15.8.05

A valsa das medalhas

Há um certo país que rejubila com Manoel de Oliveira a ser condecorado em França ou Figo a ser escolhido como o melhor jogador do mundo. Que se envaidece com o êxito dos Madredeus ou sorri com actores portugueses elogiados nas novelas da Globo. Que nunca leu Saramago e gosta de falar mal dele mas que diz que um Nobel é um Nobel. Que aplaude a conquista do Brasil por João Pereira Coutinho e a ida de Durão para Bruxelas. Esse certo país detesta Jorge Sampaio e não percebe que as medalhas ontem entregues aos U2 são um símbolo de alguém que luta contra a pobreza. Se calhar, percebe. Esse certo país no fundo não detesta Sampaio e as suas medalhinhas. Esse certo país odeia pretos e pobres. É racista, provinciano, mesquinho e pequenino.

[ADENDA: o texto de jmf, regressado - e bem -, é outro exemplo desta valsinha das medalhas]
«As férias exemplares. No país onde os juízes, professores e mais uns tantos têm meses de férias. No país onde cada feriado equivale, em média, a dois ou três dias de ausência do trabalho, entre pontes e outros expedientes. No país onde os servidores do Estado têm um vasto leque de cláusulas que legalizam a balda. No país que tudo faz para garantir as mais baixas taxas de produtividade do mundo civilizado e do outro mundo. Nesse país, clama-se que o primeiro-ministro não pode ir de férias. Porque o país «está a arder», como esteve em todos os verões da nossa memória. Porque, obviamente, o exemplo tem de vir de cima. E nós, sem exemplo, somos lá capazes de sobreviver.»