12.6.05

Camarada Vasco

Na hora da morte, ámen: às malvas as diferenças de opinião e os dislates de comportamento, que as convicções que uns e outros alimentam é que são sublinhadas. Duas atitudes diferentes, apenas: Álvaro Cunhal, que chamou os bois pelos nomes em que acreditava na morte de Spínola, e alguma blogosfera que quase rejubilou no passamento de João Paulo II, para poder atacar com fragor e muita imbecilidade as teses vaticanas, o assassínio de milhões de africanos, o cadafalso das bruxas, a fogueira de Galileu Galilei - e desdenhando de testamentos políticos.
Eu, por mim, de Vasco Gonçalves, na hora da morte, aporia aqui o contrário de ámen, se o soubesse. Um homem zangado com o país que o despachou e não quis caminhar para aquele seu socialismo, num certo dia de Novembro. Como Cunhal estaria, se a memória das coisas e a nossa memória dele não se apagasse no recolhimento da doença.
A coisa pública também por esta casa preferiu recolher-se: a gritaria do défice, o aumento errado do iva, as reformas e as contra-reformas de quem trabalha pouco e ganha muito, a Europa do sim do não, talvez, que não decide, e segue o mesmo caminho com a cabeça entre as orelhas. O céu ficou encoberto e o país partiu para parte incerta.