5.2.04

Da geografia dos afectos

O Portugal mediterrâneo não é apenas uma "gaffe" norueguesa. Predrag Matvejevitch de facto - como o Diogo abundantemente transcreve - também o acaba por "fazer" [«Breviário Mediterrânico» foi um dos meus livros de eleição no Verão passado, também para perceber o que se passa lá longe noutras paragens...]. Geograficamente, "strictu sensu", o Mediterrâneo acaba ali no estreito de Gibraltar. Era isso a que se referiam aqueles que falaram em "gaffe" principesca e (no meu caso) "ignorância" dos leitores do PD.

Mas, como insiste o Diogo, a nossa identidade também bebe a fonte mediterrânica. Concordo. Deixo as árvores para o Zé - e pego na música: quem ouve as polifonias corsas (pela mão de Hector Zazou) ou os "sonos" sardos de Elena Ledda não pode deixar de se surpreender com uma sonoridade tão visceralmente próxima de nós! Mas pego num exemplo português muito recente. O último álbum (que outros blogues têm elogiado - e que o "Retorta" nos mostra em fantásticas fotografias) da Ronda dos Quatro Caminhos que é uma «terra de abrigo» para coros alentejanos, uma orquestra sinfónica, vozes e instrumentos portugueses, espanhóis e árabes. É a prova viva que o estreito de Gibraltar é apenas um acidente geográfico. E (não é "gaffe") Predrag Matvejevitch tem razão.


A Ronda dos Quatro Caminhos, in Ocarina