5.6.08

Nova casa


Ao fim de cinco anos, mudamos de casa.
Agora estamos no Sapo.

(a imagem é roubada ao Daniel)




actualize o seu link:
http://cibertulia.blogs.sapo.pt/

Working in progress

4.6.08

Notas deste dia

Barack Obama made history. Palavras para quê?

FC Porto perdeu na UEFA por culpa própria. Se era inocente devia ter recorrido. Não recorreu, abriu a porta ao castigo.

Há um Verão tímido a chegar.

Ainda faltam não sei quantos dias para acabar o Euro.

Cinco

Estava longe de imaginar quando aqui cheguei há cinco anos. Éramos alguns, depois fomos ficando cada vez menos e menos - acabei eu. Mas, no fundo, este blogue continua a ser o dos amigos, da família, das coisas que gostamos, dos bons momentos que partilhamos. Estava longe de perceber que, pelo menos, umas 200 pessoas chegam aqui diariamente para ler ou ver ou ouvir as coisas que me passam pela cabeça, os olhares que lanço ao passear na cidade. É esta a minha janela - a Cidade. Que se faz de cores, alegrias. E dos olhares de tantos blogues, causas, lutas, amig@s nascid@s assim. Ou tristezas. O Olímpio, o Berto, o Nuno, o Avô - estava longe de chorar a sua ausência, mas que fiz, faço presente. Ou de me ter visto no desemprego. Não me imaginava a lutar contra a injustiça que só via longe-lá-longe às portas das fábricas do vale do Ave (os jornalistas que não calam as injustiças dos outros, sofrem tantas vezes as suas em silêncio). Aqui chegado, sublinho o facto: cinco anos. Não sei como serão novos cinco, se daqui a cinco estarei a escrever isto, ou nada. Se ainda aí estiverem, obrigado. Até já. Para mais uns tempos, os tempos que forem.


[actualizado: O Daniel destaca a Cibertúlia hoje, como blogue da semana. Um reconhecido muito obrigado.]

Bowling for Darfur

«Os assassínios entre tribos eram resolvidos por meio de uma escala variável de indemnizações de sangue - cem camelos por um homem, cinquenta por uma mulher.
Uma máquina com quatro quilos e meio de peso, composta por onze peças desmontáveis, acabou com estas tradições ancestrais.
A vaga de carabinas Kalashnikov a baixo preço que invadiu Darfur fez diminuir o valor da responsabilidade individual na guerra. Minou o poder das autoridades tribais. Os jovens que outrora entoavam cânticos às suas vacas favoritas, agora dedicam serenatas às suas armas: "A Kalash dá cash, sem Kalash é-se trash".»
[Paul Salopek, NGM, Maio, 2008]

Este breve excerto de uma reportagem no Sael, de um jornalista que acabou preso e maltratado às mãos de combatentes pró-Cartum, é uma pequena mostra da imensa hipocrisia em que se mete a chamada comunidade internacional. O Darfur, o Chade, a Tchetchénia, o Médio Oriente, a Cova da Moura ou a Bela Vista, seriam locais mais felizes sem kalashes. Os países ocidentais e a Rússia e a China fingem-se preocupados com os conflitos que estalam aqui e ali, estendem as mãos para a ajuda humanitária, mas com uma mão tiram o que a outra dá: mantêm uma indústria cada vez mais lucrativa de armamento que, em tempo de pax romana, só pode viver destas guerras pequenas, fratricidas.

Como Portugal se sobressalta de quando em vez com carjackings e crimes na noite, enquanto o Governo promove campanhas de recolha de armas ilegais (dois anos depois da aprovação da Lei nº 5/2006, de 23 de Fevereiro, que não penalizava os detentores de armas não licenciadas e que pretendessem regularizar a sua situação ou entregá-las), mantém uma forte aposta nas suas empresas de armas. A hipocrisia é deliciosa. A crise humanitária a que a dita comunidade internacional vai acorrendo resolvia-se com a proibição de armas e o não fabrico das mesmas. É claro que é mais fácil – e uma boa maneira de começar – atacar as minas antipessoais. Dá uma boa foto com uma princesa do povo. Mas falta também atacar aquelas que são as armas que fazem diminuir o valor das vidas humanas nas terras áridas do Darfur, nas ruas de Gaza, nos musseques de Luanda ou nos becos da Cova da Moura. Chamem-me ingénuo. Quero acreditar que se pode mudar um bocadinho este mundo.

[texto originalmente publicado como convidado no Corta-Fitas; retomo-o no 5.º aniversário da Cibertúlia.]

3.6.08

Western

[no mail]

Não há

Em Portugal não há cartéis, nem monopólios, não há concertação, nem oligopólios. Nada de nada. Também não há justiça, saúde, paz, pão e educação. Que é dia é hoje, ahn?

Peso

Amanhã a Cibertúlia faz cinco anos.

2.6.08

Bowling for Darfur

O Pedro Correia, do Corta-Fitas, convidou-me simpaticamente a escrever algo para o blogue. Está lá, para vosso juízo.

Hipocrisia

O Metro fez uma campanha solidária. Gosto tanto de ver como eles são tão solidários.

O ópio

Crise, qual crise, gritam cronistas, vendo as multidões no Rock in Rio. E sentenciam: quem paga 53 euros para isto não se pode lamentar. Mas quem se lamenta, não vai - nem nunca deve ter ido - à Bela Vista.

Trabalhos

O homem da agência de publicidade colocava um imenso outdoor da Calzedonia.

[clicar para aumentar]

1.6.08

Relato

Vem Nuno Gomes, passa o autocarro, agora João Moutinho que dá assinaturas, algumas centenas de pessoas, uma forma de apoiarem, dizer-lhes que estão com a Selecção, Quaresma já está preparado, vem também Hélder Postiga, trocam palavras...

[excertos curtos de uma longa transmissão em directo da saída do hotel para o autocarro da selecção - na RTP, na TVI, na SIC, na SIC-N... Com helicópteros, carros de exteriores, vários repórtes... Haja paciência!]

31.5.08

Acaba-se a choraminguice mas ele promete andar por aí

Voltou a febre

Terrorismo

Uma mala é despachada no check-in. Uma semana depois ninguém sabe onde pára. Se saiu do aeroporto de embarque, se ficou no de escala, se se perdeu à chegada, ou se foi embarcada por engano para outro destino exótico. Felizmente os livros embarcados não são manuais de como bem fazer umas sapatilhas artilhadas e a roupa não esconde instruções de como atingir alvos. A segurança nos aeroportos é fogo-fátuo.

30.5.08

Blogoquê

Os blogues viram nascer os Gatos Fedorentos, alguns dos opinadores mais interessantes que hoje escrevem nos jornais (à direita e à esquerda), gente que escreve muito bem, fotógrafos espantosos, cidadania a rodos. Perante tudo isto, ontem à noite, a SIC fez um debate velho, com gente que não percebe nada disto (Rodrigo Guedes Carvalho, mal preparado; Moita Flores que tem ideias sobre tudo; Rogério Alves que tem direito sobre tudo; e José Gameiro que foi o único a tentar pôr algum travão à coisa): do perigo do anonimato da blogosfera, com fantasmas de pedofilias e crimes à mistura. Com Pacheco Pereira a fazer o discurso de sempre (a blogosfera sou eu, era o seu desejo). Nada de novo, mas sem qualquer fundamento, sem qualquer dado. O exemplo clássico do plágio de Sousa Tavares e a licenciatura de Sócrates (este é aplaudido por PP, curiosamente), são recorrentes - e pouco para cinco anos* de blogues. Mas enfim. A ignorância faz caminho.

[e mais aqui, com uma autoridade ainda maior...]

* - os blogues têm mais tempo; mas foi há cinco anos que o fenómeno deu um salto...

Aviso

29.5.08

Futebol romântico

Vamos levar o Gabriel Alves ao Euro!

Intoxicate me now


Yael Naim, Toxic

Palavras

"Modo de operação: nunca explicar, não pedir desculpa, nunca recuar". O ex-porta-voz da Casa Branca explica assim de forma eloquente a "sofisticada máquina de propaganda" montada pela Administração Bush sobre a guerra do Iraque. Para isto, os meus pais sempre me ensinaram outra palavra: mentira. E mentir é feio.


[dedicado a todos os que defenderam a guerra com estes pressupostos e hoje assobiam para o ar, como se nada fosse...]

Peixeirada

O peixe não vai faltar, garante o ministro. Pois não: vai sobrar nas peixarias.

Chuva (céu de chumbo)


Veneza, Maio/08 (foto MM)

Chuva

Os combustíveis subiram hoje mais uma vez. Os telejornais encheram minutos e minutos de irrelevância sobre (dizem eles) futebol. Há neste desequilíbrio de notícias qualquer coisa que escapa. Lá fora, a cidade é fustigada pela chuva.

28.5.08

Expliquem-nos lá, tudinho!

1. Há uns senhores que, por estes dias, finalmente dão a cara – e mostram contas. São os patrões das petrolíferas, que se desdobram a explicar-nos que a culpa do aumento dos preços não é deles. Eles produzem e têm campos de extracção, mas a culpa não é deles. Deve ser do lobo mau.

2. A Galp anunciou-nos há pouco tempo que tinha sido descoberta uma jazida no Brasil, onde a petrolífera tem uma quota-parte. Parecia que vinha aí um maná: Portugal com petróleo devia baixar os preços. Depois veio o lobo mau...

3. O secretário-geral da Associação das Petrolíferas diz-nos que não há cartelização de preços, que eles não fazem arranjinhos. A culpa, diz-nos, é da margem mínima de comercialização. E admite que é “difícil explicar às pessoas que, não havendo concentração, os preços sejam iguais”. Pois, pois. Mas sabemos que eles, proprietários e produtores, têm lucros milionários. A Galp desculpa-se: os lucros diminuíram nos combustíveis, dispararam no gás natural (isto dava outro debate), mas a verdade é que a empresa continua a ter lucros fabulosos. E por estes dias fazem anúncios milionários à bola. E se os deixássemos fora de jogo?!

(crónica hoje no 24Horas)

Leituras deste mundo

Dois bons amigos fizeram-me chegar esta tremenda lição do cardeal Carlo Martini.
1. no El País: «"Ha habido una época en la que he soñado con una Iglesia en la pobreza y en la humildad, que no depende de las potencias de este mundo. Una Iglesia que da espacio a las personas que piensan más allá. Una Iglesia que transmite valor, en especial a quien se siente pequeño o pecador. Una Iglesia joven. Hoy ya no tengo esos sueños. Después de los 75 años he decidido rogar por la Iglesia".»
2. no Le Monde: «Le premier défi reste pourtant "le conflit de civilisations". Chrétiens et musulmans ont le "devoir" de se comprendre, insiste-t-il. Cela passe par la suppression des stéréotypes faisant de l'autre un "ennemi", par une meilleure connaissance des différences et des actions communes au service de la justice.»


Veneza, Maio/08 (foto MM)

Realidade-imaginário

- Sire, já te falei de todas as cidades que conheço.
- Falta uma de que nunca falas.
Marco Polo baixou a cabeça.
- Veneza - disse o Kan.
Marco sorriu. - E de qual julgavas que eu te falava?
O imperador nem pestanejou. - Mas nunca te ouvi dizer o seu nome.
E Polo: - Sempre que descrevo uma cidade digo qualquer coisa de Veneza.

Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, pág. 90, Ed. Teorema, 1990

Imaginário


Veneza, Maio/08 (foto MM)

27.5.08

Realidade

Vistas daqui de cima, do 5º andar, as barraquinhas dão a resposta colorida aos jacarandás do Parque Eduardo VII. Está aí a feira do Livro. Acho que tenho de ficar em abstinência.

Imaginário


Veneza, Maio/08 (foto MM)

Realidade

Na Itália de Berlusconi, il capo tem três canais seus onde fala muito e de tudo, e mais três públicos, onde a oposição fala em off e il divo tem direito a fazer-se ouvir. A RTP é um canal polifónico, uma orquestra, ao pé da voz única italiana. Mas a nossa direita que grita com a televisão pública, encanta-se com os sorrisos esmaltados do caimão.

Imaginário


Veneza, Maio/08 (foto MM)

26.5.08

Realidade

Leio ainda no jornal que Manuela Ferreira Leite defendeu que "os que mais podem devem passar a pagar" pelos cuidados de saúde, de forma a que "os que menos podem possam ter" um SNS gratuito. Pois, pois: não conhecêssemos nós a história do Pedro e do lobo e não nos lembrássemos nós de uma ex-ministra da Educação que defendeu que uns mais ricos deviam pagar propinas para que os mais pobres tivessem um ensino superior gratuito, e não estaríamos agora a rir com mais esta ideia peregrina e velha. Não podemos reciclar este liberalismo de pacotilha?

Imaginário


Veneza, Maio/08 (foto MM)

Realidade

Da leitura apressada do jornal de hoje reparo que se prepara uma lei que "visa criar um fundo (trust) cujo efeito prático poderá resultar em que grandes fortunas fiquem a salvo de credores privados, bem como do fisco ou Segurança Social". Crise? Qual crise? Os pobres pagam-na, descansem.

Imaginário


Veneza, Maio/08 (foto MM)

Realidade

De pouco nos serve o tumble dry low, quando a TAP nos perde a mala.

25.5.08

Imaginário


Veneza, Maio/08 (foto MM)

Realidade

A TAP combate a crise petrolífera com umas sandes quentes mal-amanhadas de carne e queijo, a que chama jantar, e uma salada de frutas, nome pomposo para um pedaço de laranja, mais um de melão e outro de maçã.

24.5.08

Veneza

Há uma cidade que não existe, mas descobre-se em cada momento mágico - o imaginário existe. As palavras ainda não se encontraram. Voltaremos.

16.5.08

Nos próximos dias, seguir os passos de Corto...
Voltamos já.




[perdoe-se o acompanhamento musical]

15.5.08

[partir]

A cruz deles


Trabalhadores birmaneses reparam uma linha de electricidade nos arredores de Rangum. As Nações Unidas alertaram para a aproximação de novas tempestades. (AP Photo)

Cromos a sério

Cá em casa mora a indecisão. Fazer ou não os 500 e muitos cromos?! A caderneta está ali à espreita.


Sim, Ana, nós ainda temos isto... dos cromos!

Cromos

«Um grupo de deputados sorridentes, - na imagem estava um grupo do PS, mas deve haver dos outros partidos, - fez um beija-mão no parlamento ao Presidente do Futebol Clube do Porto, uns dias depois deste ser condenado por um tribunal desportivo e vindo quase directamente de um outro tribunal onde é acusado de um conjunto de crimes. Não admira que estivesse bem disposto, rei e senhor que é destes deputados que não têm vergonha nenhuma.» [Pacheco cheio de razão]

14.5.08

Em suspenso

Já há jacarandás floridos e barraquinhas - as de sempre, que a APEL não gosta do livro nem da feira, e por isso prefere expositores que não ajudam a expor. Agora não se sabe se há feira. Ter ali pavilhões diferentes chateia a APEL. Mas a APEL ainda não percebeu que os leitores gostam da feira com todos, seja nas barraquinhas ou com pavilhões modernaços.

Não fumarás

Velha lição de moral: não imporás aos outros o que não fazes, sobretudo em público.

Jovens

«[...] será que «no seu tempo» o jovem Aníbal António se interessava pela política? Se sim, folgo muito, pois não fazia a menor ideia de que tal pudesse ter ocorrido.» [Rui Bebiano]

Um ano

um ano deixava o desemprego, recomeçava a trabalhar. Um ano depois continuo convencido da iniquidade da legislação sobre o desemprego, em que o desempregado é tratado como o perigoso skinhead, que tem em casa armas ilegais e propaga o ódio: têm as mesmas apresentações periódicas, só muda o local. Mas isto não parece preocupar sindicatos, partidos, nem o bastonário da Ordem dos Advogados.

13.5.08

Muros

Falta de prática

«O casamento estável entre um homem e uma mulher é um dos "princípios não negociáveis" para uma "correcta convivência civil e cristã", defendeu hoje o cardeal Saraiva Martins no Santuário de Fátima.» [Lusa]

Há uma defesa tão intransigente de um sacramento que data da Idade Média que isto acaba por afastar. Cuidasse o cardeal Saraiva das famílias, como cuida dos seus santos, e isto era um mar de beatificações. Só que a família de todos os dias é coisa mais difícil de viver e construir, mas isto é coisa que muitos cardeais, bispos e padres desconhecem por falta de prática.

Rufar de tambores

Lembram-se dos Galarzas?! A banda mais espectacular da blogosfera nos seus idos de Março, acaba de se revelar sentada ao sofá.

12.5.08

Criminosos

O Jornal de Angola (leia-se: o Pravda angolano, bem soviético no estilo e calúnia) comenta e critica jornalistas portugueses invocando a liberdade de imprensa, o que não deixa de ser um paradoxo vindo da voz do papagaio que é este pasquim (que não compreende que os patrões não metem o bedelho nos assuntos editoriais). Ali todos os que ousam dizer um ai sobre Angola são logo corridos a insultos, de José Eduardo Agualusa a Bob Geldof. Chamar criminosos à clique de mafiosos que desgoverna o país, como fez Geldof, é pouco. A liberdade das coisas simples, como criticar quem compra mercedes-topo-de-gama enquanto o povo morre de fome, custa a aprender. A democracia nunca foi coisa que se ensine assim. Vive-se e pratica-se. O editorialista do jornal nunca o entenderá.

Obrigado Rui

[foto Manuel de Almeida/Lusa]

Censura

José Sócrates terá dito que havia motivos para censurar o seu Governo. Há muitos, já o escrevemos aqui. Mas o instrumento da moção de censura deve ser usado com parcimónia. Foi por causa de uma coisa dessas que gramámos com o Cavaco Silva por dez anos - e agora, claro. Maior motivo de censura merece no entanto este meu Benfica do 4º lugar. Por deixar que, para o ano, Portugal seja despachado da Champions depressa e bem.

[reparo agora que me falta o Hector Zazou]

10.5.08

[A mais bela dança]

Dias na cidade

Quando a morte nos atropela, a cidade fica em suspenso. Lá fora, os carros seguem velozes, indiferentes. Cá dentro mora a incredulidade. De um tempo que é de vida.

7.5.08

Lavrador

O novo bispo auxiliar do Porto tem no seu currículo «a reactivação do Centro Académico de Democracia Cristã (CADC)», do qual foi assistente eclesiástico. Should I say more?

Igreja velada

Prepara-se a nomeação de um novo bispo auxiliar para o Porto. O nome é péssimo, não augura nada de bom, e só faz pensar em como a Igreja insiste dar tiros nos pés. Ámen.

[a notícia]

Liberdade de BESpressão

O BES não gostou de ouvir Bob Geldof, o seu convidado, dizer que Angola é gerida por criminosos. Se calhar, porque o BES terá negócios com esses criminosos. Que é o que o Governo de Luanda é. Mas já temos um padrão: o BES gosta de negócios estranhos, como em Benavente, e detesta a liberdade de expressão, como quando retirou os anúncios do Expresso.

[actualizado: «O BES, vertente financeira do Grupo Espírito Santo, está presente em Angola através do BESA, que conta com 20 por cento de capital angolano. Entre os accionistas locais está a filha do presidente, Isabel dos Santos.» - lido no Público de hoje.]

Lembrar de novo (ilustrado)


Porque não há fotos de mortos de um ciclone que matou mais de 22 mil?

6.5.08

Lembrar de novo

Portugueses com fome

Há quem não queira ver, prefira olhar para o lado, assobiar. Há portugueses com fome. Podemos desconfiar das estatísticas, dos alertas que nos chegam, mas quem está no terreno, e sabe melhor, diz-nos que há mais gente, mais portugueses com fome. Só isto devia fazer-nos parar para pensar – e agir. Só isto devia acautelar o discurso sempre confiante, optimista, de amanhãs que nunca derrapam do Governo.

A mim pouco me importa que o défice baixe duas décimas, que o desemprego caia zero-vírgula-qualquer-coisa por cento. Enquanto houver um português que seja a passar fome (e a morrer de fome, saberemos quantos são?), o Governo não devia sorrir, muito menos assobiar para o lado ou reclamar que assim é que continuamos bem.

Não continuamos nada bem. Anos e anos de combate ao défice, de sacrifícios para lutar contra este papão não nos melhoraram a vida, nem a carteira. Agora, a fome! – sim, há portugueses que não têm dinheiro para o pão. E as mais de mil toneladas recolhidas pelo Banco Alimentar não nos deviam satisfazer. O bom era, ano após ano, ser cada vez mais pequena a necessidade de uma organização assim.

[a minha crónica hoje no 24 Horas]

Falar de tanque cheio

Os preços dos combustíveis atingiram um novo recorde nos EUA (nada que se compare ao que pagamos cá, mas que faz muita mossa num país onde os carros são quase todos XL-glutões). Bush naquele seu jeito idiota com que fala das coisas graves, não pediu outras soluções de transportes ou combustíveis. Preferiu pedir cortes permanentes dos impostos e um aumento da produção de... petróleo.

5.5.08

Falar com a boca cheia

«O capitalismo sem falência é como o cristianismo sem inferno», comentou Warren Buffett. Mas o inferno, devia saber o suposto homem mais rico do mundo, não existe. Existe o mal. Como a riqueza obscena de tão poucos buffetts para a pobreza de tantos.

Menezes tinha prometido ficar em silêncio no próximo ano e meio. Mas, sabíamos, era uma questão de dias

"Às críticas de Rui Rio feitas nos últimos dias, Luís Filipe Menezes responde com declarações sobre o carácter do autarca do Porto. A entrevista de domingo ao JN terá sido a gota de água que levou o ainda líder do PSD a quebrar o silêncio: Foi «um acto espúrio de má educação e mau carácter de Rui Rio. Se não fosse por isso, não faria qualquer comentário»." [in PD]
Teremos, certamente, muitas outras gotas de água.

4.5.08

No sorriso louco das mães

No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e orgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo.
São silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos. Porque
os filhos são como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudez de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado
por dentro do amor.

Herberto Helder

O largo sorriso

A Rita traz-nos sempre um largo sorriso nos olhos. Ontem maior ainda, no baptismo.

2.5.08

Samba de várias notas

Policiais da 17ª DP (São Cristóvão) descobriram que Francisco do Pagode não abandonou o apelido de Tuchinha, ganho nos anos 80 quando chefiou pela primeira vez o tráfico de drogas no morro. [dica do Hugo]

Ineficiências

Dizem-nos hoje que os programas para desempregados são quase ineficazes. Não fui, quando estive nessa condição, abrangido por nenhum deles, mas sobre a eficácia do IEFP e seus centros de emprego fiquei muito habilitado. Quando se fala de apoios destes, vejamos na prática o que eles fazem por quem está aflito: chamam-nos para uma entrevista, onde sem privacidade (não imaginam as histórias canalhas ou miseráveis que ouvi enquanto eu era atendido) debitamos habilitações e competências para um formulário que os ajudará a chamar-nos para entrevistas. Nunca fui chamado. Deram-me uma pastinha muito gira, cheia de folhinhas, para arquivar o CV e cartas e e-mails e papéis que utilizasse durante o processo... Ganhei mais um arquivo. E teria de me humilhar, sob termo de identidade e residência, a comunicar saídas da cidade. Nunca comuniquei, não sou criminoso. Posto isto. O que o Banco de Portugal descobriu não é novidade. O desempregado desenrasca-se sozinho ou... lixa-se.

Ir à luta


Balla, O fim da luta

1.5.08

Primeiro de Maio

Os bombos e as palavras de ordem já desceram a Avenida. A luta continua algures nos comícios, ao longe na cidade. Aqui trabalha-se. Há contentamento pois, ao fim de um ano. Mas a luta continua.

Peço desculpa, mas insisto


Scarlett Johansson, Falling Down
[do novo álbum, a editar este mês]


e os seus antecedentes, adequadamente ilustrados:


Scarlett Johansson, Summertime (com imagens de Lost in Translation)

30.4.08

Abril de fecho

Há um discurso que por esta época faz caminho. Que teria sido melhor continuar com Marcelo, sem sobressaltos, que a seu tempo a democracia seria nossa. A direitalha que vibra com a ideia, invoca crescimentos económicos, esquecendo que - só com a democracia de Abril - o país deu de facto o salto, económico, social e cultural. Estes saudosos marcelistas-estadonovistas são os mesmos que depois batem forte e feio na Cuba de Castro, mesmo com as medidas de abertura de Raul Castro. Eu, por mim, quero mesmo o fim da ditadura castrista (versão Fidel ou Raul). Com rupturas, sem marcelices.

29.4.08

O estudo que Cavaco (tres)leu

Apenas um rápido apanhado das principais conclusões do famoso estudo citado pelo Presidente:

«os índices de participação social dos jovens são mais elevados do que os da restante população, facto que não se deve exclusivamente à pertença a associações estudantis ou a grupos desportivos»;

«os jovens seguem este padrão, mas com uma nuance importante: em geral – e mais uma vez exceptuando o voto – tendem a ser menos cépticos do que os mais velhos em relação à eficácia de todas as formas de participação política, convencionais ou não»;

«entre os mais jovens (15-17 anos) e os jovens adultos (18-29 anos), essa insatisfação [com o funcionamento da democracia] é algo menos pronunciada do que entre os mais velhos, assim como tendem a existir entre eles atitudes mais favoráveis (especialmente entre os mais jovens de todos) a reformas incrementais e limitadas na sociedade portuguesa»;

«os níveis de disponibilidade para a participação e de participação real dos mais jovens podem ser vistos como sendo comparativamente elevados tendo em conta a sua posição no ciclo de vida».

É de mim, ou o senhor Presidente forçou a nota, acompanhado pelo coro das velhas?!

Os dias a seguir. Abril ainda - e sempre

«A ansiedade pela certeza de que o 25 só seria uma vitória se aquelas portas se abrissem. As notícias que iam chegando e que nem sempre eram boas.

Abriram-se, tarde na noite.

A imagem aqui ao lado entrou-nos pela casa dentro dezenas, centenas de vezes. Em tempos, tirei-a eu do filme «Caminhos da Liberdade». Gosto dela assim.» [Joana Lopes, Entre as brumas da memória]


[e como gosto de ter uma Madrinha assim...]

Força, companheiro Vasco

«No filme A Vida de Brian, dos Monthy Python, uma das personagens mais estúpidas pergunta “mas afinal, que fizeram os romanos por nós?”. Alguém sugere: “o aqueduto”, “os esgotos”, “as escolas”, “as estradas”, e por aí adiante. O primeiro vai ficando irritado até que finalmente se vê forçado a responder: está certo, mas tirando os aquedutos, os esgotos, as escolas, as estradas, o direito, o comércio, e essas coisas todas — que fizeram os romanos por nós?

Na sua crónica de sábado sobre “O 25 de Abril”, Vasco Pulido Valente [VPV] garante-nos que “tirando as leis que instituíram a democracia, o PREC não deixou uma única reforma necessária e durável”. Com os termos definidos por VPV, em que 25 de Abril e PREC são tratados como intermutáveis, eis de novo a questão de A Vida de Brian: “mas afinal, que fez o 25 de Abril por nós?”.

Só que a resposta de VPV é mais divertida: “tirando as leis que instituíram a democracia”, nada. Por outras palavras: tirando eleições livres e justas, imprensa sem censura, extinção da polícia política, partidos políticos, fim da tortura e dos presos de opinião, liberdade de manifestação e associação, que fez o 25 de Abril por nós? Nada.

Alguém diz: então e a guerra? Eu não sei se o fim da guerra é uma “reforma”: para mim, é melhor do que isso. Ora, diz VPV, o “abandono de África não provocou nenhuma resistência interna, provando a artificialidade do imperialismo indígena”. Pois tirando o fim da guerra, que foram treze anos de “nenhuma resistência interna” mais a “artificialidade” de uns milhares de mortos, temos o quê? Nada.

***

E que reformas nos deixou o PREC? Três ao acaso: universalização das pensões de reforma, generalização das férias pagas e Serviço Nacional de Saúde. Mas não sei se cabem na definição de “necessárias” e “duráveis” de VPV. Terá sido a extraordinária diminuição da mortalidade infantil “durável”? Para os interessados, parece que sim. Terão sido necessárias as pensões adicionais? Para o milhão que passou a usufruir delas em poucos anos, sim. E as férias? Essas, como diz toda a gente, são muito necessárias mas pouco duráveis.

Recapitulemos: tirando os recém-nascidos que sobreviveram, os velhos que recebem pensões, os jovens que não foram à guerra e lotaram as universidades, os adultos que gozaram férias e o pessoal todo que viajou para o estrangeiro sem ser “a salto” e nem precisar de passaporte, que fez o 25 de Abril por nós? Nada.

Vasco Pulido Valente tem no entanto razão se pensarmos que em qualquer revolução há sempre coisas que já vinham de antes e outras que ocorrem depois, que a história é uma coisa atrás da outra, e que o resto é conversa. Um exemplo: a entrada na UE não é o 25 de Abril. Mas é muito duvidoso que chegássemos a uma coisa sem a outra. A não ser, é claro, para as mentes retroactivas da direita portuguesa, que ainda lamentam Marcelo Caetano porque nunca deixaram de acreditar que a única maneira de nos aproximarmos das democracias teria sido sempre dar mais tempo aos nossos regimes autoritários.

Em suma: tirando esse pormenor da democracia, tirando a descolonização e tirando o desenvolvimento, que fez o 25 de Abril por nós? Ridiculamente pouco, pelo menos se comparado com Vasco Pulido Valente, que só nos últimos meses já nos garantiu, para além desta pérola, que Menezes chegaria a primeiro-ministro e Mitt Romney seria o próximo presidente dos EUA.» [Rui Tavares, no Público de ontem]

28.4.08

Ignorantes, sem respeito, ai os jovens

“As crianças de agora amam os luxos; têm más maneiras, desprezo pela autoridade; mostram desrespeito pelos mais velhos e adoram tagarelar (…) devoram a comida nas mesas e tiranizam os seus professores.”

Quem foi que disse? Quem? Respostas aqui. Para cavacos aprenderem.

Credibilidade

«Foi ministra da Educação do Governo de Cavaco Silva, entre 1993 e 1995, altura de forte contestação por parte dos estudantes do Ensino Superior. Já com Durão Barroso no cargo de primeiro-ministro, entre 2002 e 2004, ocupou a pasta das Finanças.« (da Lusa)
Numa e noutra pasta Manuela Ferreira Leite falhou, mas hoje (dizem-nos) é credível. Estranha credibilidade que se ganha olhando para os restantes quatro candidatos.

25.4.08

Ignorância, 3

Também encomendei um estudo. Ontem, no autocarro 773, da Carris, seis miúdos desbobinavam o que é o 25 de Abril. "Acabou o salazarismo", juntou uma velhota. "Morra o Salazar", riu-se o miúdo saindo do autocarro. O meu estudo mostra que os jovens sabem o que foi o 25 de Abril. Pum!

Ignorância, 2

"Hoje, o 25 de Abril, é só um feriado para ir para a praia", lamentou-se Inês Serra Lopes, na SIC Notícias. Que bom que é assim! A democracia também se faz a ir para a praia. A liberdade também é isto.

Ignorância, 1

O Presidente está impressionado com a ignorância dos jovens mas quando primeiro-ministro deu fortes machadadas no associativismo juvenil nos anos 90. Preferia os jovens a agitar bandeirinhas.

Saímos à rua de cravo na mão



FMI, de José Mário Branco (via Arrastão), de que já tínhamos publicado o texto na íntegra

25 de Abril. Sempre

boomp3.com

José Mário Branco, Queixa das Almas Jovens Censuradas (Natália Correia) [via JMF]

22.4.08

Simples

As lojas do cidadão são uma excelente ideia. Em geral, rápidas e eficientes. Mas, na dos Restauradores, em Lisboa, o espaço acanhado instala a anarquia em qualquer serviço. E há dedos fáceis a apontar: o SEF que tem o funcionamento mais kafkiano à face da Terra. Não admira que muitos prefiram a ilegalidade a perder um emprego na obra ou na patroa por causa do atendimento destes senhores.

Verde

O Público assina a foto da capa de hoje como um anúncio publicitário. E deixa várias dicas nas suas cabecinhas, assinaladas como "pub", mas no mesmo estilo e corpo de letra de uma notícia. O Livro de Estilo proíbe-o. O P mudou mesmo.

[clicar na foto para aumentar; ver no canto inferior esquerdo]

21.4.08

Velhos nomes

Aguiar Branco, Passos Coelho, Patinha Antão, Menezes, Santana Lopes, Ferreira Leite, Rui Rio. Quem disse que o PSD se quer renovar?

Ordenamento

Os céus do Algarve já estão polvilhados de edifícios, mas as gruas acotovelam-se.

19.4.08

Uma imagem de Portugal

«Que Augusto Brázio é um fotógrafo fabuloso já o sabíamos. Diante da difícil prova que é fotografar um rosto ele sai quase sempre vencedor. E eu diria que é porque não o quer capturar. Mesmo próximos, os rostos mostrados por Brázio, mantêm a sua distância e reserva. Olham para nós, mas a partir do que lhes é próprio. Por isso, nunca são planos, nem banais. Porém, mesmo sabendo isso, a fotografia com que ele acaba de ganhar o prémio fotojornalismo de 2008, tirou-me, por momentos, a respiração. Sem perceber como, os olhos já estavam embaciados, e o tempo corria sem que eu tivesse coragem de passar à notícia seguinte.

A legenda da imagem diz: «O INEM presta assistência a uma mulher de 19 anos cujo terceiro filho acaba de nascer em casa. Lisboa, Fevereiro de 2007». «A mulher de 19 anos» é uma rapariga de um dos bairros pobres da capital, estendida numa maca de ambulância, a cabeça reclinada ao lado direito, presa a uma máscara de oxigénio, enquanto abraça com delicada firmeza o seu recém-nascido. Ela tem uma camisola ou um roupão rosa e o filho está (como o Outro Filho, de que reza a história) «envolto em panos», de cor azul.

Quem já contemplou uma «Madona con il Bambino», de Rafael, Boticelli ou de qualquer um dos grandes mestres já viu tudo o que aqui tem diante dos olhos. O mesmo grito impávido, um inenarrável desamparo, o mesmo abraço fragilíssimo e poderoso àquele que gerou. E a certeza de que nenhuma história é mais humana e mais sagrada do que esta. Mas, nem por isso, perante esta fotografia nos deixa de sobrevir uma vontade de chorar.

Portugal é um país estranho. As estatísticas dizem que o número de pobres não deixa de crescer, e o desnível económico entre os grupos sociais é um dos mais altos entre os países da Comunidade. As notícias sobre compensações e reformas milionárias chocam-nos cada vez mais remotamente. A euforia de um liberalismo arcaico, travestido de modernidade, aparece como receituário. E a inconsciência social ganha espaço como se fosse uma fatalidade. A imagem de Augusto Brázio vale por milhares de palavras.»

José Tolentino Mendonça

Editorial da Agência Ecclesia on-line

18.4.08

Casamentos (nova boda)

Eis como explicar ao inominável César das Neves (e a alguns bispos por atacado) que a certidão criada na Idade Média não faz dos homens e mulheres mais ou menos responsáveis no casamento. Ámen, Lutz.

Next Life' by Woody Allen

In my next life I want to live my life backwards. You Start out dead and get that out of the way. Then you wake up in an old people's home feeling better every day. You get kicked out for being too healthy, go collect your pension, and then when you start work, you get a gold watch and a party on your first day. You work for 40 years until you're young enough to enjoy your retirement. You party, drink alcohol, and are generally promiscuous, then you are ready for high school. You then go to primary school, you become a kid, you play. You have no responsibilities, you become a baby until you are born. And then you spend your last 9 months floating in luxurious spa like conditions with central heating and room service on tap, larger quarters every day and then Voila! You finish off as an orgasm! I rest my case.

[obrigado ao Z.]

Intempérie

Menezes contabilizou: desde o primeiro dia, a primeira hora, que lhe atiraram pedras. Mas o rapaz devia saber que quem atirou a primeira pedra foi ele - desde a primeira hora, o primeiro dia -, a Marques Mendes. E o pecador devia abster-se agora de o fazer.

Contabilidade

Cinco guarda-chuvas no chão, destruídos. Mais dois num caixote de lixo. Noite de intempérie.

17.4.08

Por uma vez, gostar da tropa

Nasceu a Teresa

Ontem, o Paulo e a Mónica tiveram de se apressar para a receber. Mas, no fim, correu tudo bem. Não se pode dizer que a miúda tenha mau timing: deu duas alegrias ao Pai.

A democracia explicada pelo sr. Silva

«No seu próximo mandato virei aqui dar conta da plantação que irei fazer com as sementes que levo daqui de Laurissilva», disse Cavaco Silva, sorridente, a Alberto João Jardim, ao que este replicou: «Mas vai haver outro mandato? Onde?». [in PD]

Mil vezes Zapatero


Os bispos italianos preferem a família à Berlusconi: um marido infiel, que gosta de apalpar mulheres, e deixá-las em casa. Mil vezes isto à família "desarticulada" de Zapatero, dizem eles. Mas, Senhor, porque não se calam estes bispos?!

[na foto, Zapatero e as mulheres - em maioria - do seu Governo]

Mais cabelo

«'IL CAVALIERE' VOLTA A MONTAR. Berlusconi, parte III. A Itália vai mal por causa da metade que se revê nele desde 1994 - e por causa da outra metade que quando lá está também faz maus governos. A Itália política são duas metades incompetentes que se diferenciam na maquilhagem: Berlusconi tem-na, exagerada; a esquerda não a põe, para dizer que existe. Com a volta de Berlusconi não faltará circo. Ou ele, com os dedos, põe cornos num colega europeu, em foto de cimeira, ou ele se vira publicamente para o eurocrata Javier Solana e lhe diz: "És alto-representante porquê, se tens a minha altura?" Com Il Cavaliere não falta o riso. Falta é a rima, o siso, como já se voltou a ver, agora, acabadinho de ser eleito. Berlusconi telefonou a Zapatero, admoestando o espanhol por pôr tanta mulher no Governo. Não que o italiano não aprecie inovações, aprecia. Será o primeiro político que, ao repetir o juramento para presidente do Conselho, levará mais cabelo do que da vez precedente.» [Ferreira Fernandes]

16.4.08

3-5

Pronto. Não se importam de despedir o Vieira?!

Peter Pan voa para a Terra do Nunca



[... e morreu Pedro Bandeira Freire. A ele devemos-lhe o Quarteto, das noites longas de aniversário, das cadeiras incómodas, dos sons dos filmes da sala do lado, mas de um imenso charme cinéfilo. E de filmes tantos.]

Round and round, up and down, Everyday I make my way, Through the streets of your town


The Go-Betweens, «Streets of your town»

Raios e trovoadas

Quando não há nada para dizer fala-se do tempo. Entramos no autocarro ou no elevador ou no táxi, e - desbloqueador de conversa - queixamo-nos da chuva ou do calor. Cavaco na Madeira, ontem, disse que estava um dia perfeito e que o Presidente levou a bonança. Para o táxi, não está mal, para um Presidente da República é pouco, mas para este Presidente, é típico. O senhor Silva não gosta de ondas, nem de enfrentar o mau tempo, e depois dá nisto.

15.4.08

E a salvação dele será a Luz

Pinto da Costa nas urgências do Hospital da Luz.

[pronto: é mentira do Expresso. Mania a minha de confiar em jornais de referência...]

A piada feminina do dia (por e-mail)

Tenho pneu sim, mas qual é o avião que não tem?

Ricochete

A direita que questionou e detestou o voto popular em Espanha (especialmente no 14 de Março de 2004) agora vem perguntar se alguém por cá se vai queixar dos votos em Itália. Não, , nós não amuamos com os votos dos italianos. Mas assustamo-nos com estes regressos. Salvíficos, mas sempre apocalípticos, como também se vê com o PSD-PP destes últimos dias.

[actualize-se: Pedro-o-inominável-Lopes diz que é impressionante a vitória de Berlusconi. Deve ter-se olhado ao espelho a imaginar-se numa manhã de regresso... O pior, para ele, é que ele Santana não tem 3 canais de televisão e os portugueses têm mais memória que o PSD.]

Pergunta para referendo

Concorda com a independência da Madeira?

14.4.08

Cavaco come e cala?
(ou de como a canalhice faz escola ou Menezes ameaçou trazer estilo trauliteiro para o continente ou e fdp, posso chamar-lhe?)

«Eu acho bem não haver uma sessão solene, acho que era dar uma péssima imagem da Madeira mostrar o bando de loucos que está dentro da Assembleia Legislativa», disse Alberto João Jardim, referindo-se a deputados da oposição como «o fascista do PND, o padre Egdar (do PCP)» e «aqueles tipos do PS». [da Lusa]

Neoliberalismo explicado às crianças

Ser chamado aos 5 anos para uma entrevista para entrar no colégio.

Regressos

Rui Gomes da Silva foi o mesmo senhor que inventou um caso com Marcelo, porque não gostava das suas missas dominicais (para memória futura: questionei na altura, como jornalista, o ministro Rui Gomes da Silva - sim, este tipo foi ministro - porque só então criticavam Marcelo, porque se tinham calado durante anos, quando o PSD era oposição; resposta: "não comento"). Agora este tipo (foi ministro; acreditem!) volta a insultar mesquinhamente (é perito nisso). É verdade: Santana bem nos avisou que estava de regresso. Ele e os seus. Os seus e a canalhice.

[e via Origem das Espécies, leio Ferreira Fernandes]

12.4.08

Cinco anos


Há cinco anos, Jorge Colombo ilustrou o mais bonito convite de casamento. Agora, fomos ao arquivo dele para ilustrar a festa, mesmo que o bolo roube duas velas... Até já.

11.4.08

Gostar de sofrer

0-3. E Vieira que não se demite.

Slalom

Atravessa-se o bairro em fim de noite, há donos que passeiam os seus cães, um, dois, vários. Só uma conclusão: porcos, cães e donos.

Duas cabeças

«O líder do PSD, Luís Filipe Menezes, criticou hoje a decisão do primeiro-ministro, José Sócrates,de escolher as questão da energia para tema do debate quinzenal na Assembleia da República. "Quando os problemas do país são centrais, nucleares do ponto de vista daquilo que é o futuro, o nosso primeiro-ministro fala de barragens, de política externa ou de fait-divers do género", disse.» [da Lusa]

«Santana Lopes considerou que há "um caminho continuado" desde o seu executivo em matéria de energia e que "o caminho que se está a seguir é acertado". "Quem tem de apresentar propostas é o senhor primeiro-ministro, nós apresentamos quando entendemos", replicou.» [horas mais tarde, também da Lusa]

Meteorologia

10.4.08

Trichados

«O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet apelou hoje aos sindicatos europeus que "moderem" as reivindicações salariais, porque a Zona Euro está a enfrentar um "período prolongado de forte inflação".» As usual: a moderação pedida é aos trabalhadores, não aos patrões que sacam reformas milionárias aos 46 anos. As usual.

Uma estátua para Jardim

"Recomenda-se ao Governo Regional da Madeira que proceda à construção de uma estátua de bronze ou outro metal nobre, com cerca de 50 metros de altura, que represente o amado líder da Madeira Nova, dr. Alberto João Jardim ."
É desta forma que se inicia uma proposta de resolução apresentada por Baltasar Aguiar, o deputado do Partido da Nova Democracia (PND) na Assembleia Legislativa da Madeira.
Se fosse feita como no projecto, o monumento teria uma "escada" interior possibilitando aos seus visitantes ver a baía da "mui nobre cidade do Funchal, através dos olhos do seu amado líder". No mesmo tom, o documento prevê que a estátua possa rodar, acompanhando a luz do Sol, "como fazem os girassóis".
O autor da proposta explicou ao 24horas que se trata de uma resposta, à letra, ao projecto de resolução do PSD, que será aprovado hoje, de congratulação pelos 30 anos de governação do João Jardim : "Aquele texto só pode ser uma brincadeira, tem uma linguagem inaceitável e parece saído de um velho discurso albanês, de um povo que tem uma adoração pelo seu líder."
"Se aquele texto for a sério, então o do PND também o é. Os grandes líderes merecem uma estátua à sua altura", ironiza o deputado.

[texto Ricardo Vilhena/ilustração: 24 Horas; clicar na imagem para aumentar]

Precários

A única precariedade que Menezes e Portas conhecem é a da sua condição de líderes. Nada mais. E é pouco: dali só lhes vem prestígio ao ego, eventualmente comendas e dinheiros casínicos ou eucalípticos. De resto, quando caírem, deixam de estar precários: voltam aos mil e um poisos que têm, ganhos a custo de muitas prebendas distribuídas. Por isso, quando falam da precariedade dos trabalhadores, custa-lhes pouco aceitá-la. Nunca o sentiram, sabem lá o que isso é.

Miúdos, escolas

Agora, em Portugal, achamos que escolas rimam com telemóveis, pancada, youtube, vídeos de má qualidade, badochas e processos disciplinares. Ignoramos que também rimam com youtube, ideias giras, filmes e livros. A ver, e votar.

[via Bibliotecário de Babel]

Rasganço

Se a Lusoponte assinou um contrato com o Estado claramente desvantajoso para o País, e muito bom para a empresa, com Ferreira do Amaral ministro (e Cavaco seu primeiro-ministro), é necessário responsabilizar judicialmente o(s) antigo(s) governante(s) por lesa-Estado. Depois, rever o contrato com a empresa - rasgar os papéis. Por que há-de o Estado - ou seja, todos nós - pagar por um mau contrato, que tem assinatura identificada? Não tem. Mais ainda, quando essa assinatura identificada agora está do outro lado, a colher esses frutos.

[machismo]

Pôr as culpas todas na mulher de César e lavar as mãos em relação ao senhor. Machismo, é o que é.

César

A César tudo se permite. Andamos todos distraídos a pedir que a sua mulher seja séria, e que o pareça, que nos esquecemos de pedir ao dito que ele o seja e pareça... Jorge Coelho devia ter recusado a Mota-Engil, mesmo não havendo nada de ilegal. Indo para lá, o Governo deve recusar qualquer negócio com a empresa, por óbvia suspeita. Sim: é contra as regras liberalóides do mercado. Sim: é para repor moralidade nesta coisa toda.

9.4.08

Ao sétimo dia...

Alegrar as crianças (desconfiar de Chávez)

«O governo venezuelano proibiu "Os Simpsons". O cartoon foi banido da televisão venezuelana por "não ser apropriado para as crianças". Segundo o Globo, a grelha televisiva foi agora preenchida com episódios repetidos de "Marés Vivas", uma série sobre nadadores-salvadores.» [in PD, sublinhado nosso]

Raízes

As nuvens

Fustigada a cidade, o rio batido, a ponte castigada. Esta noite violenta não se escreve numa ocorrência da PSP.

8.4.08

As estrelas

não vou, gostava de ir...

Estranhas convicções

O PSD de Ferreira do Amaral (hoje patrão da Lusoponte) e Cavaco Silva decidiu que a Ponte Vasco da Gama se fazia onde se fez. Contra a opção Chelas-Barreiro, e contra vozes avisadas ao que seria a especulação imobiliária em Alcochete e Montijo. Hoje, sai-se da auto-estrada e vê-se o que ali nasceu. Agora, o PSD e o CDS voltam a insistir numa opção que inclui o Montijo, ou aparentemente o que sobra ainda de espaço para especular. Eu que não percebo nada de pontes, parece-me estar em Chelas-Barreiro a alternativa à 25 de Abril (que a Vasco da Gama nunca foi), e não no Montijo. Mas há quem insista no contrário, por causa do aeroporto, que até seria bem servido (diziam eles na altura) só com a Vasco da Gama. Ou é de mim, ou há interesses inconfessáveis para os lados do Montijo.

I want to change the world, instead I sleep


Ingrid Michaelson, «Keep Breathing»

Early morning blogs

Ao quinto dia, E Deus Criou a Mulher continua a bater o Abrupto, na média de visitas diárias (e, mais do dobro, nas páginas vistas...)*.


* dados do Blogómetro

7.4.08

Imagine there's no country...

«[...] The wellbeing of the existing resident population is no more, and no less, relevant than the wellbeing of any potential immigrant to the UK, wherever in the world he or she may be. I recognise private property rights. My home is my castle and I can deny entry into it to anybody at any time. I don’t recognise national property rights. A country is not like a private home. A country is an open club.» [Willem Buiter]

[mais uma dica do Nuno... almoços frutuosos]

6.4.08

Gesto

M. e Minnie
(foto MM, Mar/o8)

5.4.08

Palavra

A Torre Eiffel vista do monumento à paz no Champ de Mars.
(foto MM, Mar/08)

FCP

Sim, parabéns ao campeão 07-08. Agora podemos despromover o clube que corrompeu em 03-04. Em Itália, foi assim. E ninguém estranhou.

Boicote

A SIC noticiou-o há pouco. Alberto João diz que não confia na objectividade dos jornalistas e que por isso proibia a cobertura do PSD regional por esses profissionais, excepto as sessões de abertura e encerramento (e disse-o em declarações aos jornalistas que comeram e calaram). Tenho pena que isto seja notícia, mais pena terei se os jornalistas forem às referidas sessões. O congresso devia ser boicotado, ninguém daria uma linha sobre o assunto - nem a proibição devia ter sido notícia, fazia-se de conta que não existia. Assim, provado o fel, este aprendiz de ditador ia perceber que os jornalistas são objectivos.

Por uma vez...

... o E Deus Criou a Mulher bateu o Abrupto, na média de visitas diárias (e, mais ainda, nas páginas vistas...)*. Bom dia!


* dados do Blogómetro

4.4.08

Lisboa

Sol, luz. Em dia de folga. Sabe bem, a cidade.

3.4.08

Há muita fraca memória

«Não aprendemos nada com países como a Irlanda, que deixaram as auto-estradas para o fim.» A frase é de Luís Filipe Menezes que foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares do segundo Governo de Cavaco, que só valorizou... as auto-estradas.

Aviso

O post aqui abaixo é longo, muito longo. Pouco apetecível para ecrã. Esforcem-se no scroll, imprimam-no, façam o que quiserem, mas leiam-no. José Mário Branco, quase 30 anos depois - e tão actual que está.

Abril sempre (um texto que foi escrito, assim, de um só jorro). Para o Olímpio, de novo

«Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto. Chama-se FMI. Quer dizer: Fundo Monetário Internacional. Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos... É o internacionalismo monetário!

FMI
Cachucho não é coisa que me traga a mim mais novidade do que lagostim Nariz que reconhece o cheiro do pilim Distingue bem o Mortimore do Meirim A produtividade, ora aí está, quer dizer Há tanto nesta terra que ainda está por fazer Entrar por aí a dentro, analisar, e então Do meu 'attachi-case' sai a solução! FMI Não há graça que não faça o FMI FMI O bombástico de plástico para si FMI Não há força que retorça o FMI Discreto e ordenado mas nem por isso fraco Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco Enfio uma gravata em cada fato-macaco E meto o pessoal todo no mesmo saco A produtividade, ora aí está, quer dizer Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder Batendo o pé na casa, espanador na mão É só desinfectar em superprodução! FMI Não há truque que não lucre ao FMI FMI O heróico paranóico 'hara-quiri' FMI Panegírico, pro-lírico daqui Palavras, palavras, palavras e não só Palavras para si e palavras para dó A contas com o nada que swingar o sol-e-dó Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas Sempre atentas E levas pela tromba se não te pões a pau Num encontrão imediato do 3º grau! FMI Não há lenha que detenha o FMI FMI Não há ronha que envergonhe o FMI FMI... Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandhi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta desestabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transacção e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? A-ni-qui-bé-bé, a-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho? A one, a two, a one two three FMI dida didadi dadi dadi da didi FMI... Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversivelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não desestabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da PIDE pá, Tarrafais e o carago, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ahn? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, A, venha ver o que isto é, E, o barulho que vai aqui, I, o neto a bater na avó, O, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah? FMI Dida didadi dadi dadi da didi FMI... Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-fascistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marrazes, Marrazes, fora o árbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de polícia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Deng Xiaoping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brejnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-chula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, desopila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe. Eu quero desnascer, ir-me embora, sem sequer ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viagem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de Lavacolhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grândola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.»

José Mário Branco - FMI
(via João, e com a ajuda da João para o áudio)