30.3.04

Eu já votei em branco. E estava lúcido...

O novo livro de José Saramago, «Ensaio sobre a lucidez», conta a história de um país onde a grande maioria vota em branco, farta dos políticos. Escreve o Daniel Oliveira, num comentário a um longo "post" seu no Barnabé, sobre o lançamento do livro: «Vota tudo em branco, mostramos que estamos todos muito zangados, e construímos o quê? Umas das coisas que me faz gostar de coisas como o Fórum Social Mundial [FSM] é que, para além do protesto, debate alternativas e quer acrescentar democracia à democracia. Pode demorar ou não servir para nada, mas tem a honestidade de tentar. Votam todos em branco porque estão todos muito chateados com os partidos. E pergunto-te agora eu: ok, e depois? Que raio de caminho!»

Eu já votei em branco. No referendo do aborto, descontente com «a barriga é minha» dos pró-despenalização e dos pró-vida pouco preocupados com outras vidas. E acho que, assim, estou a ter a honestidade de tentar mudar. Por uma vez, dentro do sistema, fora dos partidos. Porque um movimento alternativo como o FSM faz-se à margem dos partidos. Porque não devo ser obrigado a escolher entre A e B, quando os dois radicalizam opções, sem espaço para procurar novos campos de debate. E um voto em branco é mais forte - e menos mau - que a abstenção. Voltarei ao tema.