ter telefonado primeiro a Merkel. O primeiro-ministro com nuances de linguagem muda de opinião, quando se calhar sempre teve esta opinião. E na rua acha-se mal não irmos a votos, mesmo que ninguém tenha lido a coisa, ou mesmo que no dia do referendo ninguém lá pusesse os pés. Eu por mim, referendava isto tudo, com uma pergunta simples: queremos a fusão com Espanha - uma Ibéria? Sim, queremos.

Feliz hipocrisia

O jornal Metro vai lançar uma "edição feliz". Não fosse a notícia já quase anedótica, há histórias que ajudam a perceber o conceito de felicidade dos senhores.

Palavras

Já ouvi de tudo. Que a ASAE é a nova PIDE, a Gestapo alimentar, que a lei do tabaco é fascista e o diabo a quatro. Quem escreve assim não é o Zé da tasca daqui da rua a protestar pelo copo encerrado. Não. Quem escreve assim, são doutos incensados deste país: António Barreto, Vasco Pulido Valente, Clara Pinto Correia, Miguel Sousa Tavares. Estes senhores banalizam palavras sérias, com uma carga que os obrigaria a serem prudentes ou calarem. Ou pelo menos a terem respeito por quem sofreu os horrores do fascismo, da PIDE, da Gestapo e do diabo a mil.

8.1.08

Geometrias

O PSD acabou de eleger um líder, mas os jornais enchem-se mais uma vez de putativos candidatos a candidatos de uma coisa que ainda não se vislumbra que possa acontecer - a escolha de um novo líder. Há geometrias no espaço que não se compreendem. O PSD é incompreensível.

Dada a lista...

... percebe-se que esta lei não lixa os direitos de ninguém. O bom-senso é a sua marca.

7.1.08

O último dia de Bill Gates na Microsoft

Liberdades

Querem-me fazer crer, por estes dias, que as nossas liberdades estão em perigo porque os fumadores agora não o podem fazer em espaços fechados partilhados com não fumadores. Nunca ouvi tal clamor por neste país se tratar um desempregado como um criminoso. Este país de facto tem as prioridades trocadas.

4.1.08

1967-2007, Olímpio Ferreira - Um homem que fazia livros [esta imagem vinha com o e-mail do Zé Carlos, esta manhã: «Soubemos pela Sara que vem hoje um artigo no Público sobre o Olímpio, que segue em anexo, caso ainda não o tenham. Faltou dizer que era o mais brilhante contador de anedotas que alguma vez ouvimos...» Para ler, clicar na imagem.]

2.1.08

Coisas simples


[ilustração de João Vaz de Carvalho]

Independência, já!

O presidente do Governo Regional da Madeira criticou hoje os 500 anos de «extorsão e roubo de dois terços do produto do suor dos madeirenses, que foi retirado da Madeira e levado para as fantasias do Reino».

Fumado

O senhor ASAE disse que metade dos restaurantes estava condenado a desaparecer. Depois do senhor ASAE ter sido apanhado a fumar depois da meia-noite de dia 1 talvez seja ele que esteja condenado a desaparecer. À mulher de César não basta parecer séria.

Dúvida metódica

Ao fundamentalismo higienista opõe-se o fundamentalismo porquista?

Olha para o que eu digo, não para o que eu fiz

«Há que encarar as críticas como um estímulo para fazermos melhor.» Cavaco Silva, na sua mensagem de Ano Novo, pedindo mais diálogo ao Governo. Ele, o primeiro-ministro do buzinão, das bastonadas aos estudantes, do Carnaval a trabalhar, do "deixem-me trabalhar"...

1.1.08

Sem dizer adeus (oração)

«Para o Olímpio
[...] O paginador, quando dá por preparado um livro, está sujeito à mesma lógica unidireccional que nós: só pode avançar na ordem crescente, da primeira para a última página, fechando cada uma à sua vez e sem voltar atrás. Trabalha noite fora, tomando decisões que — ele sabe — irão afectar tudo o que está para diante, mas sem adivinhar muito bem como, nem de que forma.
A diferença notória é que este é um livro que não se fecha, e no qual todos ficamos a meio. Vamos acumulando eventos e perdendo tempo. Somos empurrados para a frente sem outra escolha. Vivemos algumas alegrias, se as houver. E, em geral, vamos ganhando um coração magoado e a lembrança carregada de saudades. É pelos amigos que ficaram para trás, mas que ainda traremos connosco para 2008 e os mais anos que restarem, sempre futuro adentro.»
Rui Tavares

Sem dizer adeus*

O Olímpio encontrava o justo espaço para a palavra na página, o Alberto traçava a linha certa para ocupar o lugar. Aos amigos dos dois, resta-nos a memória das suas palavras e linhas. A mim faltam as palavras e as linhas para dizer adeus. Sem dizer adeus.

* - título pedido emprestado ao Rui, ontem no Público