«Tenho em mente o apavorante episódio contra Buttiglione, no Parlamento Europeu. Primeiro, alguns deputados bombardearam-no com perguntas sobre as suas convicções pessoais sobre o casamento e a homossexualidade. Como católico que é, foi claro e desassombrado, expondo, afinal, a doutrina da Igreja Católica.»
Quem assim escreve é Mário Pinto, professor na Universidade Católica e que escreve todas as segundas-feiras no Público.
E, insiste, mais à frente: «A democracia do século XXI não excluiria ninguém, por delito de opinião, do exercício dos seus direitos políticos, excepto os católicos coerentes. Coerentes são os que livremente estão em união (de inteligência e de vontade) com a doutrina e a autoridade da Igreja - porque há muitos, e até padres, que fazem uma administração autónoma da doutrina e se importam pouco com os mistérios (isto... digo eu).» [o sublinhado é meu]
Já no sábado, no Expresso, João Pereira Coutinho (felizmente, não tem "link"), do alto da sua verborreia imberbe, dizia que a posição de Buttiglione era a de um «qualquer católico devoto».
Sou menos católico devoto que Mário Pinto? E menos coerente que o senhor professor? Não. E permito-me achar que o que Mário Pinto escreve é incoerente (não falo de JPCoutinho: só fala daquilo para mais uma diarreia anti-esquerdista, claro). Até com o que ele diz da «Doutrina». Porque a doutrina não é aquela que Ratzinger emana do Vaticano - é aquela que nasce de Jesus e, por muito que custe a alguns auto-intitulados «devotos coerentes», Cristo anunciou um Evangelho de inclusão, não de exclusão.
Os homossexuais não pecam. Amam. As mães solteiras não pecam. Amam. E o casamento não é a capa de protecção para uma mulher. É um compromisso sério de amor entre dois indivíduos. Dizer o contrário disto, é ir contra o Evangelho. E isto não é uma qualquer «administração autónoma da doutrina [em que me] importam pouco [...] os mistérios».