30.9.06

Um sonho

lua na folha molhada
brilho azul-branco
olho-água, vermelho da calha nua

tua ilharga lhana
mamilos de rosa-fagulha
fios de ouro velho na nuca
estrela-boca de milhões de beijos-luz

lua
fruta flor folhuda
ah! a trilha de alcançar-te
galho, mulher, folho, filhos
malha de galáxias
tua pele se espalha
ao som de minha mão

traçar-lhe rotas
teu talho, meu malho
teu talho, meu malho

o ir e vir de tua
o ir e vir de tua ilha

lua
toda a minha chuva
todo o meu orvalho
caí sobre ti
se desabas e espelhas da cama
a maravilha-luz do meu céu
jabuticaba branca

[à M., nos seus 30 assombrosos anos, este dia 30
— com Caetano Veloso e eu ao lado]

29.9.06

[da carteira]

«Dois é a conta que Deus não fez mas na qual os homens teimam.»
[Maria, Frases para ter na carteira, ed. Livramento]

Singles

Hoje é dia dos solteiros, que inclui um almoço, um jantar, um speed dating e a festa do solteiro. Quase como no casamento, só que este tem muito mais pinta.

28.9.06

Abruptamente, Marcelo

Fotos


Preocupa-me mais esta foto de quatro senhores que mentiram para justificar um atoleiro que o senhor Chávez reunido com José Sócrates.

27.9.06

Cidades visíveis


Cafe de los Artistas, no Caminito, bairro de La Boca,
Buenos Aires, Argentina
(foto MM, Dez. 04)

Sem compromisso [actualizado]

Como sinto na pele a absoluta incompetência de quem manda e gere os negócios neste país, confirmo com números e dados aquilo que já tinha dito. Medíocre não é o Estado, medíocres são empresários e gestores, mexias e carrapatosos e azevedos que de compromissos só entendem o máximo lucro e o mínimo investimento nas pessoas. [Lido no Portugal dos Pequeninos]

[Ler também esta carta aberta, reproduzida no Arrastão.]

La red siete

«Já estou a escrever à Carris», avisa o passageiro em voz alta para que outros o ouçam. «Para protestar com estas mudanças.»
De quem terá sido a ideia, pergunta a companhia ocasional de viagem. «Dos espanhóis! Ouvi dizer que foram os espanhóis...»

Na Segurança Social

«Quero um assistente social...
- Aqui não há. Onde mora?
- Sou do Algarve...
- Terá de ir ao Algarve, à sua área de residência.
- Mas preciso de ajuda para ir para lá!
- Aqui não temos assistentes sociais...
- Então que raio de segurança social é esta?!»

Moda Outono-Inverno

Havia quem protestasse com o template anterior. Vozes amigas, claro, que a essas dão-se ouvidos. Experimentamos este novo modelo, para esta estação. A ver se dura.

26.9.06

Sem compromisso

Peço desculpa por ter faltado ao compromisso, lá no Beato. E por só agora falar disto. Continuo a ter excelentes memórias daquele local para estar a perturbá-las com senhores de gravata que só pensam em despedir os outros. A eles, que nunca se deram ao trabalho de olhar ao espelho.

[escrito depois de passar no centro de emprego]

Memória como projecto

Reinventar a escrita. Mesmo na despedida.

Tá lá, podió chamá-lo?!

«O gabinete do primeiro-ministro dispõe de cerca de 219 mil euros para despesas em chamadas de telemóvel até ao final deste ano.»

Classificados

[actualizado] Dois amigos fizeram-me chegar estes pedidos de divulgação de dois apartamentos à venda. Os interessados podem enviar-me um e-mail para contactos.

T2 (área total bruta - 85 m2; área total útil – 70 m2) em Alfornelos / Colina do Sol, muito perto do Metropolitano: 2 quartos, um com 14,50 m2 e outro com 11,73 m2; Uma sala com 13,38 m2; Cozinha com 14,10 m2; Despensa com 1,70 m2; Hall com 6,30 m2; Corredor com 6,20 m2; Casa de banho com 3,60 m2; Varanda com 4m2; Condomínio - €25; Preço - €120.000.
2 Ass. em Benfica + lugar garagem. Localização: Rua Jorge Barradas, junto ao cemitério de Benfica (mas sem vista para o mesmo). A 10 minutos do Centro Comercial Colombo. Bem servido de transportes. A casa está pronta a habitar. Tem instalação de Tv Cabo, e telefone fixo. Cozinha equipada (fogão; 1 micro-ondas, Frigorifico; máquina lavar roupa).

25.9.06

Não lhes dão cavaco


O casal feliz e um senhor de visita


Cavaco bem se esforça: já deu duas entrevistas a jornais espanhóis (e nenhuma a um português, os tais com que, em tempos, ele se gabava de perder apenas cinco minutos), mas a imprensa de nuestros hermanos parece não dar muito por ele. Hoje, para piorar tudo, a Casa Real espanhola anunciou o segundo filho de Felipe e Letizia e o El Mundo apenas disponibiliza, a esta hora, na sua portada online, a foto de Cavaco a cumprimentar o casal-feliz-que-vai-ser-de-novo-pai. Apre!

Rede qualquer coisa

Entro no 718. Mais à frente, perante a mudança de percurso, a passageira pergunta ao motorista em que autocarro entrou. «No 18.» Há hábitos que não se perdem.

Ir à carteira


«Este pequeno livro reúne uma colecção
de aforismos (com aspas, claro) da autoria
de um grupo de pessoas
com sensibilidades diferentes.
Algumas destas frases para ter
na carteira
(ou onde der mais jeito) [...].»

Brindes

No quiosque, esta manhã:
- Dê-me uma revista...
- ...
- ... que tenha bolsas.
O vendedor pôs em cima as duas revistas que traziam bolsas, para escolha.

24.9.06

Prenúncios

E à segunda semana, o Sol foi-se!

Hora certa

Retirei as toalhas do estendal e começou a chover.

Rebeldias

«Juliana [Hatfield] demonstrou que a sexualidade ostensiva se tornou uma rebeldia conformista. A castidade, pelo contrário, é quase uma desobediência civil.»
[Pedro Mexia*, in NS]


* - o Estado Civil comemora um ano, com Morrissey. Adequado.

Trocas-tintas

Na NS, revista do DN e JN aos sábados, lê-se um perfil de Ana Vital Melo. A ex-assessora de políticos do PSD e agora presidente da Federação Portuguesa de Kickboxing estava também na semana passada na Tabu. Ontem, a revista do Sol trazia um retrato da fadista Ana Moura, que fazia a capa da NS da semana passada.

22.9.06

Alcorão e Bíblia

Assumamo-lo: há um problema de violência nas religiões (quem também o diz e confirma é um dos bispos de Lisboa, D. Manuel Clemente). Encontrar mensagens violentas num e noutro Livro Sagrado não é difícil, nem a prática absolve as religiões de culpas nos cartórios e nos campos sangrentos das batalhas. O que importa é discutir se hoje se deve viver e buscar modos e expressões de épocas antigas e (digamo-lo sem receios) que não se desejam: as cruzadas, a inquisição, a "jihad".

Entretanto, no Monte das Oliveiras

... quem com ferro mata, com ferro morre.

21.9.06

Tempo

Os Açores escaparam ao Gordon, nós levámos com uma depressão fria. O tempo às vezes parece querer sublinhar as cores do país.

À atenção dos polícias do(s) costume(s)

«A indigestão é uma criação de Deus para impor uma certa moralidade ao estômago

[Victor Hugo, lido no nickname do msn de uma amiga]

20.9.06

Ciclos

Desculpem não comentar o novo procurador-geral da República. Não o conheço, e os encómios que lhe dirigem agora fazem-me recordar os que Souto Moura recebeu no início do mandato, por oposição a Cunha Rodrigues. Lembram-se?

Cinco dias, cinco cabeças, muitos olhares

Cinco dias é um blogue-site-projecto a seguir: Rui Tavares, António Figueira, Joana Amaral Dias, Ivan Nunes e Nuno Ramos de Almeida, nos dias úteis editam opiniões e olhares diferentes sobre o mundo.

Flexibilidade laboral [obrigado pela preferência]

19.9.06

Furacão

Alberto João na Madeira, Valentim Loureiro na Liga e na autarquia e no metro do Porto, Isaltino em Oeiras, Mesquita Machado em Braga, e já antes Santana no Governo. Nomeio apenas os mais irresponsáveis. Mas o exemplo prolifera: da empresa ao tribunal, do jornal ao serviço. A incompetência faz caminho por cá. E é aplaudida.

Blogame mucho

Mensagem do Blogame Mucho: «Por motivos alheios à nossa vontade (mas não, eventualmente, à nossa incompetência) fomos forçados a mudar de endereço. Agora é este: www.chumo.blogspot.com». Sem mais, fica a devida nota, que esta casa bem merece a visita.

Apito cinzento

A Constituição pode servir para dar cabo processualmente do Apito Dourado. Os juízes gostam de brincar às medidas processuais. Julgar as coisas é que pia mais fino.

18.9.06

Resumo (por interpostas palavras) para estes dias

«A ideia de que a RTP, enquanto serviço público, não pode transmitir um documentário com uma tese conspirativa sobre o 11 de Setembro é uma das coisas mais extraordinárias dos últimos tempos.
Vem das mesmas pessoas que querem jornalistas muito críticos sobre o Sócrates, mas mansinhos sobre o Iraque; dos mesmos que defenderam com unhas e dentes a publicação de cartoons sobre Maomé; dos mesmos que aplaudem os textos destemperados que Oriana Fallaci escreveu nos últimos anos.
No fundo, estes cavalheiros não se conformam que outros não acompanhem a sua visão do mundo. Noutros tempos, a isto chamava-se censura, ou intolerância. Eufemisticamente, poderemos chamar-lhe «politicamente correcto». Agora com novo esplendor, a bênção intelectual.» [JMF, in french kissin']

Papa assim

Sobre o Papa, alguma blogosfera aplaude o seu lamento e comedimento pelo misunderstanding com os muçulmanos. A mesma blogosfera que dizia que os cartoonistas não se deviam lamentar, por representar um perigoso precedente: a vitória da rua árabe contra a liberdade de expressão.

17.9.06

O Sol quando nasce não é para todos

No Algarve, o jornal não chegou. Em vários locais pelo menos. Mesmo que tenha esgotado, nem todos experimentaram o Sol.

15.9.06

Não olhar Lisboa suja


e voltar a sair da cidade. Até já.

No meu tempo...

Que Lisboa é suja já o sabemos e já aqui o escrevemos, várias vezes. Que a autarquia e os cidadãos (em particular, os donos dos bóbis desta cidade) fazem pouco para que seja melhor, também já o sabemos e dissemos. Agora que a limpeza ou sujidade do Bairro Alto se transforme em debate do tipo no meu tempo é que era é que é novidade: entre os que têm saudade das ruas de prostitutas e chulos e a geração dos shots em copos plásticos. Vasco diria que o mundo anda perigoso. Mas para mim, o culpado é o Cavaco. Pronto.

«A conservadora Roma»
[da série Frases ou idiotices feitas]


«Madonna encenou em palco uma crucificação, ao som de Live to tell, à semelhança do que tinha feito nas restantes capitais europeias por onde passou. Londres, Paris e até mesmo a conservadora Roma viram a cantora [...]». [in Público desta quinta-feira, última página, sublinhado nosso. Imagem de La Dolce Vita, filme de Federico Fellini, de 1960...]

14.9.06

Uma incógnita, esse amanhã


Vista de Santo Estêvão, em Lisboa (Janeiro de 2006, foto MM)

O seu a seu dono*

Peço desculpa pela imodéstia, mas a anunciada parceria entre o METRO e o Sol foi ideia minha, como chefe de redacção do jornal gratuito, que José António Saraiva aceitou desde logo... Ao contrário do que foi por alguns antecipado* [ver em particular os comentários].

* - Isto não teria a menor importância, num trabalho conjunto de uma equipa, se não se passasse a ideia errada de que a iniciativa era de Luz ou Moniz. Cá por coisas!

Sem consenso

Parece que o inquilino de Belém quer mais um pacto, agora na Segurança Social, depois da Justiça. Desculpem lá: eu percebo a necessidade de entendimentos em matérias importantes, mas não me lembro de ter posto a cruzinha nas propostas do inquilino de Belém (muito vazias de conteúdo) nem dos inquilinos da São Caetano à Lapa (que pouco dizem sobre a segurança social). Por isso, apetece pedir aos inquilinos do Rato que apliquem o seu programa (menos mal, e sufragado com maioria absoluta) e se lembrem no que deram os consensos guterristas com o comentador dos domingos. Ah!, e se querem consensos: discutam-nos no Parlamento, já agora.

12.9.06

Regresso (a 11/9)

O silêncio falou no dia certo. Há palavras a mais nestes dias. E fico atordoado com a quantidade de coisas que se dizem, ainda, sobre o 11/9. Uma delas é a de que a América ganhou. Não houve mais nenhum atentado em território americano. Pois: Londres, Madrid, Bali ou Istambul ficam no quintal das traseiras.

Regresso (II)

A Carris já tem a Rede7 a funcionar. Apanhado fora, na troca de carreiras, experimento carregar o 7 Colinas com cinco viagens. Agora, não dá, diz-me a senhora do quiosque. Só duas ou quatro viagens, esclarece-me. Pergunto porquê. Isto, as máquinas, as mudanças, uma confusão, acrescenta. Detalhes, claro.

Regresso

Por uns dias, voltamos à cidade. No autocarro, ninguém se digna a olhar para o número do seu lugar para se sentar. E no meio do filme, dois intervalos para publicidade. Os pormenores mostram muito de um país.

8.9.06

Sinais

Um mau exame e uma notícia com possibilidade de futuro. Há dias assim. A actualidade fica suspensa. Este blogue ruma a Sul.

7.9.06

Wishful thinking

«Vêem-se homens caírem de altos cargos pelos mesmos defeitos que os haviam feito chegar até eles» (Jean de La Bruyère).

Agendas

Não deixa de ser curioso como Pacheco Pereira tem ignorado a microcausa (chamemos-lhe assim) da blogosfera pela libertação dos sequestrados das FARC e de repúdio pela presença de um stand deste grupo na Festa do Avante! Esquecimento, omissão, inveja, agenda própria? São insondáveis os caminhos de Marte. [post de 6/9, às 22h59]

[adenda, às 00h00: entretanto, vindo de Marte, o deputado comunista Jorge Moreira, cara desconhecida, avançava há pouco na SIC Notícias o seu lamento pela alegada falta de esclarecimentos do Governo sobre os voos da CIA para Guantánamo. Fraca coerência moral.]

[segunda adenda, hora do post actualizada: a imprensa faz-se eco hoje desta causa. O PCP diz que não convidou as FARC, mas sim uma revista das... FARC. Ver no Kontratempos as notícias e desenvolvimentos desta polémica.]

6.9.06

Liberdade para Ingrid, liberdade para os sequestrados das FARC


clicar aqui, seguir os links, não calar a indignação


[A história conta-se em duas penadas: o PCP acolheu na Festa do Avante! um stand dos terroristas das FARC, grupo que aterroriza a Colômbia e os colombianos e vive de tráfico de droga e de raptos.]

5.9.06

Frase feita: a esquerda manda na comunicação social
(working in progress)

O Independente acabou. Logo se ouviram os fantasmas aqui d'el rei, que a esquerda domina a comunicação social. Um olhar não exaustivo diz o contrário. Comecemos pelos diários, económicos e gratuitos.

Jornal de Notícias: não tem uma linha editorial ideologicamente marcada; jornal popular, que por isso assumirá posições de escrutínio do poder, sobretudo à esquerda.

Correio da Manhã: na mesma linha popular do JN, é conservador politicamente (acrescente-se ao escrutínio, a clara oposição ao PS de Ferro Rodrigues, num caso extra-política como o da Casa Pia).

Público: surgiu como jornal de centro-esquerda (por referência ao El País e pela direcção que tinha na fundação); hoje, tem um director que assume posições ditas liberais, mas que se confundem com linhas defendidas pela direita; a redacção e a restante direcção fariam contraponto, mas o jornal hoje é muito à imagem de José Manuel Fernandes. O painel de opinadores é variado, mas (de modo impressionista) com predominância da direita.

Diário de Notícias: o único diário que tem uma direcção à esquerda. Mas o jornal no conjunto assume uma linha editorial menos clara nesse "alinhamento" e no seu painel de comentadores (ainda que haja coisas menos "equilibradas", como o facto da "Geração de 70" ser representada apenas por dois "direitistas").

24 Horas: outro jornal que pelo seu estilo, popular, tablóide, acaba por se posicionar como contra-poder.

Portugal Diário: [em actualização]

Diário Digital: [em actualização]

Diário Económico: [em actualização]

Jornal de Negócios: [em actualização]

Destak: [em actualização]

Metro: [em actualização]

Jornal de O Dia: residual, quase uma excrescência, que pouco vende. De (extrema-) direita, conservador, aberrante.


[Este debate pode ser acompanhado aqui, aqui e aqui.]
Eu sei: Bob Dylan tem um excelente álbum. Eu sei. Não seria preciso mais para ouvirmos o disco. Mas. Assim, ainda é melhor.

Bob Dylan, "When The Deal Does Down"
[descoberto aqui]

1.9.06

...e hoje o regresso a outra Veneza




[e no entretanto, voltam os velhos fantasmas de que a esquerda domina o jornalismo português. Para estes dias, prometo demonstrar o contrário.]