30.6.05

O Barnabé acaba no domingo

Todos perdemos, todos lamentamos.

Há um ano escrevíamos assim...

[ou será que se mantêm actuais algumas destas questões para aqueles dias?]

Deve um primeiro-ministro apresentar-se sorridente, acolitado pela distância, pedir aos que abandonou para não fazerem do seu assunto matéria de luta partidária?
Deve o país convergir neste assunto como no futebol, como pediu o líder parlamentar "laranja"?
Deve um grupo minoritário de portugueses definir o novo líder do país, sem que o país conte?
Deve o país só contar para futebóis e banhos?
Devo eu ir a banhos, por causa do calor extremo, derivado (em futebolês) da avaria do ar condicionado?
Devo ir para casa ver o futebol e aplaudir um país que parece marcar golos na Europa e falhar campeonatos cá dentro?
As respostas estão à vista de todos. No país e no mundo, como diria o outro. O que (me) vale é a Maria, que desde há 13 anos* (me) deixa descobrir que há uma esperança imensa em encher tudo de futuros.
* - número actualizado

Da nossa natureza

É daqueles blogues que prometo a mim mesmo linkar ali na coluna devida. Daqueles que prometo a mim mesmo visitar muito regularmente - e quase nunca o faço, por minha iniciativa. Sou depois levado pelas ondas, quando de outros portos me fazem ali chegar. E dou por mim inebriado pela poesia da vida, pela natureza do mal. Hoje, vingo-me de mim próprio: e coloco o blogue de Sofia e Luís ali em destaque: o mal tem destas coisas, deixa-nos KO!

Competência

Ali na Amadora, vê-se do comboio, um cartaz de Paulo Portas e Telmo Correia, para as últimas legislativas, realizadas a 20 de Fevereiro. A ideia-chave: «Competência». Sobretudo a "limpar" as ruas...

29.6.05

Junho, mês maldito


Morreu Emídio Guerreiro. Nunca mais esqueço o entusiasmo quase juvenil, no último congresso do PS, quando falava aos jornalistas. Viveu até aos 105 anos. Viveu livre.

[actualize-se: que estranha falta de memória varreu das notícias da morte de Emídio Guerreiro, na Lusa e na RTP, a sua aproximação ao PS, nos últimos anos.]

Às quartas

28.6.05

Um esquecimento, isso da oposição

O fim-de-semana passou calmo. Na segunda-feira de manhã, o Diário Económico descobriu que as contas do Orçamento não batiam certo. À tarde, a oposição falava em embuste. O que dizer? Que o ministro errou. Mas há outra constatação possível: que a oposição sabe ler jornais. Mas não sabe estudar os dossiês.

Um perigo, isso dos livros

Que os livros são perigosos, já o diziam as autoridades em Fahrenheit 451. A nova prova está nos blogues: O meu Pipi enterrou-se pouco depois de publicado em livro; o Dicionário do Diabo ardeu por completo para que dele restassem apenas as provas seleccionadas em papel para «Fora do Mundo»; o Gato Fedorento compila textos dos jornais que repete no blogue; e o Barnabé implode agora em público depois de ser escolhido por «um milhão de leitores», ou lá o que era. Um perigo... Que esperemos que Rititi evite, pois claro.

O país falsificado

Uma imagem...



... e uma legenda...


... falsa!



Postal adquirido em Monchique, Algarve, editado por Portug'Art Editions, com foto (?) de Rui Cunha.

Socialista, de esquerda, republicano, laico/leigo, católico

Bruno, pá, se quiseres dou-te a password desta tertúlia.

27.6.05

O que é que tinha o Barnabé?

[ou a verdadeira razão para a despedida do Daniel Oliveira, do Barnabé]

Escrevi a 10 de Abril passado - e mantenho-o:

«O que é que tem o Barnabé?
O Barnabé tem pluralidade: ali convivem, por exemplo, o socialista Pedro Oliveira ou o bloquista Daniel Oliveira; e mais ainda com as recentes contratações de "barnabitas", que vão do ferozmente anti-eclesial Nuno Sousa ao católico liberal Bruno Cardoso Reis. Mas o Daniel Oliveira parece conviver mal com aquela pluralidade. Eu percebo: a laicidade só se pode viver na intimidade de cada um, entende o Daniel, e falar de religião num blogue deve pôr em causa a secularização do Estado. Ou será só a do Barnabé?»

Hoje, o Daniel deu-me razão.

Da diatribe [contribuições de leitores]

Sobre a minha acusação à flor da pele, a Lucy fez-nos chegar a posição do movimento Pax Christi (link para mais tarde) e o Octávio faz-nos chegar uma breve notícia da Ecclesia, que não mereceu grande divulgação:

CEP condena manifestações racistas e xenófobas

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), reunida hoje em assembleia plenária extraordinária, manifestou a sua firme condenação pelas recentes manifestações racistas e xenófobas no nosso país, apelando «a uma sociedade tolerante e aberta, segura mas inclusiva».
Após a onda de medo gerada na opinião pública após o episódio do "arrastão" na praia de Carcavelos e da manifestação "contra a criminalidade" convocada pela Frente Nacional no passado sábado, em Lisboa, a CEP vem pedir aos portugueses que se manifestem «contra o crescimento de um clima de racismo e xenofobia».
«Queremos que haja serenidade e racionalidade, para que as pessoas não se deixem levar por sentimentos instintivos, para que não se exagere e não se vá na onda», revela o secretário da CEP, D. Carlos Azevedo, em declarações à Agência ECCLESIA.
Os Bispos portugueses sublinham que «a criminalidade deve ser punida, sem qualquer discriminação», mas alertam para a necessidade de, em primeiro lugar, «colmatar as causas da exclusão social e da pobreza que motivam estes fenómenos».
Segundo o secretário da CEP, a ausência da «serenidade e racionalidade» pedida pelos Bispos apenas irá levar a «uma situação de maior mal-estar».


23/06/2005 17:54

Monchique, mon genre

O homem traz à mesa a garrafa de água pedida. «Monchique» não engana o rótulo, nem a terra. «Economia local em marcha», comenta-se. Na mesa ao lado, uma monchiquense arrepia-se: «Monchique? Não tem outra água? Esta não quero!» O empregado insiste. Em vão: «Luso? Pode ser?»

O país longe do fisco

A 120 km/h, que o Fiat Punto já não puxa muito e o calor apertava, subiu-se do Algarve para Lisboa, pela A2. Nada a assinalar, a não ser um predomínio claro de Audis, BMWs e Mercedes. Das duas uma: ou os seus proprietários foram todos ao Algarve ou «se toda essa gente pagasse qualquer coisinha ao Estado» não andávamos aqui a discutir buracos do défice tão grandes.

Dois anos

Este fim-de-semana não fomos para as Terras do Nunca.
Mas costumamos lá ir quase todos os dias. Parabéns, jmf!

Custou mas foi

Pela primeira vez, a Terra da Alegria é exclusivamente feminina! E com um toque brasileiro. Abençoada terra!
[Mea culpa: na confusão da hora madrugadora, li "Christina" onde o nome é Christian, e exultei por uma suposta exclusividade que afinal não existe. Não faz mal: e exulte-se na mesma - por se tratar de um reverendo evangélico, o que transforma esta Terra num espaço ainda mais ecuménico nas suas opiniões e percursos.]

24.6.05

Vou para aqui e volto depois

O homem tá doido...

Alguém que lhe diga para não ver tanta Fox News! «Cheney: Iraq will be "enormous success story"».

Ouvidos os protestos dos leitores

Fomos obrigados a publicar duas imagens de uma assentada. Na casa do lado, claro: exclusivos de Deus, já se sabe.

Mil folhas pouco fresco



Dinis, já se sabe, quer que o pai governe em Lisboa. E é um facto: a capital tinha a ganhar num capítulo - o da "primeira dama". Pouco mais. Mas Carrilho não gosta de quem não gostou do abuso do vídeo com o filho na campanha - e encheu as páginas do «Público» e do «Expresso» com chorrilho de insultos, queixando-se de que aquele jornal não debate as suas ideias para a cidade.
O mais engraçado é que, em três momentos, o candidato do PS mandou às malvas os jornais que procuravam conhecer as suas políticas para Lisboa: o «Tal & Qual», por uma vez, o jornal «Metro», em duas ocasiões (uma delas, é hoje, podem procurar). Todos os outros candidatos, respondem. Para a próxima, o melhor que os jornalistas devem fazer é procurar ouvir o Dinis. Pelo menos, uma palavra será possível registar... "Papá"!

[ver também o comentário acertado de timshel ao post anterior.]

23.6.05

38.760 caracteres

Carrilho até ao ponto final: as ideias da criatura do mil folhas.

Tecida a teia

«Vim ao limbo procurar a Margarida. Não a encontrei.
Disseram-me que já se foi embora. Descobri porém que me sinto bem aqui. Muito bem mesmo. Não querem vir até cá?»
A mensagem (que se reproduz) parece indicar uma pausa na teia tecida por Afonso. Aguardemos o regresso do bichinho da seda: inteligente, divertido.

[actualize-se: urde-se uma teia diferente, a de «um bicho-da-seda português no limbo»: leia-se!]

22.6.05

J'ACCUSE!

[texto originalmente publicado na Terra de Alegria, de hoje, onde há outras leituras a merecerem atenção]

Acuso os bispos portugueses por omissão.
Acuso os padres das dioceses deste país por não levantarem a voz.
Acuso os leigos da Igreja católica portuguesa por indiferença.
Acuso quem, entre todos os cristãos, ignorou a manifestação nazi do passado sábado em Lisboa.

Não basta lermos a parábola do Bom Samaritano, para sabermos tratar e acolher o estrangeiro.
Não basta bater no peito e invocar a caridadezinha, que podemos praticar com os ciganitos lá do bairro.
Não basta rezarmos por quem pratica o mal, em supostos arrastamentos ou de braço em riste, repetindo a ladainha que pecámos por palavras, actos ou omissões. Porque pecámos.

Por palavras que não foram ditas.
Por actos que não tomámos.
Por omissões que todos nós tivemos.

Há que dizê-lo: fosse uma manifestação pró-aborto, e bispos, e padres, e alguns movimentos ditos pró-vida ou eclesiais, levantariam a voz, gritariam para lá da sacristia, poriam o dedo em riste.
Mais: no sábado da vergonha (não podemos esquecer como começou a vergonha nazi - com a indiferença de todos os que deviam ter sido mais actuantes e não levantaram a voz), alguns movimentos e organizações portuguesas correram a participar numa manifestação em defesa da família na vizinha Espanha - que, no fundo, era uma "manif" homofóbica! - quando em pleno coração de Lisboa as famílias portuguesas eram todas elas envergonhadas com braços em riste a saudar o que de mais vil a humanidade já viu e a colorirem esses gestos hediondos com frases mentirosas (sim, são mentiras, como provam todas as estatísticas sobre criminalidade).

A tudo isto, os católicos disseram nada. Ou quase nada. Calaram, porque falta na Igreja uma aprendizagem do Outro - contra o discurso racista e da indiferença. A vida defende-se aqui. Assim.

[Dir-me-ão: D. Januário Torgal Ferreira, bispo da comissão episcopal das Migrações, falou. Alto e bom som contra a "manif". Mas, agora, apetece-me ironizar, com a argumentação de alguns sectores às direitas: "É sempre o mesmo..."]
[actualizado: e um «contraditório (sabendo a pouco)» a este meu texto]

21.6.05

Alinhamento do telejornal

A seguir à notícia-que-não-seria-notícia (se não tivesse sido o alegado arrastão) de um assalto na linha de Sintra, ontem, e do reforço de policiamento nos comboios, Judite de Sousa, no canal 1 de serviço público, diz que o Governo anunciou que os filhos dos imigrantes que nasçam no país serão naturalizados.

Elogios à casa do lado

Há elogios que não posso deixar passar: o mui excelente Avatares de um desejo, que hoje comemora dois anos (parabéns ao Bruno!), coloca «em destaque», esta semana, E Deus criou a Mulher, que um Espectador desse imenso Brasil assinala como o melhor blogue do mundo. «E Deus viu tudo quanto fizera e era muito bom.»

Agenda-setting

Desde que este blogue sublinhou o óbvio na escolha de António Guterres, no próprio dia da nomeação, o «Tal & Qual» e a «Grande Reportagem» chamaram Angelina Jolie à capa, para falar do novo alto comissário para os refugiados...

20.6.05

[para além das mortes, é urgente permanecer]

[ou Carlos, ela faz hoje 38 anos!]


Nicole Kidman

Camões século XXI

Garantem-me por e-mail que o poema de Camões

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer"

foi assim analisado por uma aluna de 16 anos da Escola C+S da Rinchoa:

Ah Camões
Se vivesses hoje em dia
Tomavas uns anti-piréticos
Uns quantos analgésicos
E Xanax ou Prozac para a depressão
Compravas um computador
Consultavas a página do Murcon
E descobririas
Que essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam
Essas mudanças de humor repentinas
Esses desatinos sem nexo
Não eram feridas de amor
Mas somente falta de sexo.

Nas outras casas

1. Da série Textos notáveis que merecem ser lidos com calma.
2. Da série O Abrupto feito pelos seus leitores, versão veraneante.
3. Da série Profissões de respeito, versão televisiva.

19.6.05

Post contra a criminalidade

O senhor que se vê na foto em baixo julgo ser Mário Machado que, como lembra o Nuno Ferreira, esteve preso 4 anos pela morte de um rapaz de origem cabo-verdiana, em 1995. Eu que acredito na capacidade de reabilitação do sistema prisional tenho, por uma vez, que concordar com Nuno Melo: acho que é preciso endurecer as penas: quatro anos pela morte de uma pessoa?! Mas com estas penas não se incomoda Nuno Melo.

A lei violada sem intervenção da PSP


foto Tiago Sousa Dias/Correio da Manhã



«4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.» [in Art. 46º da Constituição da República Portuguesa.]

Dos arrastamentos

Duas ideias a ler: esta e esta.

17.6.05

A ganga da memória

Ainda os arrastamentos: nos idos de 1992, o ministro da Administração Interna (então Dias Loureiro) veio bradar contra o perigo de «gangues de negros». Eu tive azar: fui assaltado duas vezes num curto espaço de tempo por... brancos. Ainda pensei em manifestar-me, mas ninguém me ligou.

Arrastado no comboio

Lá está: a SIC bombardeia-nos, desde ontem, com imagens de assaltos dos comboios da linha de Sintra - que, diz-nos a pivô, «pode ser uma experiência de insegurança». A minha Mãe confirmava ontem à noite que era nesses comboios do terror que o seu filho caminhava para o trabalho desde há uns anos. As imagens impressionam até o passageiro mais descontraído, mas gostava de saber o número de assaltos vs. o número de passageiros e de viagens dos comboios em circulação. Talvez ajudasse a perceber que, se calhar, os assaltos não serão a toda a hora e que não estarão acima de médias nacionais... Mas quem se interessa por minudências quando a TV mostra as imagens?

Tal e qual... mais ou menos

A nossa outra casa, onde se contempla melhor a vida, já teve direito a citação nas escolhas de blogues (agora uma moda jornaleira) do "Tal & Qual". Hoje, volta a ser notícia nesse jornal, o que muito nos alegra: o bom gosto espalha-se. «De chorar por mais», garante em título o semanário sobre E Deus Criou a Mulher - como se não o soubéssemos! O pior é que, no texto, nos garantem que «a Scarlett Johansson, por exemplo, é claramente um "must" do António Marujo». Pois é: António. Não se trata de inveja familiar, mas não queria provocar engulhos domésticos ao meu irmão - e da lista de sugestões que ele me deu, elas eram todas um cadinho mais maduras.

16.6.05

[na caixa de correio]

De MCM, recebemos este comentário à morte de Álvaro Cunhal: «Ninguém sabe o que se passa na cabeça e no coração de um homem ou de uma mulher. Curvo-me perante tanta luta determinada por convicções. Quem não o fez não esteve atento a toda a história.»

Cheio de pinta



Hopper a comemorar os dois anos do mestre de Aviz (parabéns!). Só não se vê ali no quadro ninguém de cavanhaque!

Diferenças

Ninguém falou em fanatismo e idolatria de milhares na hora do adeus, ninguém questionou os que fizeram centenas de quilómetros para este funeral, todos calaram a sua dúvida sobre a que os veladores manifestavam aos microfones da televisão.

Para os distraídos: não, não falo do funeral de João Paulo II.

15.6.05

Conversas de família

[ou A estratégia de comunicação da PT]

«Caros colaboradores,

A primazia dos colaboradores da Portugal Telecom no acesso à informação sobre temas inerentes à vida do grupo tem sido uma orientação que temos seguido de forma consistente ao longo dos últimos anos.

Amanhã, dia 15 de Junho, terá lugar um momento significativo na vida das empresas do Grupo PT. Pela natureza do nosso negócio e do nosso envolvimento com a comunidade, será, naturalmente, uma iniciativa com repercussão junto dos mais diversos públicos, mas, mais uma vez, é a si que me dirijo em primeiro lugar.

Nesse sentido, convido-o a assistir, amanhã, entre as 07h15 e as 07h30 da manhã, a uma emissão especial para os colaboradores do Grupo PT que terá lugar no Canal 1 da RTP. Reúna a sua família, sintonize a televisão e conheça as novidades que tenho para lhe dar.

Conto consigo, não falte.

Um abraço,
Miguel Horta e Costa»

[sublinhados nossos]

O Beirão de quem todos gostavam

Morreu o fabricante do Licor Beirão, que ironizou nas bermas da velha Estrada Nacional 1 com o ditador de Santa Comba Dão.

101 edições

Na morte de Álvaro Cunhal: uma fé sem dúvidas é uma fé morta.

Assinaturas

A Cibertúlia tem sido quase um blogue unipessoal. Mas não o é, na sua origem. Hoje, de repente, há quem irrompa na casa.

René!

«Não conto voluntariamente nenhuma história. Cada pessoa constrói a sua!»
René Bertholo, 1935-2005

Cito o artigo que apareceu ontem no Público:
"René Bertholo, nascido em 1935 em Alhandra, fez o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio (1947-51) e frequentou a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (1951-1957).
Em 1958, instalou-se em Paris e começou a publicar a revista "KWY" (três letras que não fazem parte do alfabeto português), com José Escada, Lourdes Castro, Jan Voss e Christo, entre outros.
Três anos mais tarde, realizou os primeiros desenhos e monotipias de acumulação e espalhamento de imagens, associando figuras reconhecíveis e abstractas, "que constituem uma contribuição original no contexto da 'nova figuração' que então se afirmava", lê-se no comunicado da Galeria Fernando Santos, que representou o pintor nos últimos 12 anos.
Uma das monotipias realizadas em França integrou há cinco anos a exposição retrospectiva "Making Choices" (núcleo "Seeing Double"), que o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque dedicou ao período 1920-1960 com obras da sua colecção.
Regressou a Portugal em 1981, instalando-se no Algarve."

No meio das notícias sobre a morte de gente que marcou o nosso tempo apareceu mais esta, ontem. Silenciosa. Quase sem se dar por ela. Já tinha sido na 6ª feira. No Dia de Portugal. E de Camões. 10 de Junho. René Bertholo. Um dos nossos maiores artistas plásticos desaparecia, assim, longe das luzes da ribalta, das primeiras páginas, dos telejornais. Mas deixa-nos uma obra memorável. Fantástica!

p.s. - quem pode esquecer as suas "máquinas"? Já agora: KWY era ironicamente "traduzido", pelos membros do grupo, por "Ká Wamos Yndo!

14.6.05

Credo!

Big Brother is marketing you.

Prados de repouso

Em tempos, S. levou-me até lá: por motivos profissionais, precisava de fotografar uns quantos jazigos e algumas campas do cemitério do Prado do Repouso, no Porto, onde foi sepultado Eugénio de Andrade. O nome do lugar cativou-me, apesar de nos transportar para a quietude do tempo - que sempre rejeitamos, que queremos evitar.
Mas estes lugares não se evitam, não se devem evitar. E de alguns podemos quase deixar-nos presos. Foi assim que pensei, em tempos, no da Ajuda, quando M. descia à terra e os meus olhos pousaram no azul do rio Tejo. Ou de cada vez que espreito da janela de casa os ciprestes do cemitério dos Prazeres.
Os homens têm uma forma curiosa de nomear os seus lugares de repouso.

Da utilidade das sentenças

Michael Jackson foi ilibado. A suspeita permanece. Alguém quer saber das sentenças judiciais? O tribunal hoje decide-se na rua. A Casa Pia aliás já tem culpados. E ninguém sai ilibado.

Da utilidade dos blogues

O Francisco apresenta-nos os trabalhos de casa.

Ontem, o regresso a uma sala de cinema...


Scarlett Johansson, no filme "A Love Song for Bobby Long"

Três notas do último dia da feira do livro

1. O ministro das Finanças de traje informal - parece mais novo - e sem livros nas mãos.
2. O professor Marcelo a carregar uma mala de viagem, já gasta: vazia? com livros para comentar? ou para encher de compras para a biblioteca?
3. O pavilhão da Livraria Parlamentar fechado, com vidros no chão: «Encerrado devido a assalto».

Santo António...

em Lisboa, alegria na terra.

13.6.05

Adeus


Eugénio de Andrade


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Até amanhã, camarada


Mário Soares, Magalhães Mota e Álvaro Cunhal


De Álvaro Cunhal cresci com o temor (sim) de uma sociedade dividida como poucas. Lá em casa, apreciava-se a coerência, desdenhava-se (quase sempre) da política: eram campos opostos. Enquanto cresci, cresceu a admiração pela história de vida e a contestação a uma cassete que debitava a mesma pauta, indiferente aos ventos da História - que não eram o ocaso comunista, mas sim a permanência da opressão soviética. Agora, os últimos anos, afastado pela doença, deram-me a distância para admirar o que se deve admirar - a vida contra o fascismo - e criticar o que não merecia contemplação - persistir no erro de um modelo que ignorava o indivíduo e o espezinhava, mesmo na direcção do partido.

12.6.05

Lisboa [classificados]


Não se vende, não se compra, não se troca. Vive-se.

Camarada Vasco

Na hora da morte, ámen: às malvas as diferenças de opinião e os dislates de comportamento, que as convicções que uns e outros alimentam é que são sublinhadas. Duas atitudes diferentes, apenas: Álvaro Cunhal, que chamou os bois pelos nomes em que acreditava na morte de Spínola, e alguma blogosfera que quase rejubilou no passamento de João Paulo II, para poder atacar com fragor e muita imbecilidade as teses vaticanas, o assassínio de milhões de africanos, o cadafalso das bruxas, a fogueira de Galileu Galilei - e desdenhando de testamentos políticos.
Eu, por mim, de Vasco Gonçalves, na hora da morte, aporia aqui o contrário de ámen, se o soubesse. Um homem zangado com o país que o despachou e não quis caminhar para aquele seu socialismo, num certo dia de Novembro. Como Cunhal estaria, se a memória das coisas e a nossa memória dele não se apagasse no recolhimento da doença.
A coisa pública também por esta casa preferiu recolher-se: a gritaria do défice, o aumento errado do iva, as reformas e as contra-reformas de quem trabalha pouco e ganha muito, a Europa do sim do não, talvez, que não decide, e segue o mesmo caminho com a cabeça entre as orelhas. O céu ficou encoberto e o país partiu para parte incerta.

10.6.05

Manifesto sussurrado

Ar composto, idade já avançada, voz sussurrada, como se vendesse haxe: «É contra o Bloco de Esquerda, quer comprar?» Na feira do livro, junto à cafetaria, é só procurar.

10 de Junho



Camões, Portugal, Língua, comunidades: blogues.
E o Tó que faz anos.

Ultras-mar

Por estes dias, convoca-se uma manifestação de saudosos da guerra colonial, que eles chamam do Ultramar como se houvera tal coisa, para o monumento dos caídos. Será a ladaínha do costume, dos injustiçados pela democracia, esquecendo-se que eles foram injustiçados pela iníqua ditadura, onde gritarão gastas palavras de ordem, esquecendo-se que a guerra acabou por a liberdade ter chegado às palavras de ordem. Neste dia de Camões, celebra-se tudo - até a liberdade de persistir no erro de celebrar a guerra.

Da série, Frases que impõem respeito
[o contributo anual]

Extra! Extra! Extra!

O Barnabé a dez euros, em promoção, perde para a Rititi - 11 euricos!

[preços de feira]

9.6.05

Velocidades [serviço público]

Supostamente estou ligado à rede com ADSL. Digo supostamente porque a velocidade atingida num teste* foi de 305 kB por segundo, aquém dos 500 kB que supostamente devia ter. A Internet é uma prioridade para quem?

* - façam vocês também o teste...

O bastardo


clique na imagem para ver e ouvir a última calhordice deste senhor

Continuo a achar que o melhor era a independência da Madeira.

Hora de ponta

Trânsito com demora ao balcão dos queijos e enchidos, movimento intenso no corredor dos iogurtes, nomeadamente à aproximação dos bio-activus-lights, e grande aglomeração junto à higiene feminina. A evitar as caixas até dez unidades...

Google assim!


Adivinhem quem nasceu a 8 de Junho...

A feira

Descer a alameda, apreciar o espaço mais livre, olhar os livros do dia, ver obras apetecidas. Quinze dias depois, repetimos finalmente rituais antes quase diários. Mas se querem um texto de amor à feira do livro procurem na edição do Público de 29 de Maio. Assina Ana Sá Lopes, antes de ter ido às (outras) compras.

8.6.05

A guerra dos sexos

Em directo, daqui para aqui. E vice-versa. Divertido, com transparências, compras de roupa, bê-émes.

Da série, Frases que impõem respeito
[um contributo]

Que nunca por antipáticos te conheçam.../We serve our costumers with courtesy...

[frases ouvidas na linha telefónica da Teletáxis, enquanto aguardamos a telefonista]

Há dias assim

Quantos livros dão os blogues?

Rititi, Gato Fedorento, Modus Vivendi, antes O Meu Pipi, Dicionário do Diabo (com o nome Fora do Mundo) e Barnabé. Mas também No Parapeito e Henry Killer, As Ruínas Circulares ou Mil e Uma Pequenas Histórias. E há mais. Basta procurar na nova secção das livrarias - blogues fora de casa.

7.6.05

Quatro casamentos e uma bolinha vermelha

Os critérios para a bolinha vermelha que pinta o ecrã de determinados programas são insondáveis (ok, pancada a rodos e pele muito suada já é meio caminho andado), mas parece que há um infalível: prender a atenção do zapping distraído. Que outra explicação pode haver para a SIC marcar o filme "Quatro casamentos e um funeral" e uma novela que exibe ao fim-de-semana à noite, bem depois das 22h...?

Agradecimentos

A quem nos comentários ou nos seus blogues agraciou a Cibertúlia com os parabéns pelos dois desta casa, apesar de quase todos terem ficado a olhar para a Angelina.

5.6.05

Aniversários

Ontem,
ela fez 30 anos... e a Cibertúlia dois. Por aqui, repousou-se o olhar... pode lá haver tão boa companhia a apagar as velas?


Angelina Jolie

3.6.05

Post-Hit

Dizer que se acaba com o blogue e reabri-lo dentro de dias, no mesmo lugar, depois de muitos comentários e e-mails e posts e telefonemas e sms e pedidos públicos de regresso e lamentos privados da falta que nos faz e. Que dia é hoje, pá?

[blogo-notas]

Para ler e ver: «"Só podem ser implantes", desdenhou, ao ver as caixas de comentários do blogue da vizinha.» [in Bandeira ao vento]

Para irmos ao tapete esta semana: um amigo, um repetente, um clássico. Porque nem todas as semanas têm ser de descobertas. Os reencontros também o são.

Para que conste: Deus teve um problema de banda larga e, para ajudar à penúria, a pasta das fotos está momentaneamente inacessível. Por isso, vai-se refrescando a casa do Senhor, para compensar os justos.

Para ver e ler, porque Deus não se fecha numa única casa: «Os teus dois peitos são como dois filhos gémeos da gazela, que se apascentam entre os lírios». [in Avatares de um desejo]

Para ver: o pecado mora ao lado.

Na caixa de e-mail

[ou numa livraria perto de si, de um blogue aqui ao lado]

2.6.05

A ditadura do futebol

O futebol está em todo o lado, blá-blá-blá. Aqui também, me confesso (não era campeão há 11 anos, desculpem lá!). Mas tenho uma prova irrefutável desta ditadura: é impossível passar um dia sem ouvir a piadinha de que ando a coxear com um dedo enfaixado há uma semana, como resultado de uma jogada mal resolvida. Ele é o motorista do autocarro, ele é o administrador, ele é o senhor do café e o Moisés da tabacaria, ele é o piadolas da rua (ganda treino, ó chefe!). Bolas, pá: isto foi uma unha encravada! E quero lá saber da bola... A barriga já não para essas coisas!

1.6.05

Lost in bureaucracy

"Tendo sido abordadas as potenciais causas e a amplitude da ocorrência, e depois de ter sido exposto o esforço de investimento da EDP para deduzir o Tempo de Interrupção Equivalente da Potência Instalada em Média Tensão nos últimos anos, foi solicitado ao Presidente da empresa que procedesse no sentido de dar uma explicação cabal do ocorrido à População da Guarda e avaliasse, com carácter de urgência, os danos eventualmente causados pelo incidente naquela cidade."

[do comunicado oficial do Ministério da Economia sobre a falta de luz durante 13 horas na cidade da Guarda.]

15 medidas

[ou outros contributos para combater o défice]

O que é nacional é bom.

Independência da Madeira, já!

[ou contributos para acabar com o défice]

O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, está oficialmente reformado a partir de hoje. João Jardim vai receber uma pensão mensal de 4 224,07 , a que vai acrescentar um terço do ordenado que aufere como presidente do Governo Regional da Madeira.
O Diário de Notícias e o Público dizem que o presidente do Governo Regional da Madeira passa a ganhar a partir de agora mais mil euros do que ganhava antes de se reformar.
Esta nova condição do líder madeirense resulta do facto de o Estatuto Político-Administrativo da Madeira estabelecer que os membros do Governo Regional beneficiem do regime de segurança social aplicável aos funcionários públicos.

Falta de imaginação

Impostos, Deus, aborto, rejeição e orgulho.