20.11.04

Guia não turístico da Costa do Marfim



Chega à blogosfera José Luís Peixoto, pela mão de José Mário Silva. E com um belo texto sobre a Costa do Marfim. Um país estranho que se me entranhou em 1995, numa visita pouco turística a um destino nada turístico. Das ruas da capital Yamoussoukro, erigida em louvor de um homem, Félix Houphouët-Boigny*, que se imaginava na enorme basílica local («igual à de São Pedro») como o discípulo dilecto de Jesus, em vitral abençoado por João Paulo II. Os dois (Papa e Presidente) concorriam em quantidade de ruas e praças e monumentos em seu nome.


* - FH-B é o homem negro que se vê ajoelhado logo abaixo da figura de Jesus.

Naquele espaço imenso, de avenidas largas e vazias, circulava-se em táxis que davam boleia a outros passageiros, e pernoitava-se num campus universitário moderno, mas em decadência, por uma greve de estudantes que então se prolongava há meses.
Na cidade de Bouaké, em catedral mais modesta e acanhada, à missa ajudavam zelosos vigilantes de quem adormecia sob o sol tropical, enquanto que por perto se passeavam macacos no mercado - antes de saltarem para o tacho. Nesta cidade, uma jovem cega reconhece-me português, por causa da «Lindá de Suzá» que ecoava na onda curta. De Abidjan, a capital económica do país, recordo uma visita intempestiva e pouco consciente a um mercado.

Levava comigo duas advertências. Evitar gelados de água, vendidos ao acaso nas ruas. E que devia sentir o cheiro de uma terra única. Embrenhei-me neste, aceitei aqueles.
Hoje, não poderei voltar a propor-me uma viagem daquelas. Há «sangue. Vermelho, limpo, humano» pelas ruas.
Gostava muito de ter notícias do Lazare.