28.2.06

Contra algumas ideias feitas

Jorge Sampaio usou o veto político, um dos mais importantes poderes do Presidente da República, 75 vezes, nos dez anos que esteve em Belém. O período entre 2001 e 2006, que corresponde ao segundo mandado, foi aquele em que Sampaio mais vetou. Numa década, Sampaio mais que duplicou o número de diplomas do Governo ou da Assembleia da República vetados pelo seu antecessor no cargo: Mário Soares usou-o 37 vezes de 1986 a 1996. [da Lusa, sublinhado nosso]

Bloguexcessos

Há quem ache que os blogues não podem ser esquecidos pela imprensa, quem rejubile com as microcausas transportadas para as páginas dos jornais, quem diga que este mundo reflecte o outro, lá fora. Talvez fosse melhor sermos mais modestos: um estudo da Gallup, hoje citado pelo Público (sem link para a notícia), diz-nos que a leitura dos blogues está no fim da lista de actividades na internet. Apenas nove por cento dos cibernautas nos EUA lêem blogues frequentemente, enquanto 11 por cento o fazem raramente e 66 por cento nunca os lêem. KO!

Perdido

A segunda série de Lost/Perdidos, anunciada em parangonas pela RTP, é apresentada em horário nobre. Hoje, o episódio tem início às 22h30. O horário nobre ganhou um novo significado no serviço público.

[actualização: e que dizer do horário de reposição da primeira série? Depois de desbaratados em tardes de domingo, a RTP re-apresentou-os diariamente, para podermos retomar o fio à meada. Impossível: ao início, ainda os transmitia cerca das 23h30/00h, ontem o episódio tinha início às 2h45 da madrugada (hoje, portanto).]

É Carnaval, ninguém leva a mal...

Deve ser por isto que na Mealhada* se insiste em pôr umas minininhas a dançar furiosamente uma coisa a que chamam samba: para aquecer do frio.

* - e em Ovar, Loulé, Alcobaça, etc., etc.

[adenda: depois há sempre outras formas de ilustrar este dito... Sem frio.]

27.2.06

[sms em falta] Três dias depois...

... do presidente da Câmara de Londres, Ken Livingstone, ter sido suspenso das suas funções por um período de quatro semanas, por ter comparado um jornalista judeu a um guarda de campo de concentração nazi, ainda não recebi nenhum sms a convocar-me para uma manifestação em frente à embaixada da Grã-Bretanha.

26.2.06

O cantinho do hooligan* [remake]

[depois do fim-de-semana] Gripe das aves ataca FC Porto
(com direito a repetição do golo, para os mais distraídos).

[* - direitos reservados]

O ataque

O jornalismo de investigação poderá ser domesticado, se o Governo aceitar a proposta do responsável pela Unidade de Missão para a Reforma Penal, Rui Pereira. O jornalista será acusado por violar alegados segredos de justiça. Mas quem é este senhor? «O jurista Rui Pereira – ex-director dos Serviços de Informações e Segurança – é um dos nomes apontados pelo "Expresso" nas conversas telefónicas entre dirigentes do PS e do CDS, que visavam a demissão do procurador-geral da República, Souto Moura. Rui Pereira era o nome avançado para ocupar o lugar de Procurador.» [NFerreira, in fórum da Associação Sindical dos Oficiais dos Registos e Notariado, 20 de Novembro de 2005]

Blogómetro
(sem qualquer rigor científico)

Os blogues de esquerda costumam linkar esta tertúlia. À direita, glorificam a minha outra casa.

24.2.06

Pós-modernidade

Se no corredor dos iogurtes de um supermercado entramos no mundo da química hiperactiva, no ginásio mergulhamos num tempo de antena do professor Manuel Sérgio.

O cantinho do hooling*

[antes do fim-de-semana] Onde é que eles jogaram na noite europeia?

[* - direitos reservados]

23.2.06

Todos os dias...


... as Olimpíadas.

Da Silva

Falam, falam, falam, mas depois calam-se todos. Já não há debate, já não há inflamadas vozes. A agenda exige agora outra atenção. Quem disse que o mundo está perigoso? Não, não está. Está é preguiçoso: manda-se uma atoarda, berra-se alto e depois arruma-se tudo na gaveta — uns com Fátima e futebol, outros com fado e jaquinzinhos. O mundo esse segue. E nós aqui contentinhos da silva.

22.2.06

Da superioridade das civilizações



Por causa de uns cartoons, houve quem sublinhasse a superioridade da civilização europeia e ocidental. Nestas alturas, começo à procura de exemplos dessa superioridade — são muitos dizem-me e quase me convenço: o tratamento às mulheres, a perseguição política e religiosa, as ditaduras, a pobreza classista. Mas será assim? Recordo-me de um filme, "Al-Massir" (O Destino), que já, em 1997, nos colocava questões de hoje, de amanhã, a partir do confronto de ideias entre moderados e radicais nos califados andaluzes do... século XII. Já então o confronto de civilizações, com guerras e superioridades, se desenhava nos céus da Europa.

Deixem-me blasfemar: Bach, Johann Sebastian, é tido como o compositor de todos os tempos. Mas quando escuto o seu "Prélude de la Partita pur Violon nº 3" precedido de "Pepa Nzac Gnon Ma", vacilo. Estou a meter no mesmo saco, Bach e um tema tradicional gabonês, interpretado po elugu Ayong?! Pois, estou. Na música, descobrimos, desarmados perante o Belo, que é impossível ser-se superior: Bach desenha uma melodia que se entrelaça na perfeição com os sons da selva africana: vozes, percussões, violoncelo, música, beleza. Sem concessões, Bach e a dança do povo Fang, do Norte do Gabão, derrotam os discursos das falsas superioridades civilizacionais.

Este é um exemplo, de outros, que se escutam no álbum "Lambarena — Bach to Africa" (edição de 1995, que agora volta a ser publicitada, sem motivo aparente), onde se recorda o espírito de Albert Schweitzer, médico alemão que viveu e trabalhou no Gabão, no coração de África, um apaixonado de Bach. Diz-se na contracapa: "Pela exaltação, a regra encontra o ritmo. Pela exaltação, o ritmo encontra a regra. Em Lambaréné, Albert Schweitzer realizou o encontro da Europa e de África
pela música."

Blasfemo, para puristas de música clássica — e do politicamente correcto destes dias: o que neste disco se desenha não é da superioridade das civilizações. É da superioridade da alteridade, da descoberta do Outro, a vitória da civilização do Amor. Mas isto não é música que se queira para estes dias.

[publicado hoje originalmente na Terra da Alegria]

21.2.06

O Sindicato

1. Sou sindicalizado. No único Sindicato que os jornalistas têm: 1 por cento do meu ordenado é descontado para um sindicato que me representa - liricamente, insisto na possibilidade de contar com apoio jurídico em tempos aziagos para os trabalhadores, face aos poderes das empresas do meio; realmente, pouco ganho, nem a revista a que supostamente tenho direito (insistem que a enviam em "resma" para a TVI e que se perderá algures entre os corredores da redacção colorida da estação e do forno que é a do Metro).
2. No Sindicato que me representa, participei mais activamente no arranque de um suposto núcleo de jornalistas online. Na altura, propunha-nos o Sindicato de Jornalistas um estatuto do jornalista deste meio novo, em que se pretendia vigiar a actividade dos profissionais, para evitar que qualquer site fosse jornal. Escusado será dizer que de intenções estão os documentos cheios: a proposta era suficientemente inadequada às realidades e, no quadro apresentado, eu teria de ser "estagiário" uns dois anos (e as empresas esfregariam as mãos de contente). Hoje, fora do meio online, afastei-me: pago a quota, não recebo a revista e confiro no e-mail a newsletter diária.
3. Do Sindicato, não espero um debate aprofundado sobre a profissão, pelo que expus acima - como em muitas profissões, as direcções sindicais defendem privilégios adquiridos por uma geração (a "de Abril") e esquecem, sempre, as gerações mais novas, aquelas que sofrem na pele a precariedade na imprensa, aquelas que aguentam jornais, em estágios contínuos não remunerados ou contratos a termo mal pagos (a geração "500 euros").
4. Mais: do Sindicato continuo a desconfiar de uma direcção politicamente marcada. Sobre isto, mantive escassa polémica com Oscar Mascarenhas, nas páginas do Público (eu tive de editar um texto longo, o então "senhor deontologia" arrasou-me em resposta mais alongada), por causa das autárquicas de 2001 e da candidatura de Alfredo Maia pelas listas da CDU a um órgão autárquico. Mantenho o que escrevi, nem uma linha de Mascarenhas me demoveu do que escrevi.
5. Quatro anos depois, o Sindicato e o seu Conselho Deontológico tem uma posição vergonhosa e atrasada sobre o caso Lusa. Muito próprio de quem se afastou da realidade noticiosa. Facto sacrossanto: as jornalistas não terão ouvido as duas partes. Diz isto, o mesmo CD que não cuidou de ouvir as partes envolvidas.
6. Vou continuar sindicalizado. A ver se o sindicato me passa a representar também a mim. E não quero uma Ordem. Basta olhar para as ordens corporativas que existem para perceber o que elas fazem: metem na ordem direitos estabelecidos da geração que manda, esquecem os novos.

20.2.06

Importa-se de repetir?

[Ontem, na SIC Notícias, num programa sobre a Europa] "Fomos perguntar aos estudantes da Universidade Católica de Lisboa quem é o presidente do Parlamento Europeu." As respostas foram invariavelmente "Não, não sei." Nestas alturas, penso sempre em pegar numa câmara e deslocar-me à redacção da (por exemplo) SIC Notícias e perguntar quem é o presidente do Parlamento Europeu. Tenho a certeza que as respostas seriam iguais às dos estudantes universitários.

19.2.06

Beauty and the Beast [efemérides]


Amanhã, segunda-feira, dia 20, celebra-se o aniversário do nascimento de Cindy Crawford, modelo e actriz americana, e de Kurt Cobain, antigo vocalista dos Nirvana, que se suicidou. Nasceram os dois em 1967, segundo a Wikipedia. Estranhos acasos das datas de nascimento.

18.2.06

Posts

Os posts são promíscuos. Todos os dias estão enrolados com um novo assunto.

(este blogue desarranjou-se)

Não trocámos a nossa melhor roupa por uma farpela mal cuidada, mas ao que parece, no "Internet Explorer", o blogue aparece desfraldado: a coluna da direita, de ligação a blogues e outros dados mais ou menos pertinentes, caiu lá para o fundo. A coisa, no "Safari" dos macintoshes, continua direita - e por isso não reparei no erro. Assim que se der conta da coisa, voltamos a enfiar a camisa dentro das calças e a ajeitar o nó da gravata.

[actualizado: Já tá! Um título justificado desjustificou a casa, vá lá entender-se o html...]

17.2.06

[o leitor irregular de jornais desportivos]

«[Pedir empenho] É o meu trabalho, por isso sou o treinador. A partir de domingo porta fechada e não haverá nenhum problema», disse Ronald Koeman. Os jornalistas entusiasmaram-se com um puxão de orelhas dado por um chefe aos seus empregados. What's the point?

Há dois anos...

... festejámos assim o aniversário do Jorge! Hoje renovamos os votos: parabéns!

16.2.06

Diesel:


... uma campanha publicitária espantosa [com som]. A net é um campo multimédia único, que em Portugal continua a ser desaproveitado.

Opus interruptus

A spokesman of the Opus Dei (a very influential Personal Prelature of the Catholic Church) said today in Rome they will not boycott the film "The Da Vinci Code" but will ask Sony Pictures to avoid some scenes. Opus Dei is depicted in the best seller as a shadowy and conspirative organization. Manuel Garrido, spokesman of the Opus Dei in Spain said today about this: "The Da Vinci Code distorts Christ and the History of the Catholic Church".

A Opus Dei ainda não percebeu que O Código Da Vinci não é um livro de História, mas sim de ficção.

O que é que isto tem a ver com a terra?

A escola com vista sobre o Tejo e os estádios de futebol. Os cartoons de um jornal dinamarquês e a gripe das aves. A caridade e o Estado redistribuidor dos bens. O ajuste de contas da modernidade e da pós-modernidade. A briga de dois vizinhos e o turbante do profeta. O que é que isto tem a ver com a terra?

15.2.06

Julgava que era "prejudicial" por a tortura ser intolerável

"O Pentágono considera que a revelação pública de mais imagens de abusos de prisioneiros em Abu Ghraib (Iraque) é prejudicial, por poder incitar à violência generalizada e colocar em risco a vida de militares norte-americanos." [da Lusa]

[tombados]

Foi revelada a nova Lara Croft.

[escrito em horário de expediente]

Este é um post de trabalho!

14.2.06

Cidades

"Parece-me melhor ligar cidades, ainda que seja apenas pela língua, do que vê-las a afastarem-se. Este projecto que hoje se inicia, Cidades Crónicas, pretende pôr Macau em Lisboa, o Porto em Maputo, Porto Alegre em Macau e, mais difícil ainda, pôr Lisboa no Porto e São Paulo no Rio de Janeiro. A ordem de enunciação dos nomes dos autores segue a geografia, de sul para norte, de Porto Alegre ao Porto. Por ora, somos apenas 7 mares, esperemos que em breve os multipliquemos." As crónicas aqui.

Elites

Não faço ideia se somos piores* no Metro (o jornal). Aquilo está escrito em neerlandês. Mas de uma coisa tenho a certeza: o trabalho redaccional também é sério (apesar de ter erros, como todos, até os jornais de referência) e não tem simpatias à direita. Ponto a favor (e não é em neerlandês).

[* - declaração quase escusada de interesses: trabalho no Metro.]

Santo António


Valentim

Hoje boicoto São Valentim, que nem se sabe bem quem é. E apoio a candidatura de António de Lisboa, o santo casamenteiro, para o verdadeiro dia dos Namorados.

13.2.06

Mundo pequeno

Há dias assim. O mundo parece estar a ruir à nossa volta, com cartoons a incendiarem as ruas do Oriente e do Ocidente, com o eterno mal-estar de um país deslumbrado com choques e planos. Mas nada interessa, quando o nosso pequeno mundo colide com pequenos idiotas. É nestas alturas que se me falam em produtividade, mando-os dar uma volta, nos seus volvos e bé-émes...

12.2.06

O vídeo

Obviamente que não faltarão vozes compreensivas com os maus tratos de soldados britânicos a jovens que se manifestavam nas ruas de Bassorá. Eles exprimiam a sua liberdade de protestar, as democracias voltam a cair no erro das ditaduras.

11.2.06

[noites pouco cinéfilas]

Tentativa um [primeira noite]: adormecer no sofá e acordar em cima da hora do filme. [Aninhar de novo no sofá.]
Tentativa dois [segunda noite]: chegar ao Corte Inglés e ter uma fila que nunca mais acaba e já não chegar a tempo ao Quarteto.
Tentativa três [ainda na segunda noite]: tenta-se outro filme, que não aquele que estará para sair de cartaz, agora no Saldanha: «Esgotado».
Pergunta [no fim da segunda noite]: por que não há sessões às 22h30 ou às 23h?!

10.2.06

[post quase marialva]

Verdades incontestáveis.

Um paparazzo anónimo fotografa quem?

Ao R.


Uma rapariga anónima no Soho, NY. (MM, Out./2005)
Um paparazzo a sério não a teria deixado escapar.

[declaração escusada de interesses]

Sou católico.
O senhor padre Nuno Serras Pereira não representa a Igreja católica.
Este senhor diz disparates atrás de disparates.
Este senhor foi criticado pelos próprios franciscanos.
Só não se percebe em que qualidade o vai ouvir O Independente? À caça de polémicas estéreis? Claro, nada mais. E ouvir um louco dá sempre parangonas.

A omissão

E se, de repente, deixássemos de falar ou comentar ou publicar aqueles cartoons? Surtiria efeito? Aplacava-se a ira? Diminuíamos a liberdade? Por estes dias, parece faltar tempo para tudo. Até para escrever como deve ser. Ou o que deve ser.

9.2.06

A liberdade não se encomenda*


"Lars Refn foi o único cartoonista que, apesar do pedido do Jyllands-Posten, optou por não representar Maomé, o profeta, mas Mohhamed, aluno do 7ºA. O jovem aponta para um quadro onde se pode ler, em persa: «Os jornalistas do Jyllands-Posten são um bando de provocadores reaccionários».

Lars Refn usou da sua liberdade de expressão como queria e não como lhe foi ecomendada. O jornal, apesar de amar a liberdade de imprensa, não gostou da graça e escreveu, como legenda: «pensamos que Lars Refn é um cobarde que não entende a gravidade da ameaça muçulmana à liberdade de expressão». Parece que o Jyllands-Posten adora a sua liberdade, mas não convive bem com a liberdade dos outros. Insultar o jornal que lhe publica o desenho, isso sim, é ter tomates."
* - Daniel Oliveira, in Aspirina B

8.2.06

Cartoonados

Afinal: o jornaleco dinamarquês que tanto defende agora a liberdade de imprensa pediu desculpas pelo uso que dela fez. Sem responsabilidade(s), o profeta foi blasfemado. É bem, gritam os liberais do(s) costume(s). Porventura, os mesmos que gritaram aqui d'el-rei quando o Papa foi preservado. Adiante, que as coerências não são para esta história.
O confronto é de civilizações. José Manuel Fernandes, director do Público, chamou-lhe «guerra de civilizações» (mais uma, acrescentamos) porque há um certo Ocidente que acha que isto só lá vai assim: a dar e levar. Dá-se nos desenhos, leva-se nas embaixadas, atira-se com a impossibilidade do diálogo, cortam-se as pontes, destroem-se os corões e as bíblias e afunilamo-nos em fortalezas inexpugnáveis, fora com os que não vivem como nós.
Já vimos: a coerência não é para esta história. A guerra é que é. Este é o mundo desenhado pela doutrina Bush, desejado pelos ayatollahs do Irão, alimentado nas mesquitas radicais de Londres ou Carachi e nos púlpitos de Copenhaga ou da Virginia. É a hora, é a hora. Mais do que nunca: estender os braços, não esconder os rostos e dizer que à guerra preferimos outra coisa. Mesmo que até lá se queimem mais bandeiras ou se desenhem mais palermices. Os radicais não podem ser desta história.

Os Smiths explicam os cartoons

A feira das vaidades



The Hollywood Issue: na América, Hollywood arde muitas vezes nas chamas de fundamentalistas cristãos, pregadores que vêem nos filmes sexo, drogas e rock'n'roll. Passe a penitência: não metem (quase) medo. [a imagem limpa de artefactos aqui]

7.2.06

Fundamentalismos [no e-mail]

Recebi de M., este e-mail: "Ainda sobre os fundamentalismos anteriores*. Estamos a vivenciar uma situação que exige uma reflexão ética a sério. É tempo de discutir alguns conceitos - liberdade, liberdades, responsabilidade, critérios para o agir livre... Curioso e muito discutível ver o que pensa o Abrupto."

[* - M. fala dos posts anteriores a esta imagem de "Match Point", que aqui postei como provocação.]

Fundamentalismos


in Match Point

Fundamentalismos
(um comentário do Diogo)

Ontem, ainda em Bruxelas, no táxi a caminho do aeroporto, ouvi uma reportagem radiofónica sobre uma manifestação ocorrida na véspera. Uma jovem muçulmana de origem turca dizia uma coisa que me deu que pensar... Ela dizia que era a favor da liberdade da imprensa e da liberdade de expressão no geral e que era contra as atitudes violentas que se têm verificado em muitos pontos do globo; mas também dizia que isto vai muito para além de um cartoon num jornaleco dinamarquês: "estou farta de ser vítima da associação entre o Islão e o terrorismo". A isso chama-se discriminação e, segundo sei, há leis na Europa que são supostas proibirem isso. Talvez não precisássemos de estar a discutir a liberdade de expressão se fizéssemos o trabalhinho de casa...

6.2.06

Fundamentalismos (comentário)

Na sexta-feira, o Público trazia as declarações do sheik Munir que recordava a frase: "A nossa liberdade termina onde começa a do outro." Este é o grande erro destes dias porque a nossa liberdade começa onde começa a do outro. E isto é, radicalmente, muito mais difícil de experimentar e viver.

Da boa aplicação dos nossos impostos

Clicar aqui.

Fundamentalismos (follow up)

O pior é insistir — de um lado e do outro. O irracionalismo de multidões obriga a cuidados, todos os cuidados no que se faz e se diz. Não se trata de ceder, mas para apagar o fogo não se atiram mais achas para a fogueira.

3.2.06

Fundamentalismos

Enquanto isso, os militares americanos também criticam a liberdade de expressão...


De Tom Toles, no Washington Post

Discos pedidos

aqui o disse: entram poucas novidades cá em casa e quase só as ouço quando visito a Sara ou o os quase famosos. E o Rui, em trabalho na Polónia, já está como eu. Pergunta-me "Onde é que encontro "Mandibula Dourada", Norman?" Prometi-lhe que vou pedir à Sara...

O Pôncio Monteiro da literatura*

Um rapaz vai coleccionando frases soltas de textos de imprensa ou excertos longos de livros para fazer a leitura, mesmo que parcial, de uma certa realidade. Há sempre uns que dão nas vistas assim. Têm alma de Pôncio Monteiro que, a propósito do penalty que beneficiou nessa semana o FCP, é capaz de atirar para cima da mesa a relíquia de A Bola de 1963, em que o árbitro fez vista grossa ao golo irregular do Benfica. E com o aplauso do papa, claro, para a análise arguta ecoar mais.

[* - a propósito de uma polémica sobre crítica literária e amiguismo e jornalismo, que pode ser lida em muitos sítios, a começar aqui...]

[anúncio, talvez a propósito do que se publicou antes]

[de um e-mail] «Retomamos as Tertúlias em Sta.Isabel [Lisboa] na próxima 2ª feira - 6 de Fevereiro - às 21,30 h com o tema "Motivações para Crer". A entrada faz-se pela porta que está ao nosso lado direito quando estamos de frente para a fachada principal.
A ideia é reflectir mais sobre os motivos da descrença (cíclica, episódica, crónica ou aguda, grave ou leve) com que todos nos deparamos e procurar encontrar as pistas que nos podem ajudar.
S. Tomé pediu para ver. Viu e acreditou. Costuma dizer-se que, apesar desta dúvida, foi santo. Talvez a dúvida faça parte da santidade, pois sem ela não seria pueril tanta da nossa fé.»

2.2.06

Não se ralem


Cartoon de Delize, para o France Soir (clicar para aumentar)

O humor é sempre bem-vindo, mesmo o que achincalha**

[estante submersa] A minha biblioteca não é muito extensa. E, apesar de alguns esforços, na categoria de igrejas/religiões está mais ou menos como a maioria das livrarias portuguesas: um outro “best-seller”, algumas excentricidades e depois um conjunto de livros anónimos. Apesar deste quadro tinha esperanças em encontrar alguma coisa a que me “agarrar” sobre o humor, o riso – uma frase, uma ideia, uma pista. Mas nada. Melhor: quase nada. Neste assunto, como noutros, Bento Domingues está à frente. Dito de outro modo (porventura, mais correcto): está mais próximo de nós.

Em As Religiões e a Cultura da Paz (Porto, Figueirinhas, 2002), o terceiro volume das suas crónicas dominicais no Público, Bento Domingues introduz-nos (pp. 79-81) ao hino litúrgico do Evangelho de João – «No princípio era a Alegria» – para o contrapor como «uma atitude estranha ao cristianismo primitivo, mas, desde há séculos, profundamente infiltrada no seu tecido cultural»: lembra-nos frei Bento, «Nietzsche não foi o único a identificar o cristianismo com a religião do dever, do sacrifício, da tristeza e do ressentimento». Eu, hoje, também o descobri à espreita na minha estante.

[gargalhadas de Deus] «O prazer, o humor, o riso e a alegria deixaram de ser considerados os frutos normais das acções boas», escreve ainda Bento Domingues. Que viaja depois brevemente pelos que riram muito ao longo dos séculos, mas mais ainda por aqueles que olharam o riso como coisa perversa. Mas há – naquela pequena viagem – uma curiosidade histórica (estudada pela teóloga italiana Maria Caterina Jacobelli*) que fará corar puristas da liturgia da dor e do sofrimento: «O costume popular de o padre fazer rir as pessoas durante as celebrações litúrgicas, especialmente no dia de Páscoa», um «costume popular que percorreu quase toda a Europa, desde o século IX até aos começos do século XX. [...] O “riso pascal” era a linguagem popular de sintonia com a alegria da ressurreição».

[século de Fátima] Chegados ao século XX, o mundo perde o riso – as duas Grandes Guerras, o muro da Guerra Fria, os conflitos regionais que se multiplicaram, as ditaduras sanguinolentas que espalharam o terror (dos campos de concentração de Hitler aos “gulags” de Estaline, dos totalitarismos genocidas de Pol Pot ou Suharto aos voos mortíferos dos militares na América do Sul, dos fuzilamentos de republicanos em Badajoz à morte lenta do Tarrafal). Este século é também – imagem grosseira? – o século de Fátima, com uma doutrina embebida neste mundo maniqueísta e bipolar, com a sua imagem de dor e sofrimento, angústia e esperança.

[andamos sérios] A Igreja ficou “séria”. Perdeu o “riso pascal” e preferiu o Calvário à Ressurreição. Os cristãos aplaudem a Paixão de Mel Gibson e escarnecem da humanidade de Deus manifestada num quadro de Paula Rego.

Aqui chegados: enxoframo-nos com os humores dos outros sobre nós e perdemos a capacidade de rir – a auto-crítica, o “ver, julgar e agir” que nos ajuda a trilhar o caminho do questionamento, não o das certezas sofridas. Rir é bom. Rir de nós, melhor remédio é. O pior é que preferimos responder ao eventual achincalhamento com presunções sérias e dogmas de virtude pública. Soubéssemos rir da «Última Ceia» caricaturada por Herman há uns anos, com uma «Última Ceia» ainda mais divertida...

[festa] Há festa na igreja – pode parecer quase blasfémia. Mas é mais do reino da blasfémia proibir música no espaço de culto, como recentemente determinou o bispo de Viana do Castelo, que fazer do templo um local de verdadeiro encontro, conhecimento e celebração. Não se pede um “barbecue”, pede-se a descoberta da festa também nas coisas da Igreja. Na celebração, e fora dela. Andamos sérios. Nada que uma boa anedota não resolva.

* - cf. Il Risus Pascalis e il Fondamento Teologico del Piacere Sessuale, Brescia, Queriniana, 1990. Pode ainda ler-se duas perspectivas “bloguísticas” opostas sobre a matéria: no Barnabé, um texto de Rui Tavares (O tabu da sátira religiosa), e no What do you represent, um texto de Eduardo sobre «O Barnabé [que] dá catequese aos seus 900 leitores» (post de 13 de Maio).
** - este texto foi publicado na Terra da Alegria, a 19 de Maio de 2004 sobre (a falta de) humor dos cristãos. Recupero-o, agora que é o islamismo que está na berlinda.

1.2.06

Eu por mim

... hoje vou esperar que neve. Pode ser que o país anime.