31.7.04
Estranha produtividade (working in progress)
Chega-se a casa ao fim da tarde. O buraco que foi aberto de um lado ao outro da rua já foi tapado. Toscamente. Numa das extremidades ficou ainda um pequeno buraco, eventualmente para que os moradores vejam que foi um cano o objecto da obra. Lembram-me em casa que aquela obra já tinha sido começada no sábado passado, quando outro obreiro fez um primeiro buraco, na extremidade oposta. Estranha produtividade, esta. De facto.
Estranha produtividade
Ao sábado, antes das oito da manhã, irrompem pelos nossos tímpanos adormecidos as obras na rua. Não é possível dar um pouco descanso a esta nova necessidade de produtividade nacional, pelo menos ao fim-de-semana?
30.7.04
O Zeca vai a Aveiro
Zeca Afonso nasceu em Aveiro há 75 anos (festeja-se segunda-feira). Mas Aveiro nunca o homenageou como deve ser. Antes, a autarquia do CDS (de Girão Pereira e Celso Santos) não viu necessidade de lembrar o músico, nem sequer atribuir um nome de rua ao filho da terra*. Preferiu antes dar nome de ruas a Adelino Amaro da Costa e Sá Carneiro, eternos mitos de uma certa forma de fazer política.
Agora, a autarquia (é verdade, mudou a "sua" cor há um par de anos) repõe a justiça e promove as comemorações do 75º aniversário do nascimento: inaugurando uma artéria da cidade com o nome do Zeca e com um concerto, pelas 21:30 horas, de segunda-feira, no Rossio, com Vitor Almeida e Silva e Sérgio Godinho a cantarem músicas de Zeca Afonso. O espectáculo tem entrada livre.
[* - Não, não é má vontade minha em relação à vereação daqueles tempos: por essas alturas, a Escola Secundária nº1 de Aveiro tentou mudar o seu nome para Escola Mário Sacramento (figura local de contestação ao regime da Outra Senhora). Não podia ser, decidiu então o CDS ainda maioritário: era um comunista e não se podia influenciar as criancinhas...]
Agora, a autarquia (é verdade, mudou a "sua" cor há um par de anos) repõe a justiça e promove as comemorações do 75º aniversário do nascimento: inaugurando uma artéria da cidade com o nome do Zeca e com um concerto, pelas 21:30 horas, de segunda-feira, no Rossio, com Vitor Almeida e Silva e Sérgio Godinho a cantarem músicas de Zeca Afonso. O espectáculo tem entrada livre.
[* - Não, não é má vontade minha em relação à vereação daqueles tempos: por essas alturas, a Escola Secundária nº1 de Aveiro tentou mudar o seu nome para Escola Mário Sacramento (figura local de contestação ao regime da Outra Senhora). Não podia ser, decidiu então o CDS ainda maioritário: era um comunista e não se podia influenciar as criancinhas...]
29.7.04
José Manuel terá ido a Aveiro?
Este cartaz é de data desconhecida. Arrisco os anos 70. E arriscava dizer que um certo jovem pode ter apanhado o comboio (mas nunca o foguete, esse antecessor ronceiro do burguês alfa pendular) para ir a Aveiro discutir a «situação política actual». Talvez aí também não desejasse eleições. Mas por outros motivos: afinal, a luta das classes operárias seria mais entusiasmante a abafar umas quantas mobílias das faculdades.
O cartaz está "depositado" num arquivo online extraordinário, que descobri graças ao nosso amigo rato de biblioteca.
Damasceno Monteiro, finalmente!
Lembram-se? Quisemos saber quem era o senhor da toponimia de Lisboa, não o do livro de Tabucchi. E finalmente tivemos resposta: «Manuel Salustiano Damasceno Monteiro foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa de 1854 a 1858, à qual prestou valiosos serviços, alguns em épocas bem calamitosas.» A rua dedicada a este senhor misterioso fica nas freguesias da Graça e dos Anjos, não se conhecem denominações anteriores e o nome foi atribuído por edital municipal de 19/06/1890. Tem início no Largo da Graça e termina na Rua Maria da Fonte.
[Confesso: fui ajudado pelo novo serviço online da Divisão de Alvarás, Escrivania e Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa. Foi aí que descobri que os nossos amigos Galarzas vão ser homenageados a 1 de Outubro.]
[Confesso: fui ajudado pelo novo serviço online da Divisão de Alvarás, Escrivania e Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa. Foi aí que descobri que os nossos amigos Galarzas vão ser homenageados a 1 de Outubro.]
28.7.04
27.7.04
Darfur
[um parêntesis no nosso pequeno mundo]
Não é possível permanecermos indiferentes. «[...] Ao anunciar a solução final aos seus oficiais, assegurando que no futuro ninguém se recordaria dos judeus, Hitler terá dito: "Quem se lembra hoje do que aconteceu aos arménios?".
A memória colectiva tende a ser demasiado curta em alturas cruciais. Já depois da ONU ter reconhecido oficialmente o genocídio como crime contra a Humanidade, o mundo voltou a repetir o colectivo encolher de ombros face ao Camboja – onde os Khmer Vermelhos de Pol Pot mataram mais de dois milhões de pessoas em dois anos –, a Timor Leste, à Bósnia e ao Ruanda. Agora, a História volta a repetir-se em África com a tragédia de Darfur.
Sobre Darfur, Samantha Power escreveu no início de Junho: "Cerca de 30 mil pessoas foram já assassinadas, e perto de milhão e meio foram vítimas de limpeza étnica, afastados das suas aldeias e terras de cultivo. Centenas de milhar foram encurraladas em campos de concentração, patrulhados por milícias janjaweed, apoiadas pelo governo, que violam mulheres e matam os homens que tentam sair em busca de comida para as suas famílias. Outros vagueiam pela região sem alimentos nem água. Entretanto, Khartoum tem bloqueado e manipulado a ajuda alimentar internacional." [...]»
[Nuno Guerreiro, Rua da Judiaria]
Bom dia!
Foi uma notícia que nos chegou pela manhã, pela fresquinha. O Rui Valente transformou-a em e-mail para os amigos: «Nestes tempos que correm as boas notícias são para celebrar. A Sofia nasceu, deixando o Zé e a Susana babados, e os amigos contentes. Ainda bem. Parabéns.»
Graças modernas
Há quem, numa celebração no campo com a água da barragem a convidar, se lembre de dar graças ao messenger por lhe (a ele, que fala) ter permitido estar ali. Outra manda a sua graça por sms. Deus tem modos estranhos de dizer presente.
O perigo de ir de férias*
«Prazos e desperdícios. Houve um queijo fresco Matinal que não resistiu às minhas férias: um queijo, dois iogurtes, um leite com chocolate, um líder da oposição, um representante português na Unesco. O prazo de todos tinha passado (e a minha cabeça noutro lado). Avaliei o desperdício e prometi - ao frigorífico - cuidados.» [Ana Sá Lopes, in Glória Fácil]
* - o bom é ter estes regressos! Já só falta a Vanessa aos domingos...
* - o bom é ter estes regressos! Já só falta a Vanessa aos domingos...
26.7.04
25.7.04
(evangelho segundo São José)
«O decretar pelo Governo de luto nacional pela morte de Carlos Paredes causa perplexidade. Não porque Carlos Paredes não seja uma personalidade digna de tal distinção. É claro que é. A sua obra e o seu génio engrandeceram e enriqueceram o país e, por isso, deve ser distinguido na morte como o devia ter sido em vida.
A questão é outra. Por que razão não foi decretado luto nacional quando da morte de Sophia de Mello Breyner Andresen e de Maria e Lourdes Pintasilgo? Porque em causa estão duas mulheres? Quais os critérios que o protocolo de Estado e o Ministério dos Negócios Estrangeiros usam para decidir sobre quem é susceptível de tal homenagem? O Presidente da República não tinha obrigação de estar atento? [...]
Mesquinho país onde a ignorância atrevida é compensada com comendas e benesses e o conluio negocista e caciqueiro impera, e que ignorou duas mulheres cuja dimensão humana é maior, muito maior que as suas apertadas e ridículas fronteiras.»
[São José Almeida, Público]
A questão é outra. Por que razão não foi decretado luto nacional quando da morte de Sophia de Mello Breyner Andresen e de Maria e Lourdes Pintasilgo? Porque em causa estão duas mulheres? Quais os critérios que o protocolo de Estado e o Ministério dos Negócios Estrangeiros usam para decidir sobre quem é susceptível de tal homenagem? O Presidente da República não tinha obrigação de estar atento? [...]
Mesquinho país onde a ignorância atrevida é compensada com comendas e benesses e o conluio negocista e caciqueiro impera, e que ignorou duas mulheres cuja dimensão humana é maior, muito maior que as suas apertadas e ridículas fronteiras.»
[São José Almeida, Público]
24.7.04
(salmo)
«Muito boa, a ideia de descentralizar, levando vários ministérios para fora de Lisboa. Santana sabe, melhor que ninguém, que esta cidade está simplesmente inabitável.» [RAP, Gato Fedorento]
(primeira leitura)
Não parto. Não me calo. Mas, a cada dia que passa, apetece mudar de vida. Mudar a vida. Ou, nas palavras certeiras de MST: «Imagens dispersas, notícias que não sei se dão vontade de rir ou de lamentar, reflexões que ora apontam para a revolta instintiva ora para a desistência. Não sei como é que os outros se sentem - a maioria das reacções de que me apercebo são um encolher de ombros de quem já se conformou a esperar sucessivamente o pior. Mas eu acho que pior não é possível. Não é possível que alguma vez tenha acontecido ou venha a acontecer tamanho triunfo da mediocridade, como o desta democracia cozinhada entre Santana e Barroso. Como é que foi possível?». Continuaremos aqui. Para tornar impossível.
Sabor a sal
23.7.04
O mestre da guitarra «com gente dentro»
Carlos Paredes, a quem Amália uma vez qualificou como «um monumento nacional, como o Jerónimos», morreu esta sexta-feira, aos 79 anos.
Sobre o guitarrista, Maria João Seixas escreve na apresentação de «Uma Guitarra com Gente Dentro»: «Quando o via tocar, o corpo longo e a cabeça e os braços debruçados em curva matricial sobre a guitarra, donde nasciam os mais desvairados, comoventes e imponderáveis sons, pensei que o útero materno de Carlos Paredes tinha a forma da sua guitarra e era a ele que queria sofridamente regressar, era para ele que as composições jorravam e era nele que encontrava o "pathos" com que dedilhava as cordas. Sublimemente!»
Paredes começou a tocar guitarra aos quatro anos e desde então nunca parou até que em 1993 a doença o afastou do seu instrumento. «Quando eu morrer, morre a guitarra também», disse o músico há alguns anos ao jornal Público.
Em «Canções Para Titi» (2000), fisicamente debilitado e com plena consciência das limitações que isso acarretava ao domínio técnico absoluto que sempre caracterizara a sua relação com a guitarra, o músico não conseguiu terminar o álbum. Mesmo assim, nos temas que gravou, o guitarrista e compositor multiplicou à exaustão os registos de cada obra, repetindo-as sucessiva e totalmente sempre que, numa luta constante com as limitações físicas que a doença lhe impunha, se sentia insatisfeito com a interpretação.
«Ouvir hoje a sucessão completa destes registos é uma experiência emocional tremenda. Sentimo-nos testemunhas directas de um combate feroz e desesperado de um grande criador com o seu próprio corpo», sublinhou o musicólogo Rui Vieira Nery.
«Uma Guitarra com Gente Dentro» e «Canções para Titi» foram, pois, os derradeiros testemunhos de uma obra notável, feita de canções com afectos dentro.
[a partir de um texto próprio, no PD]
Sobre o guitarrista, Maria João Seixas escreve na apresentação de «Uma Guitarra com Gente Dentro»: «Quando o via tocar, o corpo longo e a cabeça e os braços debruçados em curva matricial sobre a guitarra, donde nasciam os mais desvairados, comoventes e imponderáveis sons, pensei que o útero materno de Carlos Paredes tinha a forma da sua guitarra e era a ele que queria sofridamente regressar, era para ele que as composições jorravam e era nele que encontrava o "pathos" com que dedilhava as cordas. Sublimemente!»
Paredes começou a tocar guitarra aos quatro anos e desde então nunca parou até que em 1993 a doença o afastou do seu instrumento. «Quando eu morrer, morre a guitarra também», disse o músico há alguns anos ao jornal Público.
Em «Canções Para Titi» (2000), fisicamente debilitado e com plena consciência das limitações que isso acarretava ao domínio técnico absoluto que sempre caracterizara a sua relação com a guitarra, o músico não conseguiu terminar o álbum. Mesmo assim, nos temas que gravou, o guitarrista e compositor multiplicou à exaustão os registos de cada obra, repetindo-as sucessiva e totalmente sempre que, numa luta constante com as limitações físicas que a doença lhe impunha, se sentia insatisfeito com a interpretação.
«Ouvir hoje a sucessão completa destes registos é uma experiência emocional tremenda. Sentimo-nos testemunhas directas de um combate feroz e desesperado de um grande criador com o seu próprio corpo», sublinhou o musicólogo Rui Vieira Nery.
«Uma Guitarra com Gente Dentro» e «Canções para Titi» foram, pois, os derradeiros testemunhos de uma obra notável, feita de canções com afectos dentro.
[a partir de um texto próprio, no PD]
22.7.04
"Mr. Nobody" chegou atrasado
Borrell queria anunciar o resultado da eleição do novo presidente da Comissão Europeia. «Señor Barroso no está aqui?», perguntou o incrédulo presidente do Parlamento Europeu... Não, não estava. É mais um pequeno sinal desta Europa.
Entrar à defesa, sair pelo espectáculo
21.7.04
Laudes
Pecadores num T1? Um inferno! Que nos pode fazer arrepender amargamente por também não recordarmos a Operação Valquíria. De que falamos? Da pandilha de sempre!
20.7.04
O médico de parabéns
Não fosse a médica lá de casa e este seria o único médico que eu acompanharia quase diariamente. Não é hipocondria, é interesse por quem explica a medicina tão bem a intelectuais... Faz hoje um ano. A prescrever bons "posts". Logo hoje que nos tínhamos dedicado à Saúde.
O engano das horas
Um veto que se espera
Os médicos internos - em fase de formação geral e especializada - asseguram o real funcionamento dos hospitais portugueses, SA e não-SA. Mas o senhor ministro quer acabar com uma carreira médica que faz funcionar o Serviço Nacional de Saúde. Assim, serão destruídos anos de um funcionamento (apesar de todos problemas) menos mau dos hospitais.
Sou casado com uma médica, e sei o que lhe custa trabalhar 42 horas por semana mais 12 horas extraordinárias, impostas pela administração porque sem esses médicos - sem as suas horas extraordinárias - não haveria urgências a funcionar naquele hospital SA.
E faz 24 horas seguidas na urgência do hospital, onde se leva um miúdo com uma afta às duas da manhã ou uma criança com febre há uma hora (não são situações de urgência). E, depois daquelas 24 horas, vai ainda à enfermaria, trabalhar mais 4/5 horas, o que é ilegal, mas é necessário para manter o funcionamento das enfermarias dos hospitais...
São estes médicos que o Governo, com nova legislação, ataca, obrigando-os a mais trabalho e pior remunerado. De Sampaio espera-se o veto. A sério, senhor Presidente.
Sou casado com uma médica, e sei o que lhe custa trabalhar 42 horas por semana mais 12 horas extraordinárias, impostas pela administração porque sem esses médicos - sem as suas horas extraordinárias - não haveria urgências a funcionar naquele hospital SA.
E faz 24 horas seguidas na urgência do hospital, onde se leva um miúdo com uma afta às duas da manhã ou uma criança com febre há uma hora (não são situações de urgência). E, depois daquelas 24 horas, vai ainda à enfermaria, trabalhar mais 4/5 horas, o que é ilegal, mas é necessário para manter o funcionamento das enfermarias dos hospitais...
São estes médicos que o Governo, com nova legislação, ataca, obrigando-os a mais trabalho e pior remunerado. De Sampaio espera-se o veto. A sério, senhor Presidente.
19.7.04
Alista-te...
Sempre desconfiei do serviço militar. Sempre me recusei a servir um instrumento de guerra e uma máquina de fazer guerreiros. Habituado à incipiente comunicação das forças armadas portuguesas - do "jovem se tens 18 anos e a quarta classe" à nova e pomposa «loja da profissionalização» (não minto, é ali ao Largo do Rato, em Lisboa) -, assusto-me perante a habilidade propagandística dos americanos. Um pequeno "spot" mostra-nos locais de trabalho vazios. E as frases sucedem-se no ecrã: "Marc foi combater o terrorismo", "Ed está a estudar doenças tropicais na Guatemala", "Scott foi capturar Osama bin Laden"... Não sei o que me espanta mais: se a ingenuidade de quem saiu para ir comprar um maço de cigarros e aproveitou para dar um pulo ao Iraque, se a manipulação de quem vendeu uma mentira e agora apresenta esse modo de vida como casual day...
Nota final: Talvez os entusiastas portugueses da guerra possam aproveitar o link, que ali deixo em cima...
Nota final: Talvez os entusiastas portugueses da guerra possam aproveitar o link, que ali deixo em cima...
Um encontro, uma descoberta
A Argentina é um país de extremos. Para mim, por motivos insondáveis, uma relação de amor-ódio, em que nos últimos anos ganha espaço e lugar a paixão e o espanto por aquele imenso país. Da Patagónia de Chatwin, mas também de Sepúlveda, e da Buenos Aires de Piazzola, mas também de Corto Maltese. Mas a Argentina também é um longo mistério - as suas gentes, os seus portos, as suas planícies, ou como aquela terra de alegria se permitiu à barbárie da ditadura militar e ao colapso do capitalismo neoliberal. O cinema é a última revelação: um encontro fugaz num táxi é o ponto de partida para o amor. Um encontro meu, fugaz, ontem em frente ao televisor, é ponto de partida para o enamoramento.
«Taxi, un encuentro»
«Taxi, un encuentro»
Serviço público
Tecem-se loas à nova RTP. Os seus jornalistas e apresentadores enchem a boca com o serviço público. Mas na prática de que se fala, quando se fala de serviço público? Um pequeno exemplo: a TVE - um outro exemplo de serviço público despesista - passa um filme às 23:00 de domingo, sem qualquer intervalo para publicidade.
18.7.04
O elogio de um comendador sem comendas
A etapa de ontem da Volta à Gália foi de facto espectacular... E Azevedo extraordinário, mesmo sem comendas.
Ontem num jantar divertiamo-nos com o súbito interesse feminino pelo futebol (uma coisa boa do Euro!), mas quando eu e outro amigo começámos a falar com entusiasmo do Tour, de repente parecíamos alienígenas...
Esquecemo-nos que foi o ciclismo que fez os nossos pais vibrarem pelo Benfica e Sporting - e que a hegemonia destes clubes nasceu dos ciclistas que os "vendiam" nas estradas de Portugal em 40/50, quando a TV era algo para inglês ver...
17.7.04
O improviso
Paulo Portas, «ministro do Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar». Como?, perguntou-se pela expressão e pela pergunta a Morais Sarmento, a seu lado. Santana já está a inventar e nem avisa os seus ministros...
16.7.04
Apetece partir
(aqui devia estar uma imagem. o blogger mudou mais uma vez e não sabemos postá-la... paciência. voltaremos quando for possível)
Alguém me explica?
A transparência da coisa pública parece ser difícil de aplicar. Apesar do sr. Presidente da República insistentemente falar dela, no dia-a-dia há pequenas coisas que dizem mais do que eloquentes discursos: desde ontem que ninguém sabe quando tomará posse o novo Governo (terça-feira, amanhã, no fim-de-semana, segunda-feira, para o mês que vem?!).
Que diacho: não é possível Sampaio impor um prazo a Santana? "A posse é neste dia e tem de me trazer os ministros na véspera". Qualquer coisa assim, sem mais especulações jornalísticas, joguinhos ao telemóvel de assessores... Ou é preciso ouvir mais uns quantos conselheiros, pá?
Que diacho: não é possível Sampaio impor um prazo a Santana? "A posse é neste dia e tem de me trazer os ministros na véspera". Qualquer coisa assim, sem mais especulações jornalísticas, joguinhos ao telemóvel de assessores... Ou é preciso ouvir mais uns quantos conselheiros, pá?
15.7.04
(ainda o) delete
A formiga já tinha interrompido uma vez a sua marcha no carreiro. Voltou... e, agora, volta a partir: «Porque não tenho mais nada a dizer Porque não me apetece dizer mais nada Porque tenho experiências novas para viver Porque não é fácil escrever, sobretudo nestas áreas, para todos Porque se deve sempre voltar Porque existem muitas aventuras novas Porque o mundo é enorme Porque se deve fazê-lo sempre com prazer, vontade e ambição de ir mais longe».
Lá em casa há quem me desafie a fazer o mesmo. Mas a matéria deste "post" é outra: lamentar o delete anunciado de mais um blogue (como aconteceu inesperadamente ao Tolentino e companheiros secretos). O melhor é desafiar Pacheco Pereira (agora com mais tempo livre) a fazer outra biblioteca da Marmeleira para salvar este acervo que se vai perdendo.
Incoerências
Sampaio veta Lei de Bases da Educação: «Não seria curial» colocar o governo que vai entrar em breve em funções perante «um facto consumado num domínio tão decisivo quanto é o regime estruturante do sistema educativo».
Governo toma posse na terça-feira: Sampaio não segue sugestão de Santana para coincidir com datas significativas do PSD.
Governo toma posse na terça-feira: Sampaio não segue sugestão de Santana para coincidir com datas significativas do PSD.
Tempos difíceis [actualizado]
Tempos Difíceis, de João Botelho (1988)
Nestes tempos, vale a pena parar em alguns pontos de debate. Para além dos clássicos [ver "links" aqui ao lado], há alguns textos que merecem visita, com disponibilidade para os ler. O melhor mesmo é imprimir... [este "post" será actualizado, conforme as nossas leituras]:
«Santana: o primeiro coelho da cartola»
«Partido Socialista: um imenso vazio (I)»
«Partido Socialista: um imenso vazio (II)»
- os três no Almocreve das Petas, cada vez mais um "clássico" para esta casa...
«Calma minha gente!»
«Tantas coisas que eu sei»
- no Adufe... outro também já com um ar de "clássico"!
«AMARGOR V/FIM» - de um Cruzes Canhoto, que acabou agora e foi tristemente ignorado na actualização da coluna dos "links"...
14.7.04
A esta hora...
... Santana vai dizer como é. Da instabilidade de um Governo parado há quase um mês ninguém fala: Durão começou a alimentar a sua fuga sem honra a 17 de Junho e apresentou, finalmente, a sua demissão (do «emprego» que tinha lá nas beiças, explicou ontem aos eurodeputados) a 5 de Julho. Hoje estamos a 14 de Julho. Este Governo de golpe palaciano (MFL-dixit) deve tomar posse na segunda-feira, dia 19 de Julho, para coincidir com aquela que seria (olhe-se para o céu, por favor) a data de aniversário de Sá Carneiro, um aniversário de uma das maiorias de Cavaco Silva (baixemos os olhos, contristados) e (palminhas, palminhas) o aniversário do CDS-PP.
Compra - venda
É uma casa portuguesa com certeza. Dá-me jeito. Tenho espaço para o escritório, para os jornais que se espalham pela casa (para desespero conjugal), consigo precaver vários quartos para os miúdos. E ainda há espaço para um salão de jogos, uma piscina protegida... Tudo nesta casinha, que está à venda por 22 milhões de euros. Coisa pouca. E, numa jogada de pura especulação, o actual dono começa a fazer-se difícil...
Não resisti! (att. contém linguagem possivelmente ofensiva!)
[legenda] Já reparou como Portugal está cada vez mais estúpido?
Uma vergastada na fé
«"Que diferença faz ser cristão?" É salutar experimentar a vergastada desta interrogação. Para poder ser verdadeira e actuante, criadora do homem novo pelo qual se opera a transformação do mundo, a fé precisa de ser contestada em cada momento do devir histórico.» Maria de Lourdes Pintasilgo abre as interrogações desta quarta-feira.
13.7.04
Das músicas das ruas...
Da minha fraca discoteca, desencanto vários discos para trautear algumas músicas do mundo. Nada de especial, nada de muito consolidado. Apenas o gosto de conhecer e ouvir, também sons que se cruzam em ruas da Judiaria, como a música "klezmer". Mas aí há quem estude e saiba mais - e sempre se conhecem outras músicas. Já aqui o disse: vale a pena passar pela rua onde a música anda à solta.
Charlatanice (zapping improvável)
Por momentos passo na TV Canção Nova, onde prega o omnipresente padre Borga. O senhor vai para intervalo, onde é anunciado um livro em que Deus dá as respostas. E qual é a primeira dúvida (colocada em brasileiro) que atormentará o telespectador-comprador? «Porquê você foi traído?» O vidente do metro não faria melhor.
Um aplauso
O bispo de Aveiro fala hoje de Maria de Lourdes Pintasilgo, nas cartas ao director (!) do Público. O que não retira uma vírgula à minha crítica pela ausência de bispos de Lisboa e ao silêncio institucional da Igreja portuguesa.
12.7.04
A capitulação de Sampaio adivinhada no Parlamento
Este homem caído sobre a bicicleta está em exposição na Assembleia da República. Desconheço o autor. Reconheço uma quase-metáfora destes tempos... [foto de telemóvel]
Da credibilidade...
Santana foi indigitado primeiro-ministro. É um facto, já não há volta a dar. Diz ele, com aquela pose de novo-estadista, que, agora sim, vai começar a formar Governo: «Só agora começarei as conversas e nenhuma antes houve com essa finalidade». Pois, pois, as redacções fervilham de nomes e cenários por obra e (des)graça do Espírito Santo de orelha...
A terra a quem a trabalha
Hoje, amigos, a morte e a esquerda/direita atravessam a Terra da Alegria: sinais dos tempos...
11.7.04
Um lamento (ou a cadeira vazia do bispo)
Maria de Lourdes Pintasilgo teve hoje o aplauso de centenas de populares. Anónimos e conhecidos. Mas faltou um aplauso, uma mensagem, uma presença - a de um bispo (qualquer) que fosse da Igreja portuguesa. Pintasilgo não era uma católica ortodoxa, como porventura foi Sousa Franco, e não era A Voz, como foi Amália. Mas na sua heterodoxia foi inovadora e acolhedora de uma outra forma de ser Igreja. E, na sua simplicidade, foi a voz de deserdados ou desalinhados. O senhor cardeal-patriarca de Lisboa, que presidiu aos funerais de Sousa Franco ou Amália, para Pintasilgo não teve sequer uma palavra pública, nem enviou um dos seus bispos auxiliares à cerimónia deste domingo. Às vezes, é difícil ser Igreja nesta Igreja.
Um lamento menor: as cadeiras do «Presidente da República e esposa de Jorge Sampaio» também ficaram vazias.
Um lamento menor: as cadeiras do «Presidente da República e esposa de Jorge Sampaio» também ficaram vazias.
Memorial do Convento
Na noite de sexta-feira fiz uma pausa. Adriana Calcanhotto cercou-me num bonito jardim encostado ao Convento de Mafra: simpática, generosa, «com os dedos enregelados». O país afundava-se de vez na fractura quase irremediável que se desenha há muitos meses (dois anos?) no uso do poder. Há quem só saiba governar assim: sem questões fracturantes, mas rachando o país em bons e maus, e em que os outros são sempre maus, sem possibilidade de diálogo ou troca de ideias.
Na quinta-feira tinha estado no Parlamento. O turbilhão sussurrava-se, mas ninguém o admitia. E no hemiciclo a indolência, a má educação, quer na postura (palavra abusada para tudo e para nada, mas que aqui significa literalmente a posição na cadeira), quer na vozearia (que outro nome se dá à gritaria?) de deputados, como Isménia Silva (quem?), Álvaro Castelo-Branco, Diogo Feio ou Nuno Melo e outros desconhecidos.
Regresso à sexta-feira à noite. Feito o parêntesis a Sampaio (ninguém é de ferro!), Adriana faz-nos acreditar noutro país. Ela gosta de Portugal. Mas ela apenas nos encanta - e se encanta - de passagem. Assim, é fácil. Todos os dias, é pior. Todos os dias, cansa. Muito.
Na quinta-feira tinha estado no Parlamento. O turbilhão sussurrava-se, mas ninguém o admitia. E no hemiciclo a indolência, a má educação, quer na postura (palavra abusada para tudo e para nada, mas que aqui significa literalmente a posição na cadeira), quer na vozearia (que outro nome se dá à gritaria?) de deputados, como Isménia Silva (quem?), Álvaro Castelo-Branco, Diogo Feio ou Nuno Melo e outros desconhecidos.
Regresso à sexta-feira à noite. Feito o parêntesis a Sampaio (ninguém é de ferro!), Adriana faz-nos acreditar noutro país. Ela gosta de Portugal. Mas ela apenas nos encanta - e se encanta - de passagem. Assim, é fácil. Todos os dias, é pior. Todos os dias, cansa. Muito.
10.7.04
1930-2004
Pintasilgo. Adeus.
[Primo Galarza: aproveito o teu «adeus» para a memória.] Fiz campanha por ela em 1985, na primeira volta daquelas presidenciais únicas. Em Aveiro, desconfiei das sondagens. As centenas que a receberam no largo da Estação não eram a onda que a faria chegar a Belém. Mas, como ela, fomos ingénuos: acreditámos no sonho, ousámos acreditar. Ela em cima de um caixote, falou com a convicção de quem acredita. Antes de muitos ela falava no ambiente e nas pessoas: «cuidar o futuro» é um extraordinário legado que nos deixou. E depois havia o olhar intenso, de constante curiosidade, e a atenção! Sempre atenta a quem a ouvia, nem que fossem os miúdos imberbes prontos para mudar o mundo, naquele mês de Abril de 1995... Obrigado, Maria de Lourdes Pintasilgo. [M.Marujo]
«Duro Barroso», o importante homem...
«Duro Barroso», o homem do catering da cimeira dos Açores, foi um «teenage Maoist turned economic liberal of the center right». Foi este homem que honrou Sampaio ao fugir do país e ao deixar-nos entregues a Santana, Portas (e ao próprio Sampaio).
Uma maioria, um Governo, um Presidente...
O comendador das medalhinhas entregou o país a cromos da bola
9.7.04
Outra carta
Exmo. Senhor Presidente da República,
Vossa Excelência talvez não tenha violado o espírito da Constituição da República Portuguesa. Mas violou o espírito e a vontade de quem constitui a República Portuguesa.
E isso nunca poderei perdoar, pelo menos enquanto acreditar que a Democracia é o melhor sistema de governo.
A decisão que Vossa Excelência hoje anunciou ao país, constitui uma desilusão, uma decepção, uma traição e, acima de tudo, uma opção, consciente, de retirar aos cidadãos o direito de escolher os seus representantes e o seu futuro.
Depois de hoje, Vossa Excelência conquistou um lugar na História de Portugal, na qual ficará para sempre conhecido como o Presidente da oportunidade perdida. Veremos mais tarde se, para além do ridículo, não teremos a lamentar factos mais graves.
Desejo a Vossa Excelência uma muito má noite. Igual à que muitos cidadãos terão.
Vossa Excelência talvez não tenha violado o espírito da Constituição da República Portuguesa. Mas violou o espírito e a vontade de quem constitui a República Portuguesa.
E isso nunca poderei perdoar, pelo menos enquanto acreditar que a Democracia é o melhor sistema de governo.
A decisão que Vossa Excelência hoje anunciou ao país, constitui uma desilusão, uma decepção, uma traição e, acima de tudo, uma opção, consciente, de retirar aos cidadãos o direito de escolher os seus representantes e o seu futuro.
Depois de hoje, Vossa Excelência conquistou um lugar na História de Portugal, na qual ficará para sempre conhecido como o Presidente da oportunidade perdida. Veremos mais tarde se, para além do ridículo, não teremos a lamentar factos mais graves.
Desejo a Vossa Excelência uma muito má noite. Igual à que muitos cidadãos terão.
Carta aberta de um eleitor de Sampaio
Votei Jorge Sampaio, nas duas vezes que se candidatou a Presidente da República. E não votei no Presidente da República que hoje poderá decidir por não convocar eleições. Não votei em golpes palacianos. Não votei numa solução que desacredita a democracia. Não votei neste Jorge Sampaio.
Previsão política para os próximos dois trimestres
Sampaio dissolve o Parlamento e marca eleições intercalares e não antecipadas. O PSD e o CDS põe um processo de impugnação presidencial no Tribunal Constitucional. Sampaio tem uma crise de palpitações e o médico aconselha e a Maria José Ritta obriga a demissão do sampaio. resultado: legislativas e presidenciais na mesma altura. Santana candidata-se a Presidente e Marcelo a primeiro-ministro. Entretanto, Durão não é eleito presidente da Comissão Europeia e recolhe à vida privada. Em contrapartida, Portas vai para comissário europeu. Lobo Xavier sobe a líder e concorre para o Governo, coligado com Marcelo. No PS, António Vitorino e Sócrates desafiam separadamente Ferro em congresso antecipado. Ferro negoceia saída honrosa como candidato à Presidência contra Santana. Cavaco Silva concorre também apoiado pela ND de Manel Monteiro. o resto já não consigo ver com clareza...
José, o perplexo
José, o perplexo
A tartaruga
Enquanto suturava uma laceração na mão de um velho lavrador, o médico e o doente começaram a conversar sobre Santana Lopes.
E o velhinho disse:
- Bom, o senhor sabe... o Santana é uma tartaruga num poste...
Sem saber o que o camponês quer dizer, o médico perguntou o que era uma tartaruga num poste.
A resposta foi:
- É quando o senhor vai por uma estradinha e vê um poste da vedação de arame farpado com uma tartaruga equilibrando-se em cima dele. Isto é uma tartaruga num poste...
O velho camponês olhou para a cara de espanto do médico e continuou com a explicação:
- Você não entende como ela chegou lá;
- Você não acredita que ela esteja lá;
- Você sabe que ela não subiu lá sozinha;
- Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá;
- Você sabe que ela não vai conseguir fazer absolutamente nada enquanto estiver lá;
- Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá!
E o velhinho disse:
- Bom, o senhor sabe... o Santana é uma tartaruga num poste...
Sem saber o que o camponês quer dizer, o médico perguntou o que era uma tartaruga num poste.
A resposta foi:
- É quando o senhor vai por uma estradinha e vê um poste da vedação de arame farpado com uma tartaruga equilibrando-se em cima dele. Isto é uma tartaruga num poste...
O velho camponês olhou para a cara de espanto do médico e continuou com a explicação:
- Você não entende como ela chegou lá;
- Você não acredita que ela esteja lá;
- Você sabe que ela não subiu lá sozinha;
- Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá;
- Você sabe que ela não vai conseguir fazer absolutamente nada enquanto estiver lá;
- Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá!
«Toda a unanimidade é burra»*
Depois da quase unanimidade santanista no conselho nacional "laranja", há um conselho de Estado que podemos dar à actual maioria governamental: aceitem os votos de todos os eleitores.
* - Nelson Rodrigues, citado por Ruy Castro
* - Nelson Rodrigues, citado por Ruy Castro
... por culpa de um livro aberto
Veio na bagagem do Rio de Janeiro: um livro de Nelson Rodrigues. Para conhecer um autor que entusiasmava muito estas paragens. Mas outros livros intrometeram-se. E o livro de contos ficou na estante à espera. Agora rendi-me: depois de assistir a essa ilha de boas conversas que é «Livro Aberto» (de Francisco José Viegas, na RTPN, «à hora que as outras televisões têm concursos e telenovelas») com um convidado especial - pelo humor, pelas histórias, pelos seus livros que desconheço: Ruy Castro, escritor brasileiro e biógrafo de Nelson Rodrigues. Esta manhã adormeci por culpa da leitura até tarde de «Pouco Amor não é Amor»...
Nelson Rodrigues, «Pouco Amor não é Amor», Companhia das Letras, São Paulo, 2002.
Nelson Rodrigues, «Pouco Amor não é Amor», Companhia das Letras, São Paulo, 2002.
A farsa de São Bento
Depois da viagem na televisão, voltei à Assembleia da República. Ali a meia dúzia de lugares dos deputados da Nação, o barulho é ensurdecedor. Não há uma intervenção em silêncio, ou pelo menos escutada sem o constante vozear das senhoras e dos senhores parlamentares. De todos os quadrantes, as bocas são constantes. Uns quantos rostos nunca vistos a intervir parecem ter uma única missão: compor as bancadas e arremeter em peixeiradas sucessivas contra a opinião de quem toma a palavra. Não se ataca a liberdade de expressão, o que ali se vê é má educação, baixa política. Mota Amaral, enquanto não cita curiosos números, lá vai pedindo algum silêncio.
Em qualquer sala de aula, daquelas hoje muito desdenhadas por senhores políticos e opinadores, a maioria daqueles deputados eram expulsos por mau comportamento. E, por uma vez, a televisão leva vantagem: quem vê/ouve as transmissões da AR-Tv (o ex-Canal Parlamento) não se apercebe desta agitação. E não sai de lá com uma forte dor de cabeça.
Em qualquer sala de aula, daquelas hoje muito desdenhadas por senhores políticos e opinadores, a maioria daqueles deputados eram expulsos por mau comportamento. E, por uma vez, a televisão leva vantagem: quem vê/ouve as transmissões da AR-Tv (o ex-Canal Parlamento) não se apercebe desta agitação. E não sai de lá com uma forte dor de cabeça.
8.7.04
Durão e o país, 2004
7.7.04
A ópera de São Bento
No zapping nocturno, à espera de mais um longo dia de Jack Bauer, tropeço no improvável Canal Parlamento, agora transformoraisado em AR Tv, onde perora um senhor de fato e gravata sobre as virtudes dos grandes oradores parlamentares do século XIX.
Já não vou a tempo de confirmar se ali se fala de José Estêvão (colocado nas traseiras do Palácio de S. Bento e filmado quando a linha de texto se refere a João Franco), mas o tom entusiasta do historiador Rui Ramos - descubro depois - leva-nos para um tempo de excelência, que é o da Regeneração.
As galerias de São Bento, conta-nos, enchiam-se de populaça - como carinhosamente dizia D. Carlos, o quase-último - para ouvir aqueles debates, um espectáculo operático digno do Teatro São Carlos. O carro eléctrico já subiria penosamente a Calçada do Combro para fazer a ligação entre estes dois palcos? Não sei, confesso. Mas hoje a ligação mais directa passa por um livro de ponto que é justificado com finais em Sevilha e golpes na secretaria para substituir jogadores que nem são do plantel.
estátua de José Estêvão, em Aveiro
O documentário de 2003 comemorou os 100 anos da restauração do Parlamento, depois da ditadura franquista (também a tivemos). Com a locução viva de Fernando Alves e Mário Dias, o texto era por vezes "cifrado" e as imagens nem sempre adequadas. Mas soube bem esta pincelada de história política. Por vezes, fechando os olhos, parecia um noticiário da TSF dos dias de hoje.
Já não vou a tempo de confirmar se ali se fala de José Estêvão (colocado nas traseiras do Palácio de S. Bento e filmado quando a linha de texto se refere a João Franco), mas o tom entusiasta do historiador Rui Ramos - descubro depois - leva-nos para um tempo de excelência, que é o da Regeneração.
As galerias de São Bento, conta-nos, enchiam-se de populaça - como carinhosamente dizia D. Carlos, o quase-último - para ouvir aqueles debates, um espectáculo operático digno do Teatro São Carlos. O carro eléctrico já subiria penosamente a Calçada do Combro para fazer a ligação entre estes dois palcos? Não sei, confesso. Mas hoje a ligação mais directa passa por um livro de ponto que é justificado com finais em Sevilha e golpes na secretaria para substituir jogadores que nem são do plantel.
estátua de José Estêvão, em Aveiro
O documentário de 2003 comemorou os 100 anos da restauração do Parlamento, depois da ditadura franquista (também a tivemos). Com a locução viva de Fernando Alves e Mário Dias, o texto era por vezes "cifrado" e as imagens nem sempre adequadas. Mas soube bem esta pincelada de história política. Por vezes, fechando os olhos, parecia um noticiário da TSF dos dias de hoje.
Um conto (sem) moral
O senhor Tobin ouviu música. E pensou/imaginou/desejou um outro mundo. Mas nesse mundo há quem não saiba versicular. Não é um problema, pensou Sophia, que chamou até junto de si alguns ratos e um jumento para descobrirem que a «espada da morte é a circunstância que se encontra à nossa frente». A moral desta história (já parcialmente revelada) é desenvolvida aqui.
6.7.04
Eu tinha dez anos...
... estava sentado sozinho no sofá da sala. Lembro-me da penumbra em que vi o jogo - talvez estivesse calor e se suportasse melhor assim a tarde. A caderneta de cromos (hoje irremediavelmente perdida) estava quase cheia, apesar dos (tímidos) protestos da minha Mãe e do meu Pai, pelo preço das carteirinhas. E lembro-me de todos eles a saltar das pequenas imagens da caderneta para o campo: Sócrates, Falcão, Éder, Zico, Cerezo, Sérginho, Júnior. Também lá estavam Dino Zoff, Gentile, Conti e... Paolo Rossi. Malvado Rossi!, com aqueles ginganços por entre a defesa... Perdemos 3-2. Foi assim que o senti: a derrota era nossa. Triste derrota. O catenaccio, que eu ainda não conhecia, tinha ganho no Camp Nou.
O Ivan hoje lembra um texto de Carlos Drummond de Andrade sobre essa tarde de 5 de Julho de 1982 em Barcelona. Bela recordação. E depois podemos rever o jogo todo no site da FIFA, num link ali colocado. O Ivan presta um inestimável serviço público na sua praia. Em especial, ao miúdo que tinha dez anos naquela tarde.
O Ivan hoje lembra um texto de Carlos Drummond de Andrade sobre essa tarde de 5 de Julho de 1982 em Barcelona. Bela recordação. E depois podemos rever o jogo todo no site da FIFA, num link ali colocado. O Ivan presta um inestimável serviço público na sua praia. Em especial, ao miúdo que tinha dez anos naquela tarde.
Cada vez menos livres
O metropolitano tem várias coisas boas. Pelo menos, o de Lisboa. Lá em baixo não chegam os telemóveis, e podemos justificar-nos «estava no metro». Mas já se fala num investimento para fazer chegar as operadores àqueles túneis. O metropolitano tinha outra vantagem: ouvia-se música (ainda que muitas vezes xaroposa) e estávamos livres da televisão. Mas agora, pelo menos em Entrecampos, temos dois gigantescos ecrãs a debitar notícias curtas com longos intervalos de publicidade (uma receita com a marca da TVI, disfarçada com o nome de MCO-TV). E, quando chega o comboio salvador, o volume aumenta para se continuar a ouvir a programação. Já nem para debaixo de terra se pode fugir...
5.7.04
Má educação
Na casa do Presidente da República, o senhor que foge para Bruxelas permite-se pressioná-lo para não ir a votos. A indelicadeza só pode ter uma resposta: eleições antecipadas já!
Breves postais ilustrados do Euro
A mulher abriu a janela, esta manhã. Debruçou-se sobre o estendal, pegou na bandeira e puxou-a para dentro.
À mesa do almoço é impossível falar de outra coisa. Em volta discutem-se tácticas, jogadas, vencedores, golos falhados, chuteiras aziagas, choros miúdos. O país demora a acordar.
Jimmy Jump gosta de «aparecer». Triste vida, a de quem diz ser essa a sua «razão de ser».
O triunfo do comentário parasita: Bruno Prata, no Público, destila ressabiamento na sua crónica de hoje sobre a derrota de ontem.
À mesa do almoço é impossível falar de outra coisa. Em volta discutem-se tácticas, jogadas, vencedores, golos falhados, chuteiras aziagas, choros miúdos. O país demora a acordar.
Jimmy Jump gosta de «aparecer». Triste vida, a de quem diz ser essa a sua «razão de ser».
O triunfo do comentário parasita: Bruno Prata, no Público, destila ressabiamento na sua crónica de hoje sobre a derrota de ontem.
E voltamos à vidinha de sempre...
...com o primeiro-ministro fugido em Bruxelas e Santana ao assalto do poder que nunca lhe devia ser entregue.
A feijoada de chocos estava boa, o Ouzo cipriota de gosto "anisado" escorregou bem, o vinho ribatejano ajudou a descomprimir e aqueles heróis mereciam mais do que uma Grécia defensiva a vencer. Mereciam ter caído com uma República Checa ou no jogo com a Inglaterra.
A feijoada de chocos estava boa, o Ouzo cipriota de gosto "anisado" escorregou bem, o vinho ribatejano ajudou a descomprimir e aqueles heróis mereciam mais do que uma Grécia defensiva a vencer. Mereciam ter caído com uma República Checa ou no jogo com a Inglaterra.
4.7.04
3.7.04
A vida, sempre a vida
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)
Assim dissemos do nosso amor, naquele dia 12. Assim guardamos na memória Sophia.
2.7.04
O défice da coisa
Pois é, Diogo, ninguém se responsabilizará. Nem eles se querem responsabilizar por eleições. Preferem fazê-lo em vivenda de luxo na Lapa e pôr no lixo aquilo que diziam defender, quando Guterres fugiu (gritavam eles)...
Portugal arrisca-se a procedimento por défice excessivo em 2004*
Será por isso que Manuela Ferreira Leite já tinha apresentado a sua demissão? Será por isso que Durão Barroso fugiu para Bruxelas? Ou será por isso que todos os grandes economistas portugueses defendem eleições antecipadas?
* li no Diário Digital
* li no Diário Digital
Golpe de estado em Portugal
Às 00:00, as rádios silenciaram-se, as televisões emudeceram e os jornais saíram para a rua em branco. Escusavam de anunciar a unanimidade. Ela era clara como a água. Apenas alguns blogues anónimos se atreveram a escrever o que se passava para o resto do mundo. As sirenes soaram às 06:00 e os tanques passeavam-se pelas ruas. Os soldados não tinham cravos na mão. A Kapital e o Lux continuaram a bombar toda a noite. Atordoada pelos holofotes, a antiga governante Manuela F. Leite resolveu dar o dito por não dito, ao contrário do que fazia quando entrava nas casas dos portugueses. Por fim, às 08:00, eles apareceram na televisão. A dupla de comediantes in tweed pôs a sua cara séria de meninos responsáveis, mas com um olhar de quem fez traquinices... Puf! De repente, acordei! Uff! Tinha acordado de um pesadelo. O pior foi depois, quando liguei a televisão...
1.7.04
Importa-se de repetir
Paulo Portas continua em silêncio sobre Durão Barroso. Mas continua a trabalhar enclausurado no forte de São Julião da Barra, de onde emana vários despachos sobre a defesa da Pátria. Lembram-se dos seus tempos independentes a criticar a prosa de Sampaio? Leiam-me este naco de prosa tecnocrata e digam-me lá quem é que é incompreensível?!
«Despacho n.º 12 887/2004 (2.ª série). — Considerando que a finalidade global da normalização consiste na melhoria da eficácia das forças militares e acréscimo de eficiência na utilização dos recursos disponíveis;
Objectivando o indispensável grau de interoperabilidade que deve caracterizar as Forças Armadas, quer no cumprimento das missões específicas e fundamentais de defesa militar do território nacional quer ao actuarem como instrumento de política externa do Estado,
nomeadamente em missões de apoio à paz e outras com integração de unidades em forças multinacionais;
Tendo em vista a satisfação do princípio da normalização, no âmbito da doutrina de operações conjuntas, no seio da OTAN:
Determino que Portugal ratifique o STANAG 4485 (ED.01)(RD.01) «SHF MILSATCOM non-EPM Modem for Services Conforming to Class-A of STANAG 4484 (RR)».
15 de Junho de 2004. — O Ministro de Estado e da Defesa Nacional,
Paulo Sacadura Cabral Portas.»
[in Diário da República, de hoje]
«Despacho n.º 12 887/2004 (2.ª série). — Considerando que a finalidade global da normalização consiste na melhoria da eficácia das forças militares e acréscimo de eficiência na utilização dos recursos disponíveis;
Objectivando o indispensável grau de interoperabilidade que deve caracterizar as Forças Armadas, quer no cumprimento das missões específicas e fundamentais de defesa militar do território nacional quer ao actuarem como instrumento de política externa do Estado,
nomeadamente em missões de apoio à paz e outras com integração de unidades em forças multinacionais;
Tendo em vista a satisfação do princípio da normalização, no âmbito da doutrina de operações conjuntas, no seio da OTAN:
Determino que Portugal ratifique o STANAG 4485 (ED.01)(RD.01) «SHF MILSATCOM non-EPM Modem for Services Conforming to Class-A of STANAG 4484 (RR)».
15 de Junho de 2004. — O Ministro de Estado e da Defesa Nacional,
Paulo Sacadura Cabral Portas.»
[in Diário da República, de hoje]
O verdadeiro oásis na Praia
Nestas manhãs esquizofrénicas (com alegrias no futebol e crises na política) sabe bem ver os «early morning blogs» do Ivan, na sua Praia: Marilyn... bela como sempre, bela como nunca.
Os ratos reunidos em conselho
Hoje, o conselho nacional do PSD quer decidir por dez milhões de portugueses. A primeira notícia saiu abruptamente aqui.
Hino da final*
[cantar com a música «Força» da Nélinha do Canadá]
«Se um durão te abandona logo a meio
E um Santana quer o lugar do primeiro
Se a maioria só grita da varanda
Que no poder não é o povo quem manda
Se o Sampaio está muito baralhado
E o acto nunca mais é convocado
Se quando recebes não te dá pra todo o mês
Faz lá a asneira de votar neles, outra vez
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Se o Maniche remata ao cantinho
Nem ouves a opinião do Canotilho
Se o Ronaldo cabeceia à baliza
Já nem te lembras do tacho da Maria Elisa
Mas se consegues sair à rua c'oa bandeira
Também tens tempo pra defender a tua veia
Se o teu sangue é mesmo verde e vermelho
Mand'os chupistas todos para o galheiro
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Forca!
Forca!
Forca!
Forca!
Levanta-te do sofá...
Grita que queres votaaaar!
"Mais perto do céu
Mais perto do cééééu.."
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Se um durão te abandona logo a meio / Lev'os à forca
E um Santana quer o lugar do primeiro / Lev'os à forca
Se a maioria só grita da varanda / Que as goelas
Que no poder não é o povo quem manda / Não podem apertar
Forca!
Forca!
Forca!
Forca!»
* - Esta peça notável de poesia é postada pelo (também, às vezes) nosso Primo Galarza, nesse blogue de liberdade, que é o dos Galarzas! - e que hoje comemora um ano de ousadia!
«Se um durão te abandona logo a meio
E um Santana quer o lugar do primeiro
Se a maioria só grita da varanda
Que no poder não é o povo quem manda
Se o Sampaio está muito baralhado
E o acto nunca mais é convocado
Se quando recebes não te dá pra todo o mês
Faz lá a asneira de votar neles, outra vez
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Se o Maniche remata ao cantinho
Nem ouves a opinião do Canotilho
Se o Ronaldo cabeceia à baliza
Já nem te lembras do tacho da Maria Elisa
Mas se consegues sair à rua c'oa bandeira
Também tens tempo pra defender a tua veia
Se o teu sangue é mesmo verde e vermelho
Mand'os chupistas todos para o galheiro
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Forca!
Forca!
Forca!
Forca!
Levanta-te do sofá...
Grita que queres votaaaar!
"Mais perto do céu
Mais perto do cééééu.."
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Lev'os à forca
Lev'os à forca
Lev'os à forca
P'las goelas
A aleijar
Se um durão te abandona logo a meio / Lev'os à forca
E um Santana quer o lugar do primeiro / Lev'os à forca
Se a maioria só grita da varanda / Que as goelas
Que no poder não é o povo quem manda / Não podem apertar
Forca!
Forca!
Forca!
Forca!»
* - Esta peça notável de poesia é postada pelo (também, às vezes) nosso Primo Galarza, nesse blogue de liberdade, que é o dos Galarzas! - e que hoje comemora um ano de ousadia!
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