9.11.06

Prova de vida

A partir de Janeiro, as regras do desemprego vão mudar, anuncia-se em tom sério. Os desempregados terão de comparecer de 15 em 15 dias e fazer prova de que andam activamente à procura de emprego. Já é assim: um desempregado tem de se apresentar mês a mês (ok, reduzem o tempo, não vá o malandro fugir) e mostrar que anda à "procura de". Nas entrelinhas, estas notícias fazem passar a ideia que o desempregado é-o porque quer, ou porque quer enganar o Estado. Um indigente, é o que ele é, parece soltar-se na voz do pivô.

Ainda estou para saber como faço "prova de" ou mostro que estou à procura. Enquanto espero dois meses para que chegue pela primeira vez o subsídio, posso ir mostrando a factura detalhada das chamadas telefónicas, os recibos dos selos, os e-mails ou os faxes enviados, para provar que estou vivo. Que me mexo, mas que o mercado (ainda) não quer nada comigo. Não sei se chega.

Gosto da obrigatoriedade de comparecer no centro de emprego: desempregado que se preze (pensa o Estado) tem todo o tempo do mundo para ele, por isso, pode despender umas horas sentado numa sala encafuada, com mais umas duas dezenas de pessoas, enquanto espreita o quadro de ofertas de empregos: cozinheiros ou serventes, técnicos de informática ou contabilista. Acho que devo aceitar, se não o pivô do telejornal ainda me lembra com a voz acusadora que «um em cada nove dos desempregados recusa uma oferta».

[Não se arranja por aí um subsídio ao subsídio de desemprego, não?!]