30.4.05

Papa-misto


O Chelsea é campeão de Inglaterra. Com 4-quatro-4 jogadores portugueses, mais o Mourinho («the self-styled "special one"», Guardian dixit) e uns quantos da equipa técnica. Temos agenda mediática assegurada para uma semana.

Melancómico

Não sabia
se no momento da morte
iria contar uma piada
ou sentir o último peso da existência.

Perplexidades

1. Um português foi preso nos Emirados Árabes Unidos, por fumar um charro.
2. Ao fim de quase um mês, o tema tornou-se omnipresente na comunicação social e na blogosfera.
3. Não conheço Ivo Ferreira, nem nunca vi nenhum filme dele (parece que fez um, mas já é «cineasta»).
4. Não sei se Ivo Ferreira conhecia as leis do país.
5. O Dubai, um dos emirados do país, não é um destino turístico comum: vai quem pode, ou vai em trabalho quem muito precisa.
6. Há xxxx portugueses presos em todo o mundo. Eventualmente, por crimes que cá não são punidos com prisão. Quantos tiveram a atenção mediática que já teve Ivo Ferreira?
7. Os amigos são para as ocasiões. Louve-se a iniciativa dos familiares e amigos que pressionam as entidades públicas para atender ao caso de Ivo Ferreira.
8. Mas critique-se o tom de Estado com que se acusa o MNE de nada fazer. O Rui, no Barnabé, compara mesmo a alegada ineficácia do MNE, neste caso, com a infeliz atitude do embaixador português na Tailândia, que não percebeu ou não quis perceber a dimensão da tragédia do tsunami, dizendo que o MNE não está preparado para a globalização do turismo, por causa de um charro fumado no Dubai?! Eu quero o MNE preparado para atender a tragédias colectivas e individuais, sim. Mas com a devida proporção na actuação.
9. Desejo a libertação de Ivo Ferreira. Mas o MNE deve providenciar apenas uma defesa legítima e transparente.
10. Depois disto: que o Ivo Ferreira deixe de vez os charros. Lá e cá. Não lhe fazem bem, como se vê.

Verbo para estes dias

Isaltinar,
v. tr., levantar; elevar; engrandecer; glorificar; celebrizar; sublimar; causar entusiasmo, delírio; irritar, enfurecer;
v. refl., irritar-se; agastar-se; jactar-se; gabar-se.

Próprio para a ópera-bufa que se vive por estes dias entre a Lapa e a Oeiras.

Henry killer



Saiu! A procurar numa livraria com pinta - ou aqui.

29.4.05

Quinta da Alegria

[ou um post-private-joke]


Marilyn Monroe

Para me animar

«... Para o catolicismo, a confiança é fundamental. O católico soldado raso habitua-se a confiar no católico padre, este no bispo, o bispo no cardeal e o cardeal no Papa. Mesmo quando existem dúvidas, quando o padre não se comporta como devia ser, quando o bispo é distante, o cardeal fuma, o Papa não é bem aquilo que deveria ser, o católico raso dissolve em grande medida essas dúvidas no seu hábito de confiança...» [in a bordo]

"Crime" com nome de "trapalhada"

«Governo de Santana adiou para 2010 acerto das dívidas dos clubes». O pântano "laranja" - suspeitávamos, e a cada dia que passa, temos mais certezas -, é infinitamente maior que qualquer tototontice do segundo Governo de Guterres.

Os extremos tocam-se

«Os filhos ilegítimos do Bloco» é uma brilhante análise de jmf sobre a acidental direita blogosférica e afins (tão bem retratada também aqui): «E é assim que está criado o monstro – dois extremismos que se digladiam na praça pública, como se representassem maiorias, quando, no fundo, são pouco mais que nada.» A ler, sem falta.

28.4.05

Uma t-shirt amiga do ambiente

Calão

Levar uma ganda teca. Que é como quem diz "tareia". Está-se sempre a aprender. E não estou a falar do Sporting.

Mais uma razão para não gostar de gravatas

O primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, quer combater o aquecimento global através da abolição do uso da gravata durante o Verão. O político quer com esta medida diminuir a utilização de aparelhos de ar condicionado, ou outros aparelhos de refrigeração, nocivos para o ambiente, nos escritórios do país, durante o período de 1 de Junho até 30 de Setembro. “Desde que não se ofenda as pessoas, qualquer coisa fica bem”, afirmou Koizumi, famoso por comparecer em encontros de Estado sem gravata. “Não tem de ser uma ‘t-shirt’ qualquer. Pode ser uma camisa do tipo que se usa com gravatas”, afirmou ainda o dirigente nipónico.

Festa cigana

Hoje é o dia certo: a Terra faz hoje um ano. Mas a edição de aniversário saiu ontem e o almoço comemorativo é amanhã.

27.4.05

Da série, Frases que impõem respeito
[contributo]

«I breast my case!»

[do livro imaginário do advogado de Pamela Anderson.]
Obrigado ao Nuno M. pela dica.

Fazemos lá falta!

A Revista Brotéria vai organizar, em Lisboa, no Auditório do Colégio de S. João de Brito, um colóquio de um dia, aberto ao público em geral, sob o tema: "Fé e Política: A Religião na Sociedade Democrática". No sábado, dia 30 de Abril.
Na parte da manhã, o tópico será "Há lugar para a religião na vida pública?", debatido por Vital Moreira e Francisco Sarsfield Cabral.
Durante a tarde, católicos de vários quadrantes vão debater o tema: "Ser católico na vida pública".
A entrada é livre.

Tanto a dizer...

... e pouco tempo para escrever. Por isso, vamos preferindo repousar o nosso olhar. E à falta de outras possibilidades (que las hay, las hay) insistimos com a Scarlett. Manias muito pessoais.

Um ano a lavrar a Terra

Hoje, dia 27, fala-se de aniversários na Terra da Alegria. Porque a 28 de Abril de 2004 saía a primeira edição semanal da Terra da Alegria, um blogue provocadoramente católico - sobretudo para católicos instalados, atrevo-me a dizer. Um ano depois a TdA (como a tratamos na pressa de e-mails) continua a lavra sempre difícil de ser Igreja também nesta Igreja. Hoje, fala-se do Espírito Santo - e da culpa dele (em textos diferentes), mas também do Livro da Selva. E fica esta frase: "A ditadura do fundamentalismo é tão perigosa como a ditadura do relativismo". Posso ser provocante? O sopro também sopra neste conclave.

26.4.05

Correios mas pouco

Os Correios vendem de tudo: Maltesers e M&M's. Mas enviar uma encomenda para Aveiro em express mail, depois das 11 da manhã, numa estação do centro de Lisboa, é quase impossível. Hoje valeu-me a solicitude do funcionário. Mas se tivesse chegado às 11h30 bem que podia pedir um Twix para compensar a espera.

Little secrets

Ah chocolate girl, you're looking like something I want
(finding out true love is blind)
[...]
Wind you up and make you crawl to me
Tie you up until you call to me



Louis IV, Finding Out True Love Is Blind [behind the set]

25.4.05

25 de Abril


Os cravos assim lá em casa...

24.4.05

Vitória! Vitória!

Há um ano venderam-nos a evolução que se esquecia do R. Um ano depois, evoluiu-se muito.

KO!

Às vezes é assim: levam-nos ao tapete! Por uma música, por uma frase, por um longo texto, por uma fotografia, por tudo e por nada. Inauguramos nesta casa um novo destaque de blogues que nos batem forte - e nos deixam «KO!». Podem ser amigos ou outros que já estejam indexados na habitual coluna da direita, mas podem ser descobertas novas à espera de que outros as desvelem. E ficam ali, enquanto continuarmos a ir ao tapete...

Mais pequenos segredos

A Rita anda pelo IndieLisboa.
O Midrash ressuscitou em nova casa e com o nome de Eidw.
O Pedro Príncipe desenhou um bonito site das suas (e nossas) cores de viagens - para sonharmos e passearmos.
O Zé Maria Brito fala-nos serenamente, haja o que houver.
E há amigos que andam por cá há um ano a encher-nos de futuros. O mais engraçado é que o dia possível do aniversário cai na data em que a minha história se encheu de futuros.

Por estes dias...

... desvelam-se pequenos segredos. Para compensar as cruzes dos tempos que se avizinham, uma Cruz assim!

23.4.05

Música (pequenos segredos)

Entrar a correr, faltam cinco minutos, uma multidão, rostos de todas as idades, entrar na sala já quase cheia, sentar - e olhar para trás: os Jerónimos banhados com um sol de entardecer de um dia em que choveu. Depois: Beethoven e um amigo; a meu lado, três amigos. Coisas pequenas, grandes prazeres. A festa da música saboreou-se assim.

Livros (pequenos segredos)

O Rui fez chegar-me este questionário - eu recuei, por não querer revelar-me assim tanto. Hoje Dia Mundial do Livro cedo - e respondo.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
"Baladas Hebraicas" de Else Lasker-Schüler (ed. Assírio e Alvim).

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Sim, há muitos anos, num Verão inesquecível: por Teresa - de "A Insustentável Leveza do Ser" (por causa de Juliette Binoche, que descobri em simultâneo?).

Qual foi o último livro que compraste?
Comprei para oferecer "Longe de Manaus" de Francisco José Viegas (ed. Asa). Para mim (nós), o último que comprei foi "A História do Capuchinho Vermelho contada a crianças e nem por isso" por Manuel António Pina segundo desenhos de Paula Rego (ed. Museu de Serralves/Público).

Qual o último livro que leste?
O último que terminei foi "A Boda Mexicana" de Sandra Sabanero (ed. Difel/Círculo de Leitores).

Que livros estás a ler?
Muitos, que se acumulam na mesa de cabeceira, em pilhas desordenadas, que a empregada de limpeza insiste em tentar arrumar até à leitura seguinte. De estilos diferentes, lidos quando apetece, conforme a disposição, o sono, a vontade, a paixão: "Breve História de Quase Tudo" de Bill Bryson (ed. Quetzal); "Pedro Páramo" de Juan Rulfo (ed. Cavalo de Ferro), "Pouco amor não é amor" de Nelson Rodrigues (ed. Companhia das Letras), "Imprimatur" de Monaldo e Sorti (ed. Presença) e "Solte os Cachorros" de Adélia Prado (ed. Cotovia).

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Não há lista possível - nem ilha deserta. Uns que me fascinam hoje, podem não me dizer nada daqui a uns anos (ou menos). Numa viagem de férias (o mais próximo que tenho da ilha deserta) arriscava levar um livro de contos, um romance, um ensaio ou um livro de viagens, um livro de BD e outro de crónicas, o que daria para escolher Nelson Rodrigues e "A vida como ela é", Gabriel García Márquez e "Cem Anos de Solidão", Gilberto Freyre na "Casa Grande e Senzala" ou "A Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, Frank Miller com os dois volumes de "Sin City" e as croniquetas de António Lobo Antunes. Seriam mais de cinco. E daqui a uns tempos já não seriam estes. E...

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
asl
jmf
Manuel

Para descobrir os mundos por onde me levariam estes amigos. Mesmo que a sua resposta seja o silêncio.

«O Papa é nosso»

... parecia ulular, esta manhã, o senhor Portas que também não percebeu que levou uma valente arrochada no dia 20 de Fevereiro e que agora quer transformar o 19 de Abril na derrota do «dr. Mário Soares», da «maior esquerda radical» da Europa e «dos mesmos bispos que os jornalistas vão sempre ouvir». E toca de invocar o Espírito Santo, que os amigos serão para as ocasiões.


O Papa, mesmo o Bento XVI que desanima esta chafarica desde a sua eleição, não é do CDS-PP. A Igreja não é do CDS. Os católicos não são do CDS. Mais: os católicos também votaram nos radicais de esquerda, contra os atentados à vida que são (foram) as políticas de direita. A direita definitivamente continua como a avestruz - sem saber porque perdeu, enterra a cabecinha na areia.

22.4.05

O nome que não vingou


Papa Cerelac

Publicidade enganosa

«Na maioria dos casos o Espírito Santo tem uma proposta melhor». Nem sempre, nem sempre.

Liberdade


Por estes dias nunca é demais lembrar: liberdade.
E não é só por causa do 25 de Abril.

21.4.05

O sopro

Espírito Santo

- Falaste com o teu?
- Pra quê?!

[diálogo do cardeal Ratzinger com um outro, eventualmente "progressista", nos corredores do Conclave]

20.4.05

Verbo para estes dias

Cismar, v. tr., pensar muito em; ruminar;
v. int., empreender; andar apreensivo; meditar; preocupar-se; desconfiar.

Continuaremos a cismar, caro José Mário, sem temores de cismas. O preservativo não é fundamento de fé e isso nem o Papa Bento XVI conseguirá mudar.

[classificados]

Procura-se o Espírito Santo. Assunto sério. Escrever para mmarujo@iol.pt [ou os crentes não têm direito à Sua graça?]

Ironias e desejos

Boas-vindas a Ratzinger, aliás, Bento XVI.

O Papão

«Talvez ofendido pelas orações dos católicos que lhe pediam o que é seu dever de ofício, o Espírito Santo iluminou os corações e a razão dos cardeais eleitores do Papa com uma luz antiga. Enquanto muitos esperavam uma moderna luz de presença, daquelas que se colocam no quarto das crianças para as iludir e afugentar os papões, eis que o conclave tira da cartola o coelho mais temido pelos católicos e mais esperado pelos apostadores e pelos que odeiam a Igreja: Joseph Ratzinger. No fundo, toda a gente está satisfeita. Os católicos porque têm Papa, outros porque ganharam a aposta e outros ainda porque não têm que se esforçar muito para implicar com o seu bombo da festa preferido. E, depois de um hiato de 17 dias, o mundo volta a ter alguém infalível. [...]» - hoje, no sítio do costume, há maiores e menores dúvidas.

Sou um homem de pouca fé*

Bento XVI. Esperemos, contra todas as evidências, que seja diferente de Joseph Ratzinger. "Pode ser uma surpresa muito grande para todos", diz Tolentino Mendonça. É disso que precisamos - uma grande surpresa. Ou nas palavras de D. Manuel Martins à TSF: "O cardeal Ratzinger foi uma grande figura a muitos níveis, mas agora que foi eleito Papa, tenho esperança que morra o cardeal para aparecer em pleno o Bento XVI, já que Bento XV foi um Papa extraordinário". [Zé Filipe, in Enchamos tudo de futuros]



* - expressão com que o meu Pai me brinda em algumas discussões teológicas, lá em casa...

19.4.05

"Habemus Papam"

Fumo branco

«Mais importante do que saber quem será o próximo Papa, é saber o que será a Igreja no futuro. Que Igreja para os nossos filhos? E, em função dela, que Papa para os próximos tempos? [...]

A Igreja para as futuras gerações deveria ser uma Igreja menos centrada em Roma, que abandonasse decididamente uma concepção piramidal - com o Papa no vértice, seguido pelos bispos, estes, pelos padres, e, por sua vez, estes últimos, pelos diáconos - para se converter à concepção de Igreja presente no Concílio Vaticano II - uma Igreja cujos membros são todos discípulos de Jesus, com funções diversas, mas com igual dignidade e possibilidade de intervenção. [...]

Nota final: continuo a alimentar o sonho de que os nossos filhos vejam uma Igreja na qual o ministério ordenado, em todos seus graus, seja partilhado igualmente por homens e mulheres.» [Teresa Martinho Toldy, teóloga, in Público]

18.4.05

Enchamos tudo de futuros

«Falemos então do futuro e de tudo o que está para lá das portas do Vaticano, já que, como bem disse Bento Domingues ainda com Karol Wojtyla vivo, a Igreja não é só o Papa. Eventualmente nem devia ser tanto o Papa como tem sido». Caminhos a descobrir aqui.

Pequenos-grandes prazeres (III)

«Observar durante dez minutos todos os dias seios femininos - dos considerados "bons como o milho" - equivale para os homens à frequência de meia hora de ginásio. A excitação melhorará a circulação sanguínea e reduz os riscos de ataque cardíaco».


[Estudo médico feito em Inglaterra, in revista Pública, 17.04.05]

16.4.05

Pequenos-grandes prazeres (II)

150 gr. de chocolate em barra
125 gr. de manteiga sem sal
80 gr. de farinha
50 gr. de açúcar
2 gemas
2 ovos inteiros

Bater bem os ovos com o açúcar. Depois de bem batido, juntar a farinha. Entretanto derreter o chocolate em banho-maria, com a manteiga, e juntar o preparado em cima. Deitar em pequenas formas previamente untadas. Levar ao forno, a 250º, durante seis/sete* minutos.

* - tempo a experimentar no forno, até obter o ponto.

15.4.05

Pequenos-grandes prazeres

Um fim-de-semana completo, com conta, peso e domingo. E a começar hoje com Sérgio Godinho, ao vivo no São Luiz. Os prazeres podem ser assim, pequenos, grandes.

Nós também somos Igreja

Será muito difícil chamar Papa a este homem... Se isso acontecer (não quero crer nisso), terei de ter uma conversa séria com o Espírito Santo.



Joseph Ratzinger

14.4.05

O Papa sem música

Pois é, não se levantam protestos sobre a cobertura ad nauseum da inauguração, caro JMF. Ironizo, claro: mas isto é cultura, o Papa era fanatismo...

Ah, que Paz!

Uma sugestão cinéfila para renovar o panteão!

Ao cuidado de George W.

A anunciação.

13.4.05

A liberdade dos eleitores

Na Quadratura do Círculo (SIC-N), a esta hora, Lobo Xavier e Pacheco Pereira, à vez, lamentam-se pela proposta de limitação de mandatos de deputados da República, primeiro-ministros, presidentes de câmara, deputados municipais, eleitos de juntas de freguesia, porque há que começar por mudar antes o sistema eleitoral e porque assim se limita a liberdade de escolha dos eleitores - porque o povo podia querer continuar a votar num autarca. Fico estupefacto: a liberdade dos eleitores é aqui posta em causa, mas na eleição do Presidente da República - o mais alto magistrado da Nação, que só pode cumprir dois mandatos de cinco anos - isso não acontece?! Fantástico raciocínio.

O Código de Quarta-Feira

Por um lado, pelo outro, quando a medicina não explica em trinta e três dias o Senhor da Boa Morte e a Santíssima Trindade…

Ela assim para mim

«Las estrellas venimos del cielo»

12.4.05

Conto de fadas

Há dois anos chovia de manhã. Muito, daquela em que o céu parece desabar. Muito, sem cuidar de amainar. Levantei-me cedo, para um sábado. Comprei o jornal, mas a notícia do dia não estava lá. Fui à Baixa, para enganar o tempo - e as horas. À tarde, já não chovia. Mas permanecia o vento. Nas ruas havia quem protestasse contra a guerra do Iraque. Nós deixávamos as bandeiras que gritavam em italiano pace, para lembrar essa luta. Era fim-de-semana de Ramos e as palmas alinhavam-se pela nave central da igreja. E ela estava linda - quando entrou. De azul. Como num conto de fadas. Quem disse que só os príncipes e princesas têm desses contos?

Curva, contracurva



Ainda à falta de melhor, mais uma imagem da emancipação de Mimi, em digitalização exclusiva da Epson [Mariah Carey].

11.4.05

Pequeno, pequenino

Alguém deu pelo congresso do PSD? Os blogues, sim, na sua agenda muito própria. Mas o zé do autocarro e a maria no pára-arranca no IC19 não devem ter dado conta. Na sexta-feira, ainda era o funeral do Papa que abria telejornais e no sábado um casamento de dois ingleses parece ter impressionado mais a TV. No domingo, dia de consagração do novo líder, o Benfica e o Sporting resolveram baralhar as contas do campeonato e animar ainda mais a indiferença face ao que se passou no PSD. Marques Mendes vai ter de lutar contra os escolhos de um Menezes de votos reforçados e da terceira via sebastiânica, muito palavrosa e pouco actuante. E contra um país que parece preocupado com o seu mundo - reduzido ao umbigo, pequeno, pequenino.

Terra

Quando eu me encontrava preso
Nas celas de uma cadeia
Foi que eu vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens
Terra, terra

[Caetano Veloso, Terra]

Momento de poesia

- Pai, porque é que gostas tanto de futebol?
- Porque às vezes há golos como o do Rui Costa.

[Espoliado de Incheon, in Princípio de pubalgia]

00h42

Já vi os golos da jornada. Todos os poucos golos - e o golo do Beira-Mar que o árbitro não validou. E os golos lá de fora. Mas na RTPN. A TVI que tem o exclusivo da coisa ainda não deu nada. Não se pode chutar a Quinta para canto?

10.4.05

Não deixes que a verdade estrague o teu post



Daniel "Barnabé" Oliveira voltou a insistir no encontro do Papa com Pinochet - mas "omitiu" ao melhor estilo outras imagens. E só mostrou a fotografia, esquecendo-se das palavras. Para ele, para os outros, deixo esta breve memória da suas palavras nas passagens pela América Latina, de Ignacio Badal, da agência Reuters (a partir de Santiago do Chile):

«DEMOCRATA, AUNQUE ANTICOMUNISTA
La curia no es dada a admitir el trabajo subterráneo del Papa por la restauración de la democracia en América Latina, una región golpeada por dictaduras de izquierda y derecha que han azotado estas naciones durante buena parte de su pontificado.
Sin embargo, las palabras que usó Juan Pablo II en el mismo territorio de estos hombres fuertes daba cuenta de que su interés por el retorno a la libertad no se quedaba sólo en discursos.
"(El Papa) manifestó, con signos impresionantes y palabras de comprensión y apoyo, su cercanía a los más afligidos y exhortó a recuperar los valores de la democracia y a construir en base a la justicia y el respeto a los derechos de todos," dijo Errázuriz en su alocución al Celam.
Conocedores del Papa, como un ex médico personal y un biógrafo, citados por un historiador chileno, aseguran que un encuentro personal con Augusto Pinochet en su visita a Chile de 1987, Juan Pablo II lo instó a un pronto regreso a la democracia. Al año siguiente se sometió al plebiscito que lo sacó del poder.
Otro ejemplo ocurrió en Argentina, donde impulsó una rápida transición a la democracia con su visita en pleno conflicto de las Malvinas, cuando la derrota era clara.
Un mensaje similar llevó a Paraguay en 1988, un año antes que cayera el dictador Alfredo Stroessner a manos de otro golpe militar que paulatinamente reencaminó el país a la democracia.
A Uruguay llegó a respaldar la naciente democracia en 1987, aunque también perseguía otro fin: reimpulsar a una debilitada iglesia católica en un país de fuerte carga agnóstica.
Mal le fue, en todo caso, con sus gestiones contra los gobiernos izquierdistas, pese a su anticomunismo militante que evidenció en sus recientes memorias publicadas en Roma.
Nicaragua fue un ejemplo. Juan Pablo II llegó en 1983 con un discurso que atacaba directamente al gobierno sandinista de Daniel Ortega, que había derrocado al dictador derechista Anastasio Somoza.
"Intentó desestabilizar la revolución," opinó el ex ministro sandinista y sacerdote Ernesto Cardenal.
No obstante, Ortega se mantuvo en el poder en medio de la guerra civil tras ganar, un año después, los comicios presidenciales.
Y Cuba es aún una asignatura pendiente para el Papa. A pesar de su visita histórica en 1998, que al menos logró una pequeña apertura para la expresión religiosa de los católicos cubanos, no logró su objetivo principal, que era convencer al presidente de la isla caribeña de gobierno comunista, Fidel Castro, de democratizar su país.» [os sublinhados são nossos]

A maldade da noite



- Não, o dr. Marques Mendes não precisa de crescer...
[António Borges, à SIC Notícias]

Deprimente

Facadas, incubadoras, choro e ranger de dentes, e vira o disco e toca o mesmo. O homem ainda não percebeu que foram os portugueses que o puseram no olho da rua a 20 de Fevereiro - e não Jorge Sampaio. Como diria o outro: Apre!

O que é que tem o Barnabé?

O Barnabé tem pluralidade: ali convivem, por exemplo, o socialista Pedro Oliveira ou o bloquista Daniel Oliveira; e mais ainda com as recentes contratações de "barnabitas", que vão do ferozmente anti-eclesial Nuno Sousa ao católico liberal Bruno Cardoso Reis. Mas o Daniel Oliveira parece conviver mal com aquela pluralidade. Eu percebo: a laicidade só se pode viver na intimidade de cada um, entende o Daniel, e falar de religião num blogue deve pôr em causa a secularização do Estado. Ou será só a do Barnabé?

9.4.05

A morte do intelectual

Durante a doença e morte da direita, faltou na televisão e na imprensa uma figura clássica: o "intelectual livre". Fora a reportagem, houve comentário político (cada um a puxar sem vergonha a brasa à sua sardinha), o esguicho sentimental (que se tomava por pensamento) e uma ou outra tremelicante história de um encontro sem história com Sá Carneiro, que o autor imaginou indispensável legar à posteridade. Mas não houve, uma reflexão séria sobre o mandato que acabava e sobre o futuro da direita de um militante de base, com alguma independência e prestígio. Claro que o "intelectual", mesmo o de esquerda, já desapareceu de cena, com a falência pública do marxismo e a pobreza ideológica do "politicamente correcto". De qualquer maneira, era mesmo assim de esperar que da direita, no sentido lato da palavra, saísse alguém com uma opinião nova e pertinente. Não saiu ninguém. Nem Vasco Pulido Valente, que a cada crónica que escreve está cada vez mais a olhar sozinho para o fundo do copo, a maldizer do mundo e dos homens, desconhecendo ou fazendo por desconhecer a realidade para lá das páginas dos quatro ou cinco jornais que lê. Valerá a pena mostrar-lhe o mundo? Não. Nesse mesmo dia, morria o intelectual azedo que é. RIP.


[O texto em itálico é a reprodução do primeiro parágrafo da crónica de hoje de VPV, no Público (sem "link" disponível), alterando apenas a referência que ele faz à Igreja Católica, a João Paulo II e aos intelectuais católicos. O remate é nosso.]

[nema, ci-nema]


Daniela Bianchi, From Russia with Love


Novidades de Bond, não há. Nem do James, nem delas, lá está. Mas há poesia que inspirou o cinema. E há salas de novo vazias. E filmes, muitos filmes. No escurinho do cinema.

8.4.05

Longe de Pombal

A venda livre de medicamentos, a redução nas férias judiciais, o preenchimento dos "furos" escolares, o regresso dos hospitais SA ao SNS, a limitação dos mandatos políticos. Há ideias, há políticas, há Governo. Muito longe da fraca cerimónia que começou hoje em Pombal.

[um poema visual dos sentidos]

Apeteces-me | desejo-te | abraço-te | toco-te | mexo-te sinto-te | mordo-te | quero-te | beijo-te | gosto-te

[in sabor a sal]

[publicidade que dá gosto]

Os dedos percorrem um rosto, outros olhos, uns lábios, umas mãos engurradas, um corpo que se bronzeia, o umbigo descoberto. Os dedos desenham linhas curvas. Como um carro numa estrada de montanha. Insinuante.

[la une]



«8 de abril (11.30).- El ataúd de madera desafina entre el mármol y el orgullo barroco de la basílica. Pero no desafina con el espíritu ni con el testamento de Juan Pablo II: no ha dejado bienes materiales. Ni los tenía.
De hecho, el féretro de ciprés parece el mismo que las autoridades de cualquier puesto fronterizo emplean aséptica y funcionarialmente para alojar a los muertos anónimos de las pateras.» [Rubén Amón, jornalista do El Mundo, blog Desde el Vaticano]

Actualizações

Contidos nesta casa, mantivemos uma serena actualização da casa onde mora a beleza. Para sublinhar "slogans" nunca ultrapassados: todas diferentes, todas iguais.

[sem modéstia]

1. A ler, obrigatoriamente, o texto de António Marujo, na edição em papel do Público (sem link disponível): «E afinal qual a força deste homem?».
2. E o melhor dossier* sobre a vida, a obra e a morte de João Paulo II, publicado na imprensa portuguesa - sim, pelo Público, de António Marujo.

Perdoe-se-nos a falta de modéstia. As coisas boas cá da casa também têm de ser elogiadas de quando em vez.
* - em formato .pdf, 6MB

[nemesis]

O resultado do Newcastle-Sporting não surpreende. Graeme Souness nunca perdeu com os lagartos (Sporting-Benfica, 21/2/98, 1-4; Sporting-Benfica, 3/1/99, 1-2).
[LR, in A Quinta Coluna]

Guia para uma manhã assim



O testamento.
As exéquias.
A transmissão.

7.4.05

Duas oportunidades

O Papa João Paulo II considerou a possibilidade de renunciar após o Jubileu de 2000, indica o testamento do bispo de Roma hoje divulgado.
Duas oportunidades que esta notícia colocou - uma ganha, outra perdida.
A oportunidade perdida: o exemplo e o debate que geraria a renúncia, num exercício de desapego das coisas terrenas.
A oportunidade ganha: descobrir que os velhos não têm de sofrer e morrer escondidos, numa época em que o culto do corpo só admite pessoas jovens e alegadamente saudáveis.

Upgrade (a lógica de mercado)

Os taxistas portugueses quase que subiram na minha consideração por estes dias, depois de saber que os romanos têm cobrado cinco vezes mais que a tarifa normal, aproveitando a avalancha de turistas na cidade, e leiloando as corridas. Mas, esta noite, quando o taxista tomou o caminho mais longo e paguei mais dois euros pela corrida pensei que os romanos pelo menos roubam numa lógica de mercado: na lei da oferta e da procura, fazem-se valer. Os portugueses não, inventam distracções. E o mercado só é para aqui chamado, quando a gasolina voltar a subir.

6.4.05

O pano caído, a chave escondida



Por mais apostas que se façam, caiu o pano sob a sede. As chaves permanecem por entregar. As de João Paulo II foram entregues ao exigente escrutínio do mundo. Os que não professam, apontam o dedo à moral sexual que Wojtyla manteve enclausurada. Os que acreditam, preferem sublinhar o homem de convicções e santo, e aqui e ali assumem o bispo que lutou pelos direitos humanos e sociais. Mas haverá uma chave que ajude a compreender toda a complexidade do seu pontificado?

Questões destes dias

Porque acreditava Ele?
Porque O seguiam os jovens?
Porque quis Ele ser homem?
E porque O seguiram os homens?
As perplexidades que nos consomem.

5.4.05

Até que a vista nos doa

Há um silêncio que se arrasta por aqui. Contido. Noutras paragens, para quem aprecia o belo, continuamos outras homenagens, em renovadas horas de contemplação.

«O mundo está mais seguro» (Bush)

A aplicação da pena de morte aumentou em 2004. Registaram-se 3.797 execuções, das quais 97 por cento na China, Irão, Vietname e EUA - por esta ordem. Entre os países onde ocorreram execuções, contam-se igualmente o Afeganistão, Arábia Saudita, Bielorrússia, Coreia do Norte, Egipto, Índia, Indonésia, Japão e Paquistão. Tudo boa gente.

Da vida

4.4.05

Assis

Quando frequentava a faculdade, um professor perguntou-nos se tínhamos alguma ideia sobre qual era o país com a mais poderosa máquina diplomática. A resposta de alguns foi imediata: "Os Estados Unidos" ou "A União Soviética". Com o professor a negar essas respostas, arrisquei: "O Vaticano". O professor concordou e acrescentou "Não se elege um Papa polaco por acaso".

3.4.05

[estatuto editorial]

O tango logo aqui, o Papa nestes dias assim, às vezes uma menina gira, ou receitas de leitão, ou fúrias anti-neoliberais e ataques à universidade católica. Este blogue só fala de uma coisa, mesmo que não pareça: da vida.

A menina dança?


há dois anos (e um dia),

o tango inteligente

O Homem Bom



Quem é sábio?
Aquele que aprende com todos.
Quem é poderoso?
Aquele que se conquista a si mesmo.
Quem é rico?
Aquele que se contenta com o que tem.
Quem é honrado?
Aquele que trata a todos honradamente.

Shimon ben Zoma (século II), Talmude, Pirkei Avot 4:1
[in Rua da Judiaria, onde se recorda o perdão aos judeus.]

2.4.05

[o caminho da esperança]






A sua
Páscoa

cumpriu-se.







Às 20h37. «Regressou à casa do Pai».

memória
[uma noite assim, II]

Há sempre um sopro de vida. Hoje, esperou-se [falamos de esperança]. A serenidade, a morte, a vida. Há coisas que se misturam, na hora da espera. E todos falam, uns para dizer que sim, outros para insistir no não. Ou vice-versa. Na idade em que todos pensamos saber falar sobre tudo. Há uns que argumentam por uma cartilha (este Papa foi um reaccionário), outros sublinham as suas lutas (este Papa foi um revolucionário).

Este Papa foi afinal um homem do seu tempo - de contradições, de convicções. Aqui escrevi pela discordância de orientações, aqui aplaudi pela coragem de palavras e actos. Como todos nós, na vida, viramos na próxima à esquerda, aproveitamos a entrada pela direita.

Este Papa é um homem do seu tempo: lutou por aquilo que acreditou, intransigiu naquilo que sabia ser a sua vontade. Errado? Certo? A seu tempo, o seu tempo será avaliado. Por mim, vacilou algumas vezes nas políticas sociais e da liberdade, mas teve a coragem de rectificar caminhos (Timor-Leste, por exemplo). Por mim, bloqueou demasiadas vezes a possibilidade de viver a sexualidade - a vida, o corpo - de outra forma. Mas marcou uma história única de perdão e reconciliação. Pela paz, contra a guerra. Pela liberdade, no derrube de muros da História.

Este Papa fez caminho comigo. E eu com ele. João Paulo II foi nomeado em 1978, tinha eu seis anos. Assim, marcou quase toda a minha vida, como católico (de Paulo VI e de João Paulo I retenho as mortes): no crescimento, no questionamento, na maturação, na experiência de vida. Dizer isto, não é dizer pouco: um pai de quem discordamos. Mas que podemos amar, sempre, apesar dos erros. Como ao nosso pai. Mas um pai que não se adora, nem se idolatra. Como ao nosso pai. Na hora da espera, a saudade.

[mediatismos] Há quem aponte o dedo à mediatização da sua morte. Não me lembro de estarmos a ver em qualquer canal uma câmara no seu quarto... De Féher, sim, lembro-me de ter morrido em directo. E há quem se lembre de JFK, morto em directo na TV americana. E lembro-me dos milhares que morreram em directo nas torres gémeas... Poucos se ofenderam com essas mortes em directo.

[visitação]

Hitchcock em Aveiro [filme em vários episódios, ao ritmo de um lento "scroll"].

1.4.05

[um dia assim]

Make poverty history.

1 de Abril

[frases do dia]

«O Iraque tem armas de destruição maciça» (George W. Bush).
«Portugal iniciou a retoma» (Santana Lopes).
«O mundo está mais seguro» (George W. Bush).
«Movimento pró-vida» (movimentos anti-aborto).
«A barriga é minha». (movimentos pró-aborto).
[em actualização... ao longo do ano]

Hoje é dia 1 de Abril, dia das mentiras, nenhuma destas frases foi dita hoje.