20.6.04

Quem pinta a bandeira

Ó menina vai ver nesse almanaque
Como é que tudo isso começou
Diz quem é que marcava o tic-tac
que a ampulheta do tempo disparou
Se mamava de sabe lá que a teta
O primeiro bezerro que berrou me diz, me diz
Me responde por favor
Prá onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Quem penava no sol a vida inteira
Como é que a moleira não rachou me diz, me diz
Quem tapava esse sol com a peneira
E foi que a peneira esfuracou
Me diz, me diz, me diz por favor
Quem pintou a bandeira brasileira
Que tinha tanto lápis de cor me diz, me diz
Me responde por favor
Prá onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Diz quem foi que fez o primeiro teto
Que o projeto não desmoronou
Quem foi esse pedreiro esse arquiteto
E o valente primeiro morador, me diz, me diz
Me diz um morador
Diz quem foi o inventor do analfabeto
E ensinou o alfabeto ao professor me diz, me diz
Me responde por favor
Prá onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Quem é que sabe o signo do capeta
E o ascendente de Deus Nosso Senhor
Nosso Senhor
Quem não fez a patente da espoleta
Explodir na gaveta do inventor me diz, me diz
Me diz por favor
Quem tava no volante do planeta
Que o meu continente capotou
Me responde por favor
Prá onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Vê se vê no almanaque, essa menina
Como é que termina um grande amor
Me diz, me diz
Se adianta tomar uma aspirina
Ou se bate na quina aquela dor
Me diz, me diz
Me diz daquela dor
Se é chover o ano inteiro chuva fina
Ou se é como cair do elevador
Me responde por favor
Prá que que tudo começou
Quando tudo acabar


Chico Buarque, «Almanaque». Chico fez 60 anos. Nós cantamos com ele e sonhamos para logo à noite.



A blogosfera rejubila: percorram a coluna de links para os blogues e descubram os mil e um jeitos de festejar o sexagésimo aniversário de Chico. Façam o favor de espreitar a Praia, a Glória Fácil, o Barnabé, o Blogue de Esquerda (onde começaram as comemorações), o Aviz, as Terras do Nunca, o Adufe, o País Relativo, o Enchamos Tudo de Futuros, e outros que ainda não li...