31.12.03

«Se me puderes ouvir»



O poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui

à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer
segredamos

mas se hoje me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo



de Tolentino Mendonça, «Baldios» (ed. Assírio & Alvim)

para 2004: um bom Ano!

Leituras de fim de ano

Nem sempre concordo com Francisco José Viegas (apesar de, mesmo nesses momentos, me fazer reflectir). Mas, agora, ao fechar o pano de 2003, descubro mais razões para o aplaudir. Preto no branco, Viegas fala-nos de «estrangeiros e emigrantes». Deixo um breve excerto de um texto que merece leitura na íntegra: «Portugal, nessas duas décadas prodigiosas (retiro a expressão a António Barreto) utilizou a emigração como motor de desenvolvimento. Fez pontes e estádios com fundos europeus e emigrantes de Leste e de África. Nem sempre tratou bem esta gente. Se um dos partidos da coligação no governo se prepara para adoptar políticas de exclusão em relação à emigração e aos emigrantes, isso constitui – claramente – uma pulhice. Política e humanitária.»

30.12.03

A agenda de jornalistas da Polí­tica (ou o PP infiltrado no PS)

Há um fenómeno na comunicação social que se vira muitas vezes contra os próprios jornalistas. Quando se pensa em alguém para falar sobre determinado assunto, por preguicite ou uma agenda "curta", ouvem-se sempre os mesmos "peritos". Quantas vezes, em questões ligadas à Igreja católica, não ouvi já na redacção a dica "telefona ao D. Januário", como se não houvesse mais nenhuma pessoa interessante para ouvir para além do bispo das Forças Armadas (apesar de ser, em muitos casos, o único bispo disponível para falar - mas isso é outro assunto).

Depois, há o fenómeno contrário. Aqueles que têm lugar cativo na imprensa, mesmo que nunca se perceba a sua importância ou representatividade. Por exemplo, Cláudio Anaia é uma personagem com lugar cativo nalgumas secções de Polí­tica. O jovem diz-se representante dos jovens socialistas católicos (what?) e sempre que se fala do aborto, lá vem o rapaz pulando e saltando ao melhor estilo "PP" (mas sem a verve de Bagão) a zurzir nos seus supostos camaradas de partido. Contra Sampaio, contra Ferro, contra o PS. Ele diz representar mais de 100 jovens. Nunca ninguém os viu. Supostamente, esta "tendência socialista" esteve agora reunida em Beja - cerca de 30 pessoas, dizem os jornais - para bater em Sampaio e no indulto deste à enfermeira da Maia.

Quatro perplexidades:
1. Não há jovens socialistas católicos. Há católicos que, politicamente, serão socialistas ou votarão à esquerda. É a velha confusão, pré-conciliar, da presença da Igreja no mundo, daqueles que querem ter um jornal católico, uma televisão católica, um partido católico (ou democrata-cristão)...
2. A democracia interna desta suposta tendência é fantástica. Em anos, nunca ninguém assumiu a "alternância" na liderança daquele alegado grupo... Cláudio sucede a Anaia que sucede a Cláudio que sucede a Anaia.
3. Há grupos e movimentos organizados, católicos, que dentro da comunidade da Igreja procuram reflectir sobre o mundo (e também sobre o aborto). Eu que passei por alguns destes espaços, sei da dificuldade em fazer passar esses debates para o exterior, para a comunicação social (sempre pouco receptiva). E esses grupos "mexem" com muito mais gente que aqueles supostos jovens socialistas católicos.
4. Sobra a perplexidade ideológica: Cláudio Anaia, discí­pulo confesso e dilecto de Bagão (assim ele se apresenta, desde os tempos em que o actual ministro do Trabalho era a Comissão Nacional de Justiça e Paz e Anaia os jovens da CNJP), está mais próximo da cartilha de Portas, Telmo, Bagão e companhia. Então: por que insiste ele em ser militante socialista?

Durão na Cibertúlia

Algures, lá atrás, numa diatribe anti-blogspot, prometi mudanças, aqui no blogue da casa. Ficaram por cumprir em 2003. Prometo cumpri-las no primeiro mês de 2004, muito antes de qualquer promessa do primeiro-ministro (que tem uma qualquer fixação com 2007 e seguintes).

O mundo ao contrário

Lá em casa, no Natal, a M. recebeu um «Moleskine» e eu um avental. O terceiro...

Senhor, fomos roubados

O "boneco" aparece hoje em vários jornais. Durão Barroso, na viagem experimental do Metropolitano de Lisboa pelas novas estações da linha amarela, é fotografado numa carruagem que indica a próxima paragem - «Senhor Roubado». A legenda não lhe encaixa, claro. Nós é que nos sentimos roubados.

29.12.03

It's cold outside/The night love died/On the night you murdered love



In Wulffmorgenthaler

Tréguas de Natal

Não existem. Em parte alguma, como lembrou o Diogo. Hoje, uma vez mais, aí está um episódio de justiça-verdadeira, como alguma blogosfera gosta de apregoar: uma fuga de informação deu a conhecer que dez dos 13 arguidos da Casa Pia serão acusados. Só depois seguiu a notificação à defesa. O senhor João Guerra, procurador do caso, parece seleccionar bem as suas fugas de informação - ou também me vão dizer que foi a defesa a fazê-lo?!

O Pai Natal visitou-nos

À meia-noite da noite de Natal, a Cibertúlia teve um visitante. À hora da missa do galo ou quando se abrem as prendas ou quando se cantam as noites de inverno ou quando apenas nos confortamos e empaturramos entre doces e vinho, alguém desceu pela nossa chaminé e depositou aqui um "clique". Terá sido a Virgem grávida de Paula Rego que o chamou? Ou a solidão também se escreve no computador nestas noites mágicas?

Longe da vista, perto do sobrinho

Isaltino Morais, ex-ministro das Cidades e das contas bancárias na Suíça, faz hoje 54 anos.

27.12.03

Entre o Natal e o Ano Novo

Esta é daquelas épocas do ano em que melhor sabe não fazer nada... Passado o reboliço da Consoada, do bacalhau e das rabanadas, da troca de prendas e da Missa do Galo, das deslocações entre as casas de uns e de outros, sabe bem esta calma que antecede o novo reboliço do réveillon!
Ainda para mais, estou em Guimarães e isso muda tudo.
Ontem dediquei-me a visitar amigos, aproveitando o facto de ter onde e com quem deixar o Francisco e a Meg. Passei a tarde num café, à conversa com um grupo de amigos e a noite em casa de outros amigos. O tempo vai pasando e nem dou por isso. Mas também não estou peocupado. E isso é bom!
Isto é o que eu chamo férias! Longe do calor impossível do verão algarvio e do stress das viagens de avião que nos levam aos destinos de sonho. Isto sim, são férias!
Pena que os jornais insistam em trazer-nos as más notícias... Do terramoto no Irão, à explosão na China, passando pela queda do avião no Benim e pelos acidentes nas estradas portuguesas. E do Iraque e da Palestina e do Paquistão. Este ano, as más notícias chegaram até de Marte!
E, sobretudo, de Portugal. O país, visto do Norte, tem um aspecto diferente, mas os traços são os mesmos. Ele são as falências das empresas por causa da crise, as promoções antecipadas por causa da crise, os aumentos salariais ridículos por causa da crise, o aumento do desemprego por causa da crise, o natal pobrezinho por causa da crise... A crise em Portugal tem nome de mulher (Manuela Ferreira Leite) mas a causa da crise tem nome de homem (José Manuel Durão Barroso).
Enfim... hoje não me apetece falar de desgraças. Estou de férias. Estou em Guimarães. Os cheiros dos doces de natal ainda enchem a sala de jantar. A agitação do ano novo ainda vai ter de esperar. O tempo passa devagar e eu estou contente.
Vou ter com o meu filho, sentar-me no sofá e ver televisão. Qualquer coisa que esteja a dar na televisão.

24.12.03

Nasceu o Deus menino

Bom Natal!


Paula Rego, Virgem grávida, da Capela do Palácio de Belém

23.12.03

Ei, o que é aquilo no Céu?

Bom pessoal, a todos o meu desejos de um Bom Natal. Agora tenho que ir seguir uma estrela brilhante que de repente surgiu no céu... assim que conseguir deixar o estacionamento com o meu camelo, ir a uma grande superficie comercial comprar ouro, ou esmirna... se ainda não tiverem esgotado.


22.12.03

O eixo do mal (antes da noite do Bem)

Há dois pesos e duas medidas na leitura dos dias. Diz-nos, brilhantemente, o Diogo, já aqui em baixo. José Manuel Fernandes não é só paladino da ocupação do Iraque. É o melhor exemplo de quem tem muitos pesos e muitas medidas (explica Diogo), talhados pelo alfaiate das conveniências políticas.
À reflexão aqui apresentada acrescento uma outra, antes do "sumiço" que levaremos todos em noites de Natal: por estes dias, foi divulgada uma importante notícia sobre a adesão da Líbia ao tratado de não-proliferação de armas nucleares e ao abandono de qualquer empenho na concretização de um programa de armas de destruição (ainda que, observem os peritos internacionais, faltasse muito à Líbia e a Kadhafi para obterem qualquer destas armas e que só o conseguiriam com ajuda externa).

O silêncio de quem defendeu a guerra contra o Iraque (JMF, incluído) sobre esta notícia explica-se facilmente: durante nove meses, os Estados Unidos preferiram a via negocial, do diálogo e (horror dos horrores!) da solução pacífica para um problema que, ainda não existindo, poderia acontecer. Sabiamente, a CIA negociou e arrematou uma paz duradoura no Norte de África, com uma ditadura sanguinária, capaz de muitas atrocidades (ou será que JMF também a "desvaloriza", comparando com Saddam, esse novo Estaline ou Hitler, como a Direita agora gosta de dizer?).

No Iraque, atrevemo-nos a dizer, a paz era possível sem a guerra, a queda de Saddam seria uma etapa inevitável com outros compromissos que fossem assumidos pelos Estados Unidos e pela Inglaterra. Mas a pressa do petróleo e os dólares da reconstrução voaram mais rápidas que a própria sombra das nunca-encontradas-armas...

A (des)propósito de Estaline e dos dois pesos e duas medidas, muita blogosfera (também à Direita), tem rejubilado com o novo romance de Martin Amis, «Koba, o Terrível». Por causa do retrato impiedoso do estalinismo. Pena que não se lembrem também de «Experiência», como recordou Mário Mesquita no Público, onde escreve: «O Texas não parece, por vezes, assemelhar-se à Arábia Saudita, com o seu calor, a sua riqueza petrolífera, os seus lugares de culto transbordantes e as suas execuções semanais?».

Luanda, Lisboa e Washington

José Manuel Fernandes, "paladino da ocupação do Iraque" nas palavras do Miguel Marujo, e uma das pessoas para cujos rendimentos mais lamento contribuir, assina o Editorial da edição do Público de hoje. O texto intitula-se «Durão no casamento de Luanda» e, basicamente, diz o seguinte: «Num paí­s onde se morre de fome e que depende da ajuda internacional, uma festa com o luxo da do casamento da filha de José Eduardo dos Santos é um escândalo. Mas que contou com a participação cúmplice de Durão Barroso. Que vergonha...»
Desengane-se quem chegou a pensar que me preparo para defender José Eduardo dos Santos da opinião de José Manuel Fernandes. Deus me livre! Mas, não consigo deixar de perguntar a mim mesmo e a quem ler estas linhas a razão de, aparentemente, a Rua Viriato ter tão boa vista para Luanda e tanto nevoeiro a encobrir a vista do resto da cidade de Lisboa. Ou de Washington.
Porque é que JMF se envergonha da viagem privada, de "amigo", de Durão Barroso a Luanda e não se envergonhou, da mesma forma, da viagem oficial, de "aliado", de Durão Barroso à Base das Lajes?
Porque é que JMF acha escandaloso o luxo do casamento de Tchizé e não achou, da mesma forma, escandaloso o luxo do aparato militar utilizado nos bombardeamentos, invasão e ocupação do Iraque?
Porque é que JMF tem palavras tão duras para com este acto de Durão Barroso, quando foi, ele próprio, cúmplice do envio de "tropas" pagas a peso de ouro a partir de um país onde o salário mí­nimo não chega a 360 Euros por mês?
Acaso nos EUA e em Portugal não se morre de fome? Ou de frio? Ou será que a miséria dos angolanos vale mais que a dos norte-americanos e dos portugueses? Ou os angolanos dizimados pela guerra valem mais que os soldados norte-americanos e os civis iraquianos a quem acontece o mesmo?
Confesso que não entendo.
Que o primeiro-ministro português se deveria abster de praticar actos de vassalagem junto de José Eduardo dos Santos, eu entendo. O que não entendo é a razão pela qual JMF não faz o mesmo raciocínio quando o acto de vassalagem tem no seu centro um senhor chamado George W. Bush...
Porque JMF é mesmo assim. Tal como acusa os outros de fazer, tem vários pesos e várias medidas. Não se preocupa muito com a coerência de pensamento e de discurso, desde que o que pensa e escreve sirva para defender e alimentar a sua visão do mundo, feita a preto-e-branco, e da humanidade, dividida entre bons (os seus) e maus (os outros). JMF é daqueles que não teria hesitado em lançar a primeira pedra... mas talvez escrevesse um editorial contra a pena de morte no dia seguinte.
JMF dirige um dos melhores jornais portugueses com uma tiragem média que ronda os 70.000 exemplares; JMF foi colocado no pedestal dos comentadores televisivos e radiofónicos; JMF modera debates, comenta conferências e apresenta livros. JMF há-de ter algumas qualidades, mas isso não o coloca acima dos comuns dos mortais. Como jornalista profissional que é, deveria, ele também, abster-se de praticar actos de tal arbitrariedade.

O ano dos mentirosos



O ano de 2003 visto pela Salon.

Ingratos! Esqueceram-se de Jessica Lynch!

20.12.03

Isto é um assalto!



A história explica-se em duas linhas: há uma loja que "rouba" os clientes.
A S. fez o pagamento por multibanco, mas quando fez o "verde-código-verde" mecanicamente não confirmou que estava a pagar euros com zeros a mais. E há meses que espera pela devolução de cerca de 300 contos!
A loja tem coisas muito giras, é muito engraçada, mas um erro pode-nos ser fatal.
A «Art Wear» (C.C.Colombo e C.C.Vasco da Gama, Lisboa) é de evitar.
Mesmo com as coisas giras de Roy Lichtenstein que pululam pela loja...

19.12.03

Na sala, lá de casa... este fim-de-semana

Moulin Rouge!

Bush defende «revolução democrática» no Iraque

«Desde quarta-feira que os soldados americanos decidiram demonstrar a sua força pelas ruas de Samarra, cidade de sunitas que recusam a ocupação. Entraram com blindados em casas, esmagaram muros de escolas, prenderam e libertaram muitos habitantes.»

Estas palavras não foram escritas por mim. Nem por um qualquer perigoso esquerdista. Vêm na primeira página do diário dirigido por José Manuel Fernandes, paladino da ocupação do Iraque.

Nas salas de cinema esta semana...

... «Playtime» de Jacques Tati. Não percam, por nada deste mundo.

Fiquei contente...

... com a quantidade do que aqui se escreveu (ufff! duas vezes...). E há pano para mangas no que aqui se escreveu.

18.12.03

Há mesmo muitos!

Para vos provar que abortos há mesmo muitos, tomo a liberdade de citar aqui o Frederico Pombares. Este senhor, que eu não conheço, é um visionário. A 25 de Setembro, postava ele, no seu Blog de Notas, a seguinte pérola:

Novo referendo sobre o aborto.
Entretanto, ouve-se dizer que o país vai ser, de novo, referendado sobre o aborto. Ao que consegui apurar, a questão que será exposta aos cidadãos já está formulada e é aqui avançada em primeira mão. A saber:

Qual a sua opinião sobre o aborto?
a) Tem sido um bom primeiro-ministro.
b) Tem sido um primeiro-ministro ineficaz.
c) Nem sequer tem sido primeiro-ministro

O que é que eu vos dizia?!

Abortos há muitos!

Já que toda a gente resolveu começar a mandar bitaites, eu também não quero ficar calado!
Quando eu era pequenino (ou menos gordo), na escola primária, chamava-se "aborto" às miúdas feias, aquelas que ninguém queria. Depois, mais tarde, "aborto" passou a ter outro significado. Na catequese diziam que era um coisa má. Que as mulheres más faziam. Na catequese nunca ninguém me disse o que era uma violação. Só fiquei a saber ao certo o que era uma violação quando vi, à escondida dos meus pais, um vídeo de um filme com o Dustin Hoffman chamado "Straw Dogs". Fiquei a perceber, nessa altura, que uma violação também é uma coisa má. Mas não estabeleci nenhuma ligação ao tema do "aborto". Nem à catequese. Depois, fui crescendo (e ficando mais gordo). E fui sabendo e entendendo outras coisas. E fui fazendo ligações. Um dia, chamaram-me para me pronunciar em referendo sobre a despenalizãção/liberalização do "aborto" que, nessa altura, se chamava IVG. Muita gente tentou convencer-me que, sendo eu católico, teria que votar "não". A verdade é que também aqui não vislumbrei qualquer ligação. Além disso, ser católico não quer dizer que não se tenha uma cabeça cheia de células ditas cinzentas que nos permitem pensar e fazer as nossas opções. Votei "sim". Entretanto, outros (alguns, na verdade, eram os mesmos) tentaram convencer-me de duas coisas: em primeiro lugar, corolário lógico dos acontecimentos passados, que eu não era um bom católico; em segundo lugar, que como os poucos portugueses que tinham ido votar tinham votado maioritariamente "não", então o assunto estava arrumado.
O problema, meus amigos, é que o assunto não está arrumado. Mesmo que o número de votantes tivesse sido superior a 50% dos eleitores inscritos, nenhuma decisão tomada por referendo é imutável. Era o que faltava! Se os deputados são eleitos de quatro em quatro anos e o Presidente da República de cinco em cinco, porque raio é que o resultado de um referendo haveria de ser eternamente válido?!
Hoje passei muito tempo no trânsito de Lisboa e, por isso, pude seguir, através da TSF, o debate no Parlamento. O PSD bem pode tentar disfarçar como quiser e puder, mas a verdade é que já ninguém duvida que quem manda na coligação é mesmo o PP. O outro PP, o Pacheco Pereira, bem avisou. O topo de gama desta tentativa de disfarce do PSD chegou esta semana por via do Nobre Guedes e foi hoje repetido por Durão Barroso no Parlamento: no PSD ninguém parece estar de acordo com a criminalização do aborto, mas, seja como for, a lei não vai mudar, pelo menos durante esta legislatura. Há duas razões para que isto não aconteça: uma verdadeira e outra falsa. A verdadeira é que o PSD sabe que enquanto tiver o PP como parceiro de coligação governamental não vai poder fazer nada sem a sua autorização; a falsa é a que Durão Barroso hoje utilizou: existe um compromisso eleitoral que impede o PSD de mexer na lei...
Será que o Dr. Durão Barroso é mesmo tão estúpido como aparenta ser? Ou será que decidiu começar a cumprir as promessas eleitorais? A mim, dava-me jeito que fosse esta última, porque desde que decidi não fazer um aborto e aceitar o Francisco no meu colo quando os médicos o tiraram do ventre da Inês, tenho-me farto de gastar dinheiro em fraldas... Um choque fiscal vinha mesmo a calhar!

Assim de repente que tenho que sair...

Pois é, pois é... o Aborto outra vez.
Significa apenas que enquanto esta questão não for convenientemente discutida pela sociedade portuguesa tenderá sempre a renascer das cinzas. Pergunta-se: Se no referendo sobre o assunto o "Não" ganhou porque é que se volta à questão? Pois precisamente porque os "Sim"'s não ficaram convencidos. Mas fiquem certos de uma coisa: se, em novo referendo, o "Sim" ganhar, o "Não" voltará periodicamente à carga até levar a sua avante... e assim sucessivamente.

Eu pessoalmente...
... sou, para já, contra a liberalização do aborto. Lá que "des-criminalizem" tudo bem. Mas "des-penalizar" é que não. Isto porque sou bastante céptico em relação às situações que foram propostas para se permitir legalmente o aborto. Acreditem que tenho um terror absoluto que o aborto se torne um método contraceptivo "à-posteriori", uma espécie de pilula do mês seguinte.

Dizem-me:
"Uma mulher não aborta assim tão levianamente. Abortar é um trauma demasiado grande para isso.". Não sei se será assim. Já vi muitas entrevistas em telejornais a mulheres que abortaram porque "já tinham x filhos, o marido abandonou-me, e eu não tinha condições para ter outro.". Ora parece-me que nestas condições é que não. Se não tem condições entrega para adopção. Se o sistema de adopções em Portugal é incompetente, injusto, moroso então vamos todos lutar por um sistema melhor. Não optemos pela solução mais simples.

Parece-me que muitas das situações que levam ao aborto têm origem na má Segurança Social que temos, no deficiente acompanhamento a jovens mães, a mulheres violadas, a mulheres toxicodependentes. Acuso também as mentalidades retrógadas da nossa sociedade que ainda hojem condenam mães solteiras. Acuso a mentalidade dos que fazem juizos de felicidade, à priori, baseados na perfeição do filho por nascer. Acuso a sociedade por apoiar tão pouco os deficientes, discriminá-los mesmo, que leva muitos pais a pensarem que o filho nunca terá hipoteses de "ser alguém".

Reli o que escrevi e se calhar não era bem isto que queria dizer, ou poderia ter dito por outras palavras, ou se calhar estou a ser injusto. Provavelmente o que estou a precisar é de uma discussão séria sobre o assunto, sem lirismos, nem radicalismos. Talvez ficasse mais convencido...

Deixo aqui também a última frase do João:
"Não deixa de ser irónico, que este tema apareça por altura do Natal."
Pois precisamente quando se celebra o um nascimento...

Nota:
Sobre "des-criminalizar" ou "des-penalizar" não me puxa muito para a discussão. Eu não acho que a mulher que aborta é criminosa. Acho que quando alguém aborta a sociedade falhou por não dar alternativas. Dar a opção de aborto a alguém parece-me muito menos solidário.

Tenho que sair(!!!!!)...
... para ir buscar a minha filha, a inês, à creche e não tenho tempo para rever melhor o texto de algumas ideias... portantos vai mesmo assim. Se calhar não devia Postar um assunto tão melindroso... olha, azar. O que vale é que pela net ninguém me bate. E sempre posso voltar ao tema mais tarde... ou não.

Tristezas e distâncias

Para que o Miguel não fique a falar sozinho... explicações para a minha ausência:
1. por vezes perco algum tempo em ascese.
2. desde o dia em que o Ministro da Cultura foi ao "Prós e Contras" da RTP e... gaguejou... que fiquei em estado considerado grave de descrença e perplexidade. Tirem-me deste país! Fiquei sem capacidade de escrever... desculpas pedidas à Cibertúlia!

Ufff...

... já julgava que esta tertúlia estava transformada em púlpito de uma voz só. Aí estão as palavras do João Borges. Venham lá mais!

Voltámos ao mesmo !

Desde o tempo em que a Zita Seabra era deputada de esquerda (aos anos a que isto foi) que esta discussão surge. A do aborto. É um tema recorrente, e muitas vezes mal tratado. Eu sou claramente pelo direito de opção (dos pais), e gostava que não ficassem dúvidas sobre isso. O papel que sistematicamente a igreja recusa ter neste debate, é assustador.
Estamos perante um dos "muros da razão", das verdades absolutas, dos sem alma ! Não são uns melhores nem piores que os outros, são só cobardes se não tiverem a frontalidade de debater o tema, de aceitar o outro (lembram-se?).
Não deixa de ser irónico, que este tema apareça por altura do Natal.

Para compreender (melhor) o mundo

Como as ideias pré-concebidas desajudam a ler as coisas deste mundo, há um blogue (recente) muito interessante e que começo a descobrir. Tem muito para ler e... aprender. Vale a pena passar por esta rua da Judiaria.

A direita não gosta da Europa, mesmo

O problema não é Chirac ou Schroeder. O problema é a Europa. Paulo Teixeira Pinto, ideólogo do cavaquismo (em todo o seu esplendor de verdadeira salganhada ideológica: nacionalista, monárquico e "laranja"), escreve sobre a Constituição Europeia e Saddam: «A única pena que ensombrou a magnífica novidade do desaparecimento da Constituição Europeia foi, curiosamente, outra boa notícia, ou seja, a tal detenção do histórico aliado do Presidente daquela Nação que nos séculos XVIII e XIX proclamava ao mundo o iluminismo ao mesmo tempo que invadia e saqueava outros Estados, entre os quais Portugal» [sublinhado nosso].

Veja-se a História reescrita em todo o seu esplendor: Saddam «histórico aliado» da França - e não dos EUA, que o alimentaram durante anos e anos. E o iluminismo reduzido a um movimento expansionista na Europa. Que dizer então do "novo iluminismo bushiano", que proclama ao mundo os direitos humanos e todos os dias os atropela em Guantanamo e nos seus corredores da morte?

Mas há sapos curiosos que o discurso nacionalista tem de engolir: para atacar Chirac, elogia-se Castela (peço desculpa: Espanha). O caminho para estas e outras redentoras ideias é aqui...

A Cibertúlia - pelas suas leitoras

Ao nosso e-mail chegou-nos este sem protesto:

«Para vos dizer que os v/ textos são límpidos e corajosos. Ajudam-me a suportar a hipocrisia das pessoas, das instituições, dos centros de Poder. É bom ler a v/ afirmação: "Nós tb somos Igreja".
Deixemos o musgo crescer nas paredes húmidas e espreitemos o sol. Continuem, não desistam.
[Maria]
(59 anos-na idade da desilusão)»

Muito obrigado.
Como não sabemos se a leitora desejava ser "publicada" optámos por a identificar apenas pelo primeiro nome.

17.12.03

«A» Igreja, dizem eles. Mas «nós somos Igreja»

Os bispos falaram em «a Igreja». A Agência Ecclesia faz-se eco de opiniões de uma parte da Igreja (eventuais médicos e enfermeiros católicos). E já está. Este é o pensamento da Igreja portuguesa. Não é. Há outros, muitos outros. Alguns desses dizem o óbvio, que os bispos parecem esquecer: «Nós (também) somos Igreja», os (muitos) rostos anónimos que passam por esta comunidade.

16.12.03

Lamento...

... pela oportunidade perdida de os senhores bispos iniciarem um debate sério e sereno sobre o aborto. Como fez, apesar de tudo, o bispo do Porto. E sem preconceitos "pró-vida". Todos somos pela vida.
[Voltarei ao tema.]

A ideologia da Lusa

A Agência Lusa parece ter uns critérios estranhos na gestão das fotografias disponibilizadas (serviço reservado a assinantes).
Pesquisam-se imagens do julgamento em Aveiro de 17 pessoas por alegada prática de aborto e não aparecem quaisquer imagens. Entre as actividades registadas por fotógrafos da casa há muito futebol, claro. Esse notável acontecimento que foi, ontem, a «festa de Natal do FC Porto» tem direito a vários "bonecos".
Faz-se nova tentativa: escreve-se «Aborto» e surgem várias imagens de atentados anti-americanos no Iraque. Sem que a legenda das fotos em causa registe a palavra «aborto». Ideologia encapotada?

A velha Europa

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, reiterou segunda-feira a oposição da Grã-Bretanha à pena de morte, mas afirmou que caberá «ao povo e ao governo iraquianos decidir» a pena a infligir ao ex-Presidente iraquiano Saddam Hussein. Já Washington não objectará a que o tribunal que os iraquianos estabelecerem para julgar Saddam Hussein possa aplicar a pena de morte, se for após um julgamento justo, declarou segunda-feira um alto funcionário do Departamento de Estado americano.

15.12.03

A caminho de Guantanamo



«O secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, disse que Saddam Hussein tem beneficiado dos privilégios de um prisioneiro de guerra, segundo a Convenção de Genebra, mas afirmou que os Estados Unidos não o consideram um prisioneiro de guerra.»

Para não esquecer o essencial

«Acabei de viver, no Iraque, dias de extraordinária intensidade, em comunhão com aquele que me enviou, o Papa João Paulo II. Raramente tive uma sensação tão forte, de que eu não era apenas o portador da sua mensagem de paz, mas que ele mesmo estava presente. Não fiz senão segui-lo pelo meio das comunidades cristãs, de todo o povo iraquiano, junto do Presidente Saddam Hussein, que manifestou uma intensa e profunda escuta da palavra viva que vem de Deus e que todos os crentes, descendentes de Abraão, recebem como o fermento mais seguro da paz.

Ao deixar esta terra, injustamente separada das outras, gostaria de ser mais do que o simples eco, o amplificador da aspiração de um País que tem urgente necessidade de paz.

Entre as grandes nuvens que se adensaram nos últimos tempos, abriu-se um pequeno clarão. Contudo, ninguém pode desanimar! A nova e breve trégua que se impôs deve ser utilizada por todos, integralmente e num espírito de confiança recíproca, para corresponder às exigências da comunidade internacional. O menor dos passos dos próximos dias tem o valor de um grande salto rumo à paz.

Sim, a paz ainda é possível no Iraque e para o Iraque. Volto para Roma, clamando-o mais vigorosamente do que nunca!
»

Declaração do cardeal Roger Etchegaray, enviado do Papa João Paulo II, a partir de Bagdad, a 16 de Fevereiro de 2003. Outro que terá de tapar a cara, segundo o apóstolo da guerra Pedro.

Com a mentira me enganas

Pedro Lomba é incensado à direita e (mesmo) à esquerda. Parece que é bom nalgumas coisas que faz. Parece que sim. Mas quando fala de política - e quando cheira obsessivamente a flor da guerra - dá-lhe para o disparate. Puro e duro. Como aquele que escreve hoje no seu blogue:
«AFEGANISTÃO: Leio no Público de hoje que o Afeganistão vai começar a discutir a sua futura constituição. O Afeganistão é certamente um mundo de problemas. Mas o Afeganistão nunca teria chegado até aqui se não tivesse sido feita uma guerra. Um simples facto como este destrói por completa a consistência do pacifismo como ideologia política. Não me agrada dizer isto, mas quem andou nas ruas a gritar que todas as guerras são estúpidas devia, num momento como este, tapar a cara.»
Sim, Pedro, todas as guerras são estúpidas. E nunca taparei a cara, enquanto gritar que todas as guerras são estúpidas.

PS - Já se sabia: a boa notícia da prisão de Saddam é manipulada para nos atirar à cara a má notícia da guerra e da mentira que foi a guerra.

Parabéns, companheiro!

O "nosso" companheiro secreto Tolentino faz hoje anos. Queria celebrá-lo aqui, mas um dos seus companheiros fê-lo com cumplicidade - e malícia. Deliciosa malícia. Parabéns, Tolentino!

Segunda-feira. De manhã

Estou velho!
dói-me o joelho
dói-me parte do antebraço
dói-me a parte interna
de uma perna
e parte amiga
da barriga
que fadiga
o que é que eu faço?
escolho o baço ou o almoço?
vira o osso
dói o pescoço
é do excesso
do ex-sexo
alvoroço
perco o viço
já soluço
já sobrosso
esmiúço
os meus sintomas
e já agora, do meu médico
os diplomas
esmiúço
a consciência
e já agora, apresento a penitência

Ah que estou arrependido
de ter feito e de ter tido
ai coração, ora seja
como a que ouvi na igreja

Mea culpa, mea culpa
minha máxima desculpa
é ter vindo p'ro presente
conservado em aguardente

Quero ser p'ra sempre jovem
as minhas células movem
uma campanha eficaz
água benta e água-raz
O elixir da eterna juventude
esse que quer que tudo mude
p'ra que tudo fique igual
estava marado
falsificado
é desleal!

Vou implorar aos apóstolos
mas é pior, que desgosto-os
com tanto pecado junto
não lhes pega nem o unto

Vou recorrer aos meus santos
esses, ao menos, são tantos
que há-de haver um que me acuda
senão ainda tenho o Buda

Maomé vai à montanha
o papa, ninguém o apanha
na Rússia, o rato rói a rolha
venha o diabo e escolha

O elixir da eterna juventude
esse que quer que tudo mude
p'ra que tudo fique igual
estava marado
falsificado
é desleal!

Misticismo agora à parte
envelhecer é uma arte
"arte-nova", "arte-final"
numa luta desigual

Só me vou pôr de joelhos
ante o mais velho dos velhos
e perguntar-lhes o segredo
de p'ra ele inda ser cedo

Quando o espelho me mira
já nem o chapéu me tira
deito-lhe a língua de for a
pisco o olho e vou-me embora

O elixir da eterna juventude
esse que quer que tudo mude
p'ra que tudo fique igual
estava marado
falsificado
é desleal!


Sérgio Godinho, «Elixir da Eterna Juventude»

14.12.03

Aconchegam o ego, alimentam as audiências

Obrigado, Ana. E obrigado João Pedro, Maria José e Nuno por nada escreverem há três dias. E os beijinhos lá ficam!

Onde estavam vocês em 1999?

«O PSD elogia, por outro lado, a coragem de Durão Barroso, com a direcção a dizer orgulhosa "pelo facto de o Governo, e principalmente pelo primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso, fazerem parte daqueles que não hesitam em ter coragem, suportando os tempos difíceis com estoicismo, e reagindo com contenção e humildade nestes dias".» [in PortugalDiário]

Durão Barroso sugeriu, às primeiras dificuldades em Timor-Leste, antes do referendo, o adiamento da consulta popular. Hoje, Timor seria independente com um primeiro-ministro chamado Durão?

Boas notícias

Estar longe do blogue dá nisto. Breves apontamentos para duas tão boas e grandes notícias. Depois de um bispo a pedir o óbvio, a excelente notícia de Saddam preso. As reflexões sobre estes dois episódios ficam prometidas para depois.

11.12.03

Os blogues da direita e Pacheco Pereira

Não consigo acompanhar quase nada do que se escreve por toda a blogosfera. Visito uns quantos blogues preferidos, uma, duas, três vezes ao dia. Espio mais uns quantos, algumas vezes por semana. E depois, silêncio. É impossível ir a todas. Mas gostava de ler agora as opiniões da direita quando JPP escreve coisas como estas:
«Segundo os jornais, Paulo Portas disse que Mário Soares terá sofrido recentemente "três derrotas". A saber: "João Soares (filho) perdeu as eleições para a Câmara Municipal de Lisboa; Maria Barroso (mulher) não se manteve à frente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP); Jorge Sampaio é o Presidente da República."
Portas, como dirigente partidário, pode falar do primeiro e do último facto como "derrotas", nunca do segundo, o afastamento de Maria Barroso da Cruz Vermelha, pelo Ministro da Defesa, ele próprio. Porque, se é assim, as razões para o afastamento de Maria Barroso foram motivos políticos e por ser esposa de Mário Soares, e isso configura um acto de retaliação inaceitável num estado democrático. Pela boca morre o peixe.
»
SENTIDO DE ESTADO, in Abrupto, 9/12/03, 00:34.

Mais uma peça literária de perigosos esquerdistas anti-americanos

Bush «colocou essencialmente os Estados Unidos ao lado dos ditadores que prometem a guerra [China], em vez de ao lado dos democratas cuja ameaça são as urnas de voto [Taiwan]». O que move Bush? «Acima de tudo evitar mais uma crise de política externa em ano de eleições. Mas, ao evitar uma dor de cabeça, voltou a demonstrar como é maleável o seu compromisso de defesa de liberdade como princípio orientador da política norte-americana».

Editorial publicado neste suspeitíssimo jornal.

Independência, já!

«Deixem a Madeira em paz. Se quiserem ver-se livres de nós, com muito prazer, mas de uma vez por todas. Não me chateiem. Estou farto que se metam com as coisas da Madeira lá no continente, ainda por cima com deturpação dos factos», Alberto João Jardim, in Público.

10.12.03

Ainda o Mr. Harrison

Depois do exame, a angústia da médica antes da escolha da especialidade. A Margarida entrou na medicina interna dos miúdos - a pediatria, claro. E só pelo brilho daqueles olhos, valeu a espera. E a ansiedade de meses. Sim, meses.

9.12.03

De que fala Soares quando pergunta pela Madeira sobre pedofilia?

Não sei de que fala Soares, também caro jmf. Mas lembro-me, como se fosse hoje, de um encontro que tive há muito tempo, em 1992, nos anos eufóricos do cavaquismo.

Estava no Funchal, e pela mão do Edgar (com outros professores e psicólogos do MAC - Movimento do Apostolado da Criança, um movimento da Igreja de que o bispo Teodoro e o presidente madeirense Alberto João gostavam pouco) fui almoçar com os "miúdos das caixinhas". Que é como quem diz raparigas e rapazes, com 6, 8, 10, 15, 20 anos (as idades eram estas, os rostos ainda os lembro hoje), que pediam - e devem continuar a pedir - esmola junto à Sé do Funchal ou vendiam - sim, muitas vezes, e devem continuar a fazê-lo com outros nomes, as mesmas idades - o corpo aos turistas no Lido.

Aqui, a pedofilia tem um outro nome, escondido para baixo do tapete do desenvolvimento jardinista: chama-se dólar, libra ou o dinheiro que o parta. Na minha memória, chama(va)-se Sónia, Bruno...

Leituras em atraso (II)

Doçuras e travessuras. Ausente em parte incerta da sua fácil glória, longe das doçuras de outros dias, Ana Sá Lopes brindou-nos domingo com uma magnífica prosa sobre Portas, o Colonialista. Um texto na "mouche". Cito partes: «[...] Só um salazarismo doentio, profundo e alicerçado em toneladas de ignorância, explicam que o ministro da Defesa tenha relativizado o peso do racismo no império português. Este mito, que serviu de propaganda ideológica a Salazar no seu Portugal multirracial do Minho a Timor, é um embuste, desmontado por todos os historiadores e percebido por qualquer um que tenha acompanhado minimamente, com razoável grau de lucidez, os quadros do quotidiano do império - onde os portugueses pretos não tinham outro papel social que servir os portugueses brancos, ao preço da chuva. Já não era escravatura, eu sei. [...]
Agora, esse colonialismo latente conta com uma preciosa ajuda governamental: o ministro de Estado e da Defesa compraz-se na sua apologia, convocando todos os fantasmas mal resolvidos da sociedade, também porque se alimenta deles. Poder-se-à argumentar que Paulo Portas não tem princípios, só tem votos, mas neste caso não o creio: o seu anti-anti-colonialismo constitucional é efectivamente um princípio, o do colonialismo, agora já não envergonhado. Comparado com isto, a homenagem ao Maggiolo Gouveia foi uma brincadeira de crianças.
Esporadicamente, Paulo Portas gosta de se reivindicar herdeiro de uma direita europeia moderna - mas é falso. Portas é neto do salazarismo e das suas misérias, dos seus mitos mais patéticos, do seu obscurantismo e dos seus valores. O PSD julga que não, mas vai acabar por ser engolido na voragem.
»

Outros, há muito avisados, falam em «amálgama ideológica». Pois.

Leituras em atraso (I)

Afasta Carneiro (ou a cada um o seu mil-folhas).
Há o mito. E há o político. Os dois são (em muitas coisas) diferentes [ler Pacheco Pereira no Abrupto: «Incomodidade de Sá Carneiro» e «Amálgama ideológica»].
Agora, descubro também que há o quebra-corações. CAA, metido em doce «enleio», descobre na notícia da morte de Sá Carneiro o fim de uma possível amizade: «Esmagado, dei por mim a balbuciar: "Mataram-no". De imediato, a T. reagiu: "Não, claro que não". Olhei-a nos olhos e vi todo o mundo que nos separava nesse instante. Virei as costas e corri para casa.»

Bloguímetro

Quando o site(mili)meter aqui da casa regista menos visitas em dia de semana que em dia feriado, das duas uma: ou anda tudo a dar ouvidos ao Bagão (trabalho! trabalho! trabalho!) ou o blogger.com deu-nos cabo de mais um dia bloguístico. Mas, nestas coisas dos problemas técnicos, uns parecem filhos outros enteados. Ao início da tarde, com a Cibertúlia transformada em «Error 500» (apesar de se poder "postar"), era possível aceder a blogues famosos (Abrupto, Aviz, por exemplo) alojados no blogger.com. Por momentos pensei num ataque de influência bushista, mas logo descobri que a Glória Fácil também se mostrava ao mundo. Azar dos pequeninos, então.

PS - E em ronda de fim de tarde descobre-se um renovado Aviz. Francisco José Viegas tomou-lhe o (bom) gosto: renovou (quase) sem mácula a «Grande Reportagem» de mensal-para-semanal e agora "limpa" o seu blogue. Já antes o Blogue de Esquerda tinha mudado de ares, acrescentado "postistas" (incluindo a Margarida Ferra, antiga companheira de estrada de alguns cibertúlicos) e renovado o visual. Com gosto, não nos cansamos...

Ovos moles, 2 - Pastéis de Belém, 0

A prova - se ainda fosse precisa - de que os doces de Aveiro são muito melhores.

Tenho pena de o ter descoberto tão tarde...



Morreu Ruben Gonzalez, o pianista de Buena Vista Social Club.

8.12.03

Está a chegar o Natal...*

Se os teus filhos não quiserem ir
à missa de Natal,
não digas: "Já não têm fé!"
Diz só:
"Eles não vão à missa".
Quem te encarregou de avaliar
a medida e o grau da fé
deste ou daquele?
Não esqueças nunca o Evangelho!
Foi diante daquela pagã,
a Cananeia,
ou daquele idólatra,
o centurião romano,
que Jesus exclamou,
cheio de alegria:
"Nunca vi, em Israel,
uma fé igual à tua!"

Se a tua filha vive com um amigo
sem ser casada,
não digas: "Ela vive em pecado!"
Diz: "A minha filha vive com um amigo".
Foi, por acaso, a ti que Deus mandou
organizar o juízo final?

Se os teus netos não são baptizados
ou não vão à catequese,
não andes a dizer a quem te queira ouvir:
"Não querem saber da Igreja nem dos sacramentos..."
Que sabes tu dos secretos encontros
que Deus pode ter
com os teus netos?
Estas estranhas surpresas
de que ninguém conhece nem o dia nem a hora?
Sabes que nunca foram tantos,
como neste tempo,
os baptismos de adultos?
Deixa que a fé dos teus netos
não esteja só nas tuas mãos
e não dependa só de ti.

Mas é porque sei
que sofres com tudo isto
e que corres mesmo o risco
de sofrer ainda mais
com as reuniões de família
que aí vêm,
que eu queria poder iluminar
o teu olhar com uma estrela.
Ser capaz de olhar o outro
como um filho de Deus
e não como um não-praticante,
vê-lo com a mesma ternura com que Deus o vê,
encontrar o outro como alguém a quem se deve amar
e não como presumível culpado,
É o sinal mais concreto
de que chegou o Natal
e de que é bem verdade
que Deus se fez homem.


* - texto de Jean Debruynne, trad. de José Manuel Pereira de Almeida
(in «Notícias de Santa Isabel», Dezembro de 2003)

5.12.03

Uma (excelente) companhia possível para o fim-de-semana



Emmanuelle Béart em Os Fugitivos

Não pagamos!

«O Estado não tem nada que andar a gastar dinheiro a ensinar o senhor Ricardo Espírito Santo Salgado (ou mesmo o nosso querido engº Belmiro de Azevedo) a tomar banho todos os dias.» Ora, nem mais. E nós não pagamos!

Inspirado Barnabé

«Quanto um polícia lhe passar uma multa, a sua resposta deve ser rápida: Antão e o Patinha?».
[Excelente, Daniel!]

A praia na poça

Ivan acha que a apresentação de um livro sobre Jesus, por Freitas, noticiada no Público, é digno de um tablóide (entre outros exemplos estranhos de "tabloidização pública"). Será esta a sua proposta de continuação da conversa sobre o catolicismo?

O futuro às ondas pertence



Luís Afonso, in Público, hoje.

4.12.03

Adivinhem de que estamos a falar...

«[...] seis destes advogados foram afastados por discordarem com o modelo dos tribunais. Entre as queixas dos juristas estaria uma regra que permitia às autoridades escutar as conversas entre os advogados e os seus clientes. Os advogados terão então dito que não estavam preparados para trabalhar neste tipo de tribunais, e foram substituídos.»

De que estaremos a falar? De uma malévola ditadura, um regime que atropela os direitos fundamentais na Justiça? Avancemos mais pistas.

«Um grupo de advogados militares contratados para defender os detidos há quase dois anos [...] foi demitido por discordâncias [...] sobre o modelo dos julgamentos.»

Ainda não? Ok, nós dizemos: falamos dos advogados de defesa dos detidos de Guantanamo. A notícia do Guardian, citada pelo Público, foi desmentida pelo Pentágono.

As obsessões da Manuela têm várias (muitas) excepções



Quando o Sol nasce é para todos. Quando o défice cresce é só para alguns. Depois da França e da Alemanha serem perdoadas por Manuela Ferreira Leite, agora é a vez do Governo despesista da Madeira poder continuar o bailinho que vai dançando há mais de duas décadas. E quem paga são os "cubanos", pois claro. Apre!, lá dizia o professor.

3.12.03

Estatísticas contra a guerra

2/3 dos europeus afirmaram que a guerra contra o Iraque não foi justificada. 67 por cento dos portugueses têm esta opinião (dos quais 43 por cento acham que não era de todo justificada e 25 por cento inclinam-se mais para que não houvesse uma justificação válida para a guerra - ver aqui o relatório completo.

Numa sondagem ontem divulgada pela RTP, encomendada pela RTP e o Público [não está disponível na edição "online"], 79 por cento acham que as consequências da ocupação do Iraque pela "coligação" foram más (22 por cento) ou muito más (57 por cento). Apenas 22 por cento acham que as consequências da ocupação foram boas (14 por cento) ou muito boas (8 por cento).

As "boas consciências", que adoram defender a guerra, vão dizer que se trata de uma mera sondagem. Ou que o povo não sabe...

[sugerido pelo Blogo Social Português].

Vamos mudar...

2.12.03

Em cima

Há algumas horas que já se podem ver e ler os blogues alojados no blogspot. Mas a decisão está tomada: dentro de dias, mudaremos de palavras e bagagens. Até lá, vamos postando por aqui...

Em baixo

O blogue tem estado inacessível:
«We are sorry, but a temporary problem is preventing your request from being completed. The system administration team for Blog*Spot has been notified. Error: 500».

Não sei se conseguirão ler esta mensagem agora, ou pelo menos nas próximas horas. Em todo o caso, a Cibertúlia vai preparar-se para mudar. Nos próximos dias daremos notícias.

1.12.03

And now for something completely different...



Ele há presépios assim (III).

Grande Beira-Mar


«Academica player Tixier(R), fights for the ball with Beira Mar player Petrolina» [legenda da Lusa]

O estado dos transportes (VI)


Jacques Tati por Robert Doisneau