23.9.04

A bola genuína

Quando era miúdo, ir à bola significava subir a aldeia até aos pinhais e assistir aos jogos do Valonguense, no pelado Campo António Pereira Vidal, da Arrancada do Vouga, que não era mais do que uma bancada de madeira e chapa, óptima para celebrar golos, e uma grade à volta do campo com duas casinhotas a fazerem as vezes de balneário. Em dias de festa, rumava-se ao "velhinho" Mário Duarte, em Aveiro, para ver os jogos do Beira-Mar, em épocas de sobe e desce constante. A primeira vez que vi o Benfica, em 1982 (porque o Veloso se tinha tranferido de Aveiro para a Luz), o "Beira-Beira" encaixou 8-2 com uma equipa de reservas das "águias".

No Valonguense, a história e os intervenientes eram outros. Equipas de bigodes e quase-barrigudos, que eram operários durante o dia e jogadores à noite e domingos à tarde, quando havia jogatanas. Os derbis locais eram coisa séria e cada apito do árbitro um caso de vida ou morte. "Gatuno" devia ser a palavra mais meiga que o senhor de negro, ainda mais cheiinho na cintura, ouvia...

Lembrei-me disto tudo, ontem à noite, a ver um programa - involuntariamente divertido - na RTPN: a «Liga dos Últimos», sobre as equipas que se arrastam pelos pelados/sintéticos dos campeonatos deste país, com febras e coiratos e minis a acompanhar jogadas de fraco rigor táctico que fariam engasgar Gabriel Alves.

Assistir refastelado no sofá ao Pampilhosa-Mirandense, genuíno e ingénuo, dentro e fora do campo, foi quase um acto de reconciliação com o futebol.