31.1.07

Da memória: «A barbárie confessa de uma sociedade»

[actualizado: o nome prestou-se à minha confusão. O texto do Público é de António Pires de Lima pai e não de António Pires de Lima filho. Mea culpa, minha tão grande distracção. Sem alterar o sentido do texto, que seria incorrecto da minha parte, corrijo este dado. Obrigado ao Leonardo Ralha pelo reparo nos comentários. E as desculpas a quem de direito e leitores.]

António Pires de Lima [pai] escreveu-o ontem no Público: "Saddam Hussein foi objecto de um homicídio autorizado legalmente: nisto consiste a execução da pena de morte. Admito que tenha cometido crimes da maior gravidade. Monstruosos e inumanos. Em minha opinião o facto de se lhe tirar a vida constitui, ou traduz, a barbárie confessa de uma sociedade que se considera a ela própria incapaz de promover, sequer tentar, a regeneração do responsável. [...] Enfim: teremos, em Portugal, o regresso ao tempo da destruição legalmente permitida de seres humanos, tal como quando aqui vigorava a pena de morte." O título deste artigo: «Por que voto não».

Mas vale a pena olhar para o baú da memória: em Agosto de 2002, [o mesmo] Pires de Lima [filho] veio admitir a reintrodução da pena de morte, num artigo de opinião no Diário Económico. No PortugalDiário tive ocasião de seguir a história. Recupero excertos.

"O dirigente do CDS/PP António Pires de Lima admite a pena de morte. Uma posição pessoal, que o seu partido não acompanha. Nem políticos, nem juristas, nem mesmo a Igreja se colocam ao lado do ex-deputado, que assume a sua condição de «católico praticante, politicamente incorrecto e religiosamente desadequado».
Pires de Lima defende que faz sentido ponderar a reintrodução da pena de morte em Portugal para crimes extremos, principalmente aqueles que envolvam crianças ou práticas de pedofilia. [...]
O PP já se demarcou da posição do seu dirigente, embora advogue sanções mais pesadas para estes casos. Fonte do gabinete de Paulo Portas disse ao PortugalDiário que «o presidente do partido sempre foi contra a pena de morte». [...]
Em declarações ao jornal A Capital de hoje [8/8/02], António Pires de Lima reafirma a posição assumida num artigo de opinião publicado na terça-feira no Diário Económico. Aí escreveu: «Apesar da desumanidade dos corredores da morte e do discutível acto moral de retirar a vida a alguém, é talvez esta a única forma de fazer justiça possível em casos destes [o crime de Inglaterra], honrando a memória das crianças mortas [Jessica e Holly]». [...]
António Pires de Lima lançou a polémica [no referido artigo] olhando para o "alto": «[Depois da condenação à morte,] Deus lá estará, para a todos julgar e perdoar aquilo que só Ele pode entender». [...]"