30.4.04

A pax americana


Caixões de soldados americanos mortos em combate (esq.).
Prisioneiros iraquianos humilhados por soldados americanos (dir.)

À flor da pele

Os blogues são instantâneos. Daí o tom do post anterior. A política e a causa pública mereciam outro cuidado. E outros actores, definitivamente. Estarei a querer combater moínhos de vento?

Sinais contrários

Hoje, o autocarro atrasou-se e falhei o comboio. A hora de entrada arrastou-se. Paciência. Também eu tenho direito a ter desculpas do trânsito... Mas depois de ouvir o nosso primeiro-ministro - e o seu neolacaio Portas - esta manhã gritar (foi assim, ouvi eu) a sua indignação face às denúncias de Louçã de negócios estranhos, como o anunciado com a Carlyle, e que continuou sem explicar no Parlamento (um paralelismo: a mesma indignação de Durão foi ouvida sobre o Citigroup, e veio a revelar-se como verdadeira...), não me preocupei com a política de transportes. O condutor deste automóvel que é o nosso país conduz perigosamente... e as teias do mundo do futebol são brincadeiras de meninos de coro ao pé destas negociatas.

29.4.04

Todos os dias

Quase todos os dias são assim, para mim: dia individual sem carro. Saio de manhã, pela fresquinha, uma greve da Carris ainda não terminada, desce-se a Alcântara em busca de um alternativo, apanha-se um amarelo fura-greves e, no tempo certo, arriba-se à estação. O comboio não demora mais do que cinco minutos. No fim de um percurso de 17 minutos assoma a estação de Queluz-Massamá, onde se descortina o autocarro suburbano mais directo para o trabalho já de saída. Resta a espera: àquela hora, não é demorada - dois minutos, e toma-se o 106 com destino à «praia». O tempo é de cerejas, mas o calor não. Desce-se na paragem devida e sobe-se uns 100 metros (viesse eu de viatura particular e tinha uma vanette de serviço, para fazer uma distância pouco maior). Está-se na redacção. As televisões não páram de dar conta para o país todo como são tristes as manhãs suburbanas de Lisboa e Porto. «Trânsito lento no IC19, acidente na A2, o garrafão preenchido, a VCI entupida». Bom dia.

À espera do clamor de indignação

O défice português sem qualquer medida de cosmética do Governo teria sido de 5,3 por cento. Sem medidas extraordinárias, o valor do défice de 2003 é pior do que o de 2002, quando equivaleu a 4,1 por cento do PIB, e de 2001, que não beneficiou de medidas extraordinárias, e foi estabelecido em 4,4 por cento do PIB. A direita não deixará de gritar a sua indignação contra... Guterres, claro.

O futebol também precisa de humor

«Antes do auto-golo, Rui Jorge esteve muito perto de bater Quim, depois de ter não ter conseguido controlar uma bola que o guarda-redes do Sp. Braga tinha defendido para a frente. Apesar de triste com esses dois lances, o lateral acabou por brincar com a situação. «Falhei a primeira, mas a segunda não perdoei», contou entre sorrisos.
[in MaisEuro2004]

Eu, pecador, me confesso

Pois... tens razão, Miguel...
Andamos todos um bocadinho relaxados, não é?...
Prometo fazer um esforço para não te deixar a falar sozinho.
E desafio os outros a fazerem o mesmo!

28.4.04

Uma proposta de estatuto editorial para a Cibertúlia

(pub)




Sim, é hoje. Click em cima da imagem.

Política? Não. Publicidade!

Santana não governa Lisboa. Manda os publicitários ou o gabinete de comunicação fazer um anúncio de página inteira, publica-o anonimamente (como hoje no Correio da Manhã, a apelar a uma concentração, «todos em apoio ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa eleito, pelo túnel, mais cidade, pela modernidade») ou assina-o para acusar outros e dizer que não é nada com eles (como no JN e no Público, com anúncios a proclamar que o Tribunal lhes deu razão). A cidade é um imenso túnel, sem luz ao fundo.

PS - Depois, vem o Governo (que já tinha falado e defendido uma obra local pelo ministro das Obras Públicas, em directo, ao vento e frio, na SIC) apoiar a obra, pela voz do secretário do Ambiente (como? de quê?).


[imagem com a devida vénia aos Galarzas]

Terra da Alegria

Nós os vencidos do catolicismo
que não sabemos já donde a luz mana
haurimos o perdido misticismo
nos acordes dos carmina burana

Nós que perdemos na luta da fé
não é que no mais fundo não creiamos
mas não lutamos já firmes e a pé
nem nada impomos do que duvidamos

Já nenhum garizim nos chega agora
depois de ouvir como a samaritana
que em espírito e verdade é que se adora
Deixem-me ouvir os carmina burana

Nesta vida é que nós acreditamos
e no homem que dizem que criaste
se temos o que temos o jogamos
«Meu deus meu deus porque me abandonaste?»


Ruy Belo

Nota: já está online um novo projecto colectivo, onde participo: Terra da Alegria propõe-se ser um olhar de vários cristãos sobre as coisas do mundo. Fica o convite à leitura e às críticas. Sai às quartas.

27.4.04

So tell the girls that I'm back in town

Amigos. Voltei oficialmente à civilização: o telemóvel está de novo connected, no número de sempre.

Teasers

1. Ando a preparar um breve texto sobre o "meu" 25 de Abril.

2. E outro sobre a América...

3. Temos novidades de Arly Cravo, em tempos de revolução.

4. A Terra da Alegria vai dar-se a conhecer.

Duas imagens de Abril

«Duas notas, opostas, sobre a cobertura da RTP da cerimónia no Parlamento, evocativa dos 30 anos do 25 de Abril de 1974.

1 - Uma imagem ausente. Durante todo o discurso do Presidente da República, não se viu nunca - nunca - quem aplaudia. As imagens mostravam-nos sucessivamente Jorge Sampaio, a bancada do Governo, os convidados dos países lusófonos, os militares que fizeram a Revolução, até a esposa do Presidente. Nunca, mas nunca, quem aplaudia o quê, ao sabor do discurso de Sampaio. De tal maneira que, a meio, decidi desligar o som televisivo e ligar o rádio, sem grande sorte. A manipulação (má realização? ingenuidade? opção ideológica? falta de câmaras suficientes?) também se faz escondendo informação.

2 - Um gesto presente. Quase no final da comunicação do Presidente da República, a câmara está centrada, de novo, na bancada do Governo. O primeiro-ministro está a trocar olhares com alguém do grupo parlamentar do PSD, percebe-se. No instante seguinte, volta-se para o ministro Marques Mendes e segreda qualquer coisa. Este vira-se também para alguém da bancada do partido maioritário e acena. Depois, faz um gesto, levantando e baixando a mão. Leitura imediata: no final do discurso, os deputados do PSD devem levantar-se. Faltava o cartaz que se usava nos concursos. Há imagens que valem por mil discursos e a política também se faz com pequenos gestos.»

António Marujo, in Público

(um dia antes)

26.4.04

O que mais ordena

O computador finou-se em tempos do 24 de Abril. O telemóvel finalmente será substituído. O Dicionário do Diabo mete-se comigo para me enviar um vírus. O blogue tem estado de quando em vez inacessível. Definitivamente, a tecnologia é uma gaja complicada. Por mim, vou para casa ouvir Caetano.

Conquistas de Abril

A descer a Avenida...

... um casal de indianos (ou paquistaneses), de cravo na mão e com os seus filhos,

... os Tocárufar com miúdos e graúdos, brancos e pretos a espantar fantasmas coloniais,

... os militares só participaram a desmontar o palco das cerimónias da manhã,

Por isto. E por tudo "caber" na Avenida: os slogans do PCP e do Bloco, os solidários com o «capitão Ad hoc», a minha vizinha do 6º, os meus amigos, as juntas de freguesia da Margem Sul, a banda a tocar a «Grândola». É bonita a festa, pá!

25.4.04

25 de abRRRRRil

«Façam de conta que está aqui um gRRRRRande, um enoRRRRRme, RRRRRamo de cRRRRRavos veRRRRRmelhos.»

citado do Terras do Nunca [obRRRRRigado!]
- e façam o favor de ler as muitas histórias de Abril no Barnabé. Para não dizer que não falámos das flores!

A revolução ainda é uma criança



Ao Lucas e à Sara, baptizados ontem.

23.4.04

(aqui posto de comando deste blogue)

O 25 de Abril toma-nos muito tempo. Está em curso o processo revolucionário. O blogue só pode seguir dentro de momentos. Até lá, peguem no Zeca, saiam à rua de cravo na mão, naveguem por outros blogues, vão à praia, indignem-se, riam, façam o que vos aprouver, mas sejam felizes.

22.4.04

E, de repente, um corpo para descobrir no cinema


Carmen

E, de repente, um olhar para descobrir no cinema


Sylvia

A mania da propriedade

Ontem, num debate sonso (valeu-nos José Mário Silva), na Dois:, sobre o 25 de Abril, Pedro Lomba falou na mania da esquerda em achar que o 25 de Abril é só dela. Uma espécie de propriedade privada. Água mole em pedra dura, tanto se martela que até se torna verdade (é assim com a descolonização, por exemplo, esquecendo que ninguém a fez na ditadura). Também ontem no Público, o popular Manuel Queiró defendia mais ou menos o mesmo: «Os 30 anos do 25 de Abril vão ser aproveitados por uma certa esquerda para mais uma tentativa de apropriação da sua memória.»

Mania, pá! O 25 de Abril não é propriedade de ninguém. Mas a verdade é que a direita (ok, alguma direita, ou melhor, grande parte da direita) nunca quis ser proprietária do 25 de Abril. Por ela até se fechava esta loja e passava-se directamente para 1982, a nova data-fétiche dessa direita evolucionista.

Actualizado: também no Blogue de Esquerda se fala disto.

Não é para brincar

O jogador português Jorge Andrade, do Deportivo da Corunha, fez de conta que batia num jogador do FCPorto. O árbitro austríaco não percebeu a brincadeira e expulsou o português, apesar deste lhe explicar em inglês que era amigo do Deco. Já nem se pode brincar no futebol profissional. Não se pode brincar, ponto. Não se pode fazer humor com a Páscoa, que logo se enxofram os católicos. Não se pode rir dos disparates deste Governo, que logo nos lembram que estamos a enxovalhar a pátria (uma senhora a que nunca fui apresentado). Não se pode investigar o major ou o papa, que logo nos lembram do péssimo timing da polícia que se esqueceu desse desígnio nacional que é o Euro. Não se pode brincar às revoluções que a máquina ideológica do poder (nos) tritura o "R". Os tempos estão difíceis, mas acabarem-nos com a possibilidade de brincar, rir e fazer humor...

21.4.04

Um jantar em desassossego

Ela é uma amiga lá de casa. Mas há um ano que se queixa por e-mail, sms, ou encontros aqui e acolá, que ainda não foi convidada para jantar. Com toda a razão. Mas agora é mais difícil: agora entra-nos todos os dias em casa (ou no trabalho, ou em toda a parte) com um blogue. Desassossegada, diz ela. Temos de fazer esse jantar, Sara.

(a imagem segue dentro de momentos)

O site de alojamento de fotos da Cibertúlia está em baixo. E, assim, uma grande mancha branca ocupa o espaço do quadro que quis oferecer para novos vizinhos...

Fórum... mulher?

Que impacto pode ter a detenção de 16 pessoas do mundo do futebol na imagem de Portugal lá fora? Foi este, mais coisa menos coisa, o enunciado de Margarida Pinto Correia para o «Fórum Mulher», da TSF, esta tarde. Já vos disse que lá em casa há uma fã da «Bancada Central»?

(pub)

E ele não tem vergonha?

Luís Delgado, hoje no DN, pergunta-se: «Não havia outra altura?» E explica: «A justiça não tem data, nem prazo, nem preocupações de carácter nacional, ou mediático, e deve ter sido este conjunto de factores que levou a PJ a desencadear a operação «Apito Dourado» (o nome de código é bizarro), com a detenção de Valentim Loureiro, por agora, e de outros tantos nomes ligados ao mundo do futebol. A verdade é que as suspeitas têm de ser muito sérias, e fundamentadas, para se voltar a pôr o nome de Portugal, e dos portugueses, nas bocas do mundo, por razões muito pouco abonatórias, e a dois meses do Euro 2004, o que não é propriamente uma notícia muito feliz e motivadora.»

O despudor destes ideólogos de direita é espantoso. Apenas isto.

20.4.04

Ter, ter, não tenho...

Pedro Mexia escreveu há algum tempo (na «Grande Reportagem», sem edição "online") um artigo fantástico sobre a sua condição de «auto-mobilizado», alguém que se faz transportar a pé ou com a ajuda de autocarros, metro, táxis e "à pendura" nos carros de amigos. Revi-me no texto, também por partilhar essa condição de auto-mobilizado - ou de «extraterrestre», na expressão de um amigo. Agora, descubro-me ainda mais alienígena: é que Mexia reconhece que tem a carta de condução. «Mas não [pratica]. Há anos e anos. Até gozam [com ele] por causa disso. Ocupa espaço, mas não serve para nada. Nunca [vai] dar uso à geringonça. Preferia nem ter tal coisa. Mas lá fica, murcha, patética. É assim, a [sua] carta de condução». Obviamente que isto também é motivo de desordem doméstica.

Abril é evolução?

19.4.04

À mesa

Há dias diverti-me numa cervejaria da Baixa a observar uma japonesa atrapalhada com a sandes de bife panado. Olhava muito próximo, cheirava, tocava, tudo para perceber o que lhe tinha saído na ementa do almoço tardio. Hoje, a senhora da caixa do YiLi deve ter-se divertido com o meu ar atarantado entre caracteres chineses, gingibre ou massa levar forno à procura de uns crepes vietnamitas. Lá os descobri. Abençoada mesa que promove a inter-confessionalidade*.

* - ler artigo «Do restaurante para o calvário», do Tiago de Oliveira Cavaco.

De um lado para o outro na cidade

Ao Liceu Camões, uma placa limpa e discreta grita a quem passa, «edifício acabado de construir pela Ditadura Nacional. Ano de 1928». No elevador do Lavra, monumento nacional, que faz hoje 120 anos, os grafittis pintam o outrora amarelo da Carris (que não se lembrou ou não quis celebrar a data).

No Largo da Estefânia, 11 pessoas entretêm-se a preparar a nova fonte em volta da sua estátua. Engenheiros, doutores, assistentes, assessoras, técnicos, operários, em alegre convívio, entre telemóveis, pastinhas reluzentes, todos atrás uns dos outros. 11 pessoas. Deve vir aí inauguração a preceito.

Nos subterrâneos, descubro que o metropolitano está «com perturbações». Subo à superfície.

Visito o «edifício Marconi», com placa reluzente a anunciar inauguração em 1992, «por sua excelência», blá-blá-blá, o ministro «Ferreira do Amaral». Aquela fealdade que se atravessa aos olhos: um amarelo-dourado piroso em branco outrora imaculado. Os intelectuais da cidade costumam desdenhar de casas assim nas aldeias.

Transporto-me com dois sacos de plástico e uma pasta pesada de computador. De um dos sacos espreitam DVDs e livros. No outro, cheira a folar da Páscoa (único, irrepetível, escusam de procurar) e a crepes. Tal e qual! Se a cultura cheirasse naquele autocarro, julgo que seria amaldiçoado.

Um quadro para uma casa vizinha



E. Hopper, Morning Sun

Desordem doméstica

Lá em casa, levo justamente nas orelhas pelo caos em que se transforma o escritório improvisado na marquise e as estantes onde se acumulam jornais, papéis, postais, bilhetes de cinemas, as contas da casa, livros de medicina e depois nada se encontra quando é preciso. Por contraponto, levo nas orelhas - em tom de gozo, é certo - pela organização que mostro na estante dos CDs: por ordem alfabética de "intérprete" e, em cada grupo ou cantor(a), por ordem cronológica dos álbuns. Simples e eficaz para procurar aquele álbum ou um qualquer ganda maluco. O pior é que esta ordem é aparente: da estante para o leitor de CDs a desarrumação volta a ser a imagem de marca - e, por isso, passo o fim-de-semana a ouvir coisas completamente diferentes. E é por essa lógica que hoje cheguei a pôr o televisor mais alto... Não gosto que me ponham na ordem, pois.

Adeus, Alcácer-Quibir

No fim do "Olá Portugal!", de Manuel Luís Goucha (à espera dos telejornais), vejo José Cid. E oiço «El-Rei D. Sebastião», o velhinho tema dos Quarteto 1111, a abrir um "medley" das canções mais conhecidas do Cid, el português... O que prometiam ser boas memórias viraram em cinco segundos uma tragicomédia: a voz desafinada, gasta, foi incapaz de voar pelos campos de batalha de Alcácer Quibir ou pela neve de Nova Iorque...

Défices

Há um défice que assoma à nossa porta todos os dias. Agora, a OCDE diz-nos que aquele que a Europa nos impõe ferozmente vai voltar a ser violado em 2005. Manuela Ferreira Leite, que pode estar a caminho de Bruxelas, deixando livre o Governo para a rédea solta da demagogia de uma anunciada «viragem social» - que se mascarará em obras de betão armado e beijinhos às velhinhas - deixa assim mais uma das suas heranças pesadas. Foi assim no início da década de 90, quando - aos cortes feitos na Educação, como secretária do Orçamento - foi premiada com a tutela da... Educação. Foi assim nos últimos dois anos com a insistência numa política de combate ao défice dos números e um défice de atenção às pessoas. Nisto tudo há um défice de política. Se as pessoas não estão primeiro, de que serve a política? A resposta foi dada ontem por Zapatero: a retirada das tropas espanholas cumpre uma promessa sua (de há um ano, e não de 12 de Março) e combate uma guerra assente na mentira e na manipulação.

18.4.04

Lento regresso

Sem prévio aviso, desliguei. Ficaram ali fragmentos de uma Lisboa que eu amo. Pelo fim-de-semana deixei-me levar entre Caetano em inglês, Jane Birkin de francês a português (com Caetano), Talking Heads a toque de caixa e... os Mão Morta, «nus». Tudo coisas novas cá em casa que tornam ainda mais perfeitos estes dias imperfeitos. Lá fora, a chuva bateu no vidro, o céu toldou-se de cinzentos, mas os amigos, pais e padrinhos celebraram as nossas imperfeições de cada dia...

16.4.04

Triste-Feia

Assim. Sem mais nada: Triste-Feia é o nome de rua mais surpreendente e mais surpreendentemente bonito de Lisboa. Aquele pedaço de toponímia num recanto de Alcântara guarda algum mistério. Que nome é aquele, a que se refere, de quem fala? Uma rua ou beco que não se chama rua ou beco... Apenas triste e feia.

Apelo (ainda) pascal a 6 amigos... e mais que sejam

Let's start a catholic blog!
Cleared of beatific litterature!
We want something redblooded,
loud and pure,
reeking with stark
and fearlessly obstinate
but really clean.
Get what we mean?
And let's not spoil it.
Let's make it serious,
something authentic but delirious.
You know, something genuine,
like tears in a shrine.
Graced with guts
and gutted with Grace!
Squeeze your thoughts
and open your faith!


adaptado de e.e. cummings

(in "guia dos perplexos")

15.4.04

Em casa de ferreiro, espeto de ferro

«President Bush Benefits From His Tax Cut: Last year's tax cut proved to be a significant windfall for its main architect and political instigator, saving President Bush tens of thousands of dollars on his 2003 return. Meanwhile, for Sen. John F. Kerry (Mass.), the Democrat seeking to drive Bush from the White House, his tax burden more than tripled on income that surged with the sale of a million-dollar painting.» [in Washington Post]

Empresários "visitam" Coreia do Norte

As 30 propostas do Compromisso Portugal merecem uma concordância de empresários portugueses (votaram 293) acima dos 90 por cento, atingindo muitas delas valores a rondar os 100 por cento. Digno do melhor estagiário de uma empresa estatal norte-coreana, rejubilaria a direita blogosférica, se esta proposta viesse da esquerda. Não vem...

Pormenor importante: a única proposta que desce abaixo da fasquia dos 70 por cento é a de «eliminar o sigilo bancário para o Fisco». É ou não eloquente este retrato do empresariado que temos.

Um vídeoclipe, que já não podemos ver na FashionTv...

A glória difícil da TvCabo

Razão tinham o Diogo e JPH, aqui há uns meses, quando se queixavam dos novos adventos do fascismo cultural (para retomar uma expressão de Paquete de Oliveira nesse documento sonoro dos 80, «Divergências») na TvCabo: depois da codificação do canal 18, a partir da meia-noite, para evitar pornografia em canal aberto (dito assim...), agora a empresa de quase-monopólio ataca outros prazeres nossos: a FashionTv foi expurgada do pacote da televisão da PT, sem qualquer pré-aviso, para dar lugar a mais cinema pago, outro canal codificado, que aparecerá tremido na pantalha. Sem apelo nem agravo deixaremos de poder ouvir boa música, acompanhados de belíssimos vídeoclipes.

PS - Pelo caminho ficou também o M6, canal generalista francês. O lamento é menor, mas valia a pena por um programa sobre publicidade (aos domingos) e, por vezes, a música da madrugada...

Os novos líderes da Somague

Os irmãos Pinto - que puseram a cabeça de Cavaco em água com o bloqueio da Ponte 25 de Abril - tomaram de assalto a Somague e são os seus novos dirigentes. Está aqui a prova...

14.4.04

Sem medo das palavras: a revolução ainda é uma criança



Não resisto a "picar" esta imagem do Barnabé. Para desinstalar consciências e porque a liberdade é sempre pouca!

Santos e pecadores (ou o Guterres infiltrado do PCP)

Hoje no Parlamento, Figueiredo Lopes disse umas banalidades sobre o Iraque e a presença portuguesa naquele barril de pólvora. Na interpelação dos deputados, um sobressaiu dos ditos parlamentares. António Filipe, do PCP, falando dos críticos da guerra no Iraque referiu-se a «Sua Santidade, o Papa João Paulo II». A seu lado, Maria de Belém riu-se e meteu-se com a nova "santidade" do altar comunista...

Ri de quê?

O já (tristemente) célebre vídeo de Bush à procura das armas de destruição maciça tem uma nova edição. Que lembra o essencial desta absurda guerra do Iraque. A ver aqui, obrigatoriamente (demora, mas compensa). Obrigado ao Rui pelo blink...

Um hotel em Jerusalém (pausa para uma dedicatória aos irmãos barnabés)

Jesus entra num hotel e dirige-se ao recepcionista, colocando três pregos em cima do balcão: «Could you put me up for the night, please?!»

Polícia de Segurança Privada

O «efectivo» da PSP remata a conversa ao telefone: «Não temos efectivos suficientes». Suficientes para fazer o seu trabalho: uma zona «referenciada» (como reconhece) de tráfico de droga a céu aberto e escancarado para quem passa não pode ter um polícia a tempo inteiro, em permanência. «Mandamos um carro». Não serve: passa uma ou duas vezes, fica lá uma hora ou duas e, ala! que se faz tarde, e o negócio volta ao seu ritmo normal. O senhor presidente da Câmara de Lisboa lamenta-se que «não tem efectivos», mas pede dois para a sua segurança pessoal, ameaçado sabe-se lá por quem. O senhor ministro da Defesa esquece-se dos berros e do dedo em riste da campanha eleitoral, a dizer que queria os «efectivos» nas ruas.
Eu peço política/polícia preventiva: um agente que esteja ali, 24 horas, como os senhores ministros e altos dignatários têm. Evitava-se a degradação da zona, evitava-se o populismo de quem se sente atingido todos os dias e se impacienta a entrar e sair de casa, evitavam-se novos intendentes e anjos e lamentos das autoridades por que nada se fez. A tempo, em devido tempo. Efectivamente.
Senhores agentes: efectivem-se!

13.4.04

É a hora! «Resistir é vencer»


José Mário Branco, a chegar a Lisboa, depois do 25 de Abril.

Abril tem uma razão mais para ser festejado: JOSÉ MÁRIO BRANCO, ele, terá novo disco a 26 de Abril: «Resistir é vencer». A seguir, dois concertos imperdíveis: a 1 de Maio, no Coliseu do Porto; a 7 de Maio, no Coliseu de Lisboa.

Abril, 30 anos (pistas para um debate)

«[...] É inaceitável que o progresso económico que o nosso país alcançou nos últimos 30 anos e as ajudas comunitárias entretanto recebidas não se tenham traduzido numa redução substancial da pobreza, designadamente nas suas expressões mais severas, de falta de alimento e de habitação condigna, de dificuldades no acesso à educação e à saúde, de insuficiência de recursos bastantes para garantir uma vida digna, segundo os padrões correntes na nossa sociedade. Cerca de 1/5 dos nossos concidadãos conhecem a pobreza com maior ou menor severidade, e uma parte deles nunca teve situação diferente, porque a pobreza se tornou hereditária e esteve sempre presente nas suas vidas. [...]»

in «Um outro olhar sobre as desigualdades e a exclusão social, um outro compromisso com um mundo mais justo e solidário», carta da Comissão Nacional de Justiça e Paz (Páscoa, 2004).

12.4.04

Um ano

Houve quem festejasse um ano de blogue, com festa a preceito, declarações de modéstia ou orgulho, vaidade e luxúria. E com ar pesado: custa muito escrever todos os dias, manter o interesse, a originalidade, uma centelha do que for, blá-blá-blá... Ná. Não me convencem: um ano a fazer isto, não é nada. Há coisas que valem muito mais, custam muito mais. De há um ano para cá: viver todos os dias é bom.

8.4.04

Muros para derrubar

«No momento de celebrar a Páscoa, como poderemos não nos lembrar de que Jesus foi crucificado fora das muralhas de Jerusalém. Pela sua morte, derrubou o muro de ódio que separava os povos. Esse muro não deve ser reconstruído.» [Jacques Gaillot, in Partenia]

Voltamos depois da Páscoa. Renascidos.

Erro de cartaz

O filme «A Paixão de Cristo» estreia este fim-de-semana de Páscoa (pelo menos) na Bélgica. A jogada comercial é um claro erro de cartaz: há muito mais para nos fazer reflectir na paixão de Cristo nas imagens que nos chegam do Iraque por estes dias, que no filme de Mel Gibson.

Chiça!

Uma simples palavra dita por um dos "heróis" da GNR põe por terra um ano de ilusão do Governo sobre a presença e participação portuguesa no Iraque: «Voltar? Chiça!»

7.4.04

A palma


Era uma palma. Por cima dos nomes carregados a preto, a morte vinha anunciada com uma palma, simples e bonita. Entretanto, os protestos dos leitores foram muitos, sobre aquele jornal que nem uma cruz põe nas suas páginas de necrologia... Hoje, folheia-se o Público, ou outro jornal qualquer, e os óbitos anunciam-se sombrios e de cruz marcada. Sofridos os rostos, sentidas as mensagens. O raio de luz que é a palma de um domingo de Ramos é tolhido até Domingo.

6.4.04

A Paixão, quadros actuais (III)



Detidos em Guantanamo. Entre as centenas de prisioneiros sem direito a advogado, sem prazo para serem acusados ou libertados, encontram-se adolescentes e crianças.

Lá em casa, a sala e as estantes têm uma palavra a dizer

«Fundador da Ikea ultrapassa Bill Gates como homem mais rico do mundo». [in Agência Financeira]

A Paixão, quadros actuais (II)


400 trabalhadores da Bombardier vão ser despedidos. Desemprego pode chegar aos dez por cento.

5.4.04

À liberdade, que é sempre pouca

Aí está Abril. Noutros anos, por altura do 25, o meu atendedor no telemóvel passava a transmitir do posto de comando do movimento das Forças Armadas. Era a revolução a irromper por onde menos se esperava. Como este ano, o telemóvel aderiu à colectivização, vejo-me obrigado a fazer Abril noutro lado. Aqui, mas também num novo blogue que retoma exactamente aquelas palavras mágicas: «Aqui, posto de comando do movimento das Forças Armadas». Abril saiu à rua num dia assim.

São vários os blogues que estão na origem deste movimento. A história pode ser lida aqui.

Os portugueses merecem perder horas enfiados nos carros em filas intermináveis

«Taxistas e motoristas de autocarros são unânimes em considerar que nada mudou com a chegada da linha amarela do metro a Odivelas. O trânsito às horas de ponta, dizem, habituados que estão a percorrer diariamente o percurso entre Odivelas e Lisboa, "está normal".
[...] os principais utilizadores da extensão da linha amarela são utentes que antes recorriam ao autocarro para chegar ao Campo Grande, onde mudavam para o metro. "Nota-se pelo facto de os parques estarem a meio gás", explica [um funcionário, referindo-se aos parques de estacionamento criados junto às estações de metropolitano do Senhor Roubado e de Odivelas.
» [in Público]

A Paixão, quadros actuais (I)


Oscar Espinosa Chepe, preso político em Cuba

«A» semana que antecipa a Páscoa

Está ali o início da semana santa. O domingo de Ramos festivo, colorido, de origem maia, por contraponto a uma imagem sofrida que muitas vezes nas nossas ruas por estes dias, com o Senhor dos Passos, carregado de cores pesadas e madeiro inclemente, ou as cruzes que batemos e rogamos no peito. Mas esta Páscoa que aí se anuncia não nos pode fazer esquecer alguns sinais preocupantes nos nossos dias e trabalhos... Vamos trazê-los aqui, durante a semana.

A mentira como coisa pública

Depois do «eu vi as provas» do nosso primeiro-ministro, dos «quatro mortos» do ministro da Saúde e do país que não estava a arder assim tanto do ministro Lopes, hoje destacam-se outras duas notícias que se inscrevem no exercício da política pela mentira (e peso as palavras):
«Hospitais SA tiraram despesas das contas»: os custos dos medicamentos não foram contabilizados por ordem do ministro Luís Filipe Pereira. Se fossem contabilizados aqueles encargos os custos operacionais dos "SA" subiriam até aos 6,2 por cento, um valor acima daqueles apresentados pelos hospitais públicos.
«Governo já previa em Janeiro fecho da Bombardier»: quando Durão Barroso e Carmona Rodrigues apresentaram ao país o impacte da alta velocidade na economia portuguesa, em 18 de Janeiro, «já não estavam a considerar a antiga Sorefame nesses cálculos».

4.4.04

3.4.04

Pequenos jornalistas

Os juízes da Relação conhecem bem o povo português. Ou pelo menos os jornalistas deste cantinho. Segundo a RTP, o embaixador Jorge Ritto não saiu da sua casa em Cascais, «toda a manhã». Escusam os jornalistas de se indignarem por os senhores juízes lhes pedirem que façam de polícias - a sua prática confirma-o. A tenda está montada...

Pequenos cartazes

Já muito se comentou e (até) ridicularizou o cartaz da festa do Bloco - com uma criança de olhos fechados e punho fechado. O pior é outro pequeno cartaz que tem sido colado por cima dessa "criança": «Tive sorte. Não fui abortado», lê-se em pequenas folhas em alguns dos "outdoors" do Bloco. A frase tem uma origem óbvia - alguém pró-vida - e recupera uma intervenção tonta e demagógica do tempo do referendo passado, quando um bispo se perguntou o que seria de nós se a «Virgem Maria» tivesse abortado. Já na altura repliquei que não se devia entrar por aí, que era o debate que não se podia ter (dizia eu que o argumento podia ser utilizado ao contrário, no mesmo tom demagógico: no caso do Hitler tinha dado jeito...). Passo.

Pequeno fascista, digo eu

Alberto João Jardim não aplaudiu o 25 de Abril, quando o autarca Fernando Ruas pediu esse aplauso num evento da Associação de Municípios, no Funchal. Alberto João, o inimputável, não aplaudiu a Revolução que lhe permite estar no poder e dizer os dislates que diz (quase) todos os dias.

Por uma noite fomos homens-máquinas

2.4.04

Para que servem os amigos?

O meu Pai enganou-me. Desde sempre me ensinou que se um amigo nosso faz uma asneira, diz um disparate ou se mete em trabalhos, devemos estar lá para lhe dar a mão, ajudá-lo, mas criticando-o, chamando-o à razão, o que for preciso. Afinal, enganou-me. Ontem à tarde, em mais um debate sobre o terrorismo, o deputado popular Diogo Feyo defendeu que tínhamos de estar sempre ao lado dos nossos aliados, sem perguntar, sem criticar, dizendo ámen a tudo. Toma, pensei. Tantos anos a pensar que o meu Pai tinha razão para vir um senhor na Assembleia dizer-me como é...

1.4.04

Divas, ninfetas e bloguistas

Já aqui falámos de Scarlett nuínha comm'il faut, ou talvez não, em sondagem que se prolongou por muitos outros blogues (a melhor leitura da matéria acabou por ser feita por uma mulher, claro, e mereceu uma releitura dos Dez Mandamentos), e já aqui fomos ao tapete, nomeando as nossas vencedoras dos Óscares. Com este furor scarlettiano, houve quem aproveitasse para logo defender outras damas. Apesar da Cibertúlia ser (quase) um blogue colectivo ainda não nos metemos em guerra como nos amigos da Quinta Coluna... Ali grassa uma violenta campanha contra e a favor de Nicole Kidman. Não há motivos para tanto, amigos... Há lugar para todas.

Ensaio sobre a lucidez

Comecei a ler o livro de Saramago, ontem ao fim da tarde, deambulando pela cidade. Parei à sombra da estátua do dr. Sousa Martins. Junto a ela, junto a mim, os mil e um devotos do santo-médico-ateu deixaram placas agradecendo a intercessão daquele homem na sua vida. «Obrigado pela cura do meu filho».

Um grande dia

O Presidente americano, George W. Bush, vai reconhecer hoje que mentiu na questão das armas de destruição maciça. Bush dirá ainda que se enganou no anúncio do fim da guerra e que devia ter ouvido a ONU antes da invasão.