5.8.04

As «rachas das meninas»
(uma perspectiva "sociológica")

Há dias encontrei-me para um café com o Rui. Para falarmos também das coisas que gostamos.
Não resisto agora a convocá-lo para revelar uma outra faceta de Boaventura Sousa Santos (por conta de Maria Filomena Mónica - sim, ele & ela!).

Maria Filomena Mónica revela [ontem], no Público, "O Diário Secreto de Santana Lopes com a Idade de 48 Anos", onde, às tantas afirma: «(...)o Prof. [Boaventura] Sousa Santos declarava estar "Portugal no grau zero das alternativas". Se fosse a ele, estava caladinho. Caso contrário, ainda divulgo os poemas que publicou, num livrinho chamado Têmpera, editado pela Centelha, em 1980, sobre as "rachas das meninas".»

Antecipando a ameaça, passo a transcrever, do referido livro, um excerto (o poema é longo...) da


ODE À INFÂNCIA

(...)
são muitas as horas da tarde
quando as mãos do último cigarro
esfregam em louro
o triunfo sobre a autoridade
a moral escarpada da verdura
resvala dos cerros como a lua nova
alagada de medo
escancaram-se as cancelas
das secretas construções
nas ruínas do ciclone de quarenta
trabalhos manuais sem mestre nem montra
entram chefes guerras caracóis
tesouras e pauzinhos
nas rachas das meninas
na catequese é em coro
e em filas
no escuro dos intervalos
medem-se as pilas
Boaventura tens quebranto
dois te puseram três te hão-de tirar
se eles quiserem bem podem
são as três pessoas da Santíssima Trindade
que é Pai, Filho e Espírito Santo
mexo nos anos sinto nas mãos
a moleza da cera não fere
alastra
(...)»

[in Rui Almeida]