«Duas notas, opostas, sobre a cobertura da RTP da cerimónia no Parlamento, evocativa dos 30 anos do 25 de Abril de 1974.
1 - Uma imagem ausente. Durante todo o discurso do Presidente da República, não se viu nunca - nunca - quem aplaudia. As imagens mostravam-nos sucessivamente Jorge Sampaio, a bancada do Governo, os convidados dos países lusófonos, os militares que fizeram a Revolução, até a esposa do Presidente. Nunca, mas nunca, quem aplaudia o quê, ao sabor do discurso de Sampaio. De tal maneira que, a meio, decidi desligar o som televisivo e ligar o rádio, sem grande sorte. A manipulação (má realização? ingenuidade? opção ideológica? falta de câmaras suficientes?) também se faz escondendo informação.
2 - Um gesto presente. Quase no final da comunicação do Presidente da República, a câmara está centrada, de novo, na bancada do Governo. O primeiro-ministro está a trocar olhares com alguém do grupo parlamentar do PSD, percebe-se. No instante seguinte, volta-se para o ministro Marques Mendes e segreda qualquer coisa. Este vira-se também para alguém da bancada do partido maioritário e acena. Depois, faz um gesto, levantando e baixando a mão. Leitura imediata: no final do discurso, os deputados do PSD devem levantar-se. Faltava o cartaz que se usava nos concursos. Há imagens que valem por mil discursos e a política também se faz com pequenos gestos.»
António Marujo, in Público