Durante a doença e morte da direita, faltou na televisão e na imprensa uma figura clássica: o "intelectual livre". Fora a reportagem, houve comentário político (cada um a puxar sem vergonha a brasa à sua sardinha), o esguicho sentimental (que se tomava por pensamento) e uma ou outra tremelicante história de um encontro sem história com Sá Carneiro, que o autor imaginou indispensável legar à posteridade. Mas não houve, uma reflexão séria sobre o mandato que acabava e sobre o futuro da direita de um militante de base, com alguma independência e prestígio. Claro que o "intelectual", mesmo o de esquerda, já desapareceu de cena, com a falência pública do marxismo e a pobreza ideológica do "politicamente correcto". De qualquer maneira, era mesmo assim de esperar que da direita, no sentido lato da palavra, saísse alguém com uma opinião nova e pertinente. Não saiu ninguém. Nem Vasco Pulido Valente, que a cada crónica que escreve está cada vez mais a olhar sozinho para o fundo do copo, a maldizer do mundo e dos homens, desconhecendo ou fazendo por desconhecer a realidade para lá das páginas dos quatro ou cinco jornais que lê. Valerá a pena mostrar-lhe o mundo? Não. Nesse mesmo dia, morria o intelectual azedo que é. RIP.
[O texto em itálico é a reprodução do primeiro parágrafo da crónica de hoje de VPV, no Público (sem "link" disponível), alterando apenas a referência que ele faz à Igreja Católica, a João Paulo II e aos intelectuais católicos. O remate é nosso.]